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CAPÍTULO 2 – TRILHA TEÓRICO-METODOLÓGICA

2.4. ESTUDO PILOTO

Neste Estudo Piloto, a principal atividade investigativa compreendeu o contato com os docentes destas disciplinas, que participaram respondendo os questionários e as entrevistas, ambos idealizados e referidos no item anterior.

Ao invés dos docentes da Região Norte, nesta fase da investigação, procurou-se envolver participantes de outras regiões do país. Deste modo, além de obter informações que contribuíssem para uma compreensão do cenário nacional, os altos custos de deslocamento para a região seriam evitados, uma vez que, neste momento, as atividades organizavam-se a partir de Florianópolis, local no qual o grupo de pesquisa - Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências de Santa Catarina (GEPECISC) do PPGECT/UFSC -, sediava a estruturação do presente estudo.

Além do papel, na investigação, de aspectos relacionados à constituição dos participantes da pesquisa para a docência, suas concepções de ciência, educação e saúde e, adicionalmente, de aspectos das aprendizagens formais e informais para a atuação profissional, os questionários cumpriram também outra função: a construção de um instrumento com questões fechadas (questionário no. 1, Anexo 4), cujo objetivo foi atingir o maior número possível de docentes, visando à realização de análises a partir de abordagens quantitativas na etapa final da pesquisa (pesquisa in loco). Por isso, na presente etapa, buscaram-se subsídios para a elaboração dos referidos questionários (questões que pudessem elucidar, por exemplo, a concepção de bom docente nas áreas investigadas, a formação ideal almejada pelos docentes em relação a seus alunos, especificidades da formação de licenciandos e importância da formação pedagógica para o docente universitário).

Deste modo, a exemplo da metodologia do VOSTS (descrita mais adiante), buscou-se compor, a partir de um universo real, constituído por docentes destas disciplinas, as alternativas do questionário fechado, referido acima, aplicado à quase totalidade dos docentes de Parasitologia, Microbiologia e Micologia das IPES da Região Norte investigadas (ver Capítulos 4 e 5).

Vários elementos balizaram o processo de construção deste instrumento. Algumas questões emergiram de minha própria experiência de pesquisador e de docente em Parasitologia, sendo reelaboradas ou complementadas a partir do contato com a literatura especializada. Deste modo, compuseram o questionário, tanto questões relevante no âmbito particular das disciplinas de Parasitologia e Microbiologia, quanto àquelas que, de modo mais geral, abarcam a problemática contemporânea relacionada à Docência Universitária.

Já as entrevistas semiestruturadas, referidas anteriormente, foram realizadas com dois docentes indicados por especialistas no campo do Ensino de Biologia. Estes últimos justificaram a escolha daqueles em virtude da participação destes sujeitos em processos que envolveram discussões pedagógicas, como por exemplo, as relativas à reestruturação curricular. Estas entrevistas foram audiogravadas, transcritas e buscaram aprofundar aspectos já explorados anteriormente nos questionários, na perspectiva de identificar concepções do entrevistado sobre a constituição para a docência, sobre ciência e

educação. A exemplo do questionário, estas entrevistas semiestruturadas serviram também para a validação do instrumento a ser utilizado na fase subsequente (Anexo 5) constituindo-se, portanto, em entrevistas-piloto. As entrevistas-piloto foram empregadas na definição das questões da versão definitiva das entrevistas – que integraram a última fase da investigação, realizada com uma amostra menor de docentes, selecionados entre os participantes da pesquisa em Belém e Manaus. O conteúdo destas entrevistas- piloto foi examinado a partir de abordagens qualitativas, utilizando a Análise Textual Discursiva, a partir de processos análogos aos descritos para os planos de ensino, com a desmontagem dos textos (desconstrução e unitarização), a categorização e a comunicação da leitura emergente deste processo.

Preliminarmente ao preenchimento dos questionários e da entrevista, os docentes participantes das entrevistas-piloto assinaram o formulário do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, Anexo 6) e, previamente também à entrevista, receberam um Texto de Apoio (Anexo 7), contendo análise sobre marcos legais no que se refere à Docência Universitária.

Nesta fase, simultaneamente, buscou-se investigar o estado da arte da docência universitária em Biologia, a partir da sistematização das informações sobre o tema em artigos apresentados nos ENEBIOs e EPEBs.

Em relação aos ENEBIOs, foi possível investigar as duas versões deste evento, realizadas até aquele momento, nos anos de 2005 (I) e 2007 (II), além de um dos EPEBs, ocorridos até o ano de 2006, na cidade de São Paulo, no caso o X EPEB. Nestas atas, assim como nas dos ENPECs, foram selecionados artigos que se referiam à docência universitária. Os critérios para a seleção dos artigos, os procedimentos adotados para esta investigação e o conteúdo examinado também foram os mesmos utilizados para a análise dos eventos previamente referidos. Tais análises foram ampliadas na fase seguinte da investigação e os resultados foram apresentados nesta tese no capítulo anterior.

Ainda nesta etapa, algumas questões principais da investigação se delinearam e foi possível agrupá-las em três distintas unidades de análise, ainda que outras pudessem emergir na fase seguinte, quais sejam: a) constituição para a docência; b) concepções dos docentes; c) caracterização das atividades docentes.

Sobre a constituição para a docência (item 2.1), aspectos problemáticos são apontados pela literatura em relação, por exemplo, aos processos formais de aprendizagem para o magistério, como o predomínio de saberes e experiências profissionais (MASETTO, 2003); a compreensão dos processos de formação inicial e continuada como formação para a pesquisa (BAZZO, 2007); além dos problemas com a didática dos docentes universitários (CUNHA; 1996; PACHANE, 2003), ocasionados pela falta de contato destes com concepções e práticas do campo educacional (SILVA; SCHNETZLER, 2005).

A literatura aponta problemas também com os processos informais de aprendizagem que poderiam contribuir para a melhoria da atuação dos docentes universitários. Veiga et al. (2004), por exemplo, registram a falta de participação dos docentes em atividades coletivas, como a militância política e as atividades artístico-culturais, situação que, segundo as autoras, conduz a uma adesão acrítica às políticas educacionais produtivistas e neoliberais. Cunha (2005) e Silva e Schnetzler (2005), por outro lado, entre docentes diferenciados, revelam quadro oposto, em que a ativa participação em atividades políticas ao longo de suas vidas contribuiu para uma melhor atuação profissional.

Em relação às concepções dos docentes, em grande medida originadas pelos problemas anteriormente referidos, uma questão central diz respeito à impossibilidade de um distanciamento crítico das suas práticas pedagógicas (DELIZOICOV, 2010). Por isso, saberes referentes ao campo educacional são desvalorizados (MASETTO, 2003), em relação àqueles do campo específico de atuação do docente. Os conteúdos específicos são hipervalorizados (GONÇALVES et al., 2007; ODA; BEJARANO, 2007). Além disso, docentes universitários concebem de modo fragmentado as ações de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. No tocante às atividades extra-acadêmicas, compreendem de forma limitada a relação entre suas concepções docentes e as aprendizagens informais oriundas de dimensões como suas atividades políticas, artístico- culturais e familiares.

Professores inseguros, pelo desconhecimento dos saberes educacionais, acabam adquirindo uma conotação negativa dos conhecimentos pedagógicos, assumindo posturas tradicionais em suas atividades docentes (SILVA; SCHNETZLER, 2005). Tais atividades são marcadas, como já mencionado (item 2.1), pela descontextualização de conteúdos e práticas (VEIGA et al., 2004); por terem o docente como centro dos processos de ensino-aprendizagem (MASETTO, 2003) e pelo modelo de transmissão-recepção (PACHANE, 2003; BAZZO, 2007). Ainda que hegemônicas, práticas diferenciadas, de um modo ou de outro, de forma sistêmica ou pontual, apontadas também em outros estudos, distanciam-se do modelo hegemônico (BAIN, 2004; SILVA; SCHNETZLER, 2001; CUNHA, 2005).

Além destes elementos, integrados e sistematizados na investigação, a partir de unidades de análise, os resultados preliminares foram submetidos, conforme normas regimentais do PPGECT-UFSC ao Exame de Qualificação. Neste, uma primeira interlocução com especialistas é efetivada após a definição dos objetivos, recortes e procedimentos metodológicos, expandindo-se, assim, o processo de construção coletiva na produção destes conhecimentos uma vez que esta etapa situa o estudo na discussão acadêmica mais ampla. Esta fase transposta consubstancia possibilidades de aplicação dos saberes produzidos a outros contextos, com consequente aumento do conhecimento, evitando que a

investigação fique à margem do debate acadêmico (ALVES-MAZZOTTI, 2006).

Uma das lacunas apontada pelos especialistas durante a qualificação, e que requereria maior aprofundamento, dizia respeito a aspectos históricos do ensino destas disciplinas e suas relações com características da constituição da Parasitologia e da Microbiologia, enquanto áreas do conhecimento. Em função disso, foram inseridas, na fase seguinte da investigação, estratégias de levantamento e sistematização destas informações, que se buscou articular com os dados empíricos referentes às concepções e práticas atuais nestes campos. Maiores detalhes sobre tais procedimentos serão oferecidos no próximo item.

Adicionalmente, os resultados das análises de algumas das entrevistas, além de outras informações colhidas durante a realização deste Estudo-Piloto, compuseram comunicações em eventos (ODA, 2009, b; 2010) e artigos científicos (ODA; DELIZOICOV, 2011).