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Nesta parte do estudo serão colocadas em pauta as pesquisas levadas a cabo para se chegar ao objetivo geral deste estudo.

Os estudos serão apresentados em quatro partes distintas, mas que no final deverão atender à exigência científica e prática que estudos na área da Neuroeconomia associada aos métodos quantitativos devem apresentar. Para tal serão feitas algumas notas acerca dos principais resultados no final da apresentação dos testes.

Deve fortalecer-se a ideia de que os resultados de cada teste em si pouco significam para o objetivo geral do estudo. A função dos testes é basicamente comprovar ou não a possibilidade de utilização de técnicas de Neuroeconomia no estudo dos recursos energéticos e verificar se alguns efeitos específicos ocorrem ou não:

 O primeiro estudo se refere ao teste comportamental de efeito contexto;

 O segundo à resposta por questionário de voluntários, que aqui chamaremos de pesquisa consciente; se analisará também o perfil mental relativo às emoções dos tomadores de decisão no sector eléctrico com a ajuda de equipamento de face

reading;

 O terceiro mostrará os aspectos referentes ao mapeamento ocular dos agentes económicos por meio da utilização da técnica de pesquisa baseada em Eye

Tracking.

Portanto esta parte do texto além de ser importante para o objetivo do estudo em si mesmo, permite também conhecer um pouco das modernas técnicas de pesquisa em Neuroeconomia. Além disso, analisar-se-á também como os modelos em Neuroeconomia podem ser utilizados nesta área da energia.

8.1 O efeito de Contexto (Parte I)

Para averiguar a existência ou não do “contexto” na tomada de decisão, realizou-se um teste com 72 alunos dos cursos de MBA em Gestão de Empresas nas dependências da Fundação Getúlio Vargas – FGV em Belém - PA entre os meses de Julho - Dezembro de 2010. O teste foi adaptado dos estudos de Tversky e Kahneman (1981). Estes pesquisadores apresentaram o

dilema da doença, em que os entrevistados tinham de escolher entre alguns tipos de

tratamentos na perspectiva positiva e outros na perspectiva negativa. No lugar de pessoas

doentes colocou-se famílias desalojadas. O principal objectivo do teste é o de fazer, com as

um projecto hidroeléctrico. O teste foi desenvolvido da seguinte forma:

1. Primeiro os alunos deveriam considerar a tomada de decisão acerca de uma inundação de uma área que comporta 600 famílias, sob a seguinte óptica:

 Alternativa A - 200 famílias seriam preservadas no local;

 Alternativa B - probabilidade de 1/3 de que as 600 famílias seriam mantidas no local e de 2/3 de que nenhuma família ficaria lá;

2. Em um segundo momento, os alunos deveriam responder sob uma óptica negativa, considerando:

 Alternativa C - 400 famílias perderiam seus lares; e

 Alternativa D - probabilidade de 2/3 de que as 600 famílias perdessem seus lares e 1/3 de que nenhuma família perdesse seu lar.

As questões traduziam o mesmo fenómeno em ambas as perguntas. No entanto cada uma delas representava um enfoque diferente. As Alternativas A e B representavam a decisão sob uma óptica positiva, já as alternativas C e D representavam a tomada de decisão sob uma óptica negativa.

Figura 8. Perspectiva Positiva - Brasil Figura 9. Perspectiva Negativa - Brasil

Fonte: Pesquisa de campo

Considerando os resultados referentes ao aspecto positivo (Figura 8), 57% dos alunos dos MBA’s da FGV responderam que a opção B seria a melhor escolha, enquanto 43% alegaram que a opção A seria melhor.

Considerando os resultados relativos ao contexto negativo (Figura 9), 68% dos alunos

43% 57% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Alternativa A Alternativa B 32% 68% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Alternativa C Alternativa D

responderam que a opção D (que é a exactamente a mesma da opção B) seria a melhor escolha a ser feita enquanto 32% disseram que a opção C seria a melhor dentre as possíveis. Com base nos resultados apresentados no teste levado a cabo no estudo e com base nas questões levantadas no início deste capítulo pode afirmar-se:

 Primeiro, os agentes não são tão racionais quanto a teoria económica tradicional pressupõe;

 Segundo, variáveis - de menor relevância até então para a economia - como o contexto, influem na tomada de decisão.

A primeira afirmativa significa que, diferentemente da hipótese de tomadores de decisões racionais - como sugere a economia ortodoxa - de onde deriva o conceito de Homo

Economicus, em que se busca a maximização das acções económicas em favor de ganhos

próprios, os resultados não foram satisfatórios nesse sentido (da racionalidade), porque a mudança de opinião diante de uma nova perspectiva (perspectiva positiva vs perspectiva negativa) implica dizer que os resultados numéricos por si só não influem nos resultados finais, a menos que estes sejam apresentados sob uma perspectiva específica, afinal de contas, a mudança de 43% (opção A) para 32% (opção C) é bastante significativa e 57% (opção B) no contexto positivo para 68% (opção D) no contexto negativo - lembrando que ambas as alternativas (A, C e B, D) apresentam a mesma alternativa, só que com pontos de vista opostos.

Na segunda afirmativa pode-se evidenciar e concluir que a presença do contexto – que é uma informação completamente desconsiderada pela abordagem da teoria tradicional de análise económica – foi determinante para os resultados obtidos neste estudo. O que de maneira geral representa é que os agentes, ao se depararem com as decisões económicas, são fortemente influenciados pelo contexto em que as informações são apresentadas.

8.2 Teste Contexto – (Parte II)

Para testar os resultados obtidos no estudo de contexto anterior optou-se por estender o teste. Resolvemos realizar o inquérito com alunos de um curso de doutoramento das áreas de gestão de empresas, marketing e métodos quantitativos em Lisboa (Portugal) no mês de Março de 2011.

Todos os pressupostos relativos ao teste anterior foram mantidos. O objectivo era verificar se pessoas mais qualificadas ou com mais estudo na área de economia, gestão e marketing, estavam menos expostas ao viés relativo ao efeito de contexto.

Figura 10. Perspectiva Positiva - Portugal

Figura 11. Perspectiva Negativa - Portugal

Fonte: Pesquisa de Campo

Mais uma vez os resultados foram positivos para confirmação da existência do contexto nas decisões económicas. E neste caso o facto de os voluntários contarem com uma formação académica elevada não influiu para a melhoria de resultados no teste.

Na perspectiva positiva (Figura 10), a maioria, 53% dos doutorandos escolheu a alternativa A e 47% optou pela alternativa B. Mas quando se apresentou as mesmas opções, só que na óptica negativa (Figura 11) o resultado mudou, a alternativa C (que é a mesma de A no contexto positivo) passou para 43%, enquanto a alternativa D foi escolhida por 57% dos alunos de doutoramento, representando uma variação para mais 10 p.p. paralelamente a esta mesma opção no contexto positivo.

Neste momento não cabe fazer conclusões muito específicas, mas desde já fica evidente que o efeito de contexto influi na escolha dos agentes económicos. Talvez isso ocorra por conta dos elementos referentes ao processo evolutivo e o mecanismo que nos protege de perigos do mundo nos aproxima de situações de prazer, o que por fim, acaba gerando a percepção ou as distorções que dela derivam.

57% 43% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Alternativa A Alternativa B 43% 57% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Alternativa C Alternativa D

9. Estudo por questionário