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CAPÍTULO 2 O COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL

3.3. Definição do Comprometimento com os Objectivos

O comprometimento com os objectivos é considerado, no quadro teórico estabelecido pela Teoria da Definição de Objectivos, como o moderador mais importante da relação entre o nível de dificuldade dos objectivos e os comportamentos sendo, por isso, uma condição determinante para a acção motivadora dos objectivos (Klein, Wesson, Hollenbeck, Wright e DeShon, 2001; Locke e Latham, 1990 e 2002). Esta constatação é corroborada também com estudos realizados no âmbito da Gestão por Objectivos, que verificaram que o sucesso deste tipo de programas dependia directamente dos níveis de comprometimento com os objectivos26. A sua importância e centralidade levam a que seja recomendado o seu uso em todos os estudos realizados no âmbito da Teoria da Definição de Objectivos (Hollenbeck e Klein, 1987; Klein et al., 2001). No entanto, “...o comprometimento com o objectivo é frequentemente uma variável secundária.” (Klein et al., 1999: 892).

Podem considerar-se dois tipos de estudos referentes ao comprometimento com os objectivos. Por um lado, são os estudos cuja finalidade tem sido a de estabelecer relações causais do comprometimento com os objectivos, dentro do quadro teórico da Teoria da Definição dos Objectivos (e.g., Hollenbeck e Klein, 1987; Hollenbeck, Williams e Klein, 1989; Klein e Kim, 1998; Klein e Mulvey, 1995; Klein et al., 1999; Li e Butler, 2004; Locke, Latham e Erez, 1988; Sue-Chan e Ong, 2002; Tubbs, 1993). Por outro lado, existem estudos orientados para a determinação da natureza e da dimensionalidade do comprometimento com os objectivos tendo em vista a concepção e validação de instrumentos de medida deste constructo (e.g., DeShon e Landis, 1997; Hollenbeck, Klein, O´Leary e Wright, 1989; Klein et al., 2001; Renn, Danehower, Swiercz, e Icenogle, 1999; Tubbs e Dahl, 1991; Wright, O´Leary-Kelly, Cortina, Klein e Hollenbeck, 1994).

Ao abordar-se a questão do comprometimento com os objectivos, é preciso distinguir entre aceitação (“goal acceptance”) e comprometimento propriamente dito (“goal commitment”). O comprometimento é muito mais vinculativo do que o simples acto de aceitação dos objectivos pois, enquanto a aceitação implica uma concordância com um

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objectivo, o comprometimento implica que o indivíduo esteja determinado em atingir os objectivos, independentemente da sua origem (e.g., Locke e Latham, 1990; Renn et al., 1999; Tubbs, 1993; Tubbs e Dahl, 1991; Wright et al., 1994). Há uma relação directa entre o comprometimento com os objectivos e o desempenho/resultados atingidos, sendo essa relação tão vincada que, “somente um indivíduo que se esforça genuinamente para atingir um objectivo pode ser descrito como estando comprometido com esse objectivo” (Locke e Latham, 1990: 124). Em oposição, considera-se a aceitação como um subtipo do comprometimento, que ocorre especialmente em situações em que os objectivos foram definidos por atribuição. Assim, pode considerar-se o comprometimento como um contínuo, de diferentes níveis de intensidade, na relação entre o indivíduo e os objectivos, sendo o mais baixo a aceitação dos objectivos e o mais elevado, o comprometimento com os objectivos.

Pode-se definir o constructo comprometimento com os objectivos como um querer atingir os objectivos definidos, investindo continua e permanentemente elevados níveis de esforço, sem desistências ou diminuição do nível de exigência do objectivo (Locke e Latham, 1990). Assim, o que vai caracterizar o comprometimento com um objectivo é o grau de entusiasmo que é posto na concretização desse objectivo. Nesta óptica, o comprometimento com os objectivos tem sido perspectivado como sendo um constructo unidimensional (Erez e Zidon, 1984; DeShon e Landis, 1997; Hollenbeck e Klein, 1987; Klein et al., 1999; Klein et al., 2001; Wright et al., 1994).

Seguindo a tipologia de influência social de Kelman (1958 e 1974), Terborg (197827, citado por Locke e Latham, 1990), propôs uma abordagem multidimensional para o comprometimento com os objectivos, podendo ser por obrigação (“compliance”), por identificação (“identification”) e por internalização (“internalization”). No caso do comprometimento por obrigação, o indivíduo empenha-se para atingir os seus objectivos devido à intervenção de uma figura de autoridade, havendo uma obrigatoriedade normativa para tal. Neste caso, verifica-se mais uma adesão ao objectivo do que um comprometimento. No comprometimento por identificação o indivíduo empenha-se na consecução do objectivo por se sentir ligado, de algum modo, à figura que exerce a autoridade, bem como ao objectivo em causa. Neste caso, já se verifica, uma relação de comprometimento. Por fim, o

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Terborg, J. R. (1978). Motivation and the goal setting process: An attempt at clarification. Paper presented at Academy of Management Meeting.

comprometimento por internalização implica que o indivíduo assuma como seu o objectivo definido. Neste último caso, verifica-se a existência de um alinhamento pessoa-objectivo, o que implica um elevado empenho na sua consecução, passando-se do “EU” para o “NÓS” (Johnson e Chang, 2006). Realça-se que, nesta abordagem, é posta em relevo a figura da autoridade, na medida em que só com o reconhecimento da autoridade é que se pode obter elevados níveis de compromisso (Oldham, 1975) e, por outro lado, “...as pessoas escolhem preferencial e normalmente obedecer às figuras de autoridade” (Locke e Latham, 1990: 133), tal como ficou ilustrado nos estudos laboratoriais de Milgram. Apesar da consistência desta tipologia, não foram encontrados estudos que seguissem esta linha. Mais ainda, verifica-se que a perspectiva unidimensional tem vindo a assumir uma crescente relevância no quadro teórico do comprometimento com os objectivos.

O comprometimento com os objectivos pode ser medido de três formas. A primeira é através de uma medição directa, recorrendo à utilização de escalas específicas, tendo sido esta linha desenvolvida pela equipa de Hollenbeck e Klein (e.g., Hollenbeck e Klein, 1987; Klein et al., 1999; Klein et al., 2001). A segunda é através de medidas indirectas, obtidas pela discrepância “...entre o nível dos objectivos atribuídos e do objectivo pessoal que o sujeito diz estar a tentar atingir.” (Locke e Latham, 1990: 126). A terceira é através de inferências realizadas com base no desempenho obtido. Refira-se, no entanto, que Locke e Latham (1991) apresentam algumas reservas quanto à medição do comprometimento com os objectivos através das medidas indirectas.

Uma questão em aberto refere-se à temporalidade dos objectivos, isto é à dicotomia objectivos de curto prazo versus de longo prazo. A teoria da definição de objectivos está muito centrada numa perspectiva de curto prazo dos objectivos. No entanto, num contexto de crescente instabilidade, tem-se verificado um uso excessivo de objectivos de curto prazo, com efeitos nefastos, quer ao nível do indivíduo, quer ao nível da organização (e.g., Antoni, 2005; Drucker, 1989; Edwards e Wright, 2001; Ling, Simsek, Lubatkin e Veiga, 2008; Meyer, 2009)28. Refira-se que Peetz, Wilson e Strahan (2009) salientaram o facto de que, quanto menor for a distância temporal entre a definição dos objectivos e a sua concretização, maior é a motivação individual, bem como a propensão para a acção, tendo em vista a concretização desses objectivos e, por consequência, o comprometimento com os objectivos. No entanto, a

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distância temporal é subjectiva, dependendo da percepção do indivíduo. Assim, “a maleabilidade da distância subjectiva pode ser uma ferramenta poderosa para o auto- aperfeiçoamento, e desempenho de objectivos” (Peetz et al., 2009: 493), havendo a necessidade de gerir a relação entre objectivos de longo prazo (por exemplo a missão da organização) e a sua tradução em objectivos operacionais de curto prazo, a articulação descendente dos objectivos pela hierarquia e o alinhamento entre objectivos organizacionais e pessoais (e.g., Drucker, 1985; Ling et al., 2008).