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Todo o método de investigação pressupõe a adopção de um conjunto de procedimentos que visem a clareza de percepção das concepções, reflexões e conclusões formuladas, com o intuito de credibilizar cientificamente um trabalho44.

A metodologia de investigação seguida nesta investigação compreendeu o desenvolvimento de uma estratégia para a estruturação do trabalho, estando a tese de doutoramento organizada em quatro capítulos.

Visto o tema central deste trabalho de investigação incidir sobre as reservas museológicas, achou-se pertinente iniciar a tese detendo-nos sobre a pesquisa de uma descrição precisa da palavra reserva. Posto isto, efectua-se uma trajectória, ainda que bastante sumária, do advento da reserva museológica, destacando as passagens mais significativas desde longo trajecto. Neste sentido faz-se um retorno ao passado – ao que se considera serem os primeiros espaços de armazenamento de bens patrimoniais da humanidade – as bibliotecas. Visitam-se as práticas do coleccionismo, a constituição das colecções pré-institucionais que viriam a impulsionar o aparecimento do museu público, e com ele a criação da reserva. Segue-se uma transposição para a realidade nacional, numa tentativa de percepção do percurso trilhado para a concepção dos museus portugueses, desde o coleccionalismo medieval e renascentista, até à análise do sistema museológico Português Pós-Revolução de Abril de 1974. Contextualiza-se ainda o aparecimento das reservas em território nacional, facto que está relacionado com laicização do património religioso decorrente da extinção das Ordens Religiosas e da Lei de Separação do Estado e da Igreja, cujos bens foram guardados em depósitos, sendo o mais importante o Deposito das Livrarias, Cartorios, Pinturas e de mais preciosidades Litterarias e Scientificas dos extinctos Conventos de Lisboa, e Provincia da Extremadura. Finaliza-se o capítulo com uma breve perspectiva do programa museográfico e do enquadramento jurídico das reservas.

O segundo capítulo denominado Novos paradigmas de reserva incide sobre o que são consideradas as condições usuais do espaço de armazenamento, ou seja, a inadequação, ou sobrelotação dos mesmos, abordando-se a problematização da inacessibilidade ao espólio em

reserva. Por contraponto são explicadas as actuais funcionalidades de uma reserva, que compreendem a valorização da componente científica, a conservação, o estudo pesquisa e documentação das colecções, o tratamento destas, descriminando-se os recintos que por norma compõem a visão contemporânea de reserva, apontando-se ainda as implicações resultantes nas novas actividades, e da pluralidade de serviços agregados, que se traduzem na deslocalização ou na mutualização de reservas. Por sua vez, reflecte-se sobre a abertura do espaço de reserva ao público. E aqui importa revelar o aporte dado às questões terminológicas e no esclarecimento de conceitos-chave, posto que, proliferam afinal muitas concepções ambíguas inerentes a estas noções. Apresenta-se a reserva como lugar moderno, de discurso e comunicação, analisando o sistema de mediação, salientando-se porém, a necessidade de sensibilização do público para a temática da conservação do património cultural.

A pesquisa bibliografia foi essencial para caracterizar o estado da arte. Decorrente dessa pesquisa fez-se um estudo no panorama internacional e nacional das iniciativas que as instituições museológicas desenvolveram acerca dos diferentes métodos adoptados de forma a dar visibilidade às colecções em reserva, sejam eles a reserva visível, a reserva visitável, ambas, o armazenamento visível, as galerias de estudo, as salas de consulta. Pelo que, segue-se a exposição de uma selecção de práticas preconizadas por distintos museus, tanto no domínio internacional como nacional. Termina-se o capítulo com explanação da pesquisa de campo realizada, compreendendo a apresentação dos respectivos resultados. Fazendo-se uso do método inquisitivo efectuou-se a elaboração um questionário, o qual foi endereçado tanto para museus internacionais como nacionais, com o intuito de se proceder à recolha de dados sobre instituições museológicas com espaços de reserva visíveis e / ou visitáveis, ou com o sistema de armazenamento visível.

A apresentação de um referencial de boas-práticas que sirva de documento auxiliar na implantação de uma reserva visitável constitui o âmago do terceiro capítulo. Nele são indicados factores de ponderação na execução de uma reserva visitável. Analisam-se as condições de conservação em reserva, em consequência da abertura do espaço de reserva ao público. A valorização do pólo de reserva cria uma multiplicação de riscos para as colecções, tal como

menciona Frédéric Ladonne 45, pelo que é de todo pertinente a avaliação e gestão de risco na

adopção do conceito de reserva visitável. Dentro da linha de raciocínio que a reserva faz parte integrante do programa funcional de um museu46, estabelecem-se diversas especificações

técnicas e funcionais sobretudo ao nível do edifício, quer se trate da criação de um imóvel novo ou do processo de reformulação de um pré-existente, mas também se particulariza a questão do pessoal técnico, e analisam-se os encargos financeiros inerentes.

As colecções da Câmara Municipal de Matosinhos armazenadas em reserva constituem o caso de estudo desta investigação, assim como o quarto e último capítulo. Neste âmbito foi efectuado o estudo de avaliação do desempenho higrotérmico das reservas, contemplando a análise das condições-ambiente do interior do imóvel da Autarquia e do exterior. Antes porém de se dar a conhecer a memória descritiva e justificativa da proposta de implementação de uma reserva visitável no espaço de reserva, destinado à Câmara Municipal de Matosinhos, no futuro Edifício Multifuncional da Fundação de Serralves, a construir na Senhora da Hora, efectuou-se uma contextualização do Projecto de Arquitectura do Edifício Multifuncional. Finaliza-se o capítulo com a exploração de alternativas de visibilidade e acesso às colecções em reserva.

Em termos de metodologia de redacção da tese, o método utilizado para o registo das referências bibliográficas foi o da inclusão de citações (formal e conceptual) em notas de rodapé, ao longo do trabalho, com o propósito de facilitação do raciocínio do leitor. As notas de rodapé também serviram para a introdução de anotações consideradas pertinentes ao corpo de texto.

Ao nível das transcrições, as citações pequenas (menos de quarenta palavras) foram mantidas no corpo de texto, sendo assinaladas pela utilização de aspas angulares (« »), antes da primeira e depois da última palavra. As citações consideradas mais extensas (mais de quarenta palavras) foram individualizadas do corpo de texto, em itálico, com um tamanho de letra um ponto abaixo do empregue no resto do texto, tendo-se respeitado a língua de origem e a ortografia original. Às transcrições que se acham em nota de rodapé aplicou-se o princípio das

45 LADONNE, Frédéric – Les projets de réserves délocalisées: Annexes ou extensions du musée? Paris: Université

de Paris – Panthéon Sorbonne, 2003, p. 33. UFR d’art et d’archéologie, DESS Conservation préventive des biens culturels.

46 O programa funcional assume-se como um memorando sobre as especificidades funcionais de um museu quanto

a questões de espaço e instalações. Vd. MUNILLA CABRILLANA, Glòria (coord.) – Gestió del patrimoni

citações pequenas. Na transcrição parcial de artigos publicados pela autora utilizou-se o raciocínio adoptado para as citações pequenas. Na citação de referências bibliográficas estrangeiras também se preservou a língua de origem e a ortografia original.

Sempre que se considerou oportuno recorreu-se ao uso de abreviaturas e a siglas, alusivas a organizações internacionais, nacionais, ou de outra natureza.

Em termos de indicação de medidas no âmbito do projecto de concepção do espaço de reserva visitável47 optou-se por apresentar as medidas referentes aos espaços físicos e a áreas,

em metros (m) ou metros quadrados (m2), e para as dimensões de mobiliário, o centímetro (cm).

CAPÍTULO I.