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CAPÍTULO IV EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO EM 2001/

4.1. Actividades desenvolvidas ao longo do ano lectivo

4.1.4. Primeiro balanço

“Podemos provocar uma relação com as coisas que de certa forma de outra maneira não há”. Esta frase proferida por uma das alunas foi a forma encontrada para identificar a natureza do trabalho desenvolvido até esse momento e surge na sequência de um primeiro balanço das actividades realizadas nesta área.

O processo desenvolvido nesta primeira etapa com a diversidade de actividades realizadas está bem presente na memória dos participantes sobressaindo os trabalhos de improvisação que envolveram a exploração de objectos, sobretudo o exercício em que estavam presentes quatro deles. Um dos aspectos que sobressaiu nesse trabalho, como vimos, foi a relação particular com a tábua de engomar, o que desencadeou como resultado das representações dos vários grupos um conjunto de observações críticas sobre o universo masculino e feminino muito associado ao desempenho das tarefas domésticas.

Se bem que todos afirmassem que não existem trabalhos que pertencem em exclusivo a um sexo em particular, o grupo acabaria por reconhecer que os trabalhos domésticos são predominantemente executados pelas mulheres e que isso corresponde a uma sobrecarga de funções para as mesmas.

Algumas alunas referiram que o facto de terem de cozinhar as refeições ao fim da tarde as impedia de entregar atempadamente as reflexões individuais sobre as aulas. O diálogo generalizou-se sobre quem tinha de fazer regularmente refeições, o que fazia, de modo simples ou mais elaborado, o que cozinhavam os rapazes da turma, se havia uma cozinha feminina e outra masculina, como são geridas as tarefas domésticas.

Os alunos manifestaram interesse nas questões que se levantaram tendo participado activamente na discussão sobretudo no que se referiu aos preconceitos relacionados com o que são tarefas femininas ou tarefas masculinas.

Esta 12ª sessão permitiu observar o que a frase daquela aluna dava a entender; que as actividades dramáticas podem desencadear questões que habitualmente não se discutem, mas que continuam pendentes como zonas de conflito adormecido, e que através da dramatização, como criação de uma ficção, é possível fazer emergir os pensamentos «oprimidos» de que falava Boal na sua prática.

O professor chamou a atenção dos alunos para o percurso efectuado até esse momento, a progressão do trabalho realizado, a relação de cada um consigo próprio, a relação com os outros, a relação com o que nos rodeia, a relação com a criatividade, a relação com o comportamento pedagógico do professor, dando exemplos dos vários momentos desse percurso.

Esta reflexão teve continuação na sessão seguinte (13ª) com a clarificação das finalidades da prática de actividades dramáticas em contexto de formação de professores, procurando identificar as várias etapas do processo desenvolvido.

Sendo necessário reanimar as actividades corporais como uma característica essencial deste trabalho, foram desenvolvidos de seguida os seguintes exercícios:

- Pede-se aos alunos que caminhem livremente pela sala de aula estabelecendo-se a regra de que logo que ouvem um som, o som do bater de palmas, cada um dos participantes pára, ficando imóvel;

- Desenvolvimento do exercício anterior com a chamada de atenção para, ao andar, cada participante tenta corrigir a postura corporal, imprimir firmeza no andar, o olhar em frente, o movimento dos braços como factor de equilíbrio da marcha;

- Desenvolvimento do exercício anterior, com alteração sucessiva do ritmo e da direcção da marcha;

- Desenvolvimento do exercício anterior com a chamada de atenção para, se andar de forma silenciosa, de forma barulhenta, em «câmara lenta», em ritmo rápido, ficando imóvel na parte final;

- Continuação dos exercícios práticos com rotações dos ombros, do tronco, da cintura, dos joelhos;

- De seguida os participantes teriam que enrolar lentamente o corpo, de forma a ficar «completamente fechado» seguindo-se o processo inverso de abertura até ficar «completamente aberto»;

- Desenvolvimento do exercício anterior com a identificação de cada participante com uma flor, com o processo de crescimento de uma flor;

- Seguiu-se o exercício de lançamento de uma bola imaginária pela sala, tomando balanço para o fazer, com variações de ritmo, como proposta seguinte;

- De seguida os participantes escolhem um parceiro para jogar, um dos elementos lança uma bola imaginária para o outro tendo este que se integrar nesse jogo;

- Desenvolvimento do exercício anterior fazendo a inversão de papéis, tendo cada um a responsabilidade de, ao iniciar um exercício, fazer sempre uma nova proposta de jogo;

- Divisão da turma em dois grupos para realização de um jogo de voleibol sem bola sendo um dos alunos o árbitro;

- Retorno ao jogo anterior de pares com novas propostas de jogo;

- Organização da turma por grupos de oito elementos formando um círculo, um dos participantes coloca-se no centro do círculo, fecha os olhos, inclina-se progressivamente com o corpo direito, sendo amparado pelos colegas que voltam a colocá- lo na posição inicial;

- Continuação do exercício anterior alternando todos os elementos do grupo pelo centro do círculo;

- Depois de terminado o exercício anterior os participantes formam duas filas, de frente uma para a outra, cada um dos alunos dá as mãos ao colega que se encontra à sua frente, um de cada vez deita-se de olhos fechados na «cama» formada pelas mãos dos colegas, que executam movimentos suaves e ondulantes até o colocar lentamente no chão;

- Segue-se a retroacção sobre o trabalho realizado tendo-se falado sobretudo no exercício anterior com base nas exclamações dos alunos («espectacular», «parecia que estávamos a voar», «sentimo-nos bem», «perdemos a noção do tempo e do espaço»), da importância do relaxamento como forma de resposta às tensões do dia-a-dia, tornando a forma de estar mais descontraída e disponível, o que se reflecte também na qualidade da emissão vocal, aspectos que dizem respeito à pessoa mas também à função de professor e que interessam particularmente este grupo.