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Principais Influências da Educação Holística

Capitulo III Educação Holística

2. Paradigma Holístico

3.2. Principais Influências da Educação Holística

A educação holística é, assim, resultado de um movimento internacional, que reúne vários educadores de diferentes continentes, que começaram a desenvolver as bases para uma nova educação.

A Filosofia Perene considera-se ser a grande inspiração e estar na origem da educação holística. A fonte dos seus ensinamentos é a sabedoria espiritual, que permite a autorrealização do ser humano, sendo por isso considerada, também, como a espiritualidade genuína9. Segundo os princípios desta filosofia, o ser humano pode desenvolver-se ao longo da vida até chegar à divindade (Wilber, 2005). A Filosofia Perene reconhece a existência de uma realidade divina subjacente, considerando que o ser humano e o divino são um, porque tudo no universo é parte da mesma Substância (Espinosa, 1983). Segundo Espinosa, o ser humano é, ao mesmo tempo, um ser divino e cósmico, cabendo a ele decidir se quer escolher uma vida miserável ou alegre. Ou seja, sabendo que quando está sujeito e se submete às influências negativas abre espaço para uma vida miserável, mas quando é capaz de fechar as portas a esta negatividade ou quando as consegue transformar em energias positivas, ele é capaz de levar uma vida cheia de significado.

A relação entre o ser humano e o divino, segundo Huxley (1971), expressa-se através da mudança que acontece no ser, em relação à natureza e à totalidade do conhecimento. Isto é, à medida que uma criança cresce, sofre transformações que causam mudanças na forma como ela interpreta e se conhece a si própria e na totalidade das coisas que a rodeiam. Huxley afirma que esta mudança que acompanha o ser humano pode vir a ser prejudicada se houver falta de clareza das coisas e do poder intuitivo (Huxley, 1971). Neste sentido, o ser humano sábio, para Huxley, é aquele que consegue estabelecer uma relação íntima com a realidade, e que se compreende como parte de um todo, sendo capaz de se escutar a ele próprio para chegar ao autoconhecimento.

Os temas principais da Filosofia Perene, de acordo com Huxley, são: a Realidade Divina, Unicidade, Totalidade e as múltiplas dimensões da realidade. Huxley (1971) distingue quatro elementos fundamentais da Filosofia Perene:

− o carácter fenoménico da matéria e a consciência individual;

− a intuição, que permite ao ser humano perceber a existência da totalidade; − a consciência pessoal e a consciência espiritual que reside no interior do ser

humano;

− a natureza espiritual que possibilita a união com a fonte divina (Miller 2007). Outra inspiração que está na origem da educação holística, nomeadamente os princípios associados com a inter-relação com o todo, com a compreensão da realidade e da consciência, diz respeito às tradições espirituais e indígenas. Apesar das suas diferenças, elas trouxeram um contributo importante para a educação holística face aos aspetos que todos eles têm em comum, transmitidos e vivenciados através do respeito pelos valores universais e da promoção da consciência cósmica, defendendo que a realidade que vivemos é uma realidade ilusória, provocada pela dualidade, pela separação entre a mente e o corpo (Weil, 1990).

Todas as tradições têm revelado que a compreensão fragmentada do ser humano é causada pelo ego, que dificulta a manifestação da sabedoria, enquanto “uma vacuidade plena do potencial energético de todas as formas existentes, dando origem a uma continuidade e a uma inseparabilidade entre os seres, os objetos do universo e o próprio universo” (Weil, 1990, p.50). Assim, todas as tradições defendem uma visão holística da realidade e do ser humano, que procuram ajudar a pessoa a que, ao longo da sua vida, retire as máscaras criadas pelo ego e descubra a sua verdadeira natureza (Weil, 1990). Várias tradições espirituais e indígenas têm mostrado a reverência para com a natureza, o universo, o planeta e o espírito, enfatizando a interconexão que existe entre todos os seres e a natureza, perspetivas estas que têm alimentado o desenvolvimento da teoria e prática da educação holística (Nacagawa, 2000).

Outras influências inspiradoras da educação holística são também a Filosofia da Vida e as perspetivas ecológicas. A Filosofia da Vida sustenta-se no pensamento que a vida tem uma razão, um sentido e um objetivo a cumprir que transcende o ego e as condições físicas e culturais (Miller, 1997). A Filosofia da Vida assume que existe uma força vital e fundamental que gere e organiza a vida no universo e a educação é uma manifestação da vida e um instrumento facilitador no processo da re-conexão entre a vida humana e a vida universal.

As perspetivas ecológicas estão muito ligadas com a educação holística, e é muito comum ver associado o termo “ecológico” ao próprio nome educação holística. Esta estreita relação explica-se pelos importantes contributos que a educação holística traz em relação à sensibilização das pessoas para o diálogo com a natureza, assuntos sobre a sustentabilidade ambiental, as relações de interdependência, entre outros (Nacagawa, 2000).

A Summerhill School, fundada em 1921 por Alexander Sutherland Neill, deixou também a sua influência na educação holística. Esta escola fundamenta-se na promoção da liberdade, direito, autoconfiança, tolerância, respeito pela diversidade e criatividade. Summerhill reconhece a importância da expressão das emoções e da aprendizagem através dos sentimentos, por meio do desenvolvimento da abertura e da honestidade entre os professores e alunos.

A educação holística tem recebido inspiração também dos pensamentos de vários filósofos como Rousseau, Husserl, Heidegger, Pestalozzi, Teilhard de Chardin, Montessori, Rudolf Steiner, entre outros, os quais enfatizaram a importância da integração dos aspetos espirituais do ser humano na educação.

Rousseau, apesar de ser mais humanista que holístico, reconheceu que a criança é caracterizada pela sua bondade desde a nascença, pressuposto este que também está presente nos fundamentos da educação holística e que rejeitam a perspetiva fundamentalista que considera qua as crianças nascem com o pecado original.

Husserl considera a essência como o fenómeno mais importante que se manifesta na pessoa e Heidegger (2005) chama a atenção para a necessidade de ir além da visão ocidental no que diz respeito à separação entre sujeito e objeto, uma vez que a existência é sinónimo da coexistência, ou seja, o ser humano está em constante relação com os outros seres. Chardin (1970) reforçou ainda mais a importância da interdependência que caracteriza a relação entre os seres humanos e o universo, assim como trouxe importantes contributos à compreensão do significado da Totalidade, explicando que apenas uma consciência livre pode permitir que as pessoas compreendam a pureza da natureza.

Pestalozzi acredita que a educação está conectada com o plano divino e a sala de aula representa um espaço para desenvolver atividades que promovem nos alunos

a descoberta do sentido, encorajando assim os professores a utilizar a intuição. Para Steiner, a escola constitui um alimento do espírito da criança e Montessori, assim como Pestalozzi, acredita que dentro de cada ser humano existe um embrião espiritual que se desenvolve de acordo com um plano chamado divino. Neste sentido, segundo Montessori, o papel do professor é ajudar cada criança neste processo, limpando os obstáculos que dificultam o seu desenvolvimento, contribuindo para a formação do seu carácter para, no futuro, se tornar um adulto interdependente na relação que estabelece com os outros seres e com a natureza (Miller, 2007).

No ponto que segue procura-se referir os princípios mais importantes que orientam a prática da educação holística, que procuram contribuir para mudar mentalidades e despertar consciências para o desenvolvimento do indivíduo para uma sociedade plena.