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Apresentar-se como celebridade independentemente do público que está prestando atenção é uma característica das microcelebridades dentro de determinados grupos ou nichos. É muito comum que pessoas que almejam esse

status se projetem na internet, organizando conscientemente o eu para obter

reconhecimento ou sendo atribuída fama pelos outros devido às suas realizações. No entanto, aqueles que buscam atenção e visibilidade por si só, sem uma realização proporcional, arriscam-se a ter sua vida vigiada e julgada pelas pessoas. Para Adriana Braga (2010):

A facilidade de publicação e os ínfimos custos de produção possibilitaram a emergência de uma multitude de novos enunciadores nos meios digitais. Não obstante, continuam a haver hierarquizações simbólicas entre esses enunciadores. Por serem múltiplos, não significa que sejam iguais em poder. Alguns deles/as se destacam em seu circuito interacional próprio, ganham seguidores/as e fãs em números notáveis, e suas opiniões são mais valorizadas do que as dos/as demais participantes. (BRAGA, 2010, p. 02).

De acordo com Alice E. Marwick (2013) tornar-se uma microcelebridade requer criar uma persona, produzir conteúdo e ser estrategicamente atraente para

os fãs on-line por ser ―autêntico‖. Autenticidade, neste contexto, é uma qualidade que assume muitas formas, da interação direta com admiradores à discussão pública de informações pessoais.

A autora explica que, embora as microcelebridades adotem os princípios da cultura de celebridades e as apliquem às interações on-line, as celebridades da internet não são tradicionais. Elas, geralmente, não têm equipes de agentes e gerentes para protegê-las do público e estão trabalhando dentro de um ambiente diferente, que idealiza a transparência e, portanto, espera certa quantia de exibicionismo. Há um entendimento de que as microcelebridades devem ser disponíveis e mais ―reais‖ do que estrelas da televisão ou dos palcos. As recompensas de alcançar o status de microcelebridade podem parecer consideráveis, mas o custo costuma ser alto.

Em meio a algoritmos que trazem maior visibilidade àqueles que produzem quantidade superior de vídeos e se fazem presentes nas múltiplas plataformas, os influenciadores digitais têm passado boa parte dos seus dias com uma câmera nas mãos e conectados com o público. A sua intimidade é apresentada, o público conhece a casa dessas personalidades, seus familiares, a sua alimentação, as suas atividades, enfim, a sua rotina é constantemente exposta, havendo ou não cunho publicitário envolvido. Por mostrarem a sua vida real, essas pessoas são também criticadas por aqueles seguidores que têm uma visão, hábito ou ideia contrária às que os influenciadores apresentam, elevando a exigência do que é compartilhado e causando, em contrapartida, também stress nessas personalidades.

Se considerarmos as mudanças ocorridas no cenário da internet de 2013 para 2018, embora sejam poucos anos, algumas diferenças consideráveis ocorreram. Hoje, a web conta com celebridades consolidadas, com uma audiência milionária – comum que influenciadores digitais tenham mais de um milhão de seguidores e já contem com equipe, algumas menores, outras maiores, mas composta basicamente por fotógrafo, editor, assessor de comunicação e comercial/administrativo, alguns deles sendo familiares ou terceirizados contratados.

Com a popularização do YouTube, a publicidade voltada para a contratação de produtores de conteúdo on-line para as ações comerciais das marcas e a expansão das atividades dessas figuras, como o lançamento de livros próprios, peças de teatro, shows, filmes e participação em programas de televisão, já é possível encontrar as celebridades da internet, conhecidas internacionalmente. As

imagens das microcelebridades, como as das celebridades em geral, são cuidadosamente construídas para atrair a atenção do público e a publicidade.

Braga (2010, p. 05) reforça que a internet proporcionou o surgimento de novos atores no campo discursivo das mídias e provocou, entre outras alterações, uma dispersão do monopólio da produção e veiculação midiática de conteúdo, por meio de: ―[...] novos sujeitos enunciadores em condição de disponibilizar conteúdos em larga escala, o chamado ‗poder da mídia‘, descentralizando, de certa maneira, o oligopólio da enunciação midiática‖. A autora destaca ainda:

A interatividade e o recurso de utilização da hipertextualidade característicos desses ambientes proporcionam a formação de uma listagem de indicação de links constituída a partir dos interesses temáticos do grupo, o que gera uma rede de interações comunicativas e circulação de saberes específicos por essa via. Desta forma, ampliou-se a oferta de sentidos, as representações no campo das mídias, trazendo novas expressões ao já intrincado e complexo campo simbólico das representações midiáticas. (BRAGA, 2010, p. 5).

Independente da audiência real, a microcelebridade se projeta como uma celebridade e trata o público de acordo. As pessoas com quem interagem on-line são consideradas seguidores ou fãs e essas relações são cuidadosamente mantidas para sustentar a sua popularidade.

Quem os acompanha, ao conseguir um contato, durante um evento ou num encontro casual em local público, também se comporta de um jeito parecido àqueles observados em relação às celebridades dos meios massivos, com pedido de foto, autógrafos e oferta de presentes. Ao obter essa apoximação face a face, a pessoa que acompanha o influenciador posta nas suas redes sociais digitais pessoais esse feito, com intuito de comemorar e divulgar o momento com os seus amigos, propagando ainda mais a imagem da microcelebridade na sua rede.

No dia 9 de julho de 2018, o Grupo de Pesquisa em Comunicação, Jornalismo e Mídias Digitais (Com Mais) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), publicou na sua fanpage21 um infográfico da Kuak – empresa que atua no desenvolvimento de soluções para o mercado de marketing de influência no Brasil –, com seis níveis e categorizou os influenciadores digitais de acordo com a quantidade de seguidores que cada um possui em pelo menos uma rede social.

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FIGURA 3 – Categorias de influenciadores digitais de acordo com a quantidade de seguidores

Fonte: elaborado pela autora, com base no Infográfico: quem são os influenciadores digitais? (KUAK, 2018).

Conforme o infográfico da Kuak (2018), Everyday Influencers são aqueles que muitas vezes não se consideram influenciadores e não monetizam suas contas nas redes sociais digitais, mas estão muito perto dos seus seguidores, que geralmente são amigos, familiares e colegas de trabalho. Os Nano Influenciadores assemelham- se aos Everyday Influencers, mas com mais notoriedade; são caracterizados pela alta confiança do seu público, mas ainda têm baixo alcance. Os Micro Influenciadores possuem um nicho específico e estão profundamente conectados com seus seguidores, apesar de terem baixo alcance, são altamente relevantes e muitos começam a se destacar ao produzirem conteúdo de qualidade. Os Macro Influenciadores já alcançaram um patamar maior no nicho em que atuam e começam a perceber mais destaque no alcance das publicações, porém com redução proporcional no nível de engajamento. Os Mega Influenciadores têm notoriedade no conteúdo que produzem e começam a ter maior visibilidade em eventos e ações de cross-media, muito comum que já utilizem a influência como fonte de renda. Por fim, as Celebridades possuem uma audiência massiva. Em geral, são personalidades da televisão, artistas, atletas, youtubers de sucesso, enfim, pessoas amplamente reconhecidas pela sociedade.

Assim, é possível entender que os influenciadores digitais são classificados de diversas formas, utilizando parâmetros como representatividade em seu nicho, a quantidade de seguidores, a sua interação com o público, entre outros. Isso também pode ser contextual, pois um influenciador de um determinado segmento pode ser mais relevante do que outro com mais seguidores se a sua reputação for maior entre o público, por exemplo.

Levando isso em consideração, é possível deparar com outras classificações não contempladas neste estudo. A verdade é que, atualmente, na sua maioria, os youtubers mais conhecidos alcançam o status de microcelebridades, por estarem em um nicho (internet) e não são de conhecimento massivo, de todas as pessoas.

4.5 A PUBLICIDADE IMPULSIONA NOVAS CELEBRIDADES QUE SÃO MAIS