• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I – Filosofia da Educação

1. Filosofia da Educação

1.3. Perspetivas da Filosofia da Educação no Oriente

1.3.1. Breve Abordagem da Filosofia da Educação da India

1.3.1.1. Filosofia da Escola do Yoga

As escolas da perspetiva védica, ou ortodoxas, da filosofia da educação indiana são caracterizadas por utilizarem métodos mais teóricos para obter conhecimento. A filosofia da educação baseada no Yoga distingue-se das outras escolas por ser considerada, ao mesmo tempo, teórica e prática. Yoga significa União, união espiritual da alma do indivíduo com a alma do universo. Bhagavad Gita, um texto sagrado hindu, define o Yoga como um estado no qual a pessoa não se altera, nem se afeta por qualquer acontecimento, representando um estado livre de qualquer dor e problema (Ajitha, 2014). De acordo com Patañjali, o fundador da escola da filosofia de Yoga, yoga significa junção, união, conjunção, conexão entre o corpo e o espírito (Tatya, 1885).

A filosofia da educação do Yoga é caracterizada pela sua natureza espiritual e idealista. A realização da libertação é o fim último do yoga. O objetivo desta filosofia é contribuir para as pessoas compreenderem a diferença entre a matéria, a alma e o espírito, que acreditam ser o caminho para a salvação, afastando-se das misérias que causam sofrimento na vida. E para isso a prática do yoga é considerada necessária (Tatya, 1885).

Yoga, que é entendido como o controlo sobre o corpo, sobre os sentidos e sobre a mente, recorre à prática da concentração para evitar todos os problemas. Para atingir este controlo, a disciplina é considerada como imprescindível. O objetivo da filosofia do Yoga é ajudar os alunos a desenvolver os oito fatores do Yoga que são organizados em dois grupos, de acordo com o contributo que trazem, do ponto de vista externo ou interno:

1- Os fatores externos (bahiranga sadhana) são:

- Yama significa a abstenção dos prejuízos causados pelos pensamentos, palavras, ações, falsidade, roubo, paixões, luxo e avareza.

- Niyama diz respeito à cultura do indivíduo e inclui a purificação interna e externa, contentamento, austeridade, estudo e devoção a Deus;

- Ásana relaciona-se com a disciplina do corpo, que significa uma postura física estável e confortável, que ajuda a prática da meditação;

- Pranayama significa o controlo da respiração e lida com a regulação da inalação, retenção e exalação do ar. É considerado como muito benéfico para a saúde e contribui para a concentração da mente.

- Pratyahara diz respeito ao controlo dos sentidos, que têm a tendência de seguir os objetos externos. O objetivo é controlar e direcionar os sentidos para os objetivos internos, parte do processo da introversão.

2- Os fatores internos (Antaranga Sadhana) são:

- Dharana significa fixar a mente no objeto da meditação, como a ponta do nariz ou no ponto que fica no meio das sobrancelhas para conseguir a firmeza da mente, etc.;

- Dhyana – significa meditação e consiste no fluxo não perturbado pelos pensamentos que vão à volta do objeto da meditação, que acontece de forma constante e sem qualquer intervalo.

- Samadhi significa concentração da mente que está completamente absorvida no objeto da meditação. Se, na fase anterior dhyana, o ato da meditação e o objeto da meditação estão separados, no samadhi eles tornam-se um. É o meio mais elevado para acabar com as modificações da mente "in which the connection with the external world is broken and through which one has to pass before obtaining liberation” (Ajitha, 2014, p. 50). A prática do Yoga, desta forma, pretende contribuir para atingir os seguintes objetivos principais:

- O desenvolvimento do conhecimento virtuoso que nos permite sentir a unidade na diversidade e sentir a presença de Deus em todas as criaturas e no universo;

- Desenvolvimento de personalidade e a sua melhoria; - Desenvolvimento da autodisciplina;

- Harmonia entre os objetivos individuais e sociais; - Desenvolvimento da capacidade intelectual e racional;

- Disciplina do corpo e da mente que são fatores mais importantes para atingir a concentração, sem a qual não é possível haver conhecimento nem disciplina;

- Estabelecimento da importância do dever do ponto de vista da responsabilidade individual e social;

- Desenvolvimento da consciência interna, considerado como requisito obrigatório para atingir os objetivos acima (Sharma, 2003).

Segundo Patañjali (em Aranya, 1983), os desequilíbrios na saúde das pessoas representam um obstáculo significativo para o desenvolvimento e o progresso pessoal. Para ultrapassar os desequilíbrios, ele sugere duas formas: remover os obstáculos que bloqueiam o caminho para a saúde e promover o alinhamento com as forças curativas no interior de cada um. Neste sentido, o Yoga constitui uma abordagem integrada que combina a melhoria da saúde, autoconhecimento e autocompreensão espiritual (Aranya, 1983).

A filosofia do Yoga valoriza três aspetos para os estudantes atingirem os seus objetivos:

ii) a regulação voluntaria da respiração (pranayama), iii) as capacidades da reflexão (pratyahara).

Yoga é visto como uma forma de viver e fazer uma investigação experiencial da natureza humana (Bhavanani, 2013). A sua essência é a auto-observação, que na fase da postura contribui para testemunhar a distância que existe entre a mente e o movimento, e o alinhamento do corpo físico. Consegue-se desta forma um sentido único da objetividade que desenvolve a consciência que, o observador, o processo da observação (realizado na mente) e o objeto que está a ser observado (o corpo e os seus movimentos) são partes distintas de uma experiência interna integrada.

Um outro aspeto muito importante da filosofia do Yoga que desenvolve a auto- observação é a atenção na respiração. Aliás, não é possível falar de Yoga sem respiração. A observação da respiração acalma a reatividade emocional, aumenta a consciência da dimensão energética da vida humana e enfraquece o testemunho da mente. A respiração é baseada na atenção dada à entrada e a saída do ar durante os processos de inspiração e expiração. Como resultado deste processo, a atenção resulta no desenvolvimento da respiração relaxada e sem esforço. A atenção engloba a observação de todos os pensamentos, emoções, memórias e sensações e os estados da consciência. O nível mais elevado da auto-observação ocorre durante a meditação, através do qual o indivíduo experiencia um sentido profundo do autodomínio físico e da sensação que o corpo se tornou "como a grande extensão do céu” (Aranya, 1983, p. 229).

O objetivo geral da filosofia do Yoga é contribuir para o desenvolvimento global do indivíduo. O professor é respeitado e considerado o pivô de todo o sistema de educação e tem uma grande importância, não só do ponto de vista da transmissão do conhecimento teórico mas, principalmente, como um exemplo que representa todas as características que procura promover nos estudantes. O professor deve dominar todo o conhecimento, teórico e prático, necessário para o poder transmitir aos alunos, na presença da vontade e da demonstração do seu próprio exemplo. Por isso, no sistema do Yoga “without the teacher nothing can be obtained by the student” (Jayakumar & Krishnakumar, 2015, p. 508). Mesmo na sociedade atual da Índia, quando um professor procura transmitir o conhecimento teórico retirado dos livros antigos, não se considera que esteja a cumprir com o papel da educação. Na

escola do Yoga, a diferença entre o professor que não cumpre esse objetivo, daquele que o cumpre, é que o primeiro é apenas um transmissor de informação sobre a verdade, enquanto o segundo é o transmissor da própria verdade.

De um modo geral, a filosofia do Yoga procura desenvolver nos alunos a capacidade para se libertar dos problemas causados pelo corpo e pela mente, investindo no crescimento físico, intelectual, mental e espiritual. A disciplina da mente e do corpo constituem o núcleo do processo educativo que, segundo a filosofia do Yoga, não deve ser omitido em qualquer tipo de educação considerando que ela é essencial e não deve se perdida sob a justificação de inovações educativas modernas, se pretendemos “remove the crisis, which has eclipsed our education today” (Jayakumar & Krishnakumar, 2015, p.508).