• Nenhum resultado encontrado

O espaço social, a estrutura social, o agente e a dinâmica de reprodução social

CAPÍTULO I: AMAZÔNIA ORIENTAL BRASILEIRA E A MINERAÇÃO

2.3 O estruturalismo de Pierre Bourdieu

2.3.1 O espaço social, a estrutura social, o agente e a dinâmica de reprodução social

De acordo com Bourdieu (1996), todas as sociedades podem ser consideradas como espaços sociais, por serem estruturas de diferenças que não podemos compreender verdadeiramente a não ser construindo a base que fundamenta essas diferenças na objetividade. Essa base é justamente a estrutura da distribuição das formas de poder ou dos tipos de capital atuante e útil no contexto social localizado em determinado lugar e o momento.

Essa estrutura social descreve um estado de posições que é dinâmica em decorrência das propriedades ativas de conservação e/ou transformação do espaço social. Este é um campo de forças e de lutas, cuja necessidade se impõe aos agentes envolvidos de forma a utilizarem os meios e fins diferenciados conforme sua posição.

Dessa forma, o espaço social funciona como um espaço simbólico, constituído por diferentes estilos de vida e de grupos que não necessariamente implicam em uma proximidade física. Assim, sua distinção do espaço físico está relacionada com a ordem da coexistência dos elementos que o compreende, isto é, enquanto que o espaço físico é caracterizado pela exterioridade recíproca das posições, o espaço social é definido pela distinção das posições que o constitui.

Esse espaço social é formado pelos agentes sociais, pelas coisas por eles apropriadas e, por este motivo, pela respectiva posição ocupada em relação a outros agentes e a outros lugares. O agente está ligado a esse espaço, ao campo que não se confunde com a do espaço físico necessariamente e é nesse momento que o visível esconde o invisível (Bourdieu, 2001).

Essa relação entre o visível e o invisível é o que caracteriza a afirmação de que a interação nunca está inteira na interação tal como se é observada. Essa é a distinção entre a estrutura e a interação que promove o espaço social como um espaço simbólico.

A melhor definição de agente social é a citada pelo próprio Bourdieu (1989, p.21): Eu queria reintroduzir de algum modo os agentes, que Lévi-Strauss e os estruturalistas, especialmente Althusser, tendiam a abolir, transformado-os em simples epifenômenos da estrutura. Falo em agentes e não em sujeitos. A ação não é a simples execução de uma regra, os agentes sociais, tanto nas sociedades arcaicas como nas nossas não são apenas autômatos regulados como relógios, segundo leis mecânicas que lhes escapam.

Para Carvalho (2007) o espaço social onde os agentes sociais se movem e interagem configura-se em torno de determinada lógica simbólica, assim trata-se de estruturas simbólicas que norteiam e sustentam as relações sociais, estabelecendo os princípios de distanciamento e aproximação entre os agentes no âmbito da sociedade moderna.

A estrutura para Bourdieu é uma representação simbólica do real e por si só dinâmica, significando que deriva de uma conexão entre as estruturas mentais que seriam a

com as estruturas objetais/sociais (espaço social e tudo o que está inserido nele) nas quais de acordo com as palavras do autor: a realidade se faz corpo.

Assim, os agentes são condicionados e condicionantes, o que existe é a relação entre ambos e mais do que isso há a mediação.

Para o autor, os agentes certamente têm uma apreensão ativa do mundo, sendo capazes, portanto, de construir uma visão de mundo, mas essa construção é operada sob coações estruturais. Assim, se o mundo social tende a ser percebido como evidente e a ser apreendido, segundo uma determinação, é porque as disposições dos agentes, ou melhor, suas estruturas mentais através das quais eles apreendem o mundo social, são na realidade a essência do produto da interiorização de tal mundo, fazendo com que os agentes tendam a percebem o mundo como evidente e a aceitá-lo.

De acordo com Thiry-Cherques (2008) Bourdieu não trabalhou com o conceito de sujeito pelo fato de sermos o produto de estruturas profundas, como se fossemos a encarnação dos princípios geradores e organizadores de nossas ações, representações e pensamentos, conforme bem sendo descrito nos parágrafos acima citados.

O determinismo decorrente da visão de mundo é explicado pelo referido autor da seguinte maneira:

A percepção de mundo social é produto de uma dupla estruturação, uma objetiva que é socialmente estruturada pelas combinações das propriedades atribuídas aos agentes e instituições; e outra subjetiva que é estruturada pelos esquemas de percepção e apreciação que exprimem o estado das relações de poder simbólico que acabam por estruturar o juízo de gosto nas mais diferentes domínios (BOURDIEU, 1990, p.161).

O referido autor cita que o agente, independentemente da profissão que tenha e também de sua chamada “classe social”, não pode se conduzir, improvisar ou criar livremente; justamente pelo fato dele ser o sujeito da estrutura organizada do campo, dos seus códigos e preceitos. Porém, dentro de limites de restrições inculcadas e aceitas, a sua conduta, a improvisação e criação são livres e, de alguma maneira, conforma a estrutura estruturante do habitus. Pode-se dizer que o homem tece a sua teia e nela vive; sua liberdade depende exatamente da proporção de teia que teceu.

A inter-relação entre os conceitos de campo e habitus sustentam a dinâmica interna do espaço social, que é regida por entre os agentes que buscam a distribuição e/ou a manutenção das formas de capital, que são variadas e não restritas ao conceito econômico-

financeiro, para que sustentem suas posições dentro do próprio campo. É em decorrência dessa dinâmica que é possível compreender o fato de tratar-se de um fenômeno que estrutura e é estruturado por ele mesmo.

Para Thiry-Cherques (2008, p.175), estas lutas resultam da tendência de todo campo se reproduzir.

De acordo com Martins (1987), Bourdieu compreende o espaço social como sendo um produto de uma relação dialética entre uma situação e o habitus, sendo este reconhecimento fundamental no processo de reprodução social. De acordo com Almeida (2005), o conhecimento praxiológico tenta desvendar os mecanismos das relações de poder e dominação social, trazendo à tona as estratégias de manutenção da ordem social.

As lutas travadas no campo, conforme já explicitado, não são aleatórias, são lutas pela dominação15 no qual a violência simbólica é utilizada. Thiry-Cherques (2008) afirma que para Bourdieu a dominação não é uma luta similar a do tipo “classe dominante contra classe dominada”, mas sim ações pertencentes ao universo simbólico e infraconsciente, sendo essas ações ligadas ao favorecimento e beneficiamento dos agentes pelas regras vigentes, como se esses fossem privilegiados, do que por meio de ações físicas de opressão.

Dessa forma, o princípio da não consciência por parte dos agentes do jogo estabelecido e de tal dinâmica seria a base fundamental para que a reprodução acontecesse, e dentro dessa lógica, o princípio do conhecimento seria a primeira condição para a transformação social (ALMEIDA, 2005).

Esse ponto sobre transformação e inovação social vem de encontro ao suposto caráter imutável do habitus. Bourdieu desenvolveu sua teoria justamente em prol da verificação de possibilidades de mudanças sociais. Estas mudanças são advindas das lutas internas ocorridas no campo e que envolvem o habitus, mediante os posicionamentos dos agentes.

O conhecimento da prática constitui uma das condições da produção de uma prática da liberdade. Esta não repousa nem num voluntarismo individualista ou coletivo e muito menos num fatalismo cientifista, mas no conhecimento dos fundamentos da produção da prática, ponto de partida para a construção de um utopismo racional, capaz de fazer a travessia de um provável a um possível histórico. (MARTINS, 1987, p.45).

Para Bourdieu e Passeron (1982), o saber por parte dos agentes pode levar ao questionamento das relações sociais, através de um processo de conscientização do significado da realidade embutida nas relações enquanto jogos de poder, revelando inclusive a condição de contraditória que as permeia.

A questão do “saber”, de acordo com Wacquant (2002) esta conectada com o papel da ciência social no mundo, ou seja, Bourdieu acreditava não apenas na ciência social como um empreendimento do conhecimento, mas sim como um serviço público cuja missão é desnaturalizar e desfatalizar o mundo social, ofertando instrumentos para comandarem o inconsciente social que governa seus pensamentos e limita suas ações.

2.3.2 - O campo e seus constituintes

Para Bourdieu (1992), o “campo” trata-se de um espaço de relações entre grupos com distintos posicionamentos sociais, espaço de disputa e jogo de poder. A sociedade seria composta por vários campos, vários espaços dotados de relativa autonomia, mas regidos por regras próprias. Assim, o campo é um território de forças que se alinham, contrapõem e disputam o espaço social, assim:

A noção de espaço social contém, em si, o princípio de uma apreensão relacional do mundo social: ela afirma, de fato, que toda a realidade que designa reside na exterioridade mutua dos elementos que a compõe. Os seres aparentes, diretamente visíveis, que se trate de indivíduos quer de grupos, existem e subsistem na e pela diferença, isto é, enquanto ocupam posições relativas em um espaço de relações que, ainda que invisível e sempre difícil de expressar empiricamente, é a realidade mais real e o princípio real dos comportamentos dos indivíduos e dos grupos (BOURDIEU, 1996, p.48).

De acordo com Thiry-Cherques (2006), o habitus remete-se a um campo que se constitui no sistema imperceptível das relações estruturais, acabam por determinar as ações visíveis dos agentes, e ao mesmo tempo estruturam as relações. Assim, os atores sociais que tentam ocupar um espaço necessitam conhecer as regras do jogo dentro do campo social e que esteja disposto a lutar (jogar).

O que delimita a existência do campo são os interesses dos agentes e das instituições que a partir dos investimentos realizados, sejam relacionados ao status ocupado

quanto aos desejos e condições econômicas que defendem estrategicamente e em que se posicionam, constituindo e constituintes das relações de força. É um processo de diferenciação social que estrutura o habitus e é por este estruturado. (Bourdieu, 1992).

Para Carneiro (2006), o que é valorizado em um campo poderá não o ser em outro, uma vez que esse se caracteriza pelas relações objetivas entre as posições adquiridas pelos agentes no espaço de luta/jogo e de acordo com as regras determinadas. É, acima de tudo, um espaço de conflitos e de competência no qual a luta citada visa o estabelecimento de um monopólio sobre a espécie específica de capital que seja eficiente para construir uma autoridade e um poder.

Para Ortiz (1983), Bourdieu define campo como um espaço social que possui estrutura própria e relativamente autônoma em relação a outros espaços sociais, com uma lógica própria de funcionamento, de estratificação e princípios que regulam as relações entre os agentes sociais.

O campo, ao ser concebido como uma estrutura dinâmica, possui propriedades universais que Thiry-Cherques (2006) descreve como sendo o habitus específico, a estrutura, os capitais, a doxa e o nomos.

Wacquant (2002) cita a doxa como a atitude natural da vida diária, na coincidência das estruturas sociais e mentais por meio das quais o mundo magicamente aparece como auto-evidente, ou seja, é a opinião consensual e sua composição é posta além do alcance do debate e da elaboração.

O nomos é a lei fundamental, independente da de outros universos, ela avalia o que se faz no campo, as questões que estão em jogo, de acordo com princípios e critérios irredutíveis aos de outros universos. Para Bourdieu apud Pascal (1990), o nomos não tem antítese, define o pensável e o impensável, o prescrito e o proscrito, é incapaz de produzir as questões aptas a questioná-lo.

Thiry-Cherques (2008) afirma que tanto a doxa quanto o nomos são aceitos e praticados, ou seja, são legitimados no e pelo meio social do campo.

Com relação à estrutura do campo, Bourdieu (1983) diz que essa é um estado da relação de força entre os agentes ou as instituições engajadas na luta, ou melhor, da distribuição do capital específico que, acumulado no curso das lutas anteriores, orienta as

espaço é o campo almejam o monopólio da violência legítima (autoridade específica) para a conservação ou a subversão da estrutura da distribuição do capital específico.

A luta já citada que descreve a dinâmica do campo e o seu jogo de dominação é estabelecida por meio dos interesses dos agentes e grupos; interesse esse pautado na busca ou manutenção do capital e que fazem uso de estratégias para consegui-lo. Para Bourdieu (1984) a forma como o capital é repartido é o que promove as posições e, consequentemente, às disposições internas no campo.

De acordo com Azevedo (2003), nas sociedades desenvolvidas as alavancas mais eficientes de distinção são as posses de capital econômico e de capital cultural. Logo, os sujeitos ocuparão espaços mais próximos quanto mais similares forem a quantidade e a espécie de capitais que detiverem. Em contrapartida, os agentes estarão mais distantes no campo social quanto mais díspar for o volume e o tipo de capitais. Assim, pode-se dizer que a riqueza econômica (capital econômico) e a cultura acumulada (capital cultural) geram internalizações de disposições (habitus) que diferenciam os espaços a serem ocupados pelos homens.

Segundo Thiry-Cherques apud Bourdieu (2006, p.39) existem três tipos de capitais: a) O capital cultural: compreende o conhecimento, as habilidades e as informações de maneira geral, correspondente ao conjunto de qualificações intelectuais produzidas e transmitidas pela família, e pelas instituições escolares, sob três formas: o estado incorporado, como disposição durável do corpo (por exemplo, as forma de se apresentar em público); o estado objetivo, como a posse de bens culturais (por exemplo, a posse de obras de arte); estado institucionalizado, sancionado pelas instituições, como os títulos acadêmicos; b) O capital social: corresponde ao conjunto de acessos sociais, que compreende o relacionamento e a rede de contatos;

c) O capital simbólico: corresponde ao conjunto de rituais de reconhecimento social, e que compreende o prestígio e a honra.

O mundo social mais do que proporcionar a rotina da vida, permite através dos jogos sociais a grande justificativa da existência do agente, ou seja, a possibilidade deste se sentir vivo, de realizar-se por meio, por exemplo, da superação de desafios, do envolvimento com metas, ou mesmo de ter algum tipo de missão social. Complementando, é no convívio que se é capaz de se sentir esperado e importante como parte essencial para a realização ou efetivação de algo. É a possibilidade de sair do anonimato, ou mais, de sua insignificância.

Dito isto é necessário que se elucide que a partir do oferecimento por parte do mundo social do que há de mais raro, ou seja, o reconhecimento, a consideração ou se preferir simplesmente a razão de ser que dá sentido a vida, que trata-se justamente do capital simbólico.

Portanto, para Bourdieu (1990), todo tipo de capital (econômico, cultural, social) tende a funcionar como capital simbólico quando alcança um reconhecimento explícito ou prático. Em outros termos, esse não constitui uma espécie particular de capital, mas aplica- se a tudo aquilo que se possa ter capacidade de exploração e, portanto, posa ser reconhecida como legítima.

A amplitude do capital simbólico se aplica inclusive ao fato de que ser reconhecido também significa deter o poder de reconhecer, consagrar, dizer o que merece ser conhecido e reconhecido.

Através dos rituais de reconhecimento é que o agente reforça sua fé na função que ocupa e no grupo que o confere segurança na posição que ocupa, garantindo-lhe a sua identidade em conformidade com o que se espera que seja produzido pela definição social.

Wacquant (2002) cita que no espaço social, a articulação do capital econômico e do capital cultural é que circunscreve as linhas maiores de separação e de conflito entre as classes dominantes e as dominadas (definidas pelo volume de capital) e aquelas entre frações rivais de classe dominante (opostas pela composição de seu capital).

Nesse movimento de dominação surge a questão do poder simbólico, podendo ser definido como a habilidade para conservar ou transformar a realidade social pela formação de suas representações.

Para Capelle et al. (2005), Bourdieu defende a existência do poder simbólico, mediante o qual, as classes dominantes são beneficiárias de um capital simbólico, disseminado e reproduzido por meio de instituições e práticas sociais, que lhes possibilita exercer o poder. Para o autor citado, esses símbolos são instrumentos por excelência da integração social e tornam possível se obter o consenso acerca do sentido do mundo social o qual contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social dominante. O poder simbólico consiste então no poder invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber dos que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem.

O poder simbólico, por ser capaz de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou transformar a visão do mundo, reside na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença.

A dominação não é o efeito direto e simples da ação exercida por um conjunto de agentes investidos de poderes de coerção, mas o efeito indireto de um conjunto complexo de ações que se engendram na rede cruzada de limitações que cada um dos dominantes exerce sobre os dominados, assim é através da estrutura do campo que a dominação acontece (BOURDIEU, 1996).

Dessa forma, o acúmulo do capital determina a posição na estrutura e rege, dessa forma, a validade da luta que se estabelece a partir do jogo da dominação. Esta não é considerada pelos autores como explícita, mas sim via violência simbólica, refletida pela autoridade, logo ela é não evidente, é sutil.

Poderíamos dizer que os “jogadores” ou “lutadores”16 necessitam de uma estratégia que os permitam se articular diante do jogo estabelecido. Assim, de acordo com Thiry- Cherques (2006) as mais convencionais são as de conservação ou de subversão das estruturas sociais. É importante esclarecer que essa estratégia não é calculada e racionalmente determinada e planejada, mas sim uma conseqüência quase que natural da relação entre habitus e o campo. Ou como nos esclarece Thiry-Cherques (2006, p.39):

As estratégias mais comuns são as centradas: na conservação das formas de capital; no investimento com vistas à sua reprodução; na sucessão, com vistas à manutenção das heranças e ao ingresso nas camadas dominantes; na educação, com os mesmos propósitos; na acumulação, econômica, mas, também social (matrimônios), cultural (estilos, bens, títulos) e, principalmente, simbólica (status).

Bourdieu (1989) explica que ao se falar de estratégias de reprodução não se trata de simplesmente atribuí-las ao cálculo racional, ou mesmo à intenção estratégica ou às práticas através das quais se afirma a tendência dos dominantes. É para lembrar que o número de práticas organiza-se objetivamente, tendo por princípio o habitus, sem ter sido explicitamente concebidas e postas com relação a este fim, contribuindo para a reprodução

16 Jogadores e lutadores são termos utilizados para parafrasear os agentes, isso porque na teoria de Bourdieu o campo é um espaço nos quais estes travam lutas e jogos de poder em busca de novas posições ou como forma de manter as já conquistadas.

do capital possuído.

Foi substancialmente explorada por Bourdieu a questão da manutenção interna do campo, porém vale salientar sobre a entrada no próprio, ou seja, esta não se dá por si própria, há um “direito a”, assim é preciso que o suposto candidato ao campo esteja alinhado quanto aos valores, leis internas de funcionamento e capital mínimo para tal. Como o posicionamento dos agentes no campo é um processo de diferenciação, o ingresso no mesmo não poderia deixar de ser diferente do descrito, ou seja, há a necessidade de se preencher alguns “requisitos” (THIRY-CHERQUES, 2008).

Outro conceito importante que envolve o campo é a illusio. Para Bourdieu (1997) a

illusio é estar preso ao jogo, preso pelo jogo, acreditar que o jogo vale a pena ou, para dizê-

lo de maneira mais simples, se vale a pena jogar. É uma relação de encantamento com o jogo, que é o produto de uma extrema conexão entre as estruturas mentais e as estruturas objetivas (vertente formal do campo) do espaço social. É estar envolvido, tornar-se por meio do jogo.

Uma forma interessante de exemplificar a illusio é a demonstração desta em uma situação na qual pessoas que ocupam posições opostas e divergentes em um campo e que aparentemente parecem radicalmente opostas em tudo, mediante alguma situação ameaçadora ao campo, observa-se a formação de um acordo oculto e tácito a respeito do fato de que vale a pena lutar a respeito das coisas que estão em jogo no campo.