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Liberdade econômica e a liberdade política: livre concorrência versus planificação Um dos principais preceitos da doutrina liberal é o emprego mais efetivo das forças da

1. OS FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO (NEO)LIBERAL 1 A ASCENSÃO DO PENSAMENTO NEOLIBERAL

1.2 OS PRECEITOS (NEO)LIBERAIS

1.2.1 Liberdade econômica e a liberdade política: livre concorrência versus planificação Um dos principais preceitos da doutrina liberal é o emprego mais efetivo das forças da

concorrência como um meio de coordenar os esforços humanos. Essa posição baseia-se na convicção de que a verdadeira concorrência é a melhor forma de orientar os esforços individuais. Para tanto, é de fundamental importância que haja uma estrutura legal de normas que possibilitem o funcionamento benéfico da concorrência. A existência do mercado livre não eliminaria a necessidade de um governo, pois a obrigação de organizar a normatização, por as regras em vigor e arbitrá-las seria do governo. “O que o mercado faz é reduzir sensivelmente o número de questões que devem ser decididas por meios políticos” (FRIEDMAN, 1988, p. 23).

A concepção de Hayek segue a mesma linha de raciocínio de que o controle e o planejamento dentro da democracia só devem ocorrer em áreas em que haja realmente consenso, sendo assim, o verdadeiro mérito do pensamento liberal teria sido a redução das questões que exijam o apoio consensual dentro da sociedade, pois “quanto menor o número de questões sobre as quais será necessária a concordância, tanto maior a probabilidade de obter concordâncias e manter a sociedade livre” (FRIEDMAN, 1988, p. 30).

Essa argumentação decorreria do fato de que a ideia de unanimidade ou de concordância geral sempre acaba por trazer descontentamentos. Mediante a ação no mercado, cada indivíduo se satisfaria dentro das suas próprias decisões, restringindo o máximo possível as questões que seriam decididas por uma maioria.

Os neoliberais apontam que o requisito básico de uma sociedade capitalista competitiva é a manutenção da lei e da ordem para evitar a coerção física de um indivíduo por outro e para reforçar contratos voluntariamente estabelecidos, dando assim base ao conceito de privado. Além de enfatizar o papel do capitalismo competitivo como o organizador da maior parte da atividade econômica por meio da empresa privada operando num mercado livre, os neoliberais preocupam-se também com o papel que o governo deve desempenhar numa sociedade dedicada à liberdade.

Segundo Hayek, o liberalismo econômico é contrário à substituição da concorrência por métodos menos eficazes de coordenação dos esforços individuais. A concorrência seria um método superior, pois é capaz de ajustar as atividades sem a intervenção coercitiva ou

arbitrária das autoridades, oferecendo aos indivíduos a oportunidade de decidir sobre atuar ou não em determinadas ocupações mediante os riscos e recompensas inerentes a cada uma das atividades. Assim sendo, Hayek (1990, p. 62) enfatiza que a “planificação e concorrência só podem ser combinadas quando se planeja visando a concorrência, mas nunca contra ela”. E complementa afirmando que todo plano econômico “deve basear-se numa concepção unitária” (HAYEK, 1990, p. 80).

A crítica liberal sobre a planificação do Estado é contundente. Hayek, por exemplo, é enfático em associar o planejamento governamental à ausência da liberdade e da democracia.

Muitos dizem, no momento, que a democracia não tolerará o “capitalismo”. Se na acepção dessas pessoas “capitalismo” significa um sistema de concorrência baseado no direito de dispor livremente da propriedade privada, é muito mais importante compreender que só no âmbito de tal sistema a democracia se torna possível. No momento em que for dominada por uma doutrina coletivista, a democracia destruirá a si mesma, inevitavelmente (HAYEK, 1990, p. 83).

No entanto, apesar das loas à democracia, Hayek se posiciona de forma dúbia em relação à sociedade democrática.

Tampouco devemos esquecer que muitas vezes houve mais liberdade cultural e espiritual sob regimes autocráticos do que em certas democracias – e é concebível que, sob o governo de uma maioria muito homogênea e ortodoxa, o regime democrático possa ser tão opressor quanto a pior das ditaduras. Não querendo dizer, contudo, que a ditadura leva inevitavelmente à abolição da liberdade, e sim que a planificação conduz à ditadura porque esta é o instrumento mais eficaz de coerção e de imposição de ideias, sendo, pois, essencial para que o planejamento em larga escala se torne possível. O conflito entre planificação e democracia decorre simplesmente do fato de que esta constitui um obstáculo à supressão da liberdade exigida pelo dirigismo econômico. Mas, ainda que a democracia deixe de ser uma garantia da liberdade individual, mesmo assim ela pode subsistir de algum modo num regime totalitário. Guardando embora a forma democrática, uma verdadeira “ditadura do proletariado" que dirigisse de maneira centralizada o sistema econômico, provavelmente destruiria a liberdade pessoal de modo tão definitivo quanto qualquer autocracia (HAYEK, 1990, p. 84).

Segundo Hayek, muitos planejadores afirmam que a gestão autoritária se aplicaria apenas às questões econômicas, sendo possível manter a democracia política. No entanto, para esse autor, essa seria uma ideia infundada que leva a sociedade a menosprezar a ameaça à liberdade ao acreditar que existem objetivos puramente econômicos, distintos dos outros objetivos. “Se lutamos pelo dinheiro, é porque ele nos permite escolher de forma mais ampla como melhor desfrutar os resultados de nossos esforços. (...) Seria muito mais certo dizer que

o dinheiro é um dos maiores instrumentos de liberdade já inventado pelo homem” (HAYEK, 1990, p. 99).

Além de compartilhar essa mesma posição, Friedman enfatiza ainda não acreditar em um socialismo democrático, que possa promover uma organização econômica com forte ação do Estado e, ao mesmo tempo, garantir a liberdade individual por meio de uma determinada organização política. Uma associação perfeita entre liberdade econômica e liberdade política só seria possível no capitalismo de mercado, “isto é, o capitalismo competitivo, também promove a liberdade política porque separa o poder econômico do poder político e, desse modo, permite que um controle o outro” (FRIEDMAN, 1988, p. 18).

A visão de um socialismo democrático apontada negativamente por Friedman encontra um paralelo com a posição de Mises sobre a terceira via. Para este neoliberal, a ideia de que existe um terceiro sistema entre o socialismo e o capitalismo, “o qual sendo equidistante do socialismo e do capitalismo conservaria as vantagens e evitaria as desvantagens de um e de outro, é puro contra-senso” (MISES, 1991, p. 69).

Os intelectuais neoliberais acreditam que o movimento em direção ao controle centralizado da atividade econômica se constituiria no “Caminho da servidão”, conforme enfatiza Hayek em obra homônima. “Ter as nossas atividades econômicas controladas significa ser controlados sempre” (HAYEK, 1991, p. 100).

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