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O controle do dinheiro, a importância dos preços e a inflação

1. OS FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO (NEO)LIBERAL 1 A ASCENSÃO DO PENSAMENTO NEOLIBERAL

1.2 OS PRECEITOS (NEO)LIBERAIS

1.2.3 O controle do dinheiro, a importância dos preços e a inflação

Uma das justificativas keynesianas para a intervenção do governo em assuntos econômicos é a busca pelo pleno emprego e crescimento econômico, pois a economia de livre empresa seria instável (KEYNES, 1985). Para Friedman, a intervenção é equivocada, pois o desemprego e o baixo crescimento econômico seriam causados pela incompetência do governo e não pela instabilidade inerente à economia capitalista. Isso decorreria do fato do Estado impor pesadas tarifas e outras restrições para o comércio internacional; taxar excessivamente de forma pesada, complexa e injusta; regular exageradamente através de comissões; fixar salários e preços; e outras medidas que seriam responsáveis por fazer os indivíduos usarem de forma inconveniente e inadequadamente os recursos, além de distorcer o "investimento" das novas poupanças. "Na verdade, precisamos urgentemente, para a estabilidade e o crescimento econômico, de uma redução na intervenção do governo – e não da sua expansão" (FRIEDMAN, 1988, p. 41-42).

Apesar de pregar a redução da intervenção do Estado, Friedman aponta que haveria um importante papel da política monetária do governo para a manutenção da estabilidade econômica. No entanto, esta ação também deveria ser exercida dentro de certos limites.

O problema consiste em estabelecer organizações institucionais que permitam ao governo exercer a responsabilidade pelo dinheiro, limitando ao mesmo tempo o poder assim dado ao governo e evitando que este poder seja usado de modo a levar ao enfraquecimento (...) de (...) uma sociedade livre (FRIEDMAN, 1988, p. 43).

Em 1962, ano em que "Capitalismo e Liberdade" foi originalmente publicado, Friedman não apoiava a ideia de um banco central independente. Para o autor, seria inaceitável "o estabelecimento de poderes amplos para um grupo de técnicos, reunidos num banco central 'independente' ou em outra qualquer organização burocrática" (FRIEDMAN, 1988, p. 42). Naquela época, tal independência não parecia ser solução satisfatória, pois quando "Capitalismo e Liberdade" foi escrito, havia, entre os economistas e governantes, o predomínio da ideia de um Estado interventor, com bancos centrais compostos por pessoas que acreditavam em governos mais atuantes. “Qualquer sistema que dê tanto poder a um

grupo de homens cujos erros – compreensíveis ou não – podem ter efeitos tão severos e amplos é um mau sistema" (FRIEDMAN, 1988, p. 51-52). De acordo com a posição de Friedman, caso chegasse ao poder um governante de posições liberais, este deveria ter condições de agir sobre um banco central composto por homens intervencionistas, obrigando- os a adotar medidas condizentes com a livre ação do mercado.

Atualmente, uma das convicções neoliberais é a de que qualquer banco central deve ser independente para fixar e atingir suas metas a partir da política monetária. Essa posição pode ser aparentemente contraditória em relação às convicções de Friedman, mas os tempos mudaram. Hoje vivemos sob hegemonia das ideias neoliberais e os responsáveis pelas políticas monetárias, em grande parte dos países, seguem a cartilha do livre mercado. Sendo assim, não haveria motivo para não aceitar a independência dos bancos centrais. Pelo contrário, um banco central independente, composto por defensores do estado mínimo, pode proteger a política monetária de um governante intervencionista. Em suma, se os homens dos bancos centrais são de linha keynesiana, devem ser controlados e não independentes; mas se os senhores dos bancos centrais são apoiadores da mão invisível, não há porque controlá-los, por isso podem ser independentes.

No que diz respeito a discussão sobre os preços, os teóricos liberais acreditam ser necessário que os agentes do mercado tenham liberdade para vender e comprar a qualquer preço e que haja liberdade para produzir, vender e comprar qualquer coisa que possa ser produzida e vendida. Assim sendo, a tentativa de controlar os preços ou as quantidades das mercadorias impediria que a concorrência coordenasse adequadamente as atividades.

O consumidor é protegido da coerção do vendedor devido à presença de outros vendedores com quem pode negociar. O vendedor é protegido do coerção do consumidor devido à existência de outros consumidores a quem pode vender. O empregado é protegido da coerção do empregador devido aos outros empregadores para quem pode trabalhar, e assim por diante. E o mercado faz isto, impessoalmente, e sem nenhuma autoridade centralizada (FRIEDMAN, 1998, p. 23).

Apesar dos neoliberais pregarem um sistema de preço livre, isso não significa um sistema em que os preços flutuam violentamente para cima e para baixo, mas sim que as forças que “os determinam sejam suficientemente estáveis de modo que os preços mudem dentro de limites moderados” (FRIEDMAN, 1988, p. 67).

Para Mises, grande parte do mundo vê a causa da inflação como um aumento dos preços e não como aumento da quantidade de dinheiro. Este autor acredita que o problema

num sistema inflacionário estaria relacionado ao fato de que é muito simples para os políticos ordenar ao órgão governamental encarregado da impressão do papel-moeda a emissão de dinheiro para seus projetos. “Sob condições inflacionárias, o povo se habitua a considerar o governo uma instituição que tem recursos ilimitados à sua disposição” (MISES, 1991, p. 80). Para um neoliberal, trata-se de uma política adotada por pessoas para o combate ao desemprego, mas “que, a não ser em curtíssimo prazo, a inflação não cura o desemprego” (MISES, 1991, p. 84). Além da prática da emissão de papel-moeda, outro mecanismo possível de financiamento do Estado pode ser promovido via emissão de títulos públicos. De qualquer maneira, do ponto de vista neoliberal, independentemente da forma de financiamento do Estado, a ação intervencionista e excessiva do governo eleva as despesas do setor público, provocando, inevitavelmente, inflação acima daquela que seria gerada em uma situação de Estado limitado em suas ações.

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