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Princípios Gerais da Educação Holística

Capitulo III Educação Holística

2. Paradigma Holístico

3.3. Princípios Gerais da Educação Holística

A Educação 2000, resultado da Aliança Global para a Transformação da Educação (GATE), que teve na sua origem a iniciativa de um grupo de educadores para uma educação holística, definiu os seguintes princípios, cujo objetivo se relaciona com a construção de uma sociedade sustentável (Yus, 2002):

1) Educação para o desenvolvimento humano, que envolve um aprofundamento da relação da pessoa consigo própria, com os outros, com o planeta e com todo o universo. Para isso, a escola deve ser um lugar que facilita esta aprendizagem e o desenvolvimento integral dos alunos.

2) Respeito pelas diferenças e promoção da criatividade, aposta na compreensão do ser humano como um ser único, fortalecendo os valores universais como a tolerância e respeito pela diversidade humana. Todos os seres humanos são criativos e possuem capacidades ilimitadas de aprendizagem, assim como têm as suas necessidades únicas, físicas, emocionais, intelectuais e espirituais; 3) Promoção da experiência, procura interligar o indivíduo com o mundo, através

de um processo natural e saudável, fortalecendo e revelando o profundo significado do mundo. A educação promove uma aprendizagem que deve ser,

primordialmente, experimental. A educação deve nutrir uma experiência dinâmica, natural que contribui para o crescimento saudável, evitando uma visão limitada ou fragmentada, como possível forma para a produção do conhecimento e da sabedoria.

4) Promoção da interdependência através do reconhecimento do universo como um todo, interligado, através da promoção da Totalidade10 enquanto parte dos processos educativos. Assim como a música, que se compõe de relações entre sons e silêncio, e não apenas de notas isoladas, os seres humanos também são parte de um sistema dinâmico, que não pode existir sem a troca com o ambiente à sua volta. A educação deve dar uso construtivo e considerar as diferentes visões alternativas, assim como as múltiplas formas de conhecimento que explicam a Realidade tendo em consideração não só os aspetos intelectuais e vocacionais do desenvolvimento humano, mas todas as outras dimensões, conforme referido no ponto 2.

5) Repensar o papel do professor, enquanto facilitador de aprendizagem, a qual deve ser vista como um processo natural e orgânico, num convívio e diálogo entre este e os alunos, capaz de responder às diferentes necessidades e formas de aprendizagem dos seus alunos. Para isso, é necessário haver autonomia para que os professores possam desenhar e desenvolver ambientes de aprendizagem apropriados para as necessidades particulares de cada aluno.

6) Promover a liberdade, que permite aos alunos, assim como aos seus pais, terem voz ativa para fazer escolhas, quer nos procedimentos disciplinares, assim como no desenvolvimento dos curricula, assumindo responsabilidade em todas as fases relacionadas com o processo de aprendizagem. Apenas um ambiente onde predomina a liberdade pode garantir uma educação verdadeira. 7) Promover uma democracia participativa, através da participação ativa na comunidade de forma significativa para a vida, contribuindo para uma sociedade aberta e construtiva. Construir uma sociedade democrática, que não significa apenas dar a possibilidade às pessoas para votar nos seus líderes, mas também capacitar e dar os mesmos direitos a todas as pessoas para uma participação ativa nos assuntos da comunidade e do planeta, onde são

10 O sentido da Totalidade e os seus diferentes níveis serão explicados mais em detalhe no ponto que se segue.

discutidas as preocupações humanas genuínas e que procuram mudanças construtivas do ponto de vista social e cultural.

8) Contribuir para uma cidadania global, que se constrói através do respeito pela diversidade da experiência humana, pela promoção das grandes potencialidades inerentes aos seres humanos, da cooperação, do equilíbrio, da sustentabilidade. O objetivo é a apreciação dos potenciais inerentes, ainda não revelados, do ser humano, assim como das diferentes experiências humanas que são muito mais ricas do que a existência de apenas uma forma de pensar ou de valores de uma determinada cultura, relembrando aquilo que Crema dizia: “Todos os valores são entrelaçados porque todo o universo é entrelaçado”(Crema, 1989, p.72).

9) Promover uma educação ecológica planetária que aposta na tomada de consciência da interdependência planetária e a relação harmoniosa entre o bem-estar individual e global. Isto significa o respeito pela vida e a relação entre os humanos e a natureza, que deve ser nutrida na base de uma exploração orientada pela compreensão holística do mundo, da origem e finalidade da vida humana.

10) Cultivar a espiritualidade e educação através do reconhecimento de que todas as pessoas são seres espirituais com diferentes capacidades criativas, talentos, intuições e inteligências. A espiritualidade possibilita ao aluno a compreensão da sua dimensão interior, estabelecendo uma profunda conexão consigo e com o Todo. A experiência e o desenvolvimento espiritual manifestam-se como uma profunda conexão e relação de interdependência da pessoa com os outros e com a natureza dando, assim, sentido e propósito à vida.

Para Miller (1997), o objetivo central da educação holística é procurar a transformação no ser humano, através do crescimento contínuo da pessoa e da sociedade. Neste sentido, Miller resume os princípios definidos pela Educação 2000 em três tópicos fundamentais da educação holística:

1) Conexão: procura incluir na prática educativa o pensamento analítico e intuitivo, ligação da mente e corpo, conexão com a comunidade, com a terra, com a alma/espírito, devolvendo desta forma na educação uma abordagem holística, não fragmentada;

2) Inclusão: diz respeito à envolvência de todos os alunos através de uma gama variada de abordagens para ir ao encontro de diferentes formas de aprendizagens;

3) Equilíbrio: revela a existência de forças e energias complementares em todos os níveis do universo, como é o caso da razão e da intuição, que precisam de ser reconhecidas e promovidas também na sala de aula. Isto num contexto em que a educação contemporânea se tem focado mais no desenvolvimento da racionalidade e competição individual e tem ignorado a promoção da intuição e das abordagens cooperativas para a aprendizagem.

Os princípios que aqui referimos são complexos e exigem a colaboração de diferentes agentes educativos, assim como o envolvimento de diferentes setores da sociedade, para garantir que os resultados esperados ou conceitos acima referidos atinjam a sua mais alta eficácia. De seguida iremos aprofundar alguns destes princípios e clarificar alguns conceitos que apresentam novidades e constituem grandes desafios para a educação atual.