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O efeito dos reajustes do salário mínimo nas despesas previdenciárias e assistenciais

4. A SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA E A QUESTÃO PREVIDENCIÁRIA 1 ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL

4.5 O DIAGNÓSTICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA NA PERSPECTIVA NEOLIBERAL

4.5.7 O efeito dos reajustes do salário mínimo nas despesas previdenciárias e assistenciais

Para os defensores de uma ampla reforma da Seguridade Social de uma maneira geral e da Previdência em particular o aumento real do salário mínimo e o seu repasse aos benefícios da Previdência e Assistência Social tem elevado a relação entre o gasto da Seguridade Social e o PIB. Entre 1995 e 2004, em termos reais e usando como deflator o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o salário mínimo teve um aumento real médio de 4,7% ao ano. No entanto, esse reajuste real praticamente só foi repassado aos benefícios de 1 salário mínimo. Para os benefícios superiores a 1 salário mínimo os reajustes reais entre 1994 e 2004 tenderam a 0%, com exceção do ano de 1995. Em dezembro de 2003, por exemplo, 60,7% dos aposentados do INSS recebiam 1 salário mínimo de benefício. Esse total correspondeu a 31,2% do valor total pago pelo INSS (GIAMBIAGI et al, 2004, p. 9-10).

Como a Constituição indica que nenhum benefício concedido pelo Estado pode ser inferior a 1 salário mínino, sempre quando há um aumento deste e se repassa o reajuste aos benefícios previdenciários ampliam-se, automaticamente, as despesas da Previdência. Os defensores de uma reforma ampla da Previdência apontam problemas nesse mecanismo e questionam a “crença difusa de que a política social deve ser sinônimo de aumento real do salário mínimo, por sua vez, então, repassada ao piso previdenciário” (GIAMBIAGI et al, 2004, p. 20). Para esses reformistas, essa crença merece ser questionada, pois acreditam que o aumento do piso previdenciário não é capaz de diminuir a desigualdade, reduzir a pobreza, aumentar a capacidade de crescimento futuro da economia e atenuar a violência.

Em outras palavras, o que se deseja enfatizar é que a reivindicação da classe dos aposentados – de que devem ser protegidos da inflação – é justa, mas ter aumentos reais de remuneração é outra completamente diferente. Por um lado, porque ante aqueles objetivos, pode não configurar a alocação mais eficiente de recursos públicos, que são escassos, e, por outro, porque em nenhum país do mundo os aposentados recebem aumentos reais.

Portanto, uma alternativa razoável (...) poderia ser preservar o poder aquisitivo das aposentadorias, garantindo a indexação das mesmas à inflação passada, porém desvinculando o piso previdenciário do salário mínimo. Isso evitaria que os eventuais aumentos reais concedidos onerassem as contas da previdência social. Nesse caso, tal medida, desafogando parcialmente as contas públicas, poderia permitir maior focalização do gasto público no grupo etário mais necessitado, que é o das crianças e jovens, com programas específicos dirigidos a eles, como o Bolsa-Família ou o do Primeiro Emprego (GIAMBIAGI et al, 2004, p. 21).

Segundo a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei 8.742/93, e o Estatuto do Idoso, Lei 10.741, de outubro de 2003, deficientes e idosos com idade igual ou superior a 65 anos de idade, com renda familiar per capita inferior a ¼ do salário mínimo, têm direito a um benefício de 1 salário mínimo, mesmo que não tenham feito contribuições para o INSS.

De acordo com a visão neoliberal dos reformistas da Seguridade Social de uma forma geral e da Previdência em particular, esse programa apresenta diversos problemas. “Um deles é que ele representa um incentivo à informalidade das relações de trabalho, reduzindo a base de arrecadação do sistema” (GIAMBIAGI et al, 2004, p. 21). Nesse sentido, isso agravaria o problema de moral-hazard, pois indivíduos que recebem salários em torno de 1 salário mínimo não teriam qualquer incentivo para se filiar ao INSS, pois receberiam o mesmo valor, seja como segurado ou como beneficiário do LOAS. Outro problema apontado se refere ao fato dos benefícios assistenciais terem crescido a uma velocidade elevada. Entre 1995 e 2003, o quantum físico de número de indivíduos beneficiados por pagamentos assistenciais aumentou 7% ao ano.

Embora sejam captados pela estatística dos desembolsos do Tesouro e não como gastos do INSS nas tabelas oficiais com a composição do resultado primário divulgadas pelo governo, a realidade é que se trata de gastos que pressionam as despesas governamentais como um todo, independentemente de como elas forem classificadas.

Em termos atuariais, isso significa que a sociedade brasileira está contratando uma dívida futura que cresce a cada ano, na medida em que um contingente importante da população poderá ser elegível, sem ter realizado previamente qualquer tipo de contribuição. O fenômeno se agrava quando se considera que, além disso, esses indivíduos têm tido aumentos da sua remuneração em termos reais (GIAMBIAGI et al, 2004, p. 22).

Nos anos 1970, a Renda Mensal Vitalícia (RMV) era concedida apenas aos 70 anos, condicionada a uma contribuição mínima prévia ao INSS, no valor de 1 salário mínimo, numa época onde a expectativa de vida era menor. Já o LOAS é concedido aos 65 anos, sem qualquer contribuição prévia ao INSS, no valor de 1 salário mínimo, num contexto de ampliação da expectativa de vida. Portanto, o impacto fiscal do LOAS acaba sendo maior do que foi o RMV no passado. Dessa forma, segundo Giambiagi et al, como o benefício do LOAS não é previdenciário, mas sim assistencial, não haveria motivos para que haja uma equivalência entre os valores recebidos pelos beneficiários dos dois programas.

Giambiagi et al sugere algumas alternativas para o LOAS. Entre suas sugestões, destacam-se a desvinculação dos aumentos reais do salário mínimo aos benefícios já concedidos; idades mínimas superiores para o acesso aos futuros benefícios (70 anos); valores

inferiores ao piso previdenciário desses novos benefícios (70% a 80% do salário mínimo); e reavaliação das pensões rurais com caráter contributivo quase nulo devendo seguir padrões similares ao acima proposto.

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