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1. Neuroeconomia

1.4 A tomada de decisão Teoria das decisões

Um indivíduo toma decisões em praticamente todas as interações com o ambiente externo. Isso acontece na hora de comprar um automóvel, de cortar o cabelo, de escolher um sabor de sorvete, de escolher um caminho para o trabalho, entre tantos outros momentos da vida. A ciência procura dar suporte ao homem no processo de decisão em muitos dos casos descritos. A ciência económica atende a necessidade de fundamentar as decisões dos agentes económicos nos momentos que dizem respeito às decisões que envolvem a utilização de recursos.

Antes de mais é necessário entender os aspectos mais específicos acerca da tomada de decisão e da forma como ela se desenvolveu na literatura ao longo dos anos.

Em todo o processo de desenvolvimento de recursos ou teorias para se trabalhar a tomada de decisão de forma eficaz, quer dizer, encontrar caminhos que pudessem gerar mais riqueza, mais-valia, utilidade ou bem-estar, podemos considerar algumas das ópticas económicas. Tem-se procurado soluções óptimas em termos quantitativos, exceto antes do surgimento da ciência económica. Entretanto, não se pode esquecer os filósofos de outrora que foram o embrião da cultura ocidental como a conhecemos. Não falaremos dessa inteligência filosófica, mas apenas da abordagem que os economistas lhe deram após o advento da ciência económica.

Neste sentido, a “teoria das decisões” constitui uma teoria lógica para se chegar ao complexo processo de tomada de decisão que pode ser lido hoje a partir do incremento das análises económicas com disciplinas das áreas biológicas.

No dicionário de economia, pode-se encontrar a seguinte definição de “teoria das decisões”: teoria relacionada com a tomada de decisões que permitem a escolha do caminho mais apropriado para atingir um objetivo num ambiente de incerteza e sob determinadas circunstâncias (ver Sandroni, 2007, p. 831).

Na busca pela otimização de resultados acerca da tomada da decisão, podemos destacar a “teoria dos jogos” que permitiu avançar no seu estudo, a qual se constitui como uma teoria que busca dar sentido acrescido à análise das decisões utilizando para o efeito modelos matemáticos.

A “teoria dos jogos” é um ramo da matemática que se baseia em decisões racionais (ver Janos, 2009, p. 390). Para Varian (2006, p. 543) “a teoria dos jogos lida com a análise geral da interação estratégica”. A teoria dos jogos constitui-se como uma ciência da estratégia, tendo nascido nessa base pelas “mãos” de John Von Neumann (1903-1957) e de Oskar Morgenstern (1902-1977) e tendo permitido a John Nash (1928-) ganhar o Prémio Nobel em 1994 e a Aumann (1930-) e Schelling (1921-) ganhar o Prémio em 2005. A obra destes autores introduziu a ideia de que o conflito podia ser analisado matematicamente e introduziu a metodologia para o fazer (ver Filipe et al, 2007, p. 134).

No início da década de 50 a teoria dos jogos chamou a atenção da comunidade científica, em especial com os estudos de John Nash. Foi neste período que a teoria dos jogos ganhou notoriedade. Porém, na década de 70 a teoria dos jogos passou a ser utilizada em larga escala em pesquisas de economia. Isto rendeu mais fama ainda à teoria dos jogos que a partir de então passou a ser uma das mais importantes ferramentas para fazer análises económicas. Segundo Filipe et al (2006, p. 138) “com base nas hipóteses do modelo, estuda-se o que acontece quando actores maximizam a sua utilidade tendo em conta as restrições existentes relativas à informação, às dotações e às funções de produção”.

Mas o que é um “jogo”? Um jogo é uma situação na qual dois ou mais participantes, os jogadores, se confrontaram em busca de atingir certos objectivos, os quais são conflitantes. Sendo conflitantes é óbvio que os objetivos de todos os jogadores não podem ser simultaneamente alcançados. Alguns jogadores, portanto, podem ganhar e obter um pagamento positivo, ao passo que outros pode perder e obter um pagamento negativo (ver Chiang, 1982, p. 646).

O jogo sob o qual se desenvolveu a teoria dos jogos é o jogo de estratégia. Um jogo de estratégia é um jogo onde o resultado depende do jogador. Podemos dar alguns exemplos onde se pode encontrar jogos de estratégia, como é o caso de situações de negociação, jogos que ocorrem na política, na economia, por exemplo. Este estudo trata de economia, mas ao longo deste tópico descuraremos alguns exemplos específicos de outras áreas do conhecimento.

Acerca do tipo de jogo, pode destacar-se os jogos de soma constante (que podem ser mais particularmente jogos de “soma zero” ou transformados em jogos de soma zero, em que o vencedor leva tudo, e necessariamente um perde e o outro ganha) e os jogos de soma não- constante (ver Chiang, 1982, p. 647). Vejamos um exemplo de um jogo constante (o caso específico de um jogo transformado em jogo de “soma zero”):

Peguemos o exemplo de uma loja de roupas em um shopping e suponhamos que duas lojas possuam as matrizes de pagamento A e B em (17) e (18). Tal como se apresentam, os elementos em A e B representam vendas. Considerando uma divisão de vendas (𝑅$50, 𝑅$50) pode-se representar os resultados em termos de ganhos em vendas. Nesse caso específico, diminuindo as vendas originais (50) de cada elemento, obtemos duas novas matrizes de pagamento, 𝐴∗ (19) e 𝐵 (20). 𝐴 = [𝑎𝑎11 𝑎12 𝑎13 21 𝑎22 𝑎23] = [30 60 5050 40 70] (17). 𝐵 = [(100 − 30) (100 − 60) (100 − 50)(100 − 50) (100 − 40) (100 − 70)] = [70 40 5050 60 30] (18). 𝐴∗ = [−20 10 0 0 −10 20] (19) 𝐵∗ = [20 −10 0 0 10 −20] (20),

já que agora temos

𝑎𝑖𝑗+ 𝑏

𝑖𝑗∗ = 0 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑜 𝑜 𝑖 𝑒 𝑗 (21).

soma zero. Este tipo de transformação altera os números nas matrizes de pagamentos, mas não afeta a estrutura fundamental do jogo. Se uma estratégia particular pode maximizar o nível absoluto de vendas de uma empresa, ela deve necessariamente ser a estratégia que maximiza o ganho nas vendas a partir de qualquer nível inicial de vendas. Também, obviamente, a pior estratégia permanecerá sendo a pior estratégia. Em termos matemáticos, a transformação só muda a origem do sistema de medidas.

Esta operação deriva de um teorema pelo qual as estratégias ótimas não variam com respeito à seguinte transformação da matriz de pagamentos:

𝐴 = [𝑎𝑎11 𝑎12

21 𝑎22] 𝐴

= [𝑘𝑎11+ 𝑐 𝑘𝑎12+ 𝑐

𝑘𝑎21+ 𝑐 𝑘𝑎22+ 𝑐] (22),

onde k e c são duas constantes. Este teorema da transformação não somente justifica a tradução que foi feita de um jogo de soma constante em um de soma zero em (19) e (20), como também torna possível reagrupar qualquer matriz de pagamentos que contenha frações ou números negativos (ver Chiang,1982, p. 649).

Contradição entre ação individual e resultado coletivo - essa situação mostra de que

maneira a ação mais racional do ponto de vista microeconómico pode resultar na pior solução macroeconómica. Por exemplo, no “dilema do prisioneiro”, dois comparsas são detidos por suspeita de terem cometido um crime. Os comparsas são colocados em celas diferentes onde serão interrogados. As opções de resultados são as seguintes:

Figura 1. Dilema do Prisioneiro

Jogador B Confessa Nega Jogador A Confessa -3,-3 0,-6 Nega -6,0 -1,-1 Fonte: Varian (2006, p. 548)

Na matriz está representada a utilidade durante os períodos (meses). Considerando as utilidades apresentadas a melhor opção para ambos (equilíbrio de Nash) seria Jogador A confessar e Jogador B também confessar (-3, -3). Entretanto, se considerarmos que existe uma situação ideal, o melhor seria (resultado da cooperação) Jogador A negar e Jogador B negar (- 1, -1). Entretanto, os jogadores estão separados e não podem combinar suas ações. Se se

pensar pela perspectiva do interesse óptimo do conjunto dos dois prisioneiros, o resultado correcto seria que ambos cooperassem, já que isto reduziria o tempo de pena dos dois prisioneiros a um mês cada. Qualquer outra decisão será pior para ambos se se considerar conjuntamente. Apesar disso, se persistir o seu próprio interesse egoísta, cada um dos dois prisioneiros poderá ver o resultado da pena agravado.

A teoria dos jogos foi de factível importância para o estudo da tomada de decisão e continua sendo. Permitiu a geração de uma luz acerca das melhores escolhas que os agentes podem fazer. Esta teoria tem tido grande aplicabilidade prática nos ramos da computação, militar, económica, política, pessoal, entre outras. Entretanto, a ciência tende a dar passos em direção a mudanças. A teoria dos jogos vai continuar tendo enorme importância para a tomada de decisão, mas novos estudos apontam para novas possibilidades acerca da tomada de decisão, que vêm presumindo que na maioria das vezes as pessoas são irracionais e que elas não têm conhecimento suficiente dos assuntos sobre os quais tomam decisões.

A teoria dos jogos analisa o que os agentes deveriam fazer para otimizarem seus resultados. Portanto, consiste em uma teoria racional. Julga os eventos com base nos pressupostos de maximização de ganhos e minimização de perdas. Mas, como se sabe, em decorrência de experimentos da economia comportamental, as pessoas não são nada boas a identificar comportamentos radómicos e são susceptíveis aos eventos emocionais1, que de facto as distanciam de resultados óptimos.