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Direitos fundamentais e direitos humanos na Constituição de 1988 A Constituição da República de 1988 estabeleceu, logo em seu

No documento Giane Alvares Ambrosio Alvares (páginas 37-42)

preâmbulo, que o Estado brasileiro foi projetado para “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça”.

Enlaçados aos princípios fundamentais e aos objetivos da República, apresenta-se no texto constitucional um amplo rol de direitos, compreendendo direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos e culturais, que não excluem

113 Constituição da República de 1988: Artigo 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

114 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.107- 108.

outros direitos e garantias decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição (artigo 5º, §2º115) e aqueles que decorrem de tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aos quais o Brasil tenha aderido (artigo 5º, §3º116).

Nesse ponto, implica notar que a ordem constitucional brasileira reconhece não apenas os direitos explicitamente previstos em seu texto, mas também os direitos implícitos a essa ordem constitucional e aqueles que passem a integrar a ordem jurídica em razão da adesão do Brasil a tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos.

Os direitos e garantias individuais e coletivos, arrolados nos incisos do artigo 5º da Constituição, devem ter sempre como premissa o conteúdo dos direitos formulados no caput do dispositivo legal, a saber, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade117.

Considerados, assim, os direitos individuais expressos e implícitos à ordem constitucional brasileira, José Afonso da Silva os classifica em grupos, a saber, o direito à vida, à intimidade, aos direitos de igualdade e de liberdade e o direito de propriedade118.

Quanto aos direitos fundamentais coletivos, encontram-se estes dispostos não somente no artigo 5º, mas também ao longo da Constituição. Como observa o autor, em algumas ocasiões confundem-se com os direitos fundamentais sociais, como é o caso do direito de associação profissional e sindical (artigos 8º e 37, VI), o direito de greve (artigos 9º e 37, VII) e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (artigo 225), entre outros119.

Quanto aos direitos fundamentais coletivos constantes do artigo 5º, trata- se, em alguns casos, não de direitos coletivos, mas de direitos individuais de expressão coletiva, do que são exemplos as liberdades de reunião e de associação (artigo 5º, XVI a XXI). Já os direitos dos consumidores (artigo 5º, XXXII e 170, V), o

115 Constituição da República de 1988: Artigo 5º – [...] §2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

116 Constituição da República de 1988: Artigo 5º –[...] §3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

117 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Artigo 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. 118 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.197. 119 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.197.

direito de receber informações (artigo 5º, XXXIII) e o direito de petição (artigo 5º, XXXIV, a), revelam-se como direitos próprios de expressão coletiva120.

O artigo 5º da Constituição da República também estabeleceu diversos princípios e garantias para proteção dos direitos fundamentais individuais. Na oportunidade adequada, serão explicitados aqueles princípios que, do ponto de vista da Constituição, orientam a atividade do poder punitivo do Estado brasileiro.

Dentre os direitos sociais, a Constituição da República de 1988 estabeleceu, em seu artigo 6º, o direito à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança, à previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados121. Para uma

classificação mais abrangente, considerando o quanto disposto nos artigos 6º a 11, José Afonso da Silva distingue-os entre os direitos sociais relativos aos trabalhadores, à seguridade (saúde, previdência e assistência social), à educação, à cultura, à moradia, família, à criança, ao adolescente, ao idoso e ao meio ambiente122. Esses direitos

são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais.123

Os direitos econômicos, como assere também José Afonso da Silva, possuem “uma dimensão institucional [...] é o direito de realização de determinada política econômica”124. Em outras palavras, refere-se à tentativa empreendida pela

Constituição de colocar ordem no caos que provinha do Estado de Direito liberal. Sua função não impõe necessariamente efeitos em benefícios da classe social desprestigiada economicamente, mas condicionamentos à atividade econômica que, ao lado dos direitos sociais, visam a realização da justiça social125.

A Constituição brasileira tratou do direito à cultura num sentido de alargada abrangência. Está prevista em diversos dispositivos (artigos 5º, IX, 23, III a

120 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.197; 261-270.

121Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Artigo 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

122 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.289. 123 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.289. 124 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.288. 125 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 37.ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p.799- 800.

V, 24, VII a IX, 30, IX e 205 a 217) e engloba o direito à cultura propriamente dita (artigo 215126 a 216-A) e o direito à educação (artigos 205 a 214).

A concretude dos direitos econômicos, sociais e culturais, porém, mostra- se um tanto mais complexa quando se observa que dependem das iniciativas políticas dos governantes e de condicionantes econômicas. Nesse sentido, quando o texto constitucional institui objetivos como a erradicação da pobreza e a diminuição das desigualdades e, ainda, reconhece essa vasta gama de direitos sociais, apresentam-se frágeis os mecanismos para sua efetivação, o que acaba por se dar mais no âmbito político de reivindicações das camadas da população interessadas.

Em relação aos direitos humanos, o Brasil aderiu, por sua lei fundamental, aos anseios e metas preconizados pela comunidade mundial a partir do segundo pós-guerra e firmou que o Estado brasileiro, em suas relações internacionais, será regido, entre outros princípios, pela prevalência dos direitos humanos (artigo 4º, II127).

Conforme assegura Flávia Piovesan, a consolidação dos direitos fundamentais e das instituições democráticas pela Constituição da República de 1988 “muda substancialmente a política brasileira de direitos humanos, possibilitando um progresso significativo no reconhecimento de obrigações internacionais neste âmbito”128.

Veem-se, assim, consagrados pela ordem constitucional brasileira, os direitos fundamentais (ou direitos humanos, como na nomenclatura internacional) em suas quatro dimensões incorporadas aos sistemas legais no curso dos acontecimentos históricos: os direitos civis e políticos, os direitos individuais, os direitos coletivos, os direitos sociais, econômicos e culturais, o direito à paz, à democracia, ao meio ambiente, entre outros já apontados.

Como veremos nos capítulos seguintes, a reconstrução e a sistematização da historicidade dos modelos de Estado e do quadro valorativo e

126 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Artigo 215 – O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

127Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Artigo 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não-intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

128 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 2.ed. São Paulo: Max Limonad, 1997, p.55.

normativo dos direitos fundamentais que no curso da História foram incorporados ao catálogo de direitos reconhecidos no plano internacional e na Constituição da República de 1988 são as bases essenciais para a perfeita compreensão do significado e do alcance dos direito processual penal de bases constitucionais e do direito ao protesto como direito fundamental.

3 PROCESSO PENAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

No documento Giane Alvares Ambrosio Alvares (páginas 37-42)