• Nenhum resultado encontrado

Passados 12 anos desde a criação do YouTube, mais especificamente em 2017, quando a plataforma anunciou mudanças para a monetização dos vídeos produzidos pelos youtubers (AUGUSTO, 2017), o site vem sendo alvo de muitas críticas por parte dos produtores de conteúdo.

A grande queixa é que, até então, qualquer pessoa que produzisse conteúdo se cadastrava no YouTube Partner Program e poderia passar a ganhar dinheiro com anúncios que seriam veiculados no início de seus vídeos. Esses anúncios eram

escolhidos automaticamente pela AdSense, plataforma de anúncios do Google, e a quantidade de cliques de usuários era o que determinava a quantia em dinheiro recebida pelos produtores. Porém, com essa facilidade, muita gente começou a se inscrever no programa e foi ficando cada vez mais difícil para a plataforma validar os canais adequados, que seguiam as suas políticas, e controlar as propagandas que seriam veiculadas em cada um deles.

Com o aumento estrondoso do número de canais e a difícil fiscalização, aumentaram as denúncias de propagandas de grandes marcas que estavam sendo divulgadas em vídeos considerados ofensivos. Além disso, alguns usuários estavam repostando conteúdos já publicados para ganhar mais dinheiro com o mesmo assunto. De acordo com a matéria do veículo de notícias sobre o mercado publicitário Meio & Mensagem (PACETE, 2018), essas situações fizeram com que um grande número de empresas deixasse o Partner Program, obrigando o YouTube a revisar as suas normas de monetização.

A partir de uma atualização em 2017, a plataforma deixou de veicular anúncios em vídeos até que o canal atinja 10 mil visualizações. Dessa forma, o site recebe informações suficientes para determinar a validade de um canal, se está seguindo as diretrizes corretas e as políticas do anunciante para então ser agraciado com anúncios. Com as atualizações das políticas da empresa em 2018, o novo parâmetro para que canais integrem o programa de parcerias pede um mínimo de mil inscritos e quatro mil horas de visualização nos últimos 12 meses em vídeos postados.

Essas medidas são tomadas para garantir que nenhum canal ofensivo tenha acesso aos anúncios. Porém, isso tudo tem feito com que muitos produtores de conteúdo abandonem a plataforma por discordarem das políticas e questionarem a transparência dos dados divulgados.

Outra situação em que o YouTube é pressionado a melhorar é em relação à tecnologia. No momento em que uma pessoa se inscreve num canal, ela pode configurar a conta para receber notificação no seu smartphone todas as vezes que forem liberados novos vídeos. Porém, os youtubers reclamam que o aviso é falho e que muitos inscritos não o recebem. Esse é um problema, pois trata-se de um grande jogo de interesses: quanto mais pessoas assistirem um vídeo, maior o faturamento do produtor de conteúdo.

Por um lado, a plataforma estimulou que as pessoas se mostrassem, fossem reconhecidas e remuneradas por isso. Por outro, o YouTube deve dar suporte e garantir a transparência das suas ações, cumprindo com a tecnologia necessária para que as pessoas consigam assistir esses materiais. Sem contar a pressão das empresas, que necessitam de parâmetros confiáveis para apostar numa campanha publicitária que seja assertiva e que proporcione o retorno desejado.

O YouTube tem um desafio grande em relação à gestão de todos esses interesses que são sérios e lida não só com o entretenimento, mas com o comportamento social e a publicidade neste espaço. Com as políticas se tornando mais rigorosas, os youtubers aumentaram a sua produção de conteúdo e precisaram pensar em estratégias complementares de ganhar dinheiro: publicidade, espetáculos, shows, cinema, livros, desenvolvimento de produtos, palestras, entre outros. Porém, muitas pessoas têm dificuldade de lidar com mudanças e têm tomado atitudes drásticas.

De acordo com os portais G1, no dia 03 de abril e O Globo, no dia 04 de abril de 2018, uma youtuber, de 39 anos, de origem iraniana, acusou o YouTube de discriminá-la, pois o seu canal estaria sendo privado de visualizações. Em meio a várias críticas à plataforma, ela cometeu suicídio na sede da empresa, na Califórnia (EUA) (G1, 2018; O GLOBO, 2018).

Cada vez mais, a empresa precisa estar atenta aos impactos sociais que vem causando, especialmente aos vídeos e comentários abusivos, que incitam os discursos de ódio, o preconceito e a discriminação. É importante que ela promova um ambiente participativo, que engaje as pessoas, mas ela não pode ficar omissa aos casos obscuros que ali acontecem.

As redes sociais digitais são um espaço de expressão e propiciam o debate, a conversação, porém a realidade também mostra que muitas pessoas cometem crimes nesses ambientes. À medida que situações extremas acontecem, estão sendo sancionadas leis que garantem a punição para essas infrações e o YouTube deve ser uma empresa atenta às questões que, de alguma forma, ferem os direitos dos seus usuários.

Em abril de 2018, a revista de negócios norte-americana Bloomberg Businessweek7 publicou a matéria An ever-expanding, never-ending, time-sucking

rabbit hole of a problem that starts with YouTube, algo como: ―Um problema sempre

crescente, interminável, sugador de tempo que começou com o YouTube‖. O texto alerta sobre o fato da plataforma ter se tornado uma espécie de cidade que cresceu demais, em pouquíssimo tempo, e as suas leis já não comportam mais o seu tamanho. De acordo com a publicação, à medida que a supervisão do conteúdo diminuiu, a quantidade de material postado no YouTube dobrou em dois anos. ―Até 2010, 24 horas de vídeo estavam sendo enviadas a cada minuto. Hoje, estima-se mais de 450 horas por minuto‖ (SHAW; BERGEN, 2018, p. 48, tradução nossa)8

. A quantidade de material postado gera uma ansiedade tanto em quem produz conteúdo para a plataforma, pelo fato da necessidade de reconhecimento e da monetização, quanto para quem acompanha os vídeos. As pessoas fazem o upload de vídeos consecutivos e os influenciadores criam uma base de fãs maior, além de passarem a trabalhar por muitas horas mais.

O site americano sobre jogos eletrônicos Polygon, operado pela empresa multinacional americana de mídia digital Vox Media, também publicou uma matéria, em junho de 2018, em que questiona a felicidade dos youtubers, uma vez que vários têm apresentado sintomas de crise de Burnout, ataques de pânico e depressão. O texto atribui o problema às mudanças constantes no algoritmo da plataforma e à pressão por mais conteúdo nas redes sociais digitais, que estão tornando quase impossível que os principais criadores continuem no ritmo que tanto a plataforma, quanto o público deseja.

Nos últimos anos, youtubers conhecidos, como Kéfera Buchmann, do canal 5inco Minutos, com mais de 11 milhões inscritos9 e o próprio Felipe Neto constantemente dividem em suas postagens preocupações com o tom dos seus vídeos e a resposta do seu público. Isto é explicitado por Felipe Castanhari (2017) no vídeo em que comemora 10 milhões de assinantes no seu canal. Em uma espécie de ―crise de Burnout‖ dos criadores de conteúdo, ele acaba por utilizar o seu momento de comemoração para discutir sobre a forma como o público reage ao seu

7

A autora entende que esta fonte não é canônica, mas faz um importante alerta sobre os desafios do YouTube, a partir da sua expansão, especialmente sobre a produtividade dos criadores de

conteúdo.

8―By 2010, 24 hours of video were being uploaded every minute. (Today, it‘s more like 450 hours per minute)‖ (SHAW; BERGEN, 2018, p. 48).

9

conteúdo. Diante disso, é possível refletir sobre a necessidade de um acompanhamento psicológico, não técnico, para estes jovens que atingem tamanha influência com tenra idade.

Ao mesmo tempo em que os influenciadores vivem o sonho de serem reconhecidos pelo seu trabalho, de poderem fazer o que gostam, de trabalharem em casa ou num escritório próprio, serem bem remunerados, terem a oportunidade de conhecer e trabalhar para grandes marcas e serem bajulados por fãs, estão expostos em um ambiente altamente competitivo e que exige criatividade constante. Para manterem-se como principais criadores de conteúdo em meio a concorrência, eles precisam entender e se adequar ao sistema do YouTube. Segundo a matéria do site Polygon, a classificação do algoritmo é a melhor teoria em que os youtubers trabalham quando se trata de garantir que seus vídeos sejam vistos pelo maior número de pessoas possível:

Há um monte de pequenos truques que compõem a classificação do algoritmo (os vídeos devem ter mais de 10 minutos, por exemplo), mas um dos detalhes mais importantes é a frequência. Acredita-se que as contas do YouTube com mais de 10.000 inscritos devem postar diariamente, pois o algoritmo do YouTube favorece a frequência e o engajamento. (ALEXANDER, 2018).

Não ter clareza sobre o funcionamento do sistema de monetização do YouTube e o receio de que os vídeos sejam suprimidos e os envios menos frequentes são preocupações constantes dos influenciadores digitais. ―E como a maioria das ansiedades que não são tratadas, elas se acumulam em um ponto de ruptura‖ (ALEXANDER, 2018).

O esgotamento apresentado por muitos revela que os youtubers precisam de um tempo diário para si, de acompanhamento médico e psicológico e de férias, como qualquer outro profissional. Nesse sentido, até onde se sabe, o YouTube não oferece um suporte para os criadores de conteúdo, e nem fica claro se a empresa presta ajuda profissional aos principais produtores de conteúdo que tornaram o Burnout público.

3 O INTERESSE DO PÚBLICO E DO MERCADO POR VÍDEOS

Este capítulo busca entender o interesse das pessoas pelo consumo de vídeos e os impactos dessa mídia no campo social e mercadológico. Para tanto, foram pesquisados os personagens que criam conteúdo para a plataforma e o seu relacionamento com o público, que despertou na publicidade uma possibilidade eficaz e mais barata de promover produtos, serviços e comportamentos. Uma vez que esses youtubers se tornam influenciadores digitais e engajam uma quantidade considerável de seguidores, a mídia tradicional (composta pela televisão, rádio, jornais e revistas) volta a sua atenção a esse nicho em forma de pauta.