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CAPÍTULO II QUADRO TEÓRICO

2.1. Evolução histórica recente da expressão dramática e do ensino artístico em Portugal

O percurso da expressão dramática como actividade artística integrada no sistema de ensino, de acordo com Nóvoa (1986), foi significativamente influenciado pelo processo sociopolítico que dominou o século passado.

No início desse período, esta actividade era considerada como auto-educação, consistindo na representação de pequenas peças de teatro realizadas pelas crianças nas escolas. A par da educação estética, da participação na assistência a espectáculos, e como meio de aprendizagem, utilizavam as actividades dramáticas como facilitadoras da aquisição de conhecimentos.

A difusão da expressão dramática nas escolas primárias do início do século, como refere Nóvoa (1986), foi desencadeada pelo movimento da «Educação Nova» que encontrou nas escolas normais um espaço privilegiado para o desenvolvimento de práticas pedagógicas activas e inovadoras.Com o aparecimento do «Estado Novo», em 1926, foram excluídas todas as práticas artísticas das actividades escolares, verificando-se o seu ressurgimento com a instauração do regime democrático, em 1974.

Ainda de acordo com Nóvoa (1986), existiam nessa altura dois movimentos implicados no desenvolvimento da expressão dramática no nosso país: o primeiro deles, associado à educação pela arte e desencadeado a partir dos anos cinquenta com a criação da Associação Internacional de Educação pela Arte, defendia uma abordagem pluridisciplinar das diferentes formas de expressão artística. O segundo, formado pelo grupo de professores de «Movimento e Drama» do Magistério Primário, defendia a integração da expressão dramática na escola, tendo em vista a valorização da actividade ludo-expressiva da criança.

A responsabilidade pela elaboração dos programas experimentais de actividades dramáticas para o ensino primário, como refere Nóvoa (1986), foi entregue a este último grupo que coordenou também a organização dos Encontros Internacionais de Expressão Dramática, acontecimentos que desencadearam um intercâmbio de conhecimentos entre especialistas de várias nacionalidades. Caracterizava-se por atribuir à prática um grande valor pedagógico.

A experiência pedagógica do Conservatório Nacional de Lisboa, a partir de 1971, com a criação das escolas de formação artística (Dança, Teatro, Cinema, Formação de Professores de Educação pela Arte), na qual Madalena Perdigão, contando com a colaboração de vários artistas nacionais e estrangeiros, desempenhou um papel fundamental, influenciou também decisivamente o Movimento da Expressão Dramática em Portugal, de acordo com Fragateiro (1989a).

Com refere o mesmo autor, os Encontros Internacionais de Expressão Dramática na Educação foram considerados uma referência para o Movimento Internacional da Expressão Dramática e do Teatro na Educação, tendo tido um impacto significativo no nosso país.

O primeiro, realizado em Lisboa, em 1981, teve a sua origem na necessidade de sistematizar as experiências e práticas artísticas, nacionais e estrangeiras, como ponto de partida para a sua integração no sistema educativo.

O segundo, realizado na mesma cidade, em 1983, para além da análise das práticas específicas do teatro na educação, perspectivou a criação de um ensino artístico integrado no sistema educativo. A formação de professores especialistas neste domínio foi também uma das preocupações deste encontro, em consequência do aparecimento de vários projectos específicos de intervenção no domínio da actividade dramática.

O terceiro encontro, realizado também em Lisboa, em 1986, deu continuidade à sistematização das experiências. De acordo com Fragateiro (1989b), promoveu a definição dos objectivos psico-pedagógicos específicos da expressão dramática e procedeu à elaboração de projectos de intervenção nos vários níveis de ensino. A criação de um Centro Internacional de Expressão Dramática foi também um dos desafios lançados pelo conjunto de especialistas nacionais e estrangeiros.

O quarto encontro teve lugar no Porto, em 1989, tendo reunido perto de duzentos e cinquenta professores de vários países e produziu um conjunto de recomendações, tendo em conta a realidade portuguesa. Passamos a citar:

- Institucionalização da expressão dramática e do teatro na educação, alargados aos vários níveis de ensino e cumprindo o prescrito na Lei de Bases do Sistema Educativo;

- Inclusão da expressão dramática nos currículos de formação inicial de professores e educadores;

- Inclusão da expressão dramática nos projectos de formação contínua dos professores do ensino não-superior, como um elemento fundamental no processo de transformação de atitudes e de comportamentos, indispensáveis à concretização da Reforma do Sistema de Ensino;

- Criação dos Diplomas de Estudos Superiores Especializados, dirigidos aos professores do 1º ciclo do ensino básico e aos educadores de infância em serviço, como resposta às necessidades do Sistema Educativo.

A nível internacional a comissão teceu um conjunto de recomendações das quais sublinhamos:

- Organização de um fundo internacional de documentação e de um sistema de informação permanente;

- Redacção de uma carta internacional definindo as orientações fundamentais para o desenvolvimento da Expressão Dramática e do Teatro na Educação;

- Elaboração de um protocolo à escala europeia definindo os códigos da formação de formadores.

Este último evento, surgido na sequência da integração das artes na educação através da publicação, em 1986, da Lei de Bases do Sistema Educativo, correspondia aos anseios da comunidade educativa familiarizada com a educação artística, sobretudo nas instituições de formação de professores, que considerava esta área como determinante para a formação pessoal e profissional dos futuros formadores, entendida numa perspectiva de aperfeiçoamento contínuo, actualizada e em sintonia com o trabalho desenvolvido noutras instituições estrangeiras.

Nos anos 90 as actividades artísticas e culturais nas escolas tiveram um desenvolvimento muito intenso, na sequência do movimento desencadeado com a criação do projecto da «Escola Cultural», em 1987, encontrando na «Área Escola» o apoio necessário para a concretização de projectos que poderiam desenvolver-se ao abrigo de parcerias com instituições culturais exteriores ao sistema de ensino.

Foi também a partir desta data que um conjunto de professores de expressão dramática, essencialmente ligados à formação de professores e exercendo a sua actividade em instituições do ensino superior, pôde aprofundar conhecimentos neste domínio, na Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Montréal, sob a orientação de Gisèle Barret, o que veio a contribuir para a valorização da formação de formadores nesta área artística