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De acordo com Jenkins (2009, p. 41): ―[...] cada meio de comunicação antigo foi forçado a conviver com meios emergentes‖. Para o autor, a partir da convergência é possível entender as transformações da revolução digital e ele reforça que: ―[...] os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão sendo transformados pela introdução de novas tecnologias‖ (JENKINS, 2009, p. 41-42).

É cada vez mais comum as pessoas estarem cercadas de telas. É possível trabalhar utilizando um computador, por exemplo, conversar pelo smartphone e estar com a televisão ligada. Os sujeitos vão aprimorando a sua capacidade de acompanhar esses conteúdos simultaneamente.

Uma das situações comuns de uma segunda tela é quando as pessoas assistem um conteúdo na televisão e, ao mesmo tempo, acompanham a programação em aplicativos mobile, como o Twitter e o Facebook. Compreendendo este comportamento e querendo alcançar maior engajamento do público nas redes sociais digitais, cada vez mais, a programação da TV estimula essa participação do público com o uso de hashtags específicas em programas ao vivo. Lotz (2007, p. 50) contribui ao dizer que: ―a tecnologia também vem exigindo ajustes na distribuição de televisão e modelos de negócios para disponibilizar conteúdo nas novas telas.‖ Jenkins (2009) aprofunda a explicação:

A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Lembrem-se disso: a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final. Não haverá uma caixa preta que controlará o fluxo midiático para dentro de nossas casas. Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da convergência. (JENKINS, 2009, p. 43).

Em julho de 2017, foi realizado o Estudo Video Viewers (GOOGLE, 2017). A pesquisa ouviu 1500 brasileiros entre 14 e 55 anos, das classes A, B e C, que assistem regularmente televisão em cinco capitais brasileiras: Porto Alegre, Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo e algumas cidades do interior de São Paulo. Esta amostra representa 123 milhões de pessoas e 80% do consumo de mídia do Brasil. Os dados, divulgados em setembro de 2017, revelam que a quantidade média de horas semanais assistidas de vídeos on-line no Brasil é de 15,4, representando um crescimento de mais de 90% nos últimos três anos. Enquanto isso, o consumo de TV passou de 21,9 para 22,6 horas semanais no mesmo período e, em alguns casos os espectadores já estão assistindo a quantidades de tempo equivalentes de TV e de internet ou dividindo a audiência entre um e outro.

Segundo a pesquisa, 87% dos brasileiros declarou estar conectado à internet enquanto a televisão está ligada. O mobile é outro protagonista dessa mudança de comportamento do consumo de vídeos. De acordo com o Estudo Video Viewers, sete em cada 10 brasileiros têm um smartphone e 57% já consideram o dispositivo seu principal meio para assistir os conteúdos em vídeo. O mobile também divide a atenção dos brasileiros, que se tornam ―multitarefa‖ ou ―multitelas‖: 68% declaram assistir YouTube via Smart TV (GOOGLE, 2017).

Contando com uma interface de fácil manuseio, o YouTube possibilitou a qualquer pessoa que utiliza computador a postar na internet um vídeo em que milhões podem vir a acessar. A grande variedade de tópicos cobertos pelo YouTube tornou o compartilhamento de vídeo uma das mais importantes partes da cultura da internet. Jenkins (2014) fala mais a respeito do sucesso da plataforma:

De fato, o sucesso do site se deve, em parte, a certa flexibilidade que o torna acessível e valioso para essa base de usuários diversificada. Com poucos limites reais sobre o que pode ser enviado via upload para o site, o YouTube é uma plataforma que oferece um alcance potencialmente grande para todos que chegam. O site incentiva os usuários a pensar em si mesmos como uma espécie de moeda, com os participantes ganhando prestígio social através do número de visitas que atraem. (JENKINS, 2014, p. 127).

Sonia Montaño (2015, p. 71) também explica: ―fazer um login no YouTube significa iniciar coleções de vídeos, ou de comentários ou de amigos, processos todos mediados por vídeo.‖ Burges e Green (2009) enfatizam que os vídeos

populares da plataforma são contribuições de uma diversidade de profissionais, semiprofissionais, amadores e participantes pró-amadores.

Não há uma regra para o sucesso no YouTube. Existem canais bem- sucedidos com vídeos gravados num mesmo ambiente, com o celular estático e sem edição e há aqueles que contam com câmeras profissionais, luzes artificiais, vários enquadramentos, em movimento e com cenários diversos. É fato que tem espaço para diversos formatos e temas. Nesta dinâmica baseada na oferta gratuita de conteúdo, alguns produtores utilizam os dados ofertados pela plataforma para compreender o resultado dos seus uploads e a forma como eles resultam ou não em uma conexão com o público.

No momento em que as pessoas assistem a um vídeo na plataforma, ela automaticamente vai sugerindo mais conteúdo daquele canal e de canais com assuntos parecidos, formando uma espécie de biblioteca pessoal no site e fazendo com que o público fique mais tempo conectado, consumindo conteúdo. Assim, autores como Trigo (2003) e Gomes (2009) explicam: ―[...] entretenimento passou a ser um componente importante para atrair o consumo e oportunidades de negócios. Não basta oferecer produtos ou serviços. É preciso informar e divertir, criar estilos de vida, gerar experiências para as pessoas‖ (TRIGO, 2003, p. 147); e ―[...] entretenimento é um valor das sociedades ocidentais contemporâneas que se organiza como indústria e se traduz por um conjunto de estratégias para atrair a atenção de seus consumidores‖ (GOMES, 2009, p. 204). Ou seja, os youtubers têm diversas oportunidades para trabalhar os conteúdos em seus canais, mas vários deles caminham para o viés do entretenimento, que engaja muitas pessoas e, consequentemente, promove ainda mais o canal.