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O ENSINO UNIVERSITÁRIO ATUAL DE MICROBIOLOGIA E DE PARASITOLOGIA NO BRASIL: O QUE DIZEM AS EMENTAS?

CAPÍTULO 3 ASPECTOS HISTÓRICOS DO ENSINO DE PARASITOLOGIA E MICROBIOLOGIA

3.6. O ENSINO UNIVERSITÁRIO ATUAL DE MICROBIOLOGIA E DE PARASITOLOGIA NO BRASIL: O QUE DIZEM AS EMENTAS?

Neste item, será apresentada a análise de ementas e planos de ensino de disciplinas nas áreas de Microbiologia e Parasitologia oferecidas por universidades públicas. Objetiva-se abordar aspectos relativos às concepções educacionais e práticas docentes.

Paralelamente, articulações com os principais documentos oficiais que abordam questões relativas à formação dos graduandos e, em particular, nas áreas de Ciências da Saúde e Biologia serão apresentadas para que seja possível detectar eventuais aproximações com o conteúdo ministrado.

Os documentos, em particular, que foram utilizados com este propósito, são: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Brasil, 1996),

além das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Medicina (BRASIL, 2001b); Farmácia (BRASIL, 2002c); Odontologia (BRASIL, 2001c) e; Biologia (BRASIL, 2002b).

Tal procedimento pretende contribuir para oferecer uma visão panorâmica da formação desejada para estes graduandos, conforme se registra nesses documentos.

Em seguida, será iniciado o estudo de ementas e/ou planos de ensino de disciplinas obrigatórias cujo conteúdo envolve organismos parasitas (vírus, bactérias, fungos, protistas, metazoários) do ser humano e outros seres vivos.

Num primeiro momento, estuda-se, de modo mais abrangente, a presença destas disciplinas nos cursos universitários em geral, oferecidos por IPES de todo o Brasil, apresentando uma caracterização mais generalista, em extensão. Adiante, atendo-se aos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, é realizada uma análise mais particular e aprofundada de seus planos de ensino, dado que a necessidade da formação pedagógica do professor universitário, da compreensão dos marcos legais, das diretrizes curriculares e do aprofundamento teórico em questões educacionais, no caso das licenciaturas, é ainda maior.

Inicialmente, apresenta-se um estudo exploratório envolvendo os planos de ensino de disciplinas oferecidas para diferentes cursos e disponibilizadas nas páginas de suas instituições na internet. Utilizando o buscador Google, foram localizados 23 destes planos, sendo 8 na área de Parasitologia, 10 em Microbiologia e 5 em Micologia (Tab. 3.2).

Como informado anteriormente, os planos de ensino pertencem à IPES de todo o Brasil. A única exceção, entre estas universidades públicas, foi a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), incluída entre as demais por integrar uma rede de universidades que, tradicionalmente, desenvolve ensino e pesquisa, tendo prestígio e respeito no meio acadêmico-científico equivalente às IPES.

Além dos planos obtidos a partir da busca pela internet, outros três, disponibilizados pelos próprios docentes à época em que esta parte da investigação foi realizada, também foram utilizados nesta análise.

Conforme anunciado no capítulo 2, as ementas foram analisadas utilizando-se a Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007). No caso das disciplinas pertencentes a distintos cursos, foram analisados separadamente os três grupos de disciplinas (Microbiologia, Parasitologia e Micologia), mas buscou-se também traçar algumas analogias entre os padrões de cada disciplina.

Tabela 3.2 – Planos de ensino de disciplinas de Parasitologia, Microbiologia e Micologia de IES públicas brasileiras, investigados neste estudo.

Instituição Disciplina Curso em que é

ministrada Pont. Univ. Catól. do Rio

Grande do Sul (PUCRS)1

Parasitologia Fisioterapia

Universidade de Brasília (UnB)

Parasitologia Medicina

Univ. Est. de Minas Gerais (UEMG)

Microbiologia Agronomia

Univ. Est. Paulista (UNESP) Parasitologia*, Microbiologia Industrial**, Microbiologia Básica***2 Lic. Biologia*, Nutrição*, Bac. Biomedicina**, Bac. Biologia*** Univ. Estadual do Pará

(UEPA)

Microbiologia Enfermagem

Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Doenças Parasitárias Humanas

Bac. Biologia

Univ. Federal de Santa Catarina (UFSC) Biologia Parasitária*, Microbiologia II**, MicrobiologiaIII***, Micologia Clínica# Lic. Biologia*, Farmácia**#, Nutrição***

Univ. Federal de Santa Maria (UFSM) Parasitologia*, Microbiologia** Nutrição*, Enfermagem** Univ. Federal do Amazonas (UFAM) Parasitologia*, Micologia** Odontologia*,**

Univ. Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Agentes parasitários Bac. Biologia

Univ. Federal Fluminense (UFF)

Microbiologia I Odontologia

Univ. Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

Microbiologia2 Agronomia

Univ. Tecnológica Federal da Bahia (UTFBA) Microbiologia de Alimentos Tecnologia de Alimentos 1

Esta instituição, embora privada, foi incluída neste estudo.

2

Estas disciplinas apresentaram conteúdos referentes tanto à Microbiologia quanto à Micologia.

No primeiro grupo estão os planos de ensino de disciplinas que envolvem o estudo de bactérias e vírus, sob distintas denominações – como Microbiologia,

Microbiologia Industrial, Microbiologia de Alimentos -, são obrigatórias para todos os cursos das Ciências da Saúde pesquisados (Farmácia, Odontologia, Medicina, Enfermagem, Nutrição) e também para os de outras áreas, como as Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado), as Ciências Agrárias (Agronomia) e a Tecnologia (Tecnologia de Alimentos). Já aquelas que envolvem o estudo de protistas e metazoários – denominadas Parasitologia, Biologia Parasitária, entre outros – só ocorrem, de modo obrigatório, nos cursos das Ciências da Saúde e Ciências Biológicas. Raramente existem disciplinas específicas que tratam do estudo dos fungos, sendo que na maioria dos casos, estes seres são estudados juntamente com os conteúdos das duas outras disciplinas.

Em geral, houve maior uniformidade entre os conteúdos das disciplinas de Parasitologia e Micologia, enquanto na área de Microbiologia as diferenças entre os conteúdos foram notáveis, havendo inclusive disciplinas em áreas específicas da Microbiologia, como a Microbiologia de Alimentos e a Microbiologia Industrial.

Apesar desta diversidade, foi possível, a partir de análise textual, reconhecer um núcleo comum de conteúdos nestes planos de ensino na área de Microbiologia.

A Biologia dos Microorganismos, sobretudo em relação a seus aspectos morfológicos e fisiológicos, esteve presente em quase todos os planos de ensino, com uma única exceção. As doenças causadas por microrganismos patogênicos aos seres humanos também integraram majoritamente estes planos, estando ausentes em cerca de 1/3 dos casos. A Sistemática e a Classificação dos microorganismos, bem como a profilaxia e o controle de populações bacterianas, além da Genética Bacteriana, foram temas freqüentes nestes planos (estando presentes em mais de 55,0% deles).

Outros temas também frequentes (presentes em menos de 50,0% dos planos) foram: a) Microbiologia de Alimentos, b) fungos, vírus e príons, c) isolamento de microrganismos, d) Ecologia Microbiana, e) Microbiologia Industrial, f) História da Microbiologia, g) Métodos e Procedimentos Básicos em Microbiologia, h) Cultivo de vírus e fungos, i) Imunologia, j) Microbiologia de Solo, k) Epidemiologia, l) Biotecnologia, m) Helmintologia, n) Protozoologia e, o) usos em Enfermagem.

É possível perceber que a quantidade de temas comuns aos planos de ensino, o núcleo comum é pequena em relação aos conteúdos particulares de cada instituição ou curso. Este pequeno núcleo comum compreende aspectos biológicos e biomédicos dos microorganismos que são básicos para uma mínima compreensão da Microbiologia. Apesar disso, exceto por este núcleo, não houve relativa uniformidade nem mesmo quando os planos de ensino foram agrupados por curso.

Tal problemática tem repercutido entre as preocupações contemporâneas no Ensino de Microbiologia e constituiu tema de um Grupo de Discussão, intitulado “Programa Mínimo da Disciplina de Microbiologia que deve ser adotado pelos cursos de graduação que têm em seu currículo esta disciplina” durante o I ENAPROM, ocorrido em dezembro de 2010.

Apesar disso, este programa mínimo precisaria levar em consideração o fato de que a Microbiologia, enquanto ciência, possui diversificadas aplicações, métodos e saberes, nos campos (ou subcampos) da Microbiologia Médica, Veterinária, de Alimentos, Industrial, Biotecnologia, Agrícola, etc.

Outra problemática facilmente observável nos planos analisados diz respeito à hipertrofia dos conteúdos referentes às bactérias, em relação aos outros microrganismos, como fungos, vírus e príons, que, embora em alguns cursos sejam ministrados em outras disciplinas, em outros casos constituem temas de relevância secundária na Microbiologia.

Quanto às estratégias de ensino, em todos os planos de ensino analisados, os docentes apontaram a utilização de estratégias distintas para aquilo que denominaram parte teórica e parte prática51, dicotomia empregada em todos os cursos aqui investigados.

Na chamada parte teórica, a principal estratégia utilizada foram as chamadas aulas expositivas, com o uso de recursos audiovisuais, como quadro e pincel e/ou projeção de transparências, diapositivos e multimídia. Outra estratégia comum foi a realização de seminários pelos alunos, recurso empregado por mais da metade (55,5%) das instituições. Atividades coletivas ou em grupo foram sinalizadas em dois dos planos de ensino.

A parte prática foi realizada, principalmente em laboratórios, por meio das chamadas aulas práticas, que consistiram, sobretudo, na visualização, ao microscópio ótico, das estruturas de interesse microbiológico e da execução de métodos para a conservação e identificação de espécies de interesse, sobretudo médico, mas também de interesse econômico (utilizadas na agricultura, indústria, produção de alimentos, etc.). Atividades de campo foram apontadas no caso da Microbiologia Industrial e consistiram em visitas a indústrias para conhecer a utilização de bactérias no processo de produção de alimentos.

Os instrumentos de avaliação também apresentaram a dicotomia entre teoria e prática, havendo avaliações teóricas e avaliações práticas. O principal instrumento utilizado para a parte teórica foi denominado pelos docentes de prova ou avaliação teórica. Além disso, três cursos indicaram avaliar

51

Todos os termos que fazem referência à tradicional dicotomia entre teoria e prática, frequentes no ensino universitário de conteúdos específicos nas Ciências da Natureza, serão empregados em itálico, demarcando nossa divergência conceitual com esse modelo.

teoricamente o desempenho dos alunos nos seminários, e/ou na apresentação de trabalhos e/ou relatórios.

Para avaliar a parte prática, o principal instrumento de avaliação foi a prova prática, utilizada em 44,4% das disciplinas investigadas, instrumento que avalia os alunos pela perícia em identificar microrganismos ao microscópio, executar métodos de diagnóstico e responder a questões envolvendo técnicas laboratoriais em Microbiologia.

A ideia de ensino como transmissão-recepção é observada regularmente nos objetivos gerais da Microbiologia. Em quatro deles, foram expressas concepções educacionais marcadas por esta visão. Distintos termos empregados para expressar ações pedagógicas nos objetivos gerais, como proporcionar conhecimentos, conscientizar os alunos (os demais cursos não fizeram referência a objetivos gerais) revelaram tal concepção. Além disso, certas frases - como apresentar aos alunos (...) o mundo microbiano, familiarizá-los com técnicas básicas, ministrando-lhes, desenvolver (neles) habilidades, demonstrar aos alunos; - expressaram a ideia de ensino centrada no docente.

Seus objetivos gerais, propriamente ditos, vislumbram o domínio dos conteúdos acerca da importância dos microrganismos, suas características morfológicas e biológicas, além do desenvolvimento de habilidades que possibilitem ao aluno executar técnicas microbiológicas para a caracterização morfológica e diagnóstico laboratorial, sobretudo das bactérias.

Ainda que tais planos busquem expressar especificidades dos cursos, usando termos como no âmbito do curso de nutrição/ no contexto do curso de Farmácia/ aos alunos de Odontologia, de Medicina, etc., não se requer, dentre os objetivos gerais, o desenvolvimento de qualquer habilidade vinculada à formação profissional específica dos graduandos.

Via de regra, os objetivos específicos apontam para preocupações predominantemente técnicas, desconsiderando os contextos políticos e sociais onde os profissionais deverão atuar, omitindo-se, portanto, em relação à realidade social subjacente.

As disciplinas investigadas objetivam, especificamente, habilitar os alunos a dominar conhecimentos, noções ou conceitos básicos em microbiologia (55,6%) conhecer e/ou executar técnicas de controle microbiológico (55.6%), diagnosticar doenças causadas por bactérias e vírus (44,4%), conhecer a patogenia causada por eles (33,3%); isolar (22,2%) e cultivar (11,1%) microrganismos. Dentre as noções e conceitos básicos da Microbiologia, o domínio de aspectos ligados à biologia dos microrganismos, como a Fisiologia (66,7%), a Sistemática, a Genética, a Ecologia e a Morfologia de bactérias e vírus; (55,6%), foram os mais presentes. Além disso, houve frequente menção, nos objetivos específicos às necessidades particulares de formação de seus graduandos (77,8%).

Nenhuma diferença entre eles, entretanto; com uma exceção; parece justificar tal menção, sugerindo um acréscimo meramente retórico, nos textos destes documentos, de expressões como com ênfase na agricultura/ importância odontológica,/ no contexto do curso de Farmácia/ no âmbito do curso de Nutrição, etc.

No caso excepcional desta disciplina excepcional, diversos objetivos específicos revelam um conteúdo programático adaptado, de fato, à proposta de uma formação nesta subárea da microbiologia, como o conhecimento do papel dos microrganismos nos processos industriais, a aquisição das noções da diversidade de produtos e processos dependentes de microrganismos e a compreensão das particularidades dos microrganismos economicamente viáveis.

Dois outros planos de ensino, além da menção a uma microbiologia voltada para a formação específica de seus graduandos, também ressaltam a necessidade de uma formação mais geral, de reconhecer a importância da Microbiologia em diferentes áreas das ciências, como a Saúde, a Biotecnologia e a Ecologia.

Quanto à bibliografia indicada, mais da metade (52,5%) dos 40 títulos recomendados concentrou-se na área da Microbiologia Médica, tendo forte presença até mesmo nas disciplinas de cursos de áreas não-médicas, como Agronomia e Biologia. Destes, quase todos são Tratados de Microbiologia Médica. Dentre os livros indicados em outras áreas da Microbiologia, encontram-se obras relacionadas às necessidades específicas de cada curso, como os de Biotecnologia, de Fitopatologia e Microbiologia de Alimentos, por exemplo. Os títulos mais frequentemente indicados foram “Microbiologia” (TRABULSI; ALTERTHUM, 2004), presente em 77,8% dos planos de ensino; “Microbiologia: conceitos e aplicações” (PELCZAR JR. et al., 1997) indicado em 71,4% dos cursos além de “Microbiologia Médica” (JAWETZ et al., 1998) e “Microbiologia: uma introdução” (TORTORA et al, 2000), indicado em 57,1% dos cursos.

Diferentemente da disciplina de Microbiologia, os planos de ensino na área de Parasitologia evidenciaram relativa uniformidade de conteúdo. Nesta área, destaca-se, no ensino de graduação, uma subárea: a Parasitologia Humana. Outras subáreas de expressividade no campo da pesquisa científica (e que poderiam constar do conteúdo da Biologia, por exemplo), estiveram praticamente ausentes do conteúdo ministrado nas disciplinas pesquisadas. Dentre elas, pode-se destacar a Parasitologia Veterinária, que trata das espécies de parasitos que acometem os animais domésticos, e a Parasitologia Animal, que envolve a investigação de parasitos de animais domésticos e silvestres (muitos dos quais podem causar patogenias ao ser humano).

Dois tópicos estiveram presentes em todos os planos de ensino: Introdução à Parasitologia e Biologia dos Parasitos. O primeiro destes tópicos refere-se, sobretudo a aspectos históricos e os principais conceitos em Parasitologia, além de aspectos gerais da classificação e sistemática destes seres vivos. O segundo tratou principalmente da Morfologia e Fisiologia de protozoários, helmintos e artrópodes parasitas do ser humano. Além destas áreas da Biologia dos Parasitos, a Ecologia destes organismos também foi abordada em mais da metade (55,6%) dos planos analisados.

A presença frequente de tópicos relacionados a aspectos da saúde humana atesta a supremacia deste campo no ensino de Parasitologia. 88,9% dos planos de ensino investigados abordou, em seu conteúdo, a Patogenia das Doenças Parasitárias e sua Profilaxia (ausentes em um dos planos de ensino). Outros aspectos relacionados à saúde humana, como o Diagnóstico (presente em 66,7% dos planos) e a Epidemiologia (em 55,6%) também estiveram presentes na maioria destes documentos.

Além destes tópicos gerais, em alguns cursos foram relacionados conteúdos referentes a especificidades de formação profissional. Ressalte-se o tratamento destas parasitoses, as alterações nutricionais decorrentes da ação dos parasitos, as aplicações dos saberes parasitológicos em Fisioterapia, e os Tópicos de Parasitologia Animal e Vegetal.

A presença destes assuntos, entretanto, não significa que tais planos de ensino, com exceção do último citado, tenham sido elaborados levando em consideração a formação específica de seus graduandos, já que os mesmos constituíram tópicos isolados dentro de conteúdos similares entre si. O conteúdo programático de uma dos planos de ensino, de disciplina ministrada para o curso de Biologia, única exceção, de fato, difere significativamente dos demais planos de ensino, abordando a Parasitologia Humana, Animal e Vegetal, áreas de interesse na formação destes profissionais.

A dicotomia parte teórica e parte prática, presente nas estratégias de ensino de Microbiologia, também caracterizou a Parasitologia, que se utilizou de idênticos recursos didáticos: aulas expositivas e práticas de experimentação com as mesmas características observadas no caso da disciplina previamente descrita. Atividades coletivas, entretanto, como estudos dirigidos e grupos de estudos com casos clínicos foram indicadas por número maior de disciplinas em relação à Microbiologia. Os instrumentos de avaliação também pouco diferem daqueles utilizados nas disciplinas precedentes.

Em relação aos objetivos gerais, as disciplinas de Parasitologia vislumbram, principalmente, como as de Microbiologia, a aquisição de habilidades técnicas e o domínio dos conhecimentos específicos para atuar no controle de doenças e para a realização de diagnóstico laboratorial destas enfermidades, sobressaindo os conteúdos disciplinares em detrimento de uma contextualização dos profissionais.

Objetivos estes que são coerentes com as estratégias de ensino e instrumentos de avaliação que, embora pouco eficazes para a formação de profissionais críticos e reflexivos, presta-se à formação tecnicista almejada.

Além disso, objetivos instrucionais, estratégias de ensino e instrumentos de avaliação para disciplinas oferecidas para profissionais tão distintos como Fisioterapeutas, Odontólogos, Biólogos, Nutricionistas, Médicos e Enfermeiros, na prática, pouco se distinguem uns dos outros.

A ideia de ensino como transmissão-recepção, embora menos frequente do que no caso da Microbiologia, também é observada nos objetivos gerais de alguns planos de ensino, a partir de expressões como fornecer conhecimentos básicos sobre Parasitologia, por exemplo.

Em relação à bibliografia sugerida aos alunos, a mesma foi composta por sítios eletrônicos de atlas de parasitologias disponíveis na internet, títulos de periódicos especializados e livros. Foram indicados 44 diferentes títulos, sendo que, a exemplo da Microbiologia, grande parte (68,2%) dos títulos concentrou- se na área da saúde. A diferença, no caso da Parasitologia é que esta disciplina envolve, quase exclusivamente os cursos das Ciências da Saúde, com a exceção do curso de Biologia que, ainda assim, em seu currículo inclui disciplinas que tratam da área de saúde. Dentre os títulos na área de Parasitologia Médica, há grande predomínio dos Tratados de Parasitologia Médica.

Outros dez títulos (22,7%) constituem livros em outras áreas, como a Entomologia Médica, a Ecologia Parasitária, a Parasitologia Vegetal, a Parasitologia Geral e a Veterinária. Todos estes títulos em áreas não-médicas integraram a relação da bibliografia sugerida por uma única disciplina, oferecida para o curso de Biologia. Os títulos indicados na área de Entomologia Médica integraram também a relação de dois planos de ensino.

Os títulos mais frequentes foram “Parasitologia Humana” (NEVES et al., 2005) e “Parasitologia” (REY, 1991), indicado em 100,0 % dos planos de ensino; “Parasitologia Médica” (PESSOA; MARTINS, 1982) presente em 77,8% dos planos; “Parasitologia Humana e seus Fundamentos Gerais” (CIMERMAN; CIMERMAN, 1999), Bases da Parasitologia Médica (REY, 1992) e “Doenças Infecciosas e Parasitárias” (VERONESI, 1991), estes últimos indicados em 44,4% dos cursos.

Das áreas de ensino investigadas neste estudo, a Micologia é a disciplina de presença menos frequente nos currículos dos cursos de graduação. Isto se deve, em parte pelo fato de que, na maioria das universidades, esta área do saber integra o conteúdo da disciplina Microbiologia (55,6%) e, menos frequentemente, da Parasitologia (11,1%).

Nesta investigação particular, foi encontrado nos sítios de busca na internet, um plano de ensino de Micologia. Outro plano de ensino desta disciplina foi obtido por intermédio de uma docente da área. Além destes, foram

incluídos também os conteúdos referentes à Micologia de planos de ensino de Microbiologia (2) e Parasitologia (1). Vale ressaltar que, exceto no caso dos planos de ensino específicos da Micologia, este tema, de acordo com os indicativos, parece ser tratado como tendo importância secundária quando integra o conteúdo de outras disciplinas, sobretudo a Microbiologia, marcada, conforme observado, por uma hipertrofia de temas relacionados às bactérias.

Assim como no caso da Parasitologia, também estiveram presentes, inicialmente, um tópico introdutório (abordando aspectos históricos da Micologia) e outro referente à Biologia destes microrganismos (focada, sobretudo, na morfologia e ciclo biológico dos fungos), em todos os planos analisados. E, de modo similar ao caso da Microbiologia, em relação aos demais tópicos, houve pouca uniformidade de conteúdos entre os cursos e, portanto, grande heterogeneidade entre os planos de ensino.

Aspectos médicos, como a patogenia e o diagnóstico, foram mais frequentes, enquanto outros, como a transmissão, o controle, a profilaxia, os fungos oportunistas, a epidemiologia, o tratamento e a resistência a medicamentos estiveram presentes em menor proporção.

Tópicos específicos de cada curso incluíram a biologia dos fungos (curso de Biologia), métodos laboratoriais na investigação micológica (Agronomia e Farmácia), bem como os saberes de subáreas emergentes, como