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3. A organização por secções e os sistemas de acesso: o impacto das corporações

3.12. O escasso impacto do marcelismo

Com Marcelo Caetano a chefiar o Governo, o Decreto-Lei n.º 49384 alterava a constituição das Secções da Imprensa e Artes Gráficas e dos Espectáculos, aumentando o número de representações. No primeiro caso, ocorria uma duplicação. No segundo, deixava de haver um único procurador das entidades patronais nas três instâncias específicas.

Estas modificações, em 1969, no número de representantes nas duas secções referidas poderiam ter tido lugar sem o recurso a um decreto-lei. Em 1965, o Conselho Corporativo passara a interferir sobre o número de membros de cada uma das instâncias da Câmara,

229 Carta do presidente da Câmara Corporativa ao presidente do Conselho, em 15.10.1965, fls. 295v-296. 230 Carta do presidente da Câmara Corporativa ao presidente do Conselho, em 15.10.1965, fls. 296-296v. 231

independentemente da organização das próprias corporações. Em 1973, esta competência seria novamente exercida.

O alcance preconizado por Luís Supico Pinto, em 1965, teria, afinal, o efeito contrário. Sem ter sido fixado um limite máximo por intermédio de decreto-lei, era remetida para o Conselho Corporativo a interferência sobre o número de membros da Câmara. Até 1969, esta instância governamental já tinha interferido na composição das secções, quando, em 1965, procedeu à criação de mais três instâncias económicas. Só que, globalmente, o correspondente número de procuradores não sofreu, nesse momento, quaisquer oscilações. Na prática, as novas secções resultavam de desdobramentos das já existentes, ainda que sem correspondência com a orgânica das corporações.

Por intermédio do diploma de 1969, era aumentado o número de representações de duas das secções económicas. O mesmo sucederia em outras duas (Indústria e Crédito e Seguros) no início da XI Legislatura, mas, agora, com o recurso a uma deliberação do Conselho Corporativo. Contrariamente ao que sucedera no início do anterior período legislativo, o instrumento adoptado não foi a publicação de uma lei. Bastou uma simples comunicação formal à Câmara Corporativa da deliberação tomada numa sessão daquele restrito conselho. Neste caso, trata-se de adaptar a orgânica do órgão consultivo da Assembleia Nacional e do Governo às modificações operadas nas Corporações do Crédito e Seguros e da Indústria. Os Decretos n.os 501/73 e 503/73, de 8 de Outubro, tinham criado novas secções nestas últimas instituições. Mas as oscilações no número de procuradores seriam deliberadas pelo Conselho Corporativo. No sector do Crédito e Seguros, o aumento não resultou apenas da Subsecção de Mutualidades, mas da duplicação dos eleitos por parte da corporação para as duas preexistentes subsecções.

Em 1969, Marcelo Caetano aproveitava a necessidade de introduzir alguns reajustamentos sobre a orgânica da Câmara Corporativa para promover a actuação de duas corporações económicas pouco conhecidas (Imprensa e Artes Gráficas e Espectáculos), conferindo-lhes mais vasta representatividade. Por isso, não remeteu a decisão para um órgão restrito e com sessões que não eram publicitadas. No derradeiro período do Estado Novo, as instâncias com maior número de membros já possuíam um outro impacto, até pelos interesses envolvidos. As modificações da Câmara poderiam ser determinadas pelo Conselho Corporativo, ainda para mais quando não se justificavam outras alterações orgânicas e as que eram implementadas decorriam de diplomas recentes.

A propósito das alterações efectuadas sobre os processos de designação dos procuradores após a criação das corporações, resta-nos mencionar as que se relacionaram com os membros

da Secção de Defesa Nacional, com os bastonários das ordens e com os ex-presidentes daquelas instituições de grau superior. Ainda que não colidissem com a distribuição pelos três principais sistemas de acesso que definimos, tiveram algumas consequências no plano da constituição global da Câmara.

Em 1968, era modificada a forma de indigitação dos membros da Secção de Defesa Nacional (Decreto-Lei n.º 48698, de 23 de Novembro). Passava a competir a um dos secretários- adjuntos do Secretariado-Geral da Defesa Nacional e a três oficiais generais (Exército, Armada e Força Aérea), para o efeito indicados pelos respectivos chefes de estado-maior. Já em 1966, Supico Pinto dera conta a Salazar das dificuldades que lhe haviam sido transmitidas pelos responsáveis, sobre a nomeação do sub-chefe do Estado Maior do Exército, procurador por inerência. Como era necessário escolher o relator para a lei de serviço militar (parecer n.º 6/IX), importava preencher o lugar232.

Desde a primeira sessão legislativa do marcelismo (1968-1969), aqueles quatro procuradores já não acederiam à Câmara por inerência das suas funções, como sucedia desde 1953. Nesta ocasião, tinham deixado de ser expressamente nomeados pelo Conselho Corporativo. Em 1968, continuava a ser aplicado, de acordo com a nossa classificação, o sistema B das designações para o órgão auxiliar da Assembleia Nacional e do Governo. Não haveria, portanto, quaisquer oscilações sobre o número global de membros da Câmara.

Também em 1968, voltava a ser alterado o processo de designação dos representantes das ordens profissionais, por intermédio do mesmo diploma que modificava o número de procuradores das províncias ultramarinas e dos membros das Secções de Imprensa e Artes Gráficas e dos Espectáculos. Caso os bastonários se encontrassem legalmente impedidos, poderiam delegar a representação num membro do conselho geral ou num dos seus antigos presidentes. Mantinha-se, portanto, o sistema de designação por parte de uma única instituição, tal como quando foi conferido assento, por direito próprio, na Secção de Indústrias Químicas, ao bastonário da, então recentemente criada (Decreto-Lei n.º 334/72, de 23 de Agosto), Ordem dos Farmacêuticos (Decreto-Lei n.º 44/74, de 14 de Fevereiro). Apenas neste último caso justificaria a introdução de mais um membro da Câmara Corporativa.

A propósito dos farmacêuticos, refira-se que se tratava de uma possibilidade ponderada desde 1934. Nos trabalhos preparatórios da primeira lei orgânica da Câmara Corporativa, Salazar equacionou conferir destaque à representação dos sindicatos nacionais dos advogados, dos médicos, dos engenheiros, dos agrónomos e silvicultores ou veterinários, dos arquitectos, dos

232 Cf. carta do presidente da Câmara Corporativa ao presidente do Conselho, em 11.12.1966 (AOS/CP-224, fls.

farmacêuticos e dos jornalistas. Apenas os quatro primeiros casos persistiriam até à promulgação do diploma e somente agrónomos e silvicultores ou veterinários não constavam logo enquanto ordens de profissionais liberais. Arquitectos e jornalistas seriam associados a uma única secção. Os farmacêuticos seriam retirados233. Nas VII e IX Legislaturas, um representante do Grémio Nacional dos Industriais de Especialidades Farmacêuticas (Fernando Carvalho Seixas) no Conselho da Corporação da Indústria seria eleito para a Subsecção de Indústrias Químicas. Fernando Carvalho Seixas, aliás, seria presidente daquele organismo de grau superior, tendo, por isso mesmo, assento na VIII e XI Legislaturas (nesta última, já como ex-presidente). Na X Legislatura, também teria assento na Câmara, como representante das entidades patronais, se bem que não invocasse a pertença a qualquer organismo específico, para além do conselho da corporação.

No início da XI Legislatura, seria conferido assento na Câmara Corporativa aos antigos presidentes das Corporações (Decreto-Lei n.º 561/73). Tratava-se de uma distinção, que, de resto, já tinha sido prevista nestas mesmas instituições. Mesmo que não ocorresse qualquer nova eleição no interior dos organismos de grau superior, não podemos deixar de incluir estes novos membros da Câmara entre aqueles que, no seu processo de designação, contaram com mais do que uma entidade (sistema A).

233

4.

A representação de interesses: o equiparado lugar da