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Energia Alternativa: uma solução para a Amazónia

7. Características do Sector Energético no Brasil

7.6 Energia Alternativa: uma solução para a Amazónia

O assunto das energias renováveis na Amazónia não parece ser urgente na agenda do governo e nem dos demais agentes económicos locais, mesmo que para o mundo inteiro tal assunto seja de elevada urgência e importância.

Para os brasileiros este é um assunto interno que merece ser discutido por autoridades locais, evitando intervenções externas. Para os estrangeiros, a Amazónia é um património mundial e que necessita de intervenções da comunidade internacional para garantir o uso adequado dos recursos.

No assunto das energias não seria diferente, enquanto o governo tenta expandir a capacidade produtiva a qualquer custo, a comunidade internacional procura intervir da forma que pode. Um bom exemplo é a construção da hidroeléctrica de Belo Monte no Pará. Estudos de viabilidade técnica e económica já foram apresentados para a comunidade como um todo, contudo já virou moda ver artistas americanos e europeus visitarem a região para protestar contra a construção da usina.

Apesar de toda a atenção que as entidades internacionais delegam aos assuntos referentes à Amazónia, se dará foco nos aspectos legais acerca da tomada de decisão para a região

amazónica; apesar de não se contestar a importância que a Amazónia tem para o mundo, principalmente nos aspectos climáticos e económicos, serão consideradas também as informações advindas do governo brasileiro assim como de empresas e instituições da região amazónica.

O estudo é sobre energias alternativas. No que se refere a este tema os agentes económicos brasileiros têm opinião formada com base em diversos estudos e experiências práticas decorrentes de décadas de imersão na região.

Para o governo brasileiro, a implantação e viabilização das energias renováveis se encontram quer em planos de médio e longo prazos, quer em acções imediatas. Em especial, as comunidades isoladas desta região necessitam de um cuidado especial. Com base nisto, o governo Brasileiro implantou o programa “Luz para Todos” 9

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Devido à questão logística na extensa região amazónica, os modais de energia eléctrica convencionais se mostram inviáveis de utilização. Diante deste desafio evidenciou-se a necessidade de modais alternativos de geração de energia, com destaque para os seguintes modais:

 Pequenos aproveitamentos hidroeléctricos;

 Energia solar;

 Resíduos de biomassa sólida para caldeiras e turbinas a vapor;

Produção de óleo vegetal in natura;

 Biodisel e etanol para uso em motores de combustão interna.

Segundo Barreto (2008, p. 18) os principais pontos de cada um dos modais são como se mostra a seguir:

Pequenos aproveitamentos hidroeléctricos (PCH) - No Brasil, de acordo com a Resolução ANEEL No 394, de 4 de Dezembro de 1998, são classificadas como pequenas centrais hidrelétricas os aproveitamentos hidroelétricos que tenham potência superior a 1 MW e igual a 30 MW e área total do reservatório igual ou inferior a 3,0 Km2, determinado pelo nível da água referente à cheia com o tempo de recorrência de 100 anos. Contudo, tem-se visto a classificação segundo a potência das unidades instaladas, conforme mostra a tabela a seguir:

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O Governo Federal lançou em novembro de 2003 o Programa Luz Para Todos, com a meta de levar o acesso à energia elétrica, gratuitamente, para mais de 10 milhões de pessoas do meio rural até o ano de 2008. Entretanto o programa foi estendido até 2014 (ver http://luzparatodos.mme.gov.br/luzparatodos/Asp/o_programa.asp).

Figura 7. Classificação potência das unidades

Classificação Sigla Faixa de Potência

DNAEE ANEEL CERPCH

Picocentral Hidrelétrica nCH Até 5 - Até 5 Microcentral Hidrelétrica uCH De 5 até 100 - De 5 a 100 Minicentral Hidrelétrica mCH De 100 até 1.000 - De 100 a 1000 Pequena Central Hidrelétrica PCH De 1.000 até 10.000 1 a 30.000 1 a 30.000 Fonte: Barreto, 2008, p. 49.

Energia Solar - é bem verdade que, no limite, toda a energia é solar, contudo tratar-se- á neste ponto sobre a energia oriunda de painéis fotovoltaicos. O aproveitamento solar fotovoltaico passa inicialmente pelo conhecimento das variáveis que influem na disponibilidade do recurso e na caracterização desse recurso. O dispositivo responsável pela conversão da luz em electricidade é denominado célula fotovoltaica. Dentre os principais factores que influenciam as características da célula, a irradiância e a temperatura são os mais importantes. O silício é o material mais utilizado actualmente para a fabricação dos painéis fotovoltaicos, o que deriva de três factores: o silício não é tóxico; é o segundo elemento mais abundante na natureza; existe certa consolidação da indústria deste tipo de painel. As células de silício ainda podem ser: Célula de Silício Monocristalino; Célula de Silício Poli ou Multicristalino; Células de Silício Amorfo; Células de Arseneto de Gálio; Célula de Disseleneto de Cobre-índio; Células de Telureto. Em termos de mercado, dois tipos se destacam: o silício cristalino e o silício amorfo. Em localidades isoladas, longe do alcance dos “linhões” de energia, estes módulos fotovoltaicos se mostram como uma alternativa viável quando comparada com a extensão da rede eléctrica. Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede eléctrica são mais eficientes, económicos, em média 40% mais baratos, e de maior durabilidade que os sistemas fotovoltaicos autónomos, pois não necessitam de sistemas de armazenamento. Actualmente, os sistemas de fornecimento de electricidade isolados vêm se tornando cada vez mais padronizados e flexíveis. Contudo a questão da tecnologia soluciona apenas a questão técnica. O ponto crítico é justamente a questão da gestão de cada unidade de geração de cada unidade de geração descentralizada (ver Barreto, 2008, p.12). Outra modalidade de painel solar

fotovoltaico é o nanopainel que tem sido considerado por muitos como uma inovação no que se refere ao mercado dos painéis solares.

Energia Eólica – A energia eólica é a energia produzida a partir da força dos ventos. Este tipo de energia é renovável, não polui o meio ambiente e está disponível em muitos lugares do mundo. A energia eólica é produzida por meio de aerogeradores, nos quais a força do vento é captada por hélices ligadas a uma turbina que aciona um gerador elétrico. A quantidade de energia transferida é função da densidade do ar, da área coberta pela rotação das pás (hélices) e da velocidade do vento. Os sistemas eólicos podem ser de dois tipos: os tradicionais; e os de ventos altos (ver tópico 7.8). Os modelos tradicionais podem ser instalados em terra, e podem ser a única fonte de geração em um sistema isolado, estar conectados ao sistema interligado, configurando o que se conhece como geração distribuída, ou ainda compor, com outras fontes de energia (sistema híbrido). Os impactos ambientais de sistemas eólicos podem ser considerados de pequena escala. O visual é basicamente comum a todas as fontes de geração, o sonoro é bastante reduzido se comparado com outras fontes de ruídos, e a ocupação de áreas está sendo minimizada com a instalação de sistemas no mar. Outros impactos, típicos de sistemas eólicos, mas que vêm sendo bastante minimizados com o passar do tempo, são os desvios de rotas migratórias e mortes de aves, morcegos e insectos, e a interferência electromagnética, causada pela reflexão ou distorção de ondas electromagnéticas emitidas por sistemas de transmissão de sinais.

Grupo Geradores - são máquinas bastante utilizadas em localidades isoladas da Amazónia. A operação de um grupo gerador é realizada por meio da inserção de combustível no motor de combustão interna, que pode ser do tipo “otto” ou diesel, e ao iniciar a partida desse motor acciona o eixo de um gerador eléctrico fornecendo tensão nos seus terminais. A utilização dos grupos geradores constitui uma alternativa viável em termos regionais, pois a indústria local dispõe do maquinário necessário para a implantação e manutenção além do custo de implantação ser relativamente mais baixo se comparado com a energia solar e eólica. Dependendo do porte dos grupos geradores, existirá a necessidade ou não da utilização de Unidades de Supervisionamento e Controle em Corrente Alternada (USCA), onde o operador poderá realizar a partida e parada da máquina além de monitorar as grandezas eléctricas tais como tensão, corrente, frequência. A desvantagem da utilização dos grupos geradores deriva dos elevados custos de operação e manutenção, além da

logística para a obtenção do combustível ser onerosa. Entretanto existe outro factor que inviabiliza a utilização deste modal, é a poluição do meio ambiente gerada pelos grupos geradores, no transporte do combustível. Os grupos geradores podem ser utilizados em conjunto com outras fontes de energia, compondo o que se chama de sistemas híbridos. Nos dias atuais além destas máquinas operarem em sua maioria com o diesel, existe grande interesse por parte do governo em realizar adaptações nos motores para que eles passem a funcionar com a utilização de biodisel, minimizando os efeitos dos impactos ambientais.

Os sistemas híbridos

Agora que foram apresentados os modais de produção possíveis de uso para as comunidades isoladas, cabe a pergunta: que modal se deverá utilizar? A resposta que o governo brasileiro deu a este questionamento foi fazendo outra pergunta. Por que não todos eles juntos? Estar- se-á falando daquilo que os engenheiros chamam de sistema híbrido de geração de energia, levando em conta o potencial das fontes de energias renováveis (solar, eólica, hídrica - MCH e PCH) e biomassas para as áreas isoladas.

Os sistemas híbridos passaram a ser utilizados na década de 1970 com o advento da crise do petróleo. Nos dias actuais, os sistemas híbridos são lembrados por sua importância para o meio ambiente e como uma solução prática para os problemas energéticos das comunidades isoladas (ver Barreto, 2008, p. 30).

Na prática, existem muitos sistemas híbridos em funcionamento no mundo inteiro. Pode-se destacar o eólico-diesel; fotovoltaico-diesel; fotovoltaico-eólico-diesel; fotovoltaico-eólico, por exemplo. Tais combinações dependem da geografia, da temperatura, do vento, da radiação solar, de custos logísticos das regiões em que as unidades estão instaladas tendo em vista a otimização da geração de recursos energéticos. A maioria destes sistemas híbridos está instalada em localidades isoladas. Tal facto implica haver dificuldades de operação das unidades. Por este motivo cada vez mais os sistemas híbridos estão tendo suas operações automatizadas. Além disso, a automatização significa redução de custos e maior segurança na operação.

Os sistemas híbridos podem ser classificados quanto:

 à interligação com a rede eléctrica convencional - isolado ou interligado;

 à prioridade de uso das fontes de energia - baseada no recurso não renovável ou renovável;

 ao porte, micro, pequeno, médio ou grande.

Como se verá mais à frente, os sistemas híbridos na Amazónia são ofertados aos consumidores sob a forma de consumo pré-pago, em um modelo similar ao adoptado pelas companhias telefónicas.

Em termos de conservação do meio ambiente, os impactos ambientais dos sistemas híbridos são considerados quase “zero”, pelo menos trazem mais benefícios do que problemas para o meio ambiente. Tal facto se deve à composição de médio e pequeno porte das unidades implantadas.