• Nenhum resultado encontrado

1. OS FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO (NEO)LIBERAL 1 A ASCENSÃO DO PENSAMENTO NEOLIBERAL

1.2 OS PRECEITOS (NEO)LIBERAIS

1.2.6 Monopólios

Segundo o pensamento liberal, um dos grandes problemas a serem enfrentados dentro do capitalismo competitivo é o monopólio, pois a concentração de mercado inibiria a liberdade efetiva, retirando dos indivíduos as alternativas com relação a uma determinada troca.

Mas até nesse ponto os neoliberais culpam a ação do Estado. Para Friedman, o monopólio origina-se de apoio de governo ou de acordos conspiratórios e caberia ao Estado estimular a aplicação efetiva de regras anti-monopolistas. Para Mises (1991. p. 115), os monopólios não se originariam “de qualquer tendência evolucionista natural, da parte do sistema econômico em que agem livremente, mas são produtos de políticas econômicas antiliberais.” Isso decorreria do fato de que os sistemas tarifários dividiram o mercado mundial em estreitos mercados nacionais.

Não se trata só de enorme exagero, mas de incompreensão dos fatos, dizer- se, como hoje se diz, que a formação de monopólios tenha eliminado o pré- requesito essencial da realização do ideal liberal de uma sociedade capitalista. (...) No livre desenvolvimento da economia, (...) não há tendência à exclusão da concorrência. De modo algum se justifica mais a objeção comumente levantada contra o liberalismo que dá conta de que não mais

prevalecem as condições de concorrência, tais como existiam à época em que se desenvolveram a economia clássica a as ideias liberais. Umas poucas exigências liberais (isto é, livre comércio entre as nações e dentro delas) precisam ser cumpridas para que se restabeleçam tais condições (MISES, 1991, p. 117).

Ao contrário do que prega o pensamento liberal, mesmo com o cumprimento parcial das exigências indicadas por Mises – que levaram a um grau de mundialização da economia jamais visto na atualidade, com empresas transnacionais e o capital financeiro atuando em todos os continentes – a monopolização se ampliou, num processo enfatizado por Karl Marx desde o século XIX.

A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos impele a burguesia para todo o globo terrestre. Ela deve estabelecer-se em toda a parte. Através da exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países. (...) As antigas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas a cada dia. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão de vida ou morte para todas as nações civilizadas – indústrias que não mais empregam matérias-primas locais, mas matérias-primas provenientes das mais remotas regiões, e cujos produtos são consumidos não somente no próprio país, mas em todas as partes do mundo. Em lugar das velhas necessidades, satisfeitas pela produção nacional, surgem novas, que para serem satisfeitas exigem os produtos das terras e dos climas mais distantes. Em lugar da antiga auto-suficiência e do antigo isolamento local e nacional, desenvolve-se em todas as direções um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações (MARX e ENGELS, 2000, p. 49).

Friedman aponta que um monopólio pode surgir por questões técnicas como produto natural das forças competitivas do mercado. Nesse caso, três caminhos poderiam ser adotados: a formação de monopólio privado, do monopólio público ou a regulação pública. Nesse ponto, Friedman mostra mais uma vez a sua posição neoliberal ao apoiar o monopólio privado como o menor dos males. Sua justificativa relaciona-se ao fato de que a velocidade de mudanças da sociedade é tão acelerada que “naturalmente” surgiriam novas condições técnicas que, em breve, imprimiriam alterações nas situações desse monopólio privado, o que não ocorreria tão facilmente em casos de monopólio público ou regulação pública. A grande desvantagem tanto na regulamentação governamental quanto da operação governamental do monopólio se daria pela dificuldade de sua revogação. "Como consequência, estou inclinado a crer que o menor dos males é o monopólio privado não regulamentado" (FRIEDMAN, 1988, p. 116).

De acordo com Friedman, a política governamental deve buscar a eliminação das medidas que apoiam diretamente o monopólio, com a aplicação de leis convenientes às empresas. Nesse momento, Friedman, como bom liberal, aproveita o espaço para atacar a política tributária. Para o autor, a melhor forma de reduzir o poder do monopólio seria uma extensa reforma das leis tributárias, essencialmente com a eliminação de impostos sobre pessoas jurídicas. “Poucas medidas contribuiriam mais para revigorar o mercado de capitais, para estimular as empresas e para promover a competição efetiva" (FRIDMAN, 1988, p. 120). 1.2.7 Sindicatos e o desemprego

Desde o início da organização dos trabalhadores mediante a formação de sindicatos, os teóricos do pensamento liberal tendem a condenar as práticas sindicais levantando a mais variada gama de argumentos para convencer a sociedade da inadequada ação dessas organizações. “É sabido o poder que, hoje, tem um sindicato. Assiste-lhe o direito – praticamente o privilégio – do recurso à violência” (MISES, 1991, p. 81). Entre os argumentos mais utilizados, destaca-se aquele que tenta impingir a culpa da elevação dos níveis de desemprego aos direitos trabalhistas conquistados, muitos deles em função da ação sindical.

Essas entidades determinam os salários bem como as greves que os devem impor, da mesma maneira que o governo poderia decretar um salário mínimo. (...) Quero apenas deixar claro que a política sindical consiste em elevar os padrões salariais acima do nível que estes alcançariam num mercado desobstruído. Em consequência disso, uma parte considerável da população potencialmente ativa só pode ser empregada por pessoas físicas ou por industriais que tenham condições de suportar prejuízos. (...) A fixação de padrões salariais superiores aos que se estabeleceriam num mercado desimpedido redunda inevitavelmente no desemprego de parcela ponderável da população ativa (MISES, 1991, p. 81).

Friedman também destaca o papel dos sindicatos no estabelecimento dos níveis de grande número de salários, que seriam diferentes se fossem estabelecidos apenas pelo mercado. “Seria um erro subestimar sua importância – como também o seria se os superestimássemos" (FRIEDMAN, 1988, p. 112). Porém, para convencer a sociedade dos malefícios das práticas sindicais, além de enfatizar o aumento do desemprego, Friedmam busca jogar trabalhadores de categorias diferentes uns contra os outros.

Se um sindicato eleva os salários de determinada profissão ou indústria, torna o volume de empregos disponíveis nessa profissão ou indústria menor do que seria em outras circunstâncias (...). O resultado será um número maior de pessoas procurando emprego em outras áreas, o que baixa os salários nas áreas mais procuradas. Como os sindicatos têm mais poder com relação aos grupos que receberiam de qualquer forma salários altos, seus efeitos tem sido o de levar trabalhadores que recebem bons salários a receber salários ainda melhores – às custas dos trabalhadores de salários mais baixos. Os sindicatos, portanto, não só prejudicaram o público em geral e os trabalhadores como um todo por distorcerem a utilização de trabalho, mas também tornaram os salários da classe trabalhadora mais desiguais por reduzirem as oportunidades disponíveis aos trabalhadores menos categorizados (FRIEDMAN, 1988, p. 113).

1.2.8 Educação

Apesar dos neoliberais enfatizarem a importância da educação como mecanismo de desenvolvimento da capacidade técnica de um país, proporcionando, dessa forma, maiores condições de competição dentro da economia de mercado, normalmente eles apontam também para a necessidade da redução do peso do Estado nesse setor.

Segundo Friedman, a responsabilidade do governo em termos de educação deve ser reduzida ao mínimo, assim, o custo financeiro da educação deveria ser arcado pelas famílias. Os casos extremos da incapacidade da família em arcar com tais custos deveriam ser resolvidos por meio de subsídios aos mais necessitados. Isso eliminaria a máquina governamental necessária para recolher os impostos e reduziria a probabilidade de que o governo administrasse escolas. No decorrer do tempo, com a melhoria da educação a partir da ação da iniciativa privada nesse setor, “aumentaria a probabilidade de que o componente de subsídio nas despesas para a instrução declinasse à medida que a necessidade de tal subsídio diminuísse com o aumento geral do nível de vida" (FRIEDMAN, 1988, p. 82).

Dentro dessa linha de pensamento, impor os custos aos pais ainda seria positivo devido ao fato de que haveria uma tendência a igualar o custo social e privado de ter filhos, promovendo melhor distribuição das famílias por tamanho.

(...) uma explicação para o coeficiente de natalidade mais baixo apresentado pelos grupos sócio-econômicos mais altos em comparação com os apresentados pelos grupos mais baixos pode ser o fato de que filhos são mais dispendiosos para os primeiros do que para os segundos, em grande parte devido ao padrão alto de instrução que mantém por cujos custos se responsabilizam (FRIEDMAN, 1988, p. 83).

Friedman acreditava que se os investimentos em instrução fossem postos à disposição dos pais para que tivessem a liberdade de escolher a instituição para seus filhos, ampla variedade de escolas surgiria para satisfazer a demanda. A vantagem dessa prática seria a de permitir o surgimento de uma sadia competição entre escolas. "Evitaria que os pais ficassem frustrados com os impostos para a instrução (...) sobretudo no caso dos que não têm filhos (...) e não pretendem tê-los" (FRIEDMAN, 1988, p. 88-89). O papel do governo seria exigir um mínimo de instrução e garantir que as escolas mantivessem padrões mínimos, tais como a inclusão de um conteúdo mínimo comum em seus programas.

No caso do ensino superior, na cabeça de um neoliberal, qualquer subvenção do governo deve ser passada aos indivíduos, para ser utilizada em instituições de sua própria escolha. No caso das universidades públicas, estas “deveriam cobrar anuidades que cobrissem os custos educacionais, competindo, assim, em nível de igualdade com as escolas não subvencionadas pelo governo" (FRIEDMAN, 1988, p. 92).

Até mesmo no caso do argumento de que as escolas públicas seriam necessárias à educação como uma força unificadora, pois as escolas privadas tendem a exacerbar as diferenças de classe, os neoliberais possuem contra-argumentos. Para Friedman, o problema da segregação social se dá pelo fato de que “a estratificação das áreas residenciais restringe efetivamente a integração das crianças de ambientes diferentes" (FRIEDMAN, 1988, p. 86). Nesse ponto, os defensores de uma sociedade mais integrada – via ação do Estado – enfatizam que além da expansão dos serviços públicos de qualidade, é necessário promover uma reorganização do espaço urbano que possa promover maior convergência entre os diversos estratos sociais9 (CARLOS, 1999).

Outline

Documentos relacionados