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O Alcorão apresenta em dois versículos uma síntese breve dos fenôme- nos que constituíram o processo fundamental da formação do universo: - Capítulo 21. Versículo 30:

“Não veem, acaso, os incrédulos, que os céus e a terra eram uma só massa, que desagre- gamos, e que criamos todos os seres vivos da água? Não creem ainda?”

- Capítulo 41, Versículo 11:

“Então, abrangeu, em Seus desígnios, os céus quando estes ainda eram gases, e lhes disse, e também à terra...”

Seguem-se os mandamentos de submissão aos quais a alusão foi feita mais acima.

Voltaremos mais adiante sobre a origem aquática da vida, que será exa- minada ao lado de outros problemas biológicos, evocados no Alcorão. E preciso deter-se, agora, no que se segue:

a) A afi rmação da existência de uma massa gasosa com fi nas partículas, pois é exatamente assim que se deve interpretar a palavra fumaça (dukhan, em árabe). A fumaça é geralmente constituída por um substrato gasoso com, em suspensão mais ou menos estável, fi nas partículas que podem pertencer aos estados sólidos e menos líquido da matéria e encontra-se em uma temperatura

mais ou menos elevada;

b) A menção de um processo de separação fatq que uma massa inicial única, cujos elementos estavam inicialmente ligados entre si (fatq). Esclareçamos que, em árabe, fatq é a ação de romper, de dessoldar, de separar, e que fatq é o ato de ligai ou costurar os elementos para fazer um todo homogêneo.

Este conceito de separação de um todo em várias partes é acentuado em outras passagens do Livro pela evocação de mundos múltiplos. O primeiro versículo do primeiro capítulo do Alcorão proclama, depois da invocação da abertura: “Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso”. “Louvado seja Deus, Senhor dos Mundos”.

A expressão “Mundos” reaparece dezenas de vezes no Alcorão. Os céus são também evocados como múltiplos, não somente sob a forma do plural, mas ainda com a numeração simbólica sob a égide do número sete.

Sete é empregado vinte e quatro vezes em todo o Alcorão para enu- merações diversas. Tem, em geral, o sentido de múltiplo sem que se conheça de modo exato a razão do uso assim feito do número nesse sentido. Entre os gregos, entre os romanos, o número sete parecia também ter o mesmo sentido de pluralidade não defi nida. No Alcorão, sete vezes o número sete se refere aos céus, propriamente dito (samawaat); uma vez o número sete é empregado ape- nas para designar os céus que fi cam subentendidos. Uma vez é feita a menção dos sete caminhos do céu:

- Capítulo 2, Versículo 29:

“Ele foi Quem vos criou tudo quando existe na terra; então, dirigiu Sua vontade até o fi rmamento do qual fez, ordenadamente, sete céus, porque é Onisciente.”

- Capítulo 23, Versículo 17:

“E por cima de vós criamos sete céus em estratos, e não descuramos da Nossa criação.” - Capítulo 67, Versículo 3:

“Que criou sete céus sobrepostos; tu não acharás imperfeição alguma na criação do Cle- mente! Volta, pois, a olhar! Vês, acaso, alguma fenda?”

“Não reparastes em como Deus criou sete céus sobrepostos, E colocou neles a lua reluzente e o sol, como uma tocha?”56

- Capítulo 78, Versículo 12 e 13:

“E não construímos, por cima de vós, os sete fi rmamentos? Nem colocamos neles um esplendoroso lustre?”

A lâmpada muito ardente aí é o sol. Para todos esses versículos, os comentadores alcorânicos estão de acordo: o número sete designa uma plurali- dade sem qualquer especifi cação.57

Os céus são, portanto, múltiplos; as terras são também e não é uma das menores surpresas do leitor moderno do Alcorão encontrar, num texto dessa época, o anúncio do fato de que terras como a nossa pudessem se encontrar no universo, o que os homens ainda não verifi caram em nosso tempo.

O Versículo 12 do Capítulo 65 indica o fato:

“Deus foi Quem criou sete fi rmamentos e outro tanto de terras; e Seus desígnios se cum- prem, entre eles, para que saibais que Deus é Onipotente e que Deus tudo abrange, com a Sua onisciência.”

Com o sete indicando, como já vimos, uma pluralidade indeterminada, podemos concluir o que o texto alcorânico indica claramente que não existe apenas uma terra, a terra dos homens (ard); há outras semelhantes no universo. Outro motivo de perplexidade para o leitor do Alcorão no século 21: versículos mencionam três grupos de coisas criadas, que são:

- aquelas que se encontram nos céus; - aquelas que se encontram sobre a terra;

- aquelas que se encontram entre os céus e a terra.

56 - Nota-se que a lua e o sol, chamados dois luzeiros na Bíblia, são designados aqui, como sempre no Alcorão, de maneira diferente; a primeira pela claridade (nur), enquanto que a segunda é comparada nesse versículo, à tocha (sira), que produz a luz. Veremos mais longe a aplicação ao sol de outros epítetos.

57 - Fora do Alcorão, nos textos da época de Muhammad ou de todos os primeiros séculos que a seguiram, relatando suas palavras (Hadiths), encontramos com frequência o núme- ro sete para indicar simplesmente uma pluralidade.

Eis aqui alguns versículos: - Capítulo 20, Versículo 6:

“Seu é tudo o que existe nos céus, o que há na terra, o que há entre ambos, bem como o que existe sob a terra.”

- Capítulo 25, Versículo 59:

“... Quem criou, em seis dias, os céus e a terra, e tudo quanto existe entre ambos...” - Capítulo 32, Versículo 4:

“Foi Deus Quem criou, em seis dias, os céus e a terra, e tudo quanto há entre ambos” - Capítulo 50, Versículo 38:

“Criamos os céus e a terra e, quanto existe entre ambos, em seis dias, e jamais sentimos fadiga alguma.”58

A menção no Alcorão “o que está entre os céus e a terra” encontra-se, ainda, nos versículos seguintes: Capítulo 21, Versículo 16; Capítulo 44, versículos 7 e 38; Capítulo 78, Versículo 37; Capítulo 15, Versículo 85; Capítulo 46, Versí- culo 3; Capítulo 43, Versículo 85.

Esta criação fora dos céus e fora da terra, mencionada repetidamente, é, a priori, pouco imaginável. É preciso apelar para compreender o sentido desses versículos, pelas constatações humanas modernas sobre a existência de uma matéria cósmica extragaláctica e, para isso, tomar, procedendo do mais simples ao mais complicado, as noções estabelecidas pela ciência contemporânea sobre a formação do universo. Isto será objeto do parágrafo seguinte.

Mas antes de passar a essas considerações puramente científi cas, é bom resumir os pontos essenciais sobre os quais o Alcorão nos informa a propósito da criação. Conforme o que precede, esses pontos são os seguintes:

1 – Existência de seis períodos palra a criação em geral;

58 - Esta afi rmação, segundo a qual a criação não havia absolutamente faƟ gado Deus, aparece como uma evidente réplica ao parágrafo da narração bíblica, citada na primeira parte deste livro, segundo a qual Deus teria repousado no séƟ mo dia do trabalho que havia feito nos dias precedentes.

2 – Enredamento de fases da criação dos céus e da criação da terra; 3 – Criação do universo a partir de uma massa inicial única, formando um bloco que se separou a seguir;

4 – Pluralidade dos céus e pluralidade das terras;

5 – Existência de uma criação intermediária “entre céus e terra,”.

ALGUNS DADOS DA CIENCIA MODERNA

No documento A Bíblia, o Alcorão e a Ciência (páginas 139-143)