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REINOS VEGETAL E ANIMAL

No documento A Bíblia, o Alcorão e a Ciência (páginas 184-197)

Foram reunidos neste capítulo numerosos versículos evocando a origem da vida, alguns aspectos do reino vegetal e assuntos gerais ou particulares rela- tivos ao reino animal. O agrupamento, numa classifi cação racional de versículos,

dispersos em todo o Livro, parece susceptível de dar uma ideia de conjunto dos dados alcorânicos sobre todas essas questões.

Para os assuntos deste capítulo, como para os do capítulo seguinte, o exame do texto alcorânico é, às vezes, particularmente delicado, em razão de certas difi culdades inerentes ao vocabulário. Essas difi culdades não são supe- radas, senão depois de se considerar os dados científi cos relativos ao assunto tratado. É mui especialmente no que concerne aos seres vivos - vegetais, animais e homem -, que a confrontação com os ensinamentos da ciência se demonstra indispensável para encontrar um sentido para certas asserções alcorânicas nes- ses domínios.

Compreende-se desde logo que numerosas traduções dessas passagens do Alcorão, feitas por literatos, sejam julgadas inexatas por um cientista. Dá-se o mesmo com os comentários, quando seus autores não possuem os conheci- mentos científi cos indispensáveis para a compreensão do texto.

A - A ORIGEM DA VIDA

A questão, em todos os tempos, preocupou o homem em relação a si mesmo e em relação aos seres vivos que o rodeiam. Examinar-se-á aqui a ques- tão, sob o ponto de vista geral. O caso do homem, cuja aparição na terra e sua reprodução são objetos de considerações muito importantes, será tratado no capítulo seguinte.

Examinando a origem da vida num plano muito geral, o Alcorão a evoca, com uma concisão externa, em um versículo que concerne igualmente ao pro- cesso, já citado e comentado, da formação do universo.

- Capítulo 21, Versículo 30:

“Não veem, acaso, os incrédulos, que os céus e a terra eram uma só massa, que desagre- gamos, e que criamos todos os seres vivos da água? Não creem ainda?”

A noção de procedência não apresenta dúvidas. A frase pode também signifi car que toda coisa viva foi feita com a água, elemento essencial, ou que toda coisa viva tem por origem a água. Os dois sentidos possíveis estão rigo- rosamente conforme os dados científi cos: considera-se precisamente que a vida

tem uma origem aquática e que a água ê o primeiro constituinte de toda célula viva. Sem água, nenhuma vida é possível. Discute-se sobre a possibilidade de vida em um planeta e logo se coloca a questão: teria ele, para tanto, água em quantidade sufi ciente?

Os dados modernos permitem pensar que os seres vivos mais antigos deveriam pertencer ao reino vegetal: encontraram algas da época pré-cambriana, quer dizer, das terras mais antigas que se conhecem. Os elementos do reino animal devem ter aparecido mais tarde: eles vieram também dos oceanos.

O que é traduzido aqui por água é a palavra maa, que designa tanto a água do céu, como a água dos oceanos, ou um líquido qualquer. No primeiro sentido, a água é um elemento necessário a toda vida vegetal:

- Capítulo 20, Versículo 53:

“Foi Ele Quem vos destinou a terra por leito, traçou-vos caminhos por ela, e envia água do céu, com a qual faz germinar distintos pares de plantas.”

Primeira citação de pares entre vegetais, noção à qual voltaremos. Num segundo sentido, no de líquido sem nenhuma precisão, o termo é empregado sob sua forma indeterminada, para designar o que está na base da formação de todo animal.

- Capítulo 24, Versículo 45:

“E Deus criou da água todos os animais.”

Veremos mais adiante que a palavra se aplica também ao líquido seminal (Segregado pelas glândulas destinadas à reprodução, ela contém os espermato- zoides.). Assim, tratando da origem da vida em geral, do elemento que faz nas- cer as plantas do solo ou do germe do animal, todas as proposições, do Alcorão sobre a origem da vida estão rigorosamente conforme os dados científi cos modernos. Nenhum dos mitos que pululavam naquela época sobre a origem da vida tem lugar no texto do Alcorão.

B - O REINO VEGETAL

Não podem ser citadas aqui, na totalidade, as numerosas passagens do Alcorão onde a benfeitoria divina é evocada a propósito do caráter benéfi co da

chuva, que faz crescer a vegetação. Escolhamos três versículos sobre esse tema: - Capítulo 16, Versículos 10-11:

“Ele é Quem envia a água do céu, da qual bebeis, e mediante a qual brotam arbustos com que alimentais o gado. E com ela faz germinar a plantação, a oliveira, a tamareira, a videira, bem como toda a sorte de frutos. Nisto há um sinal para os que refl etem.” - Capítulo 6, Versículo 99:

“É Ele Quem envia a água do céu. Com ela, fi zemos germinar todas as classes de plantas, das quais produzimos verdes caules e, destes, grãos espigados, bem como as tamareiras, de cujos talos pendem cachos ao alcance da mão; as videiras, as oliveiras e as romãzeiras, semelhantes (em espécie) e diferentes (em variedade). Reparai em seu fruto, quando fruti- fi cam, e em sua madureza. Nisto há sinais para os fi éis.”

- Capítulo 50, Versículos 9-11:

“E enviamos do céu a água bendita, mediante a qual produzimos jardins e cereais para a colheita. E também as frondosas tamareiras, cujos cachos estão carregados de frutos em simetria, Como sustento para os servos; e fazemos reviver, com ela, (a água) uma terra árida. Assim será a ressurreição!”

A essas considerações de ordem geral, o Alcorão acrescenta outras, versando sobre aspectos mais restritos.

O Equilíbrio Reinante no Reino Vegetal

- Capítulo 15, Versículo 19:

“E dilatamos a terra, em que fi xamos fi rmes montanhas, fazendo germinar tudo, comedi- damente.”

A Diferenciação dos Alimentos

- Capítulo 13, Versículo 4:

“E na terra há regiões fronteiriças (de diversas características); há plantações, videiras, sementeiras e tamareiras, semelhantes (em espécie) e diferentes (em variedade); são rega- das pela mesma água e distinguimos umas das outras no comer. Nisto há sinais para os sensatos.”

É interessante notar a existência desses versículos para pôr em destaque a sobriedade dos termos empregados e a ausência de toda menção, que pudes- se traduzir mais as crenças da época que as verdades fundamentais. Mas, são, sobretudo, as proposições alcorânicas, relativas à reprodução no reino vegetal, que prendem a atenção.

Reprodução dos Vegetais

É preciso lembrar que a reprodução no reino vegetal se efetua de duas maneiras: sexual e assexualmente. Para bem dizer, só a primeira merece o nome de reprodução, porque ela defi ne o processo biológico, tendo, por fi m, o apa- recimento de um novo indivíduo, idêntico aquele que lhe deu o nascimento.

A reprodução assexual é uma simples multiplicação, porque ela resulta da fragmentação de um organismo que, separado da própria planta, vai adqui- rir um desenvolvimento, tornando-o semelhante àquele do qual se originou. Guilliermond e Mangenot o consideram como “um caso particular do cresci- mento”. Um outro exemplo muito simples é fornecido por tanchões: um ramo cortado da planta, colocado no solo convenientemente irrigado se regenera pelo desenvolvimento das raízes novas. Algumas plantas têm órgãos especiali- zados para isso, outras soltam esporos que se comportam, se é que se possa dizer, como grãos (que, convém lembrar, são o resultado de um processo de reprodução sexual).

A reprodução sexual dos vegetais se opera por acasalamento de elemen- tos fêmeas, pertencentes a formações geradoras reunidas na mesma planta ou separadas. Somente ela é considerada no Alcorão.

- Capítulo 20, Versículo 53:

“Foi Ele Quem vos destinou a terra por leito, traçou-vos caminhos por ela, e envia água do céu, com a qual faz germinar distintos pares de plantas.”

Elemento de acasalamento é a tradução da palavra zawj (plural azwaaj), cujo sentido primitivo é “aquele que, com mais um outro, forma o par”; a pala- vra se aplica tanto aos esposos como aos sapatos.

- Capítulo 22, Versículo 5:

ela, move-se e se impregna de fertilidade, fazendo brotar todas as classes de pares de viçosos (frutos).”

- Capítulo 31, Versículo 10:

“E enviamos a água do céu, com que fazemos brotar toda a nobre espécie de casais.” - Capítulo 13, Versículo 3:

“Assim como estabeleceu dois gêneros de todos os frutos.”

Sabe-se que o fruto é o termo do processo de reprodução dos vegetais superiores que têm a organização mais elaborada, mais complexa. O estágio que precede o fruto é o da fl or, com seus órgãos masculinos (estames) e feminino (óvulos). Estes últimos, após a colocação do pólen, são frutos, que, depois da maturação, liberam as sementes. Todo fruto inclui, portanto, a existência de órgãos, masculinos e femininos. É o que esse versículo alcorânico quer dizer.

É preciso notar, entretanto, que, em algumas espécies, os frutos pode provir não fecundadas (frutos partenocárpicos) como a banana, certos tipos de abacaxis, de fi go, de laranja e de vinhas. Elas, no entanto, provêm de vegetais sexuados.

A conclusão da- reprodução se faz pelo processo de germinação do grão, depois da abertura de seu envelope exterior (que pode ser condensado em um caroço). Esta abertura permite a saída de raízes, que vão sugar, no solo, o que é necessário à planta de vida incipiente - o grão -, para que ela se desen- volva e dê um novo indivíduo.

Um versículo alcorânico faz alusão a esta germinação: - Capítulo 6, Versículo 95:

“Deus é o Germinador das plantas graníferas e das nucleadas! Ele faz surgir o vivo do morto e extrai o morto do vivo. Isto é Deus! Como, pois, vos desviais?”

O Alcorão que, com frequência repetiu a existência desses elementos aos pares no reino vegetal, inscreveu essa noção de casal no quadro mais geral, aos limites não fi xados:

“Glorifi cado seja Quem criou pares de todas as espécies, tanto naquilo que a terra produz como no que eles mesmos geram, e ainda mais o que ignoram.”

Podemos levantar múltiplas hipóteses sobre a signifi cação dessas coisas que os homens não conheciam na época de Muhammad e das quais descobri- mos, em nossos dias, estruturas e funcionamento acoplados na ordem do infi - nitamente pequeno, como na do infi nitamente grande, tanto no mundo vivente, como no mundo não vivente. O essencial é examinar as noções claramente expressas e constatar, mais uma vez, que aí não encontramos discordâncias com a ciência da atualidade.

C - O REINO ANIMAL

Muitas questões relativas ao reino animal são objeto, no Alcorão de considerações que exigem que se proceda a uma confrontação com os conhe- cimentos científi cos modernos sobre esses pontos particulares. Mas, aqui ainda, dar-se-ia uma visão incompleta do que o Alcorão contém a esse respeito, se não relatamos uma passagem, como a que vem em seguida, em que a criação de certos elementos do reino animal é lembrada, com o fi m de levar os homens a refl etir sobre as benfeitorias divinas a seu respeito. Esta passagem é citada essencialmente para dar um exemplo da maneira pela qual o Alcorão evoca essa harmoniosa adaptação da criação às necessidades dos homens, em particular no caso dos rurais, porque ela não oferece matéria a um exame de outra ordem. Capítulo 16, Versículos 5-8:

“E criou o gado, do qual obtendes vestimentas, alimento e outros benefícios. E tendes nele encanto, quer quando o conduzis ao apriscos, quer quando, pela manhã, os levais para o pasto. Ainda leva as vossas cargas até as cidades, às quais jamais chegaríeis, senão à custa de grande esforço. Sabei que o vosso Senhor é Compassivo, Misericordiosíssimo. E (criou) o cavalo, o mulo e o asno para serem cavalgados e para o vosso deleite, e cria coisas mais, que ignorais.”

Ao lado dessas considerações de ordem geral, o Alcorão expõe alguns dados sobre assuntos bem diversos:

- menção da existência de comunidades animais; - refl exões sobre as abelhas, a aranha, os pássaros;

- enunciado sobre a proveniência do leite animal.

1. Reprodução no Reino Animal

Ela é muito sumariamente evocada nos Versículos 45-46 do Capítulo 53: “E que Ele criou (tudo) em pares: o masculino e o feminino, De uma gosta de esperma, quando alojada (em seu lugar).”

Elemento de par é a mesma expressão que encontramos nos versículos que tinham tratado da reprodução vegetal, os sexos são assim designados.

O pormenor notavelmente acentuado está na precisão dada sobre a pe- quena quantidade necessária para a reprodução. A mesma palavra que designa o esperma, sendo empregada para o homem, está no capítulo seguinte em que um comentário será dado sobre o interesse dessa observação.

2. A Existência de Comunidades Animais - Capítulo 6, Versículo 38:

“Não existem seres alguns que andem sobre a terra, nem aves que voem, que não cons- tituam nações semelhantes a vós. Nada omitimos no Livro; então, serão congregados ante seu Senhor.”

Vários pontos deste versículo devem ser comentados. Primeiro, o desti- no dos animais’ depois de sua morte, parece bem ser evocado: O Islam não tem sobre esse ponto, aparentemente nenhuma doutrina. Em seguida, a predestina- ção geral (Vimos, na introdução da terceira parte deste livro, o que, para o caso do homem, seria necessário para pensar sobre a predestinação.), que parece ser tratada aí, poderia se conceber como predestinação absoluta ou como predesti- nação relativa limitada a estruturas e a uma organização funcional, condicionan- do um modo de comportamento: o animal reage a impulsos exteriores diversos em função de um condicionamento particular.

Segundo Blachère, um comentador antigo como Razi pensava que esse versículo não considerava senão os atos instintivo pelos quais os animais ren- dem homenagem a Deus.

O Sheikh Boubakeur Hamza, nos comentários de sua tradução do Alco- rão, fala do instinto que impele, segundo a sabedoria divina, todos os seres a se unir para sua reprodução e a se organizar em comunidades que exigem, para serem viáveis, que o trabalho de cada membro sirva a todo grupo.

Esses comportamentos animais foram minuciosamente estudados nestes últimos decênios e chegou-se a pôr em evidência verdadeiras comunidades ani- mais. Certamente, o exame do resultado do trabalho de uma coletividade pode, já faz muito tempo, fazer admitir a necessidade de uma organização comunitária. Mas não foi senão em um período recente, que foram descobertos os mecanismos que presidem a tais organizações entre certas espécies. O caso melhor estudado, e o mais conhecido, é sem dúvida o das abelhas, a cujo com- portamento o nome de Von Frisch está ligado. Von Frisch, Larenz e Tinbergen receberam, a esse título, o prêmio Nobel em 1973.

3. Refl exões Concernentes às Abelhas, às Aranhas e aos Pássaros

Quando especialistas do sistema nervoso querem dar frisantes exemplos da prodigiosa organização que rege o comportamento animal, os animais, talvez mais comumente citados são as abelhas, as aranhas e os pássaros (sobretudo os migradores). Em todo caso, podemos afi rmar que esses três grupos constituem belíssimos modelos de uma alta organização.

Que ó texto do Alcorão faça menção a essa tríade exemplar, no mundo animal, responde perfeitamente ao caráter excepcionalmente interessante do ponto de vista científi co de cada um dos animais citados aqui.

É ela que, no Alcorão, é objeto do mais longo comentário: - Capítulo 16, Versículos 68-69:

“E teu Senhor inspirou as abelhas, (dizendo): Construí as vossas colmeias nas montanhas, nas árvores e nas habitações (dos homens). Alimentai-vos de toda a classe de frutos e segui, humildemente, pelas sendas traçadas por vosso Senhor! Sai do seu abdômen um líquido de variegadas cores que constitui cura para os humanos. Nisto há sinal para os que refl etem.”67

É défi cit saber o que signifi ca exatamente a ordem de seguir humilde-

mente os caminhos do Senhor, a não ser de um ponto de vista geral. Tudo o que podemos dizer, em função do conhecimento que se tem do estudo de seu comportamento, é que aqui - como em cada um dos três casos de animais mencionados a título exemplar no Alcorão -, uma extraordinária organização nervosa é o suporte do comportamento. Sabe-se que, por sua dança, as abelhas têm um meio de comunicação entre si; elas são capazes de dar a conhecer, assim, aos congêneres, em que direção e a que distância se encontram as fl ores a despojar. A famosa experiência de Von Frisch demonstrou a signifi cação dos movimentos do inseto, destinados à transmissão da informação entre abelhas obreiras.

A ARANHA

Faz-se menção à aranha no Alcorão para acentuar a fragilidade de sua morada, a mais tênue de todas. É um refúgio tão precário, diz o texto alcorâni- co, como aquele a que se dão os homens ao escolher senhores além de Deus. - Capítulo 29, Versículo 41:

“O exemplo daqueles que adotam protetores, em vez de Deus, é igual ao da aranha, que constrói a sua própria casa. Por certo que a mais fraca das casas é a teia de aranha. Se o soubessem!”

67 - O úlƟ mo verso é o único do Alcorão, seja dito, de passagem, que menciona uma pos- sibilidade de um remédio para os homens. O mel pode, com efeito, ter sua uƟ lidade em certas infecções. Em nenhuma parte, aliás, o Alcorão faz alusão a qualquer arte de curar que seja, contrariamente a tudo o que dissemos.

A teia de aranha, com efeito, é constituída de fi os de seda segregados pelas glândulas que o animal possui e cujo calibre é ínfi mo. Sua tenuidade é inimitável pelo homem. Os naturalistas se interrogam sobre o extraordinário piano de trabalho registrado pelas células nervosas do animal e que lhe permi- tem elaborar uma teia cuja geometria é perfeita; mas, disso, o Alcorão não fala.

OS PÁSSAROS

Os pássaros são objetos de frequentes menções no Alcorão, onde eles intervêm em episódios da vida de Abraão, de David, de Salomão e de Jesus. Essas menções não têm relação com o assunto tratado aqui.

Constatamos mais acima o versículo que concernia à existência de co- munidades de animais terrestres e de pássaros:

- Capítulo 6, Versículo 38:

“Não existem seres alguns que andem sobre a terra, nem aves que voem, que não consti- tuam nações semelhantes a vós.”

Dois outros versículos põem em relevo a estrita submissão dos pássaros aos poderes de Deus:

Capítulo 16, Versículo 79:

“Não reparam, acaso, nos pássaros dóceis, que podem voar através do espaço? Ninguém senão Deus é capaz de sustentá-los ali! Nisto há sinal para os fi éis.”

Capítulo 67, Versículo 19:

“Não reparam, acaso, nos pássaros que pairam sobre eles, protraindo e recolhendo as suas asas? Ninguém os mantém no espaço, senão o Clemente, porque é Onividente.”

A tradução de uma palavra de cada um desses versículos é delicada. A que foi dada aqui exprime a ideia que Deus mantém em seu Poder os pássaros. O verbo árabe de que se trata é, amsaka, cujo sentido primitivo é “pôr a mão sobre, apanhar, ter, reter alguém”.

Podemos perfeitamente cotejar esses versículos, que põem em desta- que a dependência particularmente estreita do comportamento do pássaro em relação à ordem divina com os dados modernos, que mostram o ponto de perfeição atingido por algumas espécies de pássaros, quanto à programação de seus deslocamentos. É exatamente a existência, de um programa de migração, inscrito no código genético do animal, que pode informar os trajetos compli- cados e muito longos que os pássaros muito jovens, sem experiência anterior, sem nenhum guia, sejam capazes de cobrir para voltar, em data certa, ao ponto de partida. No seu livro, O Poder e a Fragilidade (Flammarion, 1972, Paris.), o professor Hamburger cita, a título de exemplo, o caso célebre do “mutton-bird”, do Oceano Pacífi co, cuja revoada de 25.000 quilômetros é toda feita na forma do número 8 (Ele efetua esse percurso em seis meses, para voltar ao seu ponto de partida, com um atraso máximo de uma semana, sem ajuda de um guia.). Admite-se que as diretivas muito complexas para uma tal viagem estejam ins- critas, necessariamente, nas células nervosas do pássaro. Elas foram certamente programadas. Quem é programador?

4. Proveniência dos Constituintes do Leite Animal

A proveniência do leite animal é defi nida pelo Alcorão (Capítulo 16, Versículo 66) em rigorosa conformidade com os dados do conhecimento mo- derno. A maneira de traduzir e interpretar esse versículo é toda pessoal, pois as traduções, mesmo modernas, lhe dão habitualmente uma signifi cação que não é muito aceitável, na minha opinião. Eis dois exemplos:

Tradução de R. Blachère:

“Na verdade, tendes no gado um ensinamento. Nós vos damos a beber um leite puro, que

No documento A Bíblia, o Alcorão e a Ciência (páginas 184-197)