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CAPÍTULO II Os Novos Paradigmas de Reserva Museológica

2.3. Abertura do espaço de reserva ao público

2.3.4. Visibilidade das Colecções – Experiências institucionais desenvolvidas

2.3.4.1. Experiências institucionais Internacionais

No âmbito internacional, no que toca a experiências de reservas visíveis descreve-se o caso exemplo de L’Arsenal – La Réserve visible du Musée de L’Armée, em Paris, La Réserve

visible des Instruments de Musique du Musée du Quai Branly, em Paris, o Schaulager, em

Basileia, e the visible storage of TheDarwin Centre, do Natural History Museum, em Londres,

cujas reservas também são visitáveis.

Quanto a reservas visitáveis indica-se la Réserve Visitable du Musée des Arts et Métiers,

em Paris e as reservas visitáveis do Staraya Derevnya Restoration and Storage Centre, do State

Hermitage Museum, em São Petersburgo, na Russia.

Para o método de armazenamento visível cita-se o exemplo do Museum of Anthropology (MOA) da University of British Columbia (UBC), em Vancouver, no Canadá, e o armazenamento visível of the Ceramics Galleries at The Victoria & Albert Museum, em Londres.

Ao nível de salas de estudo / salas de consulta descreve-se Le Département des Arts

Graphiques do Musée du Louvre, em Paris e the study rooms, of Tthe Victoria & Albert Museum, em Londres.

L’Arsenal – La Réserve visible du Musée de L’Armée, em Paris

L’Arsenal foi criado em 1987 no seio do Departamento de Armas e Armaduras do Musée de L’Armée, em Paris, mantendo-se em funcionamento após as transformações ocorridas neste departamento. O processo de reorganização foi uma consequência das dificuldades

técnicas resultantes do desaparecimento das antigas reservas localizadas nos Invalides. L’Arsenal abriu em Dezembro de 2004521.

Tipologia das colecções / Número de objectos

A colecção é composta por armas defensivas (armadura, as defesas do corpo, de cabeça), armas ofensivas (alabardas, facas, armas de arremesso e fogo, arneses), bem como muitas peças de arreios (selas, esporas, estribos), do século XV, ao século XVIII, num total de dois mil e quinhentos objectos522. [Figura 38.].

Armazenamento das obras

A reserva oferece uma cenografia original, em aparente contradição com as opções museográficas contemporâneas. Este espaço recria a aparência de um arsenal do século XVI [Figura 39.]. Os objectos estão dispostos em prateleiras e estantes de madeira de abeto, existindo também estruturas fixas (tipo manequins) nas quais as armaduras estão montadas.

521 REVERSEAU, Jean-Pierre - L’«Arsenal» (XVe-XVIIIe siècles): Les réserves visibles du musée de l’Armée.

In Journée-débat «Musée-musées». Paris: Musée du Louvre, 2007, p.10.

522 MUSÉE DE L’ARMÉE. Présentation d’un département: Le département «Armes et armures anciennes».

[Consulta: 05.01.2015]. Http://www.musee-armee.fr/fileadmin/user_upload/Documents/Support-Visite-Fiches-

Figura 39. Pormenor do sistema

de acondicionamento. © Musée de l’Armée(Fonte: REVERSEAU, Jean- Pierre - L’«Arsenal» (XVe-XVIIIe siècles): Les réserves visibles du musée de l’Armée. In Journée-débat «Musée-musées». Paris: Musée du Louvre, 2007, p.10.).

Figura 38. L’arsenal; reserva visível. © Paris, Musée de l’Armée/RMN-GP. (Fonte: MUSÉE DE L’ARMÉE. Présentation d’un département: Le département «Armes et armures anciennes». [Consulta: 05.01.2015]. Http://www.musee- armee.fr/fileadmin/user_upload/Documents/Support- Visite-Fiches-Presentation/MA_fp-generale-ancien- FR.pdf.).

Condições de acesso

O acesso ao Arsenal é livre, estando englobado na visita ao museu. A visualização da reserva é efectuada através de janelas, com passagem pela Salle des Lices.

La Réserve visible des Instruments de Musique du Musée du Quai Branly, em Paris

O Musée du Quai Branly, em Paris abriu as suas portas ao público em Junho de 2006, sendo um museu direcionado às artes e civilizações da África, Asia, Oceânia e das Américas. O museu possui quatro colecções excepcionais que são a colecção de têxteis, a colecção de fotografia, a colecção de musicologia, e a colecção de história.

Tipologia das colecções / Número de Objectos

A colecção de instrumentos musicais que foi herdada do Musée de l’Homme e do Musée National des Arts d’Afrique et d’Océanie, começou a tomar forma em 1878, tendo aumentado de dimensão com o passar dos anos através de aquisições efectuadas pelo Estado Francês, fruto de expedições etnológias francesas bem-sucedidas. Na actualidade a colecção é composta por 9.500 peças datadas de diferentes épocas: 4.250 da África, 2.150 da Asia, 2.100 da América (das quais 750 peças são do período pré-colombiano), 550 da Oceânia e 450 da Insulíndia523.

Todas as famílias de instrumentos estão representadas: instrumentos de sopro, cordas, bateria e "idiophones", cujos corpos rígidos são feitos para vibrar por concussão, balanço, raspagem, etc524.

Conceito

523 Insulíndia também conhecido como arquipélago malaio e Sudeste Asiático marítimo, é um vasto e muito

numeroso grupo de ilhas situado entre a Indochina e a Oceania, na região da Austronésia. Localizado entre os oceanos Índico e Pacífico, este grupo de mais de 20.000 ilhas é o maior arquipélago do mundo por área. WIKIPÉDIA Website. Insulínia. [Consulta: 06.02.2015]. Http://pt.wikipedia.org/wiki/Insul%C3%ADndia

Um dos temas transversais do museu é a música e os seus instrumentos. Esta escolha museográfica explica-se pela riqueza da colecção de musicologia. A colecção de instrumentos musicais foi a eleita para ser acondicionada numa reserva visível – a Torre-de-Vidro [Figura 41.].

A colecção de instrumentos musicais tem a particularidade de ser apresentada em conjugação com um sistema multimédia tripartido. Em concreto na reserva visível da Torre de vidro o objectivo do sistema de som é imergir a torre em uma nuvem de sopros, um perfume de sons, de modo a perceber-se auditivamente o mistério dos instrumentos lá conservados, evocando também a dimensão sonora do seu conteúdo. Um conjunto de dispositivos de projecção de imagens de instrumentos de música "em ação", associado à difusão de extractos de repertórios, é distribuído em torno da reserva525.

Projecto arquitectónico

A edificação do museu foi desenhada pelo arquitecto Jean Nouvel, inclusive a área da reserva visível [Figura 40.]. O edifício de vidro de 23 metros de altura divide-se em seis níveis, assumindo-se até à data da sua construção como uma das concepções arquitetônicas mais originais projectadas por Jean Nouvel. Peça mestra e central da arquitectura do edifício, a torre de vidro é dedicada a um dos temas transversais do projecto do museu do Musée du quai Branly: a música e os seus instrumentos. Na verdade, esta torre de vidro é uma reserva museográfica, sendo parcialmente visível.

Trata-se de um espaço privilegiado para a exploração do espólio do museu e observação visual e auditiva de alguns conjuntos instrumentais526.

Equipamentos | Superfícies

Nos espaços públicos do museu destaca-se a existência de uma muséothèque composta por uma sala de consulta de arquivos e de documentação das colecções (80 m2), com acesso

mediante marcação; uma biblioteca de estudo e pesquisa (900 m2), cujo acesso é reservado a

estudantes e investigadores, ou pessoas com acreditação; um gabinete de fundos preciosos (35

525 LAVANDIER, Marie; LECLAIR, Madeleine - Conserver en transparence. La réserve des instruments de

m2), passível de acesso mediante requisição de consulta; uma sala de leitura (300 m2), de acesso

livre.

Os espaços destinados à conservação englobam a reserva visível da torre, dez zonas de armazenamento situadas numa cota abaixo do solo (1300 m2, o equivalente a 11 Km lineares),

uma reserva de frio, um depósito de arquivos administrativos.

As áreas de trabalho relacionadas com a conservação compreendem espaços de tratamento em quatro zonas de armazenamento (sem luz natural), um atelier de conservação e restauro, uma unidade descontaminação biológica e análises físico-químicas527.

Conservação | Armazenamento das obras

Figura 41. A reserva visível de instrumentos de música do Musée du Quai Branly.© Musée du quai Branly, Nicolas Borel. (Fonte: MUSÉE DU QUAI BRANLY Website. Quatre Collections exceptionnelles. [Consulta: 5.02.2015]. Http://www.quaibranly.fr/fr/collections/les-collections-de- reference/quatre-collections-exceptionnelles.html.). Figura 40. Exterior do

edifício do Musée du quai

Branly. © Chimay Bleue. (Fonte: ARCHDAILY Website. [Consulta: 6.02.2015]. Http://www.archdaily.com/14 9901/architecture-city-guide- paris/musee-du-quai-branly- all-rights-reserved-by-chimay- bleue/.).

O plano de distribuição de instrumentos musicais na reserva satisfaz os critérios individuais de área de proveniência e tipologia organológica. Esta alocação científica e sistemática permite descobrir de uma forma célere importantes séries de instrumentos e apreender diretamente certos traços característicos do desenvolvimento da criação de instrumentos de origem não ocidental528.

A reserva é climatizada. Em termos de iluminação toda a reserva é mergulhada na penumbra de uma maneira a que não se excedam os 25 lux. O vidro da torre da reserva filtra as radiações visíveis e ultravioleta, que são perigosas para as obras. Uma das grandes janelas do edifício com vista para o rio Sena ilumina diretamente a reserva.

O volume cilíndrico da reserva obrigou à concepção das prateleiras por medida. As prateleiras estão cobertas de espuma de polietileno preto, para limitar as vibrações. Os objectos são cunhados quando a sua forma necessita de ser apoiada529.

Sistema de inventariação

O museu possui uma base de dados de objectos (TMS), que gere 319 mil dados de objectos. As peças são acondicionadas com uma etiqueta na qual se inscreve o seu número de inventário e o respectivo código de barras.

Os instrumentos musicais são classificados de acordo com a localização geográfica e a respectiva família organológica: aerophone, cordofone, membranophone ou idiophone. Esta classificação traduz o trabalho desenvolvido por Geneviève Dournon responsável pela coleta de instrumentos musicais no Musée de l’Homem entre 1967 e 2004, e foi inspirada na obra Organológica de Victor Mahillon, publicada em 1878. Sempre que possível, os objetos estão dispostos no seu sentido de utilização530.

Condições de acesso

528 LAVANDIER, Marie; LECLAIR, Madeleine - Conserver en transparence. La réserve des instruments de

musique du Musée du Quai Branly. In Journée-débat «Musée-musées». Paris: Musée du Louvre, 2007, p.16.

529 OUSSET, Célestine - Conserver ou diffuser: Un dilemme pour la réserve visitable. Paris: Université de Paris

I - Panthéon Sorbonne, 2010. Master professionnel de conservation preventive des biens culturels, 2009 – 2010. Vol. 2 – ANNEXES, p. 69.

O Museu Quai Branly optou por oferecer diversas formas de acesso às colecções não expostas: acesso virtual, graças a uma importante base de dados das colecções disponível a partir do interior ou do exterior do estabelecimento; uma reserva visível a partir dos espaços públicos, por meio de barreiras de vidro concebidas pelo arquitecto (a reserva visível assume o formato de uma torre); a consulta de objectos em reserva cujo pedido de acesso será realizado através da muséothèque531.

Instalada numa torre de vidro transparente, a reserva da colecção de instrumentos musicais é visível a partir da sala de recepção do museu.

Schaulager, em Basileia532

«O Schaulager é uma instituição privada, propriedade da Laurenz Foundation. A

fundação está sediada em Basileia tendo sido constituída em 1999, por Maja Oeri533, para

desenvolver o projecto de albergar a colecção arte contemporânea da Emanuel Hoffman

Foundation534. Este caso de estudo tem por génese uma instituição dedicada à arte

contemporânea, à sua conservação, pesquisa e divulgação, que teve necessidade de criar um edifício para albergar o seu espólio. A selecção deste caso justifica-se pela referência de qualidade e inovação que está na base da conceptualização desta reserva.

Tipologia das colecções

A Emanuel Hoffman Foundation, apenas está direccionada para as artes moderna e contemporânea. Possui na sua colecção obras de mais de 160 artistas, dos quais fazem parte peças de Salvador Dalí, Pablo Picasso, Paul Klee, Miró, Max Ernest ou Balthasar Burkhard. As

531 LAVANDIER, Marie; LECLAIR, Madeleine - Conserver en transparence. La réserve des instruments de

musique du Musée du Quai Branly. In Journée-débat «Musée-musées». Paris: Musée du Louvre, 2007, p.16.

532 Vd. GOMES, Maria Fernando; VIEIRA, Eduarda - As reservas visíveis do Schaulager, em Basileia. Ge-

Conservación. Nº4 (2013), pp. 65-77. [Consulta: 31.07.2013]. Http://www.ge- iic.com/ojs/index.php/revista/article/view/145/pdf.

533 É a actual presidente da Emanuel Hoffman Foundation, sendo descendente de Maja Hoffmann-Stehlin. 534 A Emanuel Hoffman Foundation, sediada em Basileia, foi criada em 1933, por Maja Hoffmann-Stehlin, (1898-

obras de arte estão distribuídas pelas categorias de pintura, desenho, escultura, projectos de vídeo, filmes e instalações.

O Percurso para a “criação” do conceito

Partindo de preocupações no tocante à conservação e preservação das colecções, assim como da necessidade de se conceberem melhores infra-estruturas para o armazenamento das mesmas, é-nos apresentada uma solução pioneira para responder a esses propósitos. Maja Oeri optou pela projecção de um edifício de raiz, compreendendo uma solução combinada de espaço de reserva e área expositiva. Todavia há uma preocupação expressa com a componente do estudo, pesquisa, investigação e divulgação, pelo que o edifício foi concebido atendendo a preceitos para que a reserva fosse visível e visitável. Há, no entanto, diferenças quanto ao acesso dos investigadores, profissionais do património e do grande público e, consequentemente, na denominação utilizada.

A colecção de arte contemporânea da Emanuel Hoffman Foundation foi crescendo a um ritmo sistemático, em especial, a partir das duas últimas décadas do século XX. Sempre aberta às novas tendências, como a da arte minimalista e a da arte conceptual, a fundação incorpora no seio da sua colecção diversas obras de formatos incomuns e múltiplos suportes diversificados. Dada a grandeza da colecção, apenas uma pequena percentagem de trabalhos

podiam ser expostos, no Kunstmuseum Basel ou no Museum für Gegenwartskunst Basel535.

Todas as demais obras tinham que ser desmanteladas e acondicionadas em caixas, atendendo a parâmetros conservativos necessários ao seu armazenamento. Porém o volume de peças, tornava em termos logísticos, inviável o controle conservativo das obras e a preservação de alguns trabalhos, por não ser possível a detecção precoce de eventuais deteriorações resultantes da reacção entre distintos materiais empregues na realização de certas obras de arte contemporânea.

Estes factos levantaram sérias preocupações a Maja Oeri, tornando-se imperativo encontrar uma solução assertiva e concretizável para este problema de grande complexidade. Por um lado, havia que responder às necessidades tradicionais de uma reserva e, por outro, às

recentes especificidades impostas pelas produções artísticas actuais. A solução encontrada passou por ter as obras no espaço de reserva, devidamente instaladas, mas sem estarem embaladas, tornando-as observáveis e acessíveis em contínuo, tanto para fins da sua conservação, como também para o intento de estudo e investigação – e foi esta estrutura que se

veio a denominar de Schaulager536.

A expressão introdutória que aparece na atualidade no website da instituição: «Not a museum, not a tradicional warehouse. Schaulager – a place to see and think about art

difrently»537 reforça a concepção inovadora deste imóvel que alberga uma nova estrutura

museológica, originando, inclusive, um novo conceito de instituição de arte, afastando-se da ideia convencional de reserva e incorporando no mesmo edifício uma zona pública, onde decorrem exposições temporárias. O termo Schaulager está agregado à ideia de reserva visível para o público, sendo visitável para utilizadores profissionais e investigadores.

Projecto arquitectónico

A concepção do edifício vai para além dos estereótipos culturais do género, quebrando-

os e transpondo-nos para uma realidade distinta do convencional [Figura 42.].

O projecto para o Schaulager teve início em 1998-99, pelas mãos de Maja Oeri.

536 A tradução para português quer dizer armazém visível, ou de acordo com a opinião de Luís Casanovas

“armazém para olhar” (CASANOVAS, Luis Elias - SCHAULAGER: Um museu muito especial. Boletim da Rede

Portuguesa de Museus. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Nº 11 (Março 2004), p. 17.). Figura 42. Perspectiva da fachada do

Schaulager. ©Maria Fernando Gomes.

Figura 43. Perspectiva da parede poente.

Para além de ter criado a Laurenz Foundation como meio de financiamento da instituição, Maja Oeri também adquiriu um terreno na zona industrial de Basileia, para aí desenvolver a sua ideia. O projecto arquitectónico foi entregue ao gabinete de arquitectos suíços Herzog & de Meuron. Os trabalhos de construção começaram em 2000. A inauguração deu-se

a 24 de Maio de 2003, com uma retrospectiva da artista Dieter Roth538.

Laureados com o prémio Pritzker em 2001, Jacques Herzog e Pierre de Meuron são uma dupla com uma trajectória de trabalhos prestigiados, realçando-se vários exemplos direccionados para o domínio cultural, dos quais se salientam: a Tate Modern; o Caricature and Cartoon Museum; o Küppersmühle Museum; o Tenerife Espacio de las Artes; o Young Museum; o Walker Art Center; o Museu Blau - Museu de Ciències Naturals de Barcelona; o Museum der Kulturen; o Parrish Art Museum e o Serpentine Gallery Pavilion.

O percurso arquitectónico de Herzog e Meuron é marcado pela capacidade de surpreender, transformando aquilo que à partida seria uma forma ordinária, condição ou

material, em algo extraordinário539. As suas construções estão imbuídas de uma persistente

essencialidade, de originalidade, de um cariz utilitário, de um desejo de funcionalidade, de materialidade e de pesquisa no domínio dos espaços e volumes. Desde sempre promoveram a

538 Ibidem.

539 JIMENEZ, Carlos - Essay: The architecture oh Jacques Herzog and Pierre de Meuron. 2001. [Consulta:

2.01.2013]. Http://www.pritzkerprize.com/2001/essay

Figura 45. Perspectiva parede norte.

©Maria Fernando Gomes.

Figura 44. Fachada. ©Maria Fernando

busca do potencial da beleza através da fusão da função e do local540. Ao observarmos os

distintos trabalhos temos consciência do rigor intelectual, do cuidado impresso em todos os detalhes, em particular na selecção dos materiais e na preocupação destes conferirem propriedades tácteis. O fascínio pela exploração das propriedades dos materiais, ainda que sejam matérias convencionais e a organização do espaço e do volume resulta em soluções arquitectónicas inovadoras.

Localização geográfica

Em termos de localização geográfica, o edifício tem a particularidade de estar erigido na periferia da cidade, dada a maior facilidade de se encontrarem terrenos disponíveis e com as dimensões necessárias para o desenvolvimento do projecto. O Schaulager está situado em Dreipitz/Münchenstein, aproximadamente a cinco quilómetros de Basileia.

Organização espacial

Jacques Herzog & Pierre de Meuron, conceberam um armazém sob a forma de um corpo

sólido poligonal, que assume as características de uma caixa escultórica [Figura 43. e 49.]. A

fachada é a face marcante e pragmática do edifício [Figura 45.]. Esta é distinta de todas as

Figuras 46. 47. e 48. Perspectiva da parede sudoeste e sul do Schaulager. Pormenor do revestimento

outras, quer por questões geométricas, por ser facetada, quer pelo tipo de materiais empregues. Todo o exterior do imóvel é revestido com seixos encontrados no terreno, aquando do

desaterro541, o que lhe confere um caracter agreste e rústico [Figura 48.], à excepção da zona

da entrada cujas paredes são pintadas de branco, e nas quais se destaca em cada um dos lados, um grande painel LED, com informações alusivas à instituição, apontando por contraponto,

para uma faceta urbana e cosmopolita [Figura 44.]. Tratando-se de um armazém para o depósito

de obras, houve especial preocupação com a quantidade de pontos de luz natural, pelo que estes se limitam a uma parte da parede da entrada envidraçada, que difunde a luz pelo interior do edifício e a dois pequenos rasgos horizontais, de formato serpenteante envidraçados, visíveis em duas das faces exteriores do edifício que correspondem a zonas administrativas e de

serviços, e que não têm qualquer conexão com a zona de armazenamento [Figura 46.].

A entrada é antecedida por um átrio e por um pequeno edifício com o tecto em duas águas construído com materiais idênticos aos do edifício principal. As portas exteriores de acesso são em metal perfurado com acabamento em tinta galvanizada, formando uma superfície

ondulada, simulando a textura das paredes [Figura 47.]. O hall de entrada possibilita uma

perspectiva genérica da construção, revelando a distribuição espacial por pisos. Neste nível e

Figura 49. e 50. Planta da zona de implementação do edifício; alçado sul. (Fonte: BARRENECHE, Raul A. – New museums. London: Phaidon, 2005, p. 77.).

no inferior encontram-se alguns serviços, ocorrem as exposições temporárias e estão depositadas as duas instalações permanentes de Katharina Fritsch e de Robert Gober.

Os três pisos superiores do Schaulager estão direccionados para o depósito das obras de

arte [Figura 50. a 52.]. Existem três tipologias de unidades de armazenamento (pequena, média

e grande), se bem que as paredes podem ser adaptadas, ajustando-se a volumetria do espaço em

função das dimensões das peças [Figura 54.]. Importa realçar que apesar da disposição cénica

das obras, a entrada em cada uma das boxes pressupõe a passagem por uma porta [Figura 53.].