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CAPÍTULO IV EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO EM 2001/

4.2. Experiência de formação observada pelos alunos

4.2.2. Desenvolvimento pessoal

Um dos aspectos que determina uma certa apreensão junto dos participantes é o facto de com regularidade terem que se expor perante os outros, o que interfere no «medo de ser observado» ou no «medo de falhar perante o público», como é referido nos textos transcritos pelos alunos.

Esta é uma questão que se procura ultrapassar com algum cuidado de modo a não ferir a sensibilidade de cada um, através da realização de um conjunto de actividades que introduzem progressivamente essa exposição de forma acessível, baseada numa movimentação contínua e dinâmica dos participantes e na diversificação das interacções entre todos os elementos do grupo, como reforço do colectivo, incluindo o próprio professor.

A evolução da destreza corporal ao longo das sessões, bem como a correcção e firmeza da postura do corpo, a educação do olhar para formas mais construtivas da apreciação do que se «vê», assim como o reforço da disponibilidade para participar em novas situações, vem alterar uma forma de estar muito susceptível e condicionada pela

opinião dos outros para um reforço da segurança em que se manifesta a expressão individual.

A confrontação com situações inesperadas que fazem um apelo constante à capacidade de imaginação, tendo regularmente por base a exploração do movimento e a manipulação de objectos, estimula a capacidade criadora dos participantes e contribui significativamente para o desenvolvimento da expressão e da comunicação individual e colectiva.

Não se trata só de agir, mas de saber agir e de saber ser quando se age. A formação pessoal está muito para além da mera aquisição de técnicas facilmente adaptáveis à realidade escolar, ela deve promover junto dos futuros formadores um questionamento constante sobre as práticas dramáticas, consciencialização necessária à sua intervenção neste domínio de forma reflectida e adaptada à realidade em que exerce a acção.

Transcrevem-se em seguida sínteses dos textos dos alunos que se aproximam desta temática:

- “(…) este tipo de exercícios é muito importante para que nós nos sintamos capazes de com um número reduzido de instrumentos, fazermos coisas muito engraçadas e originais e também para nos despirmos da timidez e do medo de falhar perante o público.” (A7-F7: 348);

- “(…) cada colega do círculo interior estava frente a outro do círculo exterior. Este exercício fez com que eu me relacionasse com colegas que eu não tenho muito à vontade. Acho que descobri qualidades nos colegas e em mim próprio.” (A7-F7: 605);

- “(…) foi igualmente positivo para toda a turma o poder conhecer os «dotes» de cada um (…).” (A7-F9: 607);

- “Estas aulas proporcionaram-me a possibilidade de me conhecer um pouco melhor, melhorar a minha postura e atitude perante outras pessoas.” (A7-F9: 678);

- “Perante isto, interiorizada e integrada na disciplina, senti uma maior aproximação, capacidade de relação, de comunicação com os outros (professor e elementos da turma ou do grupo) e, assim, maiores possibilidades expressivas (atitudes, ritmos e formas corporais).” (A7-F9: 300-301);

- “Pessoalmente já sentia a importância da postura do nosso corpo, o quão influencia os outros, o modo como nos movimentamos e como estamos num espaço.” (A7- F9: 314);

- “O facto de estarmos constantemente em acto de criação, faz-nos desenvolver a capacidade de raciocínio, estamos permanentemente a tentar criar, inovar e inventar algo (…) Esta postura alarga-nos horizontes para qualquer actividade (…).” (A7-F9: 314);

- “As aulas são uma contínua descoberta das nossas possibilidades, dos outros e até das possibilidades das outras coisas, como é o caso dos suportes do movimento (os objectos, a música…).” (A7-F9: 315);

- [...] gostava de referir até que ponto estas aulas interferiram na minha pessoa. Começo por dizer que é nas aulas que me sinto melhor, entendendo isto como um à vontade. Consigo exprimir os meus sentimentos, deixando de lado aquela pessoa fria que eu sou. Aqui eu parei para pensar e cheguei à conclusão que por vezes o facto de eu não me dar bem com certas pessoas é devido à falta de diálogo. Este diálogo é muito importante, e não se deve deixar de lado. Eu era uma pessoa que não expunha as minhas ideias perante a turma e através destas aulas ultrapassei esta fobia.

Em suma, direi que as aulas de ED mudaram totalmente a minha visão de ver as coisas, pois, aprendi a comunicar com os outros e tento entender a realidade com outros olhos que não via antes. [...] (A7-F9: 321);

- [...] As aulas de ED ajudam-nos a conhecermo-nos, e a conhecer os outros, pois através delas podemos dar livre curso às nossas ideias e de um certo modo descobrir o mundo em que vivemos (…) estimulamos a nossa imaginação, pois por várias vezes tivemos de fazer exercícios de forma imediata que quase não tínhamos tempo para pensar. [...] (A7-F9: 324);

- [...] Estas aulas, ajudam também a desenvolver a nossa personalidade, assim como uma melhor adaptação ao meio que nos envolve, onde projectamos a nossa emoção e sensibilidade. É no desenvolvimento sucessivo destas aulas que expressamos livremente as nossas ideias, imaginação e capacidade criativa. [...] (A7-F9: 340);

- “A ED é uma forma de comunicação muito interessante, porque estimula a nossa imaginação e liberta as nossas emoções. Os condicionamentos negativos são postos de lado, tais como, a timidez, o medo de ser observado, etc…” (A7-F9: 341);

- [...] somos incentivados a expressar livremente os nossos desejos e tensões interiores. Também é criada uma boa relação colectiva com os nossos colegas, engrandecendo ao

mesmo tempo a nossa personalidade. Considero que é uma disciplina importante para a nossa formação. [...] (A7-F9: 341);

- “(…) consegui sentir-me completamente livre e mais segura dos meus movimentos.” (A7-F3: 344);

- [...] Outro aspecto em que eu verifiquei uma certa evolução de aula para aula, foi em relação ao medo e a vergonha que inicialmente sentia e que fazia com que não me sentisse tão à vontade.

Ao longo das aulas esse medo e essa vergonha foram desaparecendo e fui-me libertando mais, o que me fez sentir melhor e despertar ainda mais o meu interesse por esta área. [...] (A7-F9: 352);

- “(…) passei a confiar mais nas minhas capacidades e na minha criatividade.” (A7-F9: 352);

- [...] Antes de ser chamada directamente pelo professor, tinha vontade de fazer esta actividade voluntariamente mas estava camuflada pelo medo da exposição corporal que exigia. No entanto, quando a executei, senti um grande «alívio» e contentamento por ter conseguido, demonstrando a toda a turma um movimento que pertencia a um momento da aula que me agradou bastante. [...] (A7-F5: 367);

- “(…) permitiu-me uma aproximação a alguns colegas da turma com os quais não tinha uma relação muito próxima (…).” (A7-F8: 376);

- [...] Na minha opinião, é de grande relevância este tipo de actividades, na medida em que apela para a criatividade, para o despertar da nossa imaginação, podendo também ajudar-nos a libertarmo-nos de tudo o que possa «prender» os nossos movimentos e expressão e a estar mais à vontade perante os outros. [...] (A7-F7: 400);

- [...] parece que esquecemos, por um momento que estão a olhar para nós e conseguimos expressar-nos e dar o que temos. É uma forma de comunicação e expressão que nos possibilita um conhecimento do nosso ser e também um descobrir do que vai nos outros. [...] (A7-F7: 400);

- “(…) pudemos descobrir o que vai em nós para além do que já conhecemos e o que poderemos ser e fazer, se nos libertarmos de preconceitos e deixarmo-nos levar pela imaginação e descontracção.” (A7-F9: 402);

- [...] Nestes momentos eu pensei em todo o nosso trabalho e em todas as actividades realizadas e nunca a turma conseguiu ficar tão junta, tão unida. Nunca, pelo menos que

eu me tenha apercebido, houve forma de trabalho que exercitasse a cooperação entre todos os elementos da turma.

O facto de, tanto eu, como todos os meus colegas termos tido a possibilidade de, por momentos, trabalhar com os restantes elementos da turma foi mesmo extraordinário. [...] (A7-F7: 412);

- “(…) as aulas têm muito ritmo, são criativas e isto desenvolve-nos bastante.” (A7-F2: 435);

- “Desde sempre achei que tinha muito pouca capacidade de concentração e de ouvir os outros e neste momento, penso que estas aulas me ajudaram muito a controlar as minhas emoções e a desenvolver a minha capacidade de «escutar os outros».” (A7-F9: 466);

- [...] No início, era uma pessoa mais retraída e fechada; com o decorrer das aulas tenho vindo a notar que me sinto cada vez mais à vontade…No entanto, tenho consciência que ainda não estou completamente «solta» da timidez e dos meus receios, mas tenho esperanças que até ao final do ano, tudo se supere! [...] (A7-F9: 550);

- “(…) desenvolveu em nós atitudes, pensamentos e maneiras de agir (…). Levou- me a ter mais capacidade de concentração, de reflexão e até mesmo de imaginação.” (A7- F9: 563);

- “Percebi que é importante estar preparado para me adaptar a novas situações, pois na maior parte das vezes prepara-se uma aula e no concreto acabamos por fugir àquilo que tínhamos programado, pois a turma encaminhou-se num outro sentido.” (A7-F9: 607); - “Estas aulas poderão servir-nos de muito porque desenvolvem aspectos como o à vontade perante os outros, o improviso, a imaginação, a criatividade…” (A7-F9: 525);

- [...] As actividades da aula possibilitaram um maior domínio sobre o nosso corpo quando procuramos dar expressividade, explorando a dimensão gestual. Através de um gesto apercebemo-nos da situação em si.

Estas actividades permitiram-nos um desenvolvimento pessoal e colectivo, em situações expressivas utilizando o corpo, o espaço e objectos. [...] (A7-F6: 652);

- [...] Falando, propriamente, nas actividades realizadas durante estas aulas: forneceram dados decisivos de como devemos conhecer e interagir com os outros e à criação de um espírito de grupo mais sólido, mais unido. Promoveram momentos de solidariedade, de amizade, de tolerância, de descontracção, de alegria e é claro que todos estes momentos

de partilha são fundamentais para o enriquecimento da experiência pessoal e de grupo. [...] (A7-F9: 653-654);

- “(…) pude constatar que colegas que por vezes nos parecem um pouco introvertidos em situação de representação transformam-se (…) é importante na medida em que, nos ajuda a enfrentar o público, e estar em situação de comunicação com os outros.” (A7-F6: 664-665);

- “O facto de termos que imaginar uma situação que envolvesse esses dois objectos e representá-la para a turma fez-nos desenvolver a nossa criatividade, a nossa coragem e, até mesmo a nossa capacidade de iniciativa.” (A7-F6: 411);