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D ESAFIOS NO USO DA PAISAGEM CULTURAL DURANTE A INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL

No documento E book Literatura Viagens Turismo Cultural (páginas 82-86)

Thiago Eduardo Freitas Bicalho

4. D ESAFIOS NO USO DA PAISAGEM CULTURAL DURANTE A INTERPRETAÇÃO PATRIMONIAL

Assumindo como embasamento os seis princípios de interpretação apresentados por Tilden (1957) em conjunto com os quatro acrescentados nos estudos de Murta e Goodey (1995) é possível enumerar os desafios de interpretar utilizando os recursos interdisciplinares presentes na paisagem cultural como elemento de leitura da modernidade. Para compreender esses desafios foi necessário acompanhar a atuação de Guias de Turismo na cidade de Ouro Preto e o relato de turistas.

"Qualquer interpretação que não relaciona, de alguma forma, o que se está exibindo ou descrevendo, com algo da personalidade ou experiência do visitante será estéril." (Tilden apud Projeto Doces Matas, 2002).

O primeiro princípio de Tilden transmite para o interprete a missão de relacionar a informação com a experiência de vida do visitante, suscitando o interesse no receptor da mensagem. Algo aparentemente simples, configura-se um desafio na interpretação de Ouro Preto.

Para que essa associação seja realizada com precisão, o interprete necessita conhecer a cultura na qual os visitantes provem, além, da sua maneira de visualizar a dinâmica mundial. Previamente, durante a maioria dos planejamentos de roteiros turísticos interpretativos, as informações sobre o conhecimento pessoal do cliente e suas experiências não são consideradas relevantes, forçando os interpretes a perceber isso somente no dia da visita.

A falta de informação previa sobre a cultura do visitante é um complicador, pois, a formação do interprete não contempla o estudo das culturas na sua totalidade, e, caso o interprete não conheça elementos da vida do visitante, não realizará uma tradução com relações simples e o visitante não terá uma visita frutífera.

A informação, como tal, não é interpretação. Elas se diferenciam, sendo que a interpretação utiliza revelações baseadas em informação. Toda interpretação, portanto, inclui informação. Mas isso não significa que só informação seja Interpretação. (Tilden apud Projeto Doces Matas, 2002)

O segundo princípio não poderia ser mais claro, informação é informação tal como interpretação é interpretação, sendo assim, informação não é interpretação.

Um desafio na interpretação em Ouro Preto é construir uma narrativa sedutora não prendendo-se a, simplesmente, transmitir a informação pura. Devido à longa história, repleta de edificações, igrejas, momentos da história local, regional e nacional presentes e ocorridas no município, o interprete recebe o visitante com um desejo de transmitir o maior número de informações possíveis sem atinar para a essência da interpretação, que é revelar a localidade com base nas informações.

Murta e Goodey (1995) levanta uma pista no sentido de criar uma narrativa sedutora em conjunto com a população local, valorizando assim a cultura local e alterando a inserção do visitante no contexto municipal em ao menos um momento da interpretação.

Inconfidência, Casa dos Contos, bem como no interior das igrejas, necessitam de uma tradução apropriada da linguagem relacionando o termo com seu uso, suas características ou algum elemento que facilite o entendimento do visitante.

A interpretação é uma arte que combina com muitas outras artes; independentemente dos materiais apresentados serem científicos, históricos ou arquitetônicos. Como arte, é possível, de alguma forma, ser ensinada.

(Tilden apud Projeto Doces Matas, 2002)

O terceiro princípio relaciona a utilização da arte na interpretação como sentido de linguagem artística materializada na literatura, dança, teatro, artes visuais e outros, más também, como a forma criativa de construção do enredo interpretativo (Costa, 2009). Como já sucintamente abordado neste artigo, os interpretes atuante no município de Ouro Preto, em sua maioria, não se apropriam da riquíssima literatura relacionada ao local em suas interpretações nem mesmo de expressões como dança e pequenas encenações fazendo, portanto, uma leitura muito fundamentada em artes visuais.

O propósito principal da interpretação não é a instrução (o ensino), mas sim a provocação (para estimular a curiosidade e o interesse do visitante). (Tilden apud Projeto Doces Matas, 2002)

O quarto princípio é considerado por vários autores, inclusive o Tilden, como o ponto central da filosofia que perpassa o estudo de interpretação. Na busca da preservação e valorização de uma localidade, seus aspectos naturais e cultura, deve-se estimular no visitante a curiosidade conduzindo-o ao entendimento da realidade passada e presente, a apreciação e a proteção do sítio (Tilden apud Costa, 2009).

A grande singularidade histórica, arquitetônica, natural e literária de Ouro Preto perante as demais cidades coloniais mineiras pode ser minimamente vivenciada pelo interprete em seu processo de formação e repassada aos visitantes não apenas como simples informações, mas como uma experiência vivida que leve os visitantes a refletirem em sobre ações responsáveis e de pertencimento com a realidade apresentada.

Além da sensação de pertencimento, despertar no visitante a aceitação e tolerância sobre a diversidade e pluralidade cultural como valores democráticos, não difundindo uma verdade universal (Murta & Goodey, 1995).

A interpretação dirigida às crianças não deve ser um desmembramento da apresentação para adultos, mas, sim, ter uma abordagem fundamentalmente diferente. Neste caso, o melhor, é dispor de programas separados e específicos. (Tilden apud Projeto Doces Matas, 2002)

O quinto princípio, mesmo abordando apenas a distinção entre as crianças e os adultos, levanta a necessidade de elaboração de um programa de interpretação diferenciado para cada segmento de público, seja ele delimitado pela faixa etária, gênero, pessoas com deficiências ou qualquer outra especificidade.

Lembrando que cada perfil de visitante tem necessidades específicas quanto a segurança, utilização de sanitário, pontos de descanso e estacionamento que formam elementos essenciais a uma experiência prazerosa do lugar.

A interpretação deve apresentar os fatos na sua totalidade, evitando a fragmentação. (Tilden apud Projeto Doces Matas, 2002)

Na análise do sexto princípio retomo a questão norteadora do presente artigo que analisa a paisagem cultural como elemento de leitura da modernidade em Ouro Preto, visto que, neste princípio é imprescindível a interpretação completa de todos os aspectos evitando a fragmentação do que é transmitido ao visitante.

É importante uma interpretação temática que aborde elementos de natureza diferentes como, por exemplo, o Pico do Itacolomi, a Igreja São Francisco de Assis e o poema de Oswald de Andrade buscando fundamentação histórica para apresentar o município que, mesmo tendo várias características tradicionais, vive na atualidade uma história nova, uma história moderna.

Um dos princípios propostos por Murta e Goodey (1995) harmoniza-se bem a realidade de Ouro Preto ao afirmar que a interpretação deve ser realizada através de uma abordagem interdisciplinar realçando a dimensão socioeconômica, ao lado das dimensões históricas, ecológica e arquitetônica ligando a temáticas do passado, do presente e do futuro.

5. S

UPERAÇÃO DOS DESAFIOS DA INTERPRETAÇÃO ATRAVÉS DE

No documento E book Literatura Viagens Turismo Cultural (páginas 82-86)