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O futuro da pesquisa em Neuroeconomia: a optogenética pode ajudar consumidores

2. Conhecendo a Neurociência

2.5 Técnicas de pesquisa em Neurociência e Neuroeconomia

2.5.7 O futuro da pesquisa em Neuroeconomia: a optogenética pode ajudar consumidores

O cérebro é demasiado complexo. Em função disso os neurocientistas necessitam compreender melhor o funcionamento pleno de um cérebro. Desta forma objectiva-se entender a origem dos pensamentos, memórias, sensações e sentimentos.

O Prémio Nobel de Medicina em 1962, Francis Crick (1916-2004), sugeriu que o principal desafio da neurociência é a necessidade de controlar apenas um tipo de célula no cérebro deixando as demais constantes. A estimulação eléctrica não é a melhor forma, pois é bastante rústica; isso se deve ao fato de existir um estímulo mais geral e menos específico de determinadas regiões, sem diferenciar os diferentes tipos de células. Outra dificuldade é o não desligamento preciso destas células (ver Deisseroth, 2010, p. 35). Parece que a manipulação da luz como fonte de estímulo dos neurônios é a saída para este problema. Microrganismos produzem proteínas que regulam directamente o fluxo de carga eléctrica nas membranas respondendo à luz visível. Tais proteínas são denominadas “opsinas”3

. Desde a descoberta desta peculiaridade das “opsinas”, passaram-se aproximadamente trinta anos até que as novas tecnologias permitissem aos pesquisadores manipular de forma adequada os estudos acerca da optogenética. Mas o que é a optogenética?

Trata-se da junção entre a óptica e a genética para o controle de eventos bem definidos dentro

3

Quando iluminadas as opsinas regulam o fluxo de íons electricamente carregados através de membranas, permitindo às células extrair energia de seus ambientes. Diferentes tipos de opsina podem variar em sua sensibilidade à luz e comportamento. Os genes que sintetizam esta proteína são fundamento da tecnologia da optogenética que os neurocientistas estão usando para controlar os padrões de actividades nos neurônios escolhidos (ver Deisseroth, 2010, p.37).

de quaisquer células ou tecidos vivos. Ela inclui a descoberta e inserção nas células de genes que as tornam fotossensíveis e as tecnologias para levar luz ao cérebro, direccionando seus efeitos aos genes e células de interesse e avaliando os efeitos, ou resultados desse controle óptico. Esta técnica permite a avaliação cerebral em tempo real e é de uma precisão jamais vista antes (ver Deisseroth, 2010, p. 36).

Para a utilização desta técnica os cientistas adotaram um processo com os seguintes passos:

 Inserir genes que fabricam opsinas nos neurónios; em paralelo combinam com um elemento denominado “promotor” que ativará apenas algumas células específicas;

 O gene é inserido em um vírus, que pode então ser injectado no cérebro;

 O vírus infecta várias células nervosas, mas, por causa do promotor apenas um tipo de neurónio produz a opsina;

 Sondas de fibra óptica inseridas no cérebro podem emitir luzes no cérebro para controlar padrões específicos de actividade neural.

Tendo sido a optogenética devidamente apresentada, é necessário apontar alguns aspectos positivos em prol da Neuroeconomia e, evidentemente, sobre os aspectos éticos. A priori pode-se afirmar que a optogenética deixa a Ressonância Magnética Funcional a anos-luz de distância no que se refere à eficácia e precisão. A Ressonância Magnética apresenta reflexos da actividade neural ou dos mapas neurais diante de estímulos. Em termos técnicos a Ressonância Magnética Funcional mostra as mudanças dos níveis de oxigenação sanguínea do cérebro diante dos estímulos. Em um teste realizado com a combinação entre a optogenética e a RMf, identificou-se que disparos excitatórios locais nos neurónios são suficientes para desencadear os sinais complexos identificados pela RMf. Esta combinação está revolucionando ainda mais a Neurociência. Se antes diante de um estímulo económico já se poderia mapear as reacções cerebrais, agora é possível até controlar onde ocorrerão tais reacções.

Se antes estímulos económicos desencadeavam regiões cerebrais específicas e isto permitia melhorar bastante as políticas direccionadas ao comportamento económico das pessoas, com a optogenética, além de se verificar de forma mais precisa o que acontece no cérebro, poder-se- á manipular as reacções diante de estímulos visuais relacionados com determinadas luzes ou feixes de luzes específicas com diferença de cor dependendo da opsina que se encontra no agente.

Contudo é importante salientar que o objectivo desta técnica não é o de transformar agentes económicos em “zumbis” que vagarão atrás das lojas de artigos de luxo. Ao invés, a

optogenética permitirá à ciência económica entender com maior nível de detalhamento o que leva as pessoas à tomada de decisão. Evidentemente isto permitirá maior fiabilidade nas campanhas de marketing, mas também permitirá fazer com que os agentes optimizem os seus resultados de forma a receberem retorno aquando da sua tomada de decisão.

A optogenética já mostrou todo o seu potencial para o estudo de algumas doenças, mas agora os pesquisadores se voltam para questões relativas ao mecanismo de recompensa cerebral, o que tem importância directa para a Neuroeconomia. Um experimento foi levado a cabo neste sentido. Os pesquisadores induziram optogeneticamente surtos de actividades sincronizados em grupos bem definidos de neurónios produtores de dopamina em ratos que se moviam livremente. Eles identificaram os padrões de estímulos que pareciam levar a um senso de recompensa nos animais. Na falta de qualquer outra deixa ou recompensa, eles preferiam passar mais tempo em locais onde haviam recebido surtos particulares nos neurónios responsáveis pela fabricação de dopamina (ver Deisseroth, 2010, p. 40).

Não se pode afirmar que a optogenética é o futuro da Neuroeconomia, mas é factível que esta revolucionária técnica pode trazer ganho qualitativo em termos de pesquisa e de novas práticas de mercado. Contudo, assim como outras tantas técnicas, pode vir a não se realizar no mercado. Neste sentido, de forma não habitual, encerra-se este tópico com uma pergunta: será que a Neuroeconomia pode ajudar a optogenética a se tornar uma realidade no mercado?

3. Interação entre o cérebro e o comportamento humano