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CAPÍTULO I. O Advento da Reserva Museológica

1.4. O percurso para a criação dos Museus em Portugal

1.4.2. Do movimento Liberal até à museologia regional oitocentista

Na perspectiva de Cristina Pimentel, o museu como instituição pública em Portugal evoluiu à margem de características importantes inerentes às tendências de desenvolvimento

162 TEIXEIRA, Madalena Brás – Os primeiros museus criados em Portugal. In Bibliotecas arquivos e museus.

Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, 1985, p. 186. Também sobre o Museu Allen Vd. ALMEIDA, António Manuel Passos - Contributos ao Estudo da Museologia Portuense no Século XIX: O Museu do Coleccionador João Allen e o Museu Municipal do Porto. Revista da Faculdade de Letra - Ciências e Técnicas do

Património. Porto. Universidade do Porto. I Série vol. V-VI, (2006-2007), pp. 31-55. Assim como: SANTOS,

Paula Mesquita – João Allen (1781-1848): Coleccionador e Fundador de um Museu. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1996. Dissertação de Mestrado em Museologia e Património apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. 2 Volumes.

163 TEIXEIRA, Madalena Brás – Os primeiros museus criados em Portugal. In Bibliotecas arquivos e museus.

desta instituição no mundo ocidental164. No nosso caso, o museu como instituição pública ao

serviço da sociedade é uma conquista do movimento liberal ligado à política165.

Para Alice Semedo os museus:

[…] são espaços que frequentemente se apropriam quer de colecções quer de espaços reais, aristocráticos ou da própria Igreja e que produzem agora espaços neutros de exposição de símbolos do Antigo Regime, transformando o museu de símbolo arbitrário em instrumento que servia o bem colectivo do Estado. A ideia de “espaço público” é aqui fundamental. Estes desenvolvimentos devem ser também relacionados com o processo de redefinição do conceito de “público” entendido de acordo com novos princípios democráticos concomitantes com o surgimento do Estado-nação moderno. A ideia de museu como uma instituição administrada pelo Estado para a instrução e edificação de um público indiferenciado ganhava terreno por toda a parte na última metade do séc. XIX166.

Acompanhando esta dinâmica museológica globalizante, em 1833, por ordem de D. Pedro IV, Duque de Bragança são reunidos diversos objectos provenientes de casas abandonadas e conventos sequestrados devido às lutas liberais, com o propósito de ser instituído na cidade do Porto um museu de pintura e gravura, que corroborasse a ideia que Portugal era uma nação civilizada167. O Museu Portuense instalado no Convento de Santo António da

Cidade, almejava a instrução das “massas”. Trata-se do primeiro Museu de Arte em Portugal. As colecções que compunham o espólio eram sobretudo de pintura, a maior parte das quais eram provenientes do Mosteiro de Tibães e das colecções de Santa Cruz de Coimbra, englobando livros e cadernos de estampas168. Com a morte de D. Pedro, em 1834 o Museu

Portuense de Pintura e Estampas, também designado “Ateneu D. Pedro” entrou numa espiral

164 PIMENTEL, Cristina – O sistema museológico Português (1833-1991): Em direcção a um novo modelo

teórico para o seu estudo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenlian, FCT, 2005, p. 250.

165 INFOPÉDIA Website. Liberalismo em Portugal. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consulta: 2014-04-03].

Http://www.infopedia.pt/$liberalismo-em-portugal

166 SEMEDO, Alice - Da invenção do museu público: Tecnologias e contextos. Revista da Faculdade de Letras:

Ciências e Técnicas do Património. Porto: Universidade do Porto. Vol. III. 2004. pp. 131-132.

167 A tarefa ficou a cargo de João Baptista Ribeiro, membro da Real Academia do Comércio e Marinha.

168 TEIXEIRA, Madalena Brás – Os primeiros museus criados em Portugal. In Bibliotecas arquivos e museus.

descendente, acabando por ser anexado à Academia Portuense de Belas-Artes169 em 1839170.

Este viria apenas a abrir as portas ao público em 1840, vendo a sua grandeza de outrora abalada, em virtude de ser considerado uma extensão da Academia e da Biblioteca171.

Com a subida ao poder do movimento liberal em 1834 dá-se a extinção das Ordens Religiosas172. Este acontecimento viria abrir portas a um um laicismo cultural e intelectual. O

Estado passa a detentor de um grande número de obras de arte, resultante da transferência de património. Apesar de se tratar da primeira grande nacionalização de bens culturais o Estado, em vez de reunir esse património num único espaço – um museu Nacional, à semelhança do que preconizara o Governo francês com o Louvre, optou por criar depósitos em distintas regiões do país, para recolha dos bens, realçando-se o Depósito das Livraria dos Extintos Mosteiros, em Lisboa173, chegando inclusive a organizar leilões de património artístico, traduzindo-se num

encaixe financeiro para os cofres do estado, desconhecendo-se porém, o paradeiro de muitas obras de arte vendidas em hasta pública. A ideia de um museu central a ser criado na cidade de Lisboa viria a ser defendida pelo Marquês de Sousa Holstein, o qual chega a firmar que «Temos pelo paiz varios grupos de collecções, mas não temos um só museu. Contudo teria sido fácil formal-o quando se extinguiram os conventos, e tantos objetos preciosos de todos os generos entraram na pose do Estado»174.

169 O ensino na cidade Invicta remonta a 1762, com a criação da Aula de Náutica por D. José I. Todavia, a fundação

de uma instituição dedicada ao ensino artístico só seria estabelecida em 1779, com a Aula de Debuxo e Desenho, instituída pelo Decreto de 27 de Novembro. A Aula de Debuxo e Desenho é assim a predecessora da Academia

Portuense de Belas Artes. Pela égide de Passos Manuel viria a ser criada Academia Portuense de Belas Artes,

através do Decreto de 22 de Novembro de 1836. Esta tinha como principal missão a promoção e difusão do estudo das belas-artes e a incrementar a aplicabilidade dos ensinamentos no sector da indústria.

170 UNIVERSIDADE DO PORTO, FACULDADE DE BELAS-ARTES. Academia Portuense de Belas Artes

(1836 - 1911). In Antecedentes da Universidade do Porto. Porto: Universidade do Porto, 2011. [Consulta a 02.02.2011]. Http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?p_pagina=122251

171 O Museu passa a denominar-se Museu Nacional Soares dos Reis no ano de 1932, por meio do Decreto-lei

nº21.504 de 25 de Julho. A instalação do Museu no Palácio das Carrancas foi estabelecida pelo Decreto-lei nº27.878, de 21 de Julho de 1937.

172 O Decreto que legisla a extinção das Ordens Religiosas Masculinas é de 28 de Maio de 1834 (data da assinatura

tendo sido promulgado a 30 de Maio).

173 Vd. Item 1.5. O advento das reservas nacionais.

174 HOLSTEIN, Sousa - Observações sobre o actual estado do ensino das artes em Portugal: A organisação dos

Segundo Henrique Coutinho Gouveia, o primeiro programa de regionalização museológica ocorreria dois anos mais tarde à ascensão do liberalismo, em 1836, com a Portaria e Circular de 25 de Agosto e Circular de 7 de Outubro, nas quais se determina o estabelecimento de uma biblioteca pública e um gabinete de raridades, em cada uma das capitais de distrito175.

Importa realçar que, tal como afirma Alice Semedo, «em meados do séc. XIX, o ocidente conhecia um desenvolvimento do conhecimento sem precedentes acerca do universo material e que era o resultado de uma extensa e sistemática investigação, experimentação, exploração e teorização»176.

Acompanhando a tendência do “nacionalismo romântico”177, do sentimento patriota, da

exaltação de símbolos identitários, da valorização do património178, é criada em 1840 a

Sociedade Conservadora dos Monumentos Nacionais, que visava zelar justamente pela conservação do património179. Além deste organismo são criadas outras instituições de cariz

175 GOUVEIA, Henrique Coutinho – Acerca do conceito e evolução dos museus regionais portugueses desde

finais do século XIX ao regime do estado novo. In Bibliotecas arquivos e museus. Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, 1985, p. 149.

176 SEMEDO, Alice - Da invenção do museu público: Tecnologias e contextos. Revista da Faculdade de Letras:

Ciências e Técnicas do Património. Porto: Universidade do Porto, 2004, Vol. III, p. 130.

177 DAMASCENO, Joana - Museus para o Povo Português: O Museu de Arte Popular e o discurso etnográfico

do Estado Novo. p. 219. [Consulta: 02.04.2014]. Http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8941.pdf; Vd.

CLAUDON, Francis – Enciclopédia do Romantismo. Lisboa: Editora Verbo, 1986.

178 Salienta-se no domínio da protecção das artes três figuras marcantes da Casa Real Portuguesa: os reis D.

Fernando II, D. Pedro V e D. Luis I (SANTOS, Maria Alcina Ribeiro Correia Afonso dos – Aspectos da

museologia em Portugal no século XIX – Lisboa. Lisboa: Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes,

Museu Nacional de Arte Antiga, 1970, p. 15.).

179 A figura de Alexandre Herculano enquanto activo defensor da valorização do património português foi decisiva

para a fundação deste organismo, atendendo ao cargo que exercia de deputado no parlamento (1840-1842). Sobre esta temática aponta-se o artigo de Jorge Custódio intitulado “Salvaguarda do Patrimómio - Antecedentes

históricos: De Alexandre Herculano à Carta de Veneza (1837-1964)”, no qual o autor aborda o despertar da

consciência contemporânea para o conceito de património, a noção de monumento histórico e a necessidade subjacente de conservação e salvaguarda do mesmo, evidenciando o papel de Herculano como Ramalho Ortigão. Vd. CUSTÓDIO, Jorge - Salvaguarda do Património - Antecedentes históricos: De Alexandre Herculano à Carta de Veneza (1837-1964). In Dar Futuro ao passado. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura, IPPAR, 1993, pp. 34-71. No que toca ao património e aos monumentos portugueses do século XIX, refere-se o estudo de Paulo Simões Rodrigues “Património, Identidade e História: O valor e o significado dos monumentos nacionais no Portugal de Oitocentos”. Vd. RODRIGUES, Paulo Simões - Património, Identidade e História: O valor e o

significado dos monumentos nacionais no Portugal de Oitocentos. LISBOA: Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1998. Dissertação de Mestrado em História da Arte Contemporânea (Séc XVIII-XIX).

semelhante, como a Real Associação dos Architectos Civis e Archeólogos Portugueses (RAACP), em 1863. Uma das primeiras campanhas de preservação dos bens culturais imóveis foi preconizada por Luis Mouzinho de Albuquerque, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha180.

«A consagração do monumento histórico entrou em Portugal por via da imprensa ilustrada e da sua capacidade de fautora e receptora da opinião pública. Entrou também pela via da disciplina histórica e da literatura, igualmente publicada em revistas e jornais»181. Não

obstante o pioneirismo de figuras do panorâma cultural Português que atestam o advento dos ideiais liberais e românticos, como Almeida Garrett182 ou Alexandre Herculano com a obra

“Monumentos Pátrios”, de 1838183, entre outros, um dos fervorosos vultos intelectuais

defensores do patrimonio nacional é Ralmalho Ortigão184. O livro “O Culto da Arte em

Portugal”, de 1896, testemunha o seu repúdio pelo estado de abondono, incúria e destruição em que se acha à data o património cultural, alertando também a opinião pública para os restauros que foram realizados no domínio do património arquitectónico, na sua maioria criticáveis, acompanhando as teorias de Eugène Viollet le Duc185, como o supracitado restauro

180 Vd. NETO, Maria João Quintas Lopes Baptista – O restauro do Mosteiro de Santa Maria da Vitória de 1840

a 1900. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1990. 2 Volumes. Dissertação de Mestrado em

História da Arte. Vd. MESQUITA, Marieta Dá – Arquitectura e renovação: Aspectos do restauro arquitectónico

em Portugal no Século XIX. Lisboa: Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, 1993. Prova

Complementar do Doutoramento em História de Arquitectura.

181 ROSAS, Lúcia Maria Cardoso – Monumentos Pátrios: A arquitectura religiosa medieval – património e

restauro (1835-1928). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1995, p. 30. Tese de Doutoramento

em História da Arte. O trabalho de Lúcia Cardoso Rosas incide sobre a temática dos monumentos nacionais, com particular incidência sobre o património arquitectónico religioso abordando conceitos e valores, debruçando-se também pela vertente da conservação e restauro do património edificado.

182 Vd. GARRETT, Almeida - Viagens na Minha Terra. 11ª ed. Lisboa: Biblioteca Ulisseia de Autores

Portugueses, 1999.

183 Alexandre Herculano foi um dos pensadores que deu início a uma vaga de reflexão em torno dos monumentos

e do património. Vd. HERCULANO, Alexandre - Monumentos Pátrios. Opúsculos. Lisboa: Na Casa da Viúva Bertrand, MDCCCLXXIII, Tomo II. [Consulta: 6.09.2015]. Http://www.gutenberg.org/files/16922/16922-8.txt

184 Vd. ALVES, Alice Nogueira – Ramalho Ortigão e o Culto dos Monumentos Nacionais no século XIX. Lisboa:

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. 586p. Tese de Doutoramento em História, na Especialidade de Arte, Património e Restauro.

185 Vd. GONZÁLEZ-VARAS, Ignácio - Conservación de bienes culturales: Teoria, historia, princípios y normas.

3ª ed. Madrid: Ediciones Cátedra, 2003. Vd. MARTÍNEZ JUSTICIA, María José - Historia y teoría de la

do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, o caso da Igreja Madre de Deus, em Lisboa, ou o do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

Levaria muito tempo e seria excessivamente triste ennumerar todos os attentados de que teem sido e continuam a ser objecto, perante a mais desastrosa indifferença dos poderes constituidos, os monumentos architectonicos da nação, os quaes assignalam e commemoram os mais grandes feitos da nossa raça, sendo assim por duplo titulo, já como documento historico, já como documento artistico, quanto ha, sobre a terra em que nascemos mais delicado e precioso para a honra, para a dignidade, para a gloria da nossa patria186.

Neste período em Portugal crescia o número de adeptos pela Arqueologia, à semelhança do que se passava nos restantes países europeus187, tendo inclusive o monarca D. Fernando II

assumido a figura de protector da Sociedade Arqueológica de Lisboa, em 1849188. Esse

interesse viria a ser benéfico para a criação de futuros museus, com o propósito de se conservarem e exporem os artefactos encontrados nas escavações arqueológicas. Outra iniciativa da qual a nação estava inteirada era a realização de Exposições Industriais189, tendo-

se chegado a organizar em 1865, uma exposição internacional na cidade do Porto190.

Apesar do sistema museológico nacional se encontrar constituído de uma forma um pouco incipiente havia a noção da importância do conceito de museu como um local vocacionado para a componente educacional. Aliás, «a ideia de museu como uma instituição

186 ORTIGÃO, José Duarte Ramalho - O culto da arte em Portugal. Lisboa: Antonio Maria Pereira Livreiro-

Editor, 1896, p. 16.

187 A descoberta das ruínas de Pompeia e Herculano no século XVIII relançaram o fascínio pela arqueologia e

impulsionaram o culto pelo período Clássico e respectivas civilizações, desencadeando na criação do Neo- classicismo.

188 SANTOS, Maria Alcina Ribeiro Correia Afonso dos – Aspectos da museologia em Portugal no século XIX –

Lisboa. Lisboa: Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes, Museu Nacional de Arte Antiga, 1970, p.

15.

189 O Entusiasmo nacional pelas exposições levou o Estado a participar na Grande Exposição dos Trabalhos da

Industria de todas as Nações, realizada em Inglaterra, em 1851.

190 Para a realização desta exposição foi criada uma sociedade – A Sociedade do Palácio de Cristal, em 1864. Foi

construído um edifício de raiz – O Palácio de Cristal (o modelo do edifício era baseado no Crystal Palace que Joseph Paxton havia projectado para a Grande Exposição de Londres). A exposição gera um défice elevado, não tendo despertado a atenção dos portuenses e portugueses.

administrada pelo Estado para a instrução e edificação de um público indiferenciado ganhava terreno por toda a parte na última metade do séc. XIX»191.

Neste contexto192, o Governo em 1875, através do Decreto de 10 de Novembro de 1875

nomeia uma Comissão para preconizar a reforma do ensino das belas-artes193. Para além de

proceder ao planeamento de um museu de belas-artes, e apontar as medidas a seguir para se afiançar a conservação, a preservação e salvaguarda dos monumentos históricos e objectos arqueológicos nacionais, esta Comissãoarrola como diligência194 a criação de um museu central

a implementar na cidade de Lisboa, com zonas destinadas à pintura, escultura, desenho, gravura, artes industriais, arquitectura e arqueologia, assim como espaços para biblioteca e oficinas de aprendizagem. É sugerida a criação de museus provinciais, com base nos artefactos e vestígios descobertos nos núcleos arqueológicos ou ambientes de cada região195, assim como

a criação de museus locais de arte industrial a construir nas imediações das escolas que

191 SEMEDO, Alice - Da invenção do museu público: Tecnologias e contextos. In Revista da Faculdade de Letras:

Ciências e Técnicas do Património. Porto: Universidade do Porto. Vol. III. 2004, p. 132.

192 «Depois de uma primeira Comissão, nomeada em 1870 no seio da Academia Real de Belas Artes não ter

desenvolvido os trabalhos para que tinha sido incumbida por falta de comparência e apoio de alguns dos seus vogais, em 1875 o Governo ordenou a formação de uma nova Comissão com o mesmo objectivo» (ALVES, Alice Nogueira – Ramalho Ortigão e o Culto dos Monumentos Nacionais no século XIX. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009. 586p. Tese de Doutoramento em História na Especialidade de Arte, Património e Restauro, p. 42.).

193 A Comissão era composta por: «marquez de Souza Holstein, par do reino, vice-inspector da academia real de

bellas artes de Lisboa); condes de Samodães e Valbom, pares do reino e ministros d’estado honorarios; Carlos Maia Eugenio de Almeida, par do reino e provedor da casa pia de Lisboa; conselheiro Francisco de Assis Rodrigues, director geral da academia real das sciencias e director da escola medico-cirurgica de Lisboa; Antonio Augusto Teixeira de Vasconcellos, socio da academia real das sciencias; Augusto Filippe Simões, lente da faculdade de medicina da universidade de Coimbra; Antonio Thomás da Fonseca, professor da academia real de bellas artes; Antonio Victor de Figueiredo Bastos, professor da mesma academia; Thadeu Maria de Almeida Furtado, professor da academia portuense de bellas artes; Augusto Carlos Teixeira de Aragão, director do gabinete numismatico da Ajuda); Joaquim Possidonio Narciso da Silva, architecto das obras da casa real; José Maria Nepomuceno, academico de merito da academia real de bellas artes; e Luciano Cordeiro» (Vd. Art. 2.º do Decreto de 10 de Novembro de 1875.

194 HOLSTEIN, Sousa, Observações sobre o actual estado do ensino das artes em Portugal: A organisação dos

museus e o serviço dos monumentos historicos e da archeologia. Lisboa: Imprensa Nacional, 1875, pp. 27-40.

195 Esta ideia assenta no pressuposto de descentralização e manutenção das colecções – propriedade cultural nos

ensinassem desenho, a ser constituídos por cópias e reproduções196. No âmbito dos Museus e

Collecções, o Marquês de Sousa Holstein termina por fim com uma ideia que na sua opinião seria fácil de introduzir em Portugal, à semelhança do que acontecia em Inglaterra que se prendia com a produção de museus temporários, que se traduziam em museus provisórios “circulantes”, por poderem ser sucessivamente expostos em diferentes pontos do país197.

As indicações da Comissão rapidamente são executadas não tardando portanto a aparecerem por todo o território nacional museus regionais, como o Museu Distrital de Santarém198 (1876), o Museu Municipal de Coimbra199 (1887), ou o Museu Arqueológico de

Guimarães200. Salienta-se a criação em Lisboa do Museu Ethnographico Português, em 1893201.

Na sequência destas transformações gera-se um activo debate em torno das questões museológicas, e do papel dos museus em Portugal, impulsionado por diversas sociedades científicas e literárias202.

Uma nova restruturação no sector cultural ocorre em 1897, sendo criado o Conselho Superior dos Monumentos Nacionais, que mais tarde, por Decreto de 1901 (24 de Outubro), permitirá legislar sobre a classificação dos monumentos nacionais.

196 GOUVEIA, Henrique Coutinho – Acerca do conceito e evolução dos museus regionais portugueses desde

finais do século XIX ao regime do estado novo. In Bibliotecas arquivos e museus. Lisboa: Instituto Português do Património Cultural, 1985, p. 152.

197 HOLSTEIN, Sousa - Observações sobre o actual estado do ensino das artes em Portugal: A organisação dos

museus e o serviço dos monumentos historicos e da archeologia. Lisboa: Imprensa Nacional, 1875, p. 40.

198 Composto por uma secção de arqueologia e uma exposição permanente das indústrias agricolas. 199 Composto por uma secção retrospectiva ou histórica e uma secção de indústria moderna. 200 Constituído pelos artefactos das escavações levadas a cabo por Martins Sarmento em Briteiros.

201 Este museu sob a direcção de Leite de Vasconcelos, em 1895 publica a revista “o Archeologo Português”.

Posteriormente viria a denominar-se Museu Nacional de Arqueologia. Sobre esta temática o Museu Nacional de Arqueologia disponibiliza on-line documentação muita dela de autoria de José Luis de Vaconcelos, e de Luis Raposo. Vd. MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA Website. História: Estudos sobre MNA. [Consulta: