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O Paraguai, após um longo período de isolamento, que ocorreu durante o comando de

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Wilma Costa. A espada de Dâmocles. O Exército, a Guerra do Paraguai e a crise do Império. São Paulo: Hucitec; Ed. UNICAMP, 1996.

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Francisco Doratioto. Op. Cit. p 37-40 196

Francisco Doratioto. Op. Cit. p. 37. 197

Júlio Chiavenato. Op. Cit. p, 31 198

Francia (1814-1840), retomou suas relações diplomáticas e comerciais no governo de Carlos An- tônio Lopes (1840-1862). Essas relações se intensificaram no governo de Solano Lopes, que im- plantou gradativamente um modelo de crescimento para fora fundamentado em políticas proteci- onistas.

As principais medidas internas realizadas pelo governo de Solano Lopes foram a estati- zação das riquezas do país (erva-mate, carvão, madeira, entre outras) e o arrendamento das terras públicas, chamadas “Estâncias da Pátria”, nas quais havia a exploração desses recursos naturais, além das atividades agropecuárias. Nessas estâncias, o governo concedia espaço aos campesinos e pagava, por exemplo, 25 libras esterlinas por arroba de erva-mate produzida. O montante, ori- undo desses arrendamentos, retornava aos cofres públicos um total de 1.700.000 pesos, que cor- respondia a 20% da receita nacional, cerca de 8.450.000. Entre as citadas riquezas, a produção e comercialização da erva-mate arrecadava, por sua vez, 3.000.000 de pesos199. A Figura 3.1 apre- senta um mapa que mostra a localização dos ervais paraguaios, nos arrendamentos públicos, que forneciam a matéria-prima para o setor produtivo ervateiro; o qual, com os incentivos fiscais e a regulamentação, contribuía para a estabilidade social, política e financeira e se consolidava, tanto no mercado interno quanto externo, como uma das principais atividades econômicas do Para- guai200.

Com tais políticas econômicas, a erva-mate guarani se tornou um produto amplamente exportado aos países da bacia platina, que tradicionalmente a consumiam, e, em menor quantida- de, para alguns países europeus. No ano 1860, por exemplo, uma libra-peso de erva-mate, em Buenos Aires, valia um vigésimo de libras esterlina e as exportações paraguaias desse produto, na mesma cidade, arrecadaram cerca de 190 mil libras201. Em relação ao mercado europeu, outro exemplo, Solano Lopes negociou com o Rei da Prússia seis mil libras de erva-mate, produto ge- ralmente destinado ao consumo do exército prussiano202.

Para as regiões produtoras brasileiras de erva-mate, a eficiência da política econômica, praticada nos governos de Lopes I e Lopes II, resultou na concorrência pelo mercado externo, especialmente o uruguaio e o argentino. Contudo, com o desencadear da guerra, o Paraguai teve suas relações diplomáticas estremecidas e, com isso, perdeu espaço nos mercados platino e euro- peu. Além disso, a longa duração do conflito deslocou a mão-de-obra guarani para a defesa dos

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AcyrGuimarães. A Guerra do Paraguai: suas causas - 1823-1864. Campo Grande, MS: UCDB, 2001. p, 35 200

, Júlio Chiavenato. Op. Cit. 201

Francisco Doratioto. Op. Cit. p, 30. 202

campos de batalha e, como em outros setores produtivos, prejudicou a extração e o beneficiamen- to da erva-mate.

Figura 3.1 – Mapa dos ervais paraguaios203.

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Recriado a partir de, Thomas Whigham . La yerba mate del Paraguay. Asuncion: Centro Paraguayo de Estudios Sociologicos, 1991

Por consequência, a Guerra do Paraguai eliminou o maior concorrente do Brasil, fato que influenciou positivamente o destino do mate brasileiro, pois, durante a beligerância e no pe- ríodo subsequente, o Império usufruiu o privilégio de ser o único país a dispor de erva-mate para abastecer os mercados externos204. Logo,com o conflito, as vendas do mate Rio-grandense au- mentaram.

Esse bom momento também estava atrelado ao fortalecimento do setor ervateiro da pro- víncia do Rio Grande do Sul, que, como já tratado no capítulo 1, ocorreu após o término da Revo- lução Farroupilha, em virtude do estabelecimento de um mercado consumidor platino, o estabele- cimento das cinco regiões ervateiras – Palmeira da Missões; Taquari e Rio Pardo; Cruz Alta; Pas- so Fundo e Soledade – e em virtude do desenvolvimento das novas técnicas de beneficiamento com emprego dos pilões de ferro, como visto nos exemplos de Abel Correa Câmara205, no relató- rio da Vila de Cruz Alta de 1853206 e nos relatos dos viajantes Henrique Schutel Ambauer207 e Avé-Lallemant208. Esses melhoramentos tecnológicos foram essenciais para o aumento na produ- ção e na qualidade da erva manufaturada, uma vez que os pilões de ferro trituravam os galhos e as folhas com maior eficiência do que os pilões manuais.

Possivelmente, esse processo de aprimoramento dos engenhos também contribuiu com uma certa especialização da mão-de-obra, devido a necessidade de aprender a lidar com as novas máquinas, se comparada com as práticas artesanais anteriormente utilizadas pelos caboclos. Por outro lado, é provável que a partir dessa época, os lucros dos ervateiros donos de engenhos te- nham aumentado, pois os ervateiros pobres não dispunham de condições financeiras para também adquirirem as novas tecnologias e, assim, submetiam-se a extrair e vender mate para os mencio- nados proprietários, que agregavam valor ao produto através das suas fábricas. Nesse contexto, alguns pequenos ervateiros optaram pelo trabalho coletivo. Eles formavam grupos de dois a três trabalhadores para realizar as tarefas e, após o final da colheita, com a venda da erva-mate, divi- diam igualmente os lucros obtidos. Em outros casos, alguns caboclos optavam por vender sua força de trabalho para os grandes ervateiros. Um ervateiro italiano, por exemplo, processado pela justiça por fazer erva sem licença, admitiu ao fiscal, encarregado do controle do extrativismo do mate, que as pessoas autuadas eram seus funcionários assalariados209.

204Temístocles Linhares

Linhares. Op. Cit. p. 159 205

José. P. Eckert. Op. Cit. p, 106. 206

Wilmar Bindé. Campo Novo: Apontamentos para sua história. Santo Ângelo: Gráfica Santo Ângelo, 1986. P, 58 207

Wilmar. Bindé. Op. Cit. p, 133 208

Robert Avé-Lallemant. Viagem pela Província do Rio Grande do Sul. Belo Horizonte. Itatiaia, 1980. P, 239 209

Esses fatos corroboram a hipótese de que nesse período os reflexos da industrialização moderna também influenciavam a produção ervateira. De certo modo, isso fica evidente dada a presença da mão-de-obra assalariada e da substituição de processos manuais por maquinarias. Embora essas inserções produzissem erva com maior qualidade e eficiência, elas também come- çavam a impor barreiras à entrada de concorrentes que não tivessem capital de investimento dis- ponível.