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Educação Holística – Uma Abordagem Transdisciplinar

Capitulo III Educação Holística

2. Paradigma Holístico

3.6. Educação Holística – Uma Abordagem Transdisciplinar

A educação holística sustenta-se numa abordagem que reúne várias disciplinas e procura novas estratégias e caminhos alternativos para a compreensão do ser humano e da realidade, tendo uma visão caracterizada pela abordagem transdisciplinar, na medida que integra vários saberes da humanidade e reúne contribuições de diferentes áreas, científicas ou não, enriquecendo e ampliando o horizonte do ser humano sobre a sua existência (Weil, 2007; Araújo, 1999). A falta de uma abordagem transdisciplinar e a fragmentação dos saberes tem contribuído para o desenvolvimento de apenas uma das partes do cérebro, ao passo que este deveria ser considerado como um todo. Autores como Weil (1990) e Crema (2006) relembram que o cérebro humano é composto por dois hemisférios cerebrais que desempenham funções diferentes, estando o hemisfério direito relacionado com uma visão global das coisas, com a intuição, a criatividade, a sinergia, a síntese, e o hemisfério esquerdo caracteriza-se por ser mais racional, analítico e conceptual. Desta forma, não é difícil compreendermos que a educação tradicional, com as prioridades que tem assumido, tem contribuído para o desenvolvimento do hemisfério esquerdo, causando uma certa inatividade no hemisfério direito. Por isso, a educação holística considera necessário o investimento nos dois hemisférios cerebrais, de forma a criar condições para uma sinergia entre ambos. Para que isso seja possível, Weil (1990) considerou duas abordagens principais.

- A primeira diz respeito à Holologia, ligada com o hemisfério esquerdo do cérebro, e que contribui para o desenvolvimento da dimensão intelectual e experimental, que permite a aquisição do saber, recorrendo à análise, ao conhecimento racional, lógica e abstração. A Holologia desenvolve as

funções psíquicas do centro intelectual, pensamentos, raciocínios e as do centro emocional, que são responsáveis pelas sensações, pelos sentimentos. Por outras palavras, a Holologia representa as características da educação contemporânea.

- A segunda abordagem diz respeito à Holopráxis e é aquela que transforma o saber em sabedoria e nos leva a uma vivência da realidade, que está sempre presente, dentro de nós mesmos, mas que, devido a diferentes obstáculos que se acumulam ao longo da vida, a sua vivência torna-se difícil. Neste sentido, Weil afirma que é necessário recorrer à via experiencial, criativa, sintética, intuitiva que nos permite entrar em contacto com a nossa essência.

Assim, a abordagem holística é uma sinergia, uma comunhão, um equilíbrio entre a razão e a intuição, entre as duas naturezas e duas formas de apreensão do real, procurando, por um lado, a Holologia desenvolver métodos que eliminem estes obstáculos e, por outro, a Holopráxis consiste na aplicação destes métodos de forma holística (Weil, 1990; Crema, 2006).

A abordagem holística fundamenta-se na transdisciplinaridade e procura unir todas as áreas do conhecimento, através da conexão dos dois hemisférios cerebrais que interagem de forma dinâmica, representando “as duas asas que um pássaro necessita para voar, as duas pernas que um ser humano necessita para empreender uma viagem com coração” (Crema, 2006 p. 123). Conforme Ribeiro (1991) refere, a transdisciplinaridade começa onde termina a interdisciplinaridade, porque ela transcende e representa o espírito presente na interdisciplinaridade (Ribeiro, 1991, p.139).

A educação holística procura criar pontes, entre as fronteiras que foram criadas dentro da pessoa, devido à deformação que a mente sofreu com o impacto da educação moderna, ao nível do desenvolvimento excessivo do racionalismo e da razão, e que levou a um reducionismo científico, o qual vem dominando progressivamente a filosofia, a arte e mesmo a religião (Weil, 1990).

Segundo Weil (1990), um dos objetivos da educação holística é a harmonia interior, isto é, a paz que é inseparável do amor altruísta e desinteressado e que tem a sua origem numa tese de natureza espiritual inspirada nas grandes tradições da

humanidade. Desta forma, uma das condições para a garantia dessa harmonia interior é a integração da ciência e da espiritualidade, que constituem duas áreas do conhecimento que foram distanciadas ao longo dos últimos séculos, por causa do poder absolutista da razão.

As diferentes tradições milenares presentes nos seus ensinamentos do Oriente ao Ocidente têm-nos demonstrado que todos os seres se interrelacionam de forma interdependente entre eles e o próprio cosmos, e a interrupção desta inter-relação origina e provoca o desequilíbrio. A perspetiva holística baseia-se precisamente na criação de diálogo entre a ciência e estas tradições, trazendo uma abordagem mais ampla e aberta e compreendendo o ser humano como “fios entrelaçados da imensa teia cósmica” (Araújo, 1999, p.165), religando-os de novo com todos os seres e a natureza.

Adotando uma abordagem transdisciplinar, a educação holística contribui para a aproximação e criação de sinergias entre a ciência e a tradição/religião. Conforme defendido pela UNESCO, através da Declaração de Veneza:

O conhecimento científico, através de seu próprio movimento interno, chegou aos confins onde pode começar o diálogo com outras formas de conhecimento. Nesse sentido, reconhecendo as diferenças fundamentais entre a ciência e a tradição constatamos, não sua oposição, mas sim sua complementaridade.

O encontro inesperado e enriquecedor entre a ciência e as diferentes tradições do mundo permite pensar no aparecimento de uma nova visão da humanidade, talvez mesmo de um novo racionalismo, que poderá conduzir a uma nova perspetiva metafísica (Weil, 1990, p.75).

Desta forma, a educação holística é muito ambiciosa nos objetivos e nos resultados a que se propõe e tem a noção de que este processo não seria possível se não for através do envolvimento de todas as pessoas, organizações ou sistemas que observam a vida sob o mesmo espectro da união e não fragmentação.

Para encontrar respostas para a necessidade de colaboração e procurar soluções possíveis para a aproximação entre os sistemas que mais impacto tem tido nas duas filosofias, ocidental e oriental, procuraremos de seguida fazer uma breve caracterização da ciência e da religião que dizem respeito a duas das esferas que

mais têm influenciado e marcado a humanidade. Esta caracterização irá permitir- nos compreender melhor as suas naturezas, os métodos principais que cada uma tem utilizado e utiliza para a explicação dos fenómenos internos, que são parte integrante da educação, assim como as principais dificuldades que têm provocado o seu distanciamento mútuo e levanta vários desafios no processo da sua aproximação, mas que ambas têm inspirado e possibilitado o desenvolvimento da educação. A ciência e a religião estão na origem e têm tido um grande impacto nas duas grandes filosofias: a filosofia ocidental, que podemos considerar como ser dominada pelo método científico, e a filosofia oriental, em que na origem das suas filosofias podemos encontrar inspirações e ensinamentos religiosos. Procuraremos, também, ver de que forma a perspetiva quântica tem contribuído para a aproximação destes dois sistemas e, por isso, tem servido como inspiração e exemplo de comunhão para uma abordagem integral da educação.