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Educação Holística – Origem e Evolução

Capitulo III Educação Holística

2. Paradigma Holístico

3.1. Educação Holística – Origem e Evolução

O termo holístico tem a sua origem na palavra grega holos que significa todo, inteiro (totalidade, inteireza). O filósofo sul-africano, Ian Christian Smuts (1870-1950), é um dos pioneiros do movimento antiapartheid e é conhecido como o criador do termo Holismo. Ele é conhecido por ser o fundador do movimento holístico no século XX, publicado no seu livro “Holism and Evolution” (1926), onde aborda a existência de uma tendência holística integradora e fundamental no universo. Durante vários anos a sua obra passou quase despercebida e passou a ser redescoberta por Alfred Adler (1870-1937), que procurou mostrar que inerente a todo corpo existe uma vontade para se tornar um todo.

O holos diz respeito a uma unidade que se apresenta na forma de múltiplas manifestações, que estão em constante inter-relação e interação multidimensional. Segundo Wilber (2005), a realidade é composta por “holões” que representam, simultaneamente, a totalidade num contexto e a parte, noutro contexto. Neste sentido, a teoria dos holões defende que tudo é parte e totalidade, ao mesmo tempo, significando que tudo é parte de uma totalidade maior. O conjunto de holões compõe a holoarquia que representa também o desenvolvimento de redes mais amplas da totalidade.

Holismo, de acordo com Weil (1990), diz respeito a uma força vital responsável pela formação de conjuntos, que é a mesma força que forma os “átomos e moléculas, no plano físico, da célula, no plano biológico, das ideias, no plano psicológico e da personalidade, no plano espiritual; o próprio universo seria um conjunto em constante formação” (Weil, 1990, p.7). Holística refere-se assim ao conjunto, na relação com as suas partes, a totalidade do mundo e dos seres. Apesar de parecer que se trata de um conceito recente, o paradigma holístico não é fruto da sociedade atual. A perspetiva holística é bastante antiga e a sua origem leva-nos às culturas indígenas (Miller, 2005), ao pensamento filosófico da antiguidade, desde o tempo dos pré-socráticos, estoicos e neoplatónicos, no Ocidente, ou do pensamento hindu, taoista e budista, no Oriente. Os pré- socráticos, especificamente Heráclito, através da ideia de physis, apresentaram uma visão holística, na medida que defendiam uma relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza, que se alimentava pelo respeito, admiração e complementaridade. As tradições budistas, hindu e taoistas compreendem que tudo no universo, luz e sombra, yin e yang, dentro e fora, corpo e mente, interrelacionam-se de forma interdependente (Araújo, 1999).

Uma influência bastante importante na educação holística trouxe também a Física Quântica, que causou uma grande revolução para a própria ciência. Os seus princípios mostram-nos que não é o conjunto de elementos isolados que formam o universo, conforme considerado pela ciência, mas é a interação e a relação que existe e que se estabelece entre eles, criando uma realidade que constitui um processo de troca de informações entre todos os elementos de origem física, biológica, psicológica ou social.

Os educadores pioneiros que defenderam uma educação holística reconheceram no sistema educativo mecanicista a falta de abordagem da dimensão espiritual, considerando-a essencial para alcançar a felicidade e a realização da pessoa, assim como consideram que os problemas principais que a sociedade ocidental enfrenta têm a sua origem num nível mais subtil, epistemológico e espiritual (Miller, 1997).

Um dos apoiantes da perspetiva holística, a psicóloga Monique Thoenig, fundou em Paris em 1970, a primeira Universidade Holística, que a partir de 1985 se

expandiu para a Universidade Holística Internacional, através de Pierre Weil e Jean-Yves Leloup. Segundo Thoenig, o universo é a consciência omnipresente e sempre ativa e o ser humano é “um bebê cosmo” (em Crema 1991, p.24) que participa de forma consciente ou inconsciente no universo do qual ele é parte. Após vários séculos a viver uma realidade artificial, com o contributo da sociedade ocidental, o ser humano foi transformado numa “nova” pessoa polarizada, bloqueada e separada da sua essência, da sua fonte de inspiração, da sua dimensão espiritual. Thoenig alertou para a urgência da necessidade da separação das imagens que criamos sobre nós mesmos, que nos tornaram prisioneiros a individualização e nos desligaram das outras pessoas e do universo. É neste sentido, que a perspetiva holística vem contribuir para tirar a pessoa desta falsa realidade, através do contributo que traz abrindo caminho para aceder à consciência universal, onde podemos experienciar o fim da dualidade e entrar em contacto com o verdadeiro Ser (Crema, 1991).

A visão holística ganhou maior evidência com a Declaração de Veneza (1986), que foi fruto de um colóquio organizado pela UNESCO, que reuniu importantes personalidades intelectuais do mundo, entre os quais cientistas, filósofos e outras personalidades vencedoras de prémio Nobel. Esta Declaração enfatizou a necessidade de uma reflexão e a urgência de uma nova visão do mundo que aposta no carácter transdisciplinar da educação que consiste no intercâmbio entre as ciências ‘exatas’ e ‘humanas’, a arte e a tradição e que, também, está inscrita no nosso corpo, em particular no nosso cérebro, através da interação dinâmica entre os seus dois hemisférios. Esta abordagem do universo e do ser humano através do “estudo conjunto da natureza e do imaginário, do universo e do homem” (Weil, 1990, p.76), poderia aproximar-nos do real e permitir-nos enfrentar os diferentes desafios da nossa época. Esta Declaração alertou para a necessidade de refletir sobre os valores que predominam atualmente na educação, estando essencialmente fundamentados no positivismo e niilismo, os quais são prejudiciais e colocam em risco a raça humana. A Declaração considerou também urgente o início do diálogo da ciência com outras formas de conhecimento, como as tradições espirituais, referindo que se trata de duas formas complementares de entender o mundo e que poderia dar origem a uma nova perspetiva filosófica.

Este acontecimento foi seguido pelo Primeiro Congresso Holístico Internacional em 1987, na cidade de Brasília, na qual foi lançada a Associação Holística Internacional. Três anos mais tarde, em Junho de 1990, em Chicago, foi estabelecida a Aliança Global para a Transformação da Educação (GATE) por um grupo de educadores, que tinha por objetivo trazer uma nova visão à educação que contribuía para uma sociedade espiritual sustentável. Como resultado desta Aliança, foi fundamentada a Declaração de Chicago conhecida também como Educação 2000, que definiu os princípios para uma educação holística resultando na necessidade urgente da promoção do sentido de responsabilidade individual e global e cultivo da compaixão para todos os seres e o planeta (Yus, 2002). Numa das passagens da declaração refere-se:

Holism emphasizes the challenge of creating a sustainable, just and peaceful society in harmony with Earth and its life. It involves an ecological sensitivity -- a deep respect for both indigenous and modern cultures as well as the diversity of life forms on the planet. Holism seeks to expand the way we look at ourselves and our relationship to the world by celebrating our innate human potentials – the intuitive, emotional, physical, imaginative, and creative, as well as the rational, logical, and verbal. (Miller, 2009, p.90)

Segundo Miller, a educação holística realça a necessidade dos seres humanos procurarem o sentido da vida e não apenas factos e competências, enquanto aspetos intrínsecos do seu desenvolvimento pleno que, por sua vez, é a única garantia para haver harmonia nas sociedades. Miller (1997) enfatizou ainda a importância da introdução da visão holística na educação que procurava aproximar o ensino à aprendizagem e significava disponibilizar ferramentas aos alunos para se compreenderem como seres holísticos, abordando as dimensões emocional, criativa, intuitiva e espiritual.

A partir de 1997, todos os anos, na Universidade de Toronto, educadores de vários países do mundo, que partilham a mesma visão holística sobre a educação, reúnem-se em conferências, onde debatem questões relacionadas com a aprendizagem holística.