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CAPÍTULO I: AMAZÔNIA ORIENTAL BRASILEIRA E A MINERAÇÃO

3.1 Sobre a teoria do método estruturalista de pesquisa

Antes de iniciar a exposição dos conceitos é importante informar que o referencial teórico consultado para desenvolver este item, baseia-se exclusivamente na produção científica de Thiry-Cherques21.

Uma primeira abordagem do autor consolidou de maneira didática os principais conceitos originariamente compelidos da obra de Claude Lévi-Strauss através do artigo “O Primeiro Estruturalismo: Método de Pesquisa para as Ciências da Gestão” de 2006; um segundo artigo que trata sobre os principais conceitos, o método e a herança de Pierre Bourdieu: “A teoria na prática” (2006); além do livro “Métodos Estruturalistas: Pesquisa em Ciência de Gestão” de 2008.

Também é importante esclarecer que a base teórica sobre o qual o método estruturalista será abordado é a desenvolvida pela proposta de Lévi-Strauss com a contribuição focada no detalhamento da metodologia de pesquisa e em Pierre Bourdieu principalmente na parte de análise e interpretação dos dados coletados e conclusão.

Em seu percurso de etnólogo, Lévi-Strauss decidiu por criar uma pesquisa de campo que tentasse reconciliar a teoria com a prática, uma vez que ao se deparar com o instrumental metodológico utilizado na época percebeu que este não oferecia condições plenas de demonstração da realidade observada. A base científica por ele criada se propôs a desenvolver uma teoria do logicamente possível, construída a partir do real concreto.

Assim, utilizou os conceitos da lingüística de Saussure na transposição para o universo das relações sociais e construiu uma teoria de superação da dicotomia entre a realidade observável e o que poderia ser ordenado e se tornar objeto da ciência.

O método estruturalista não possui como prática o estudo sobre “o que se sente” nem tão pouco sobre as experiências vividas pelos indivíduos, e também não tem interesse em buscar as origens as pela qual determinado evento ocorreu, desta forma, seu principal objetivo é identificar a estrutura relacional que faz jus à realidade observável, assim observa a realidade para depois isolar os elementos estáveis que a possibilitará comparar e classificar o que foi encontrado.

Mas então no que consiste o método estruturalista de pesquisa e/ou investigação?

Consiste em elucidar, trazer à tona as estruturas profundas, subjacentes à consciência comum, através da construção de modelos lógicos e inteligíveis. Tem como propósito desvendar a forma, a ordem das relações e suas conexões, mediante a explicação daquilo que é inconsciente, ou seja, o que não é percebido pelos agentes.

Ao contrário das modalidades de investigação como o positivismo e o empirismo, o estruturalismo propõe que ao se investigar, também se faz uma leitura, selecionando uma dentre uma infinidade de leituras possíveis. Assim, o que se busca não é uma verdade irrefutável e sim a oferta de uma verdade momentânea de determinada circunstância dentre outras tantas possíveis e justificáveis.

Os temas atuais que normalmente são abordados pela análise estrutural divergem dos de vinte anos atrás, dentre os quais a predominância era a dependência de recursos, a gestão de ativos e os custos das transações. A partir do início do século XX os temas passaram a tratar de estudos sobre desempenho e racionalidade, cultura organizacional, produtividade e trabalho, o que favorece a realização do presente trabalho.

Em uma visão lévi-strausseana é possível existir dois tipos de modelos, um denominado mecânico que descreve a sociedade segundo um conjunto de regras; e os outros ditos modelos estatísticos que são um resumo quantitativo da sociedade. Como a observação de modelos mecânicos não é tão estatisticamente quantificável, é necessário a descrição de todos os fatos em si mesmos e em relação com o conjunto e a partir desse reconhecimento, parte-se para a identificação das operações que as produzem.

Ao término da observação será possível separar os elementos e relações que se repetem invariavelmente e que levarão a uma simulação da realidade observada, e após a análise e interpretação, à estrutura.

O modelo estrutural é o que possibilita o acesso à realidade, logo é o que ajuda a desvendar a estrutura profunda, inconsciente e tendenciosa do espírito humano. Na modelagem se identificam as relações sistemáticas e constantes que intermedeiam os elementos do observado.

A elaboração do modelo estrutural por enfatizar a relação entre os fenômenos tira o foco da investigação do elemento particular, principalmente do sujeito, assim primando pela condição geral humana. Isso não significa que o conteúdo advindo do “elemento

sujeito” seja desconsiderado do método de pesquisa, faz parte desse considerá-lo como substância a ser tratada até a confecção do modelo.

Poder-se-ia utilizar como exemplo o mapeamento das estruturas do mito, ou seja, para Thiry-Cherques (apud Lévi-Strauss, 2008) a substância do mito não está no estilo, nem na forma de narrar, nem na sintaxe, mas oculta na história que é contada pelo sujeito, uma vez que é derivada da diferença entre a realidade e aquilo que se crê.

A história contada, recontada e contada novamente por parte de diversos sujeitos possibilita examinar várias versões do mesmo mito e assim através da bricolagem22 construir os esquemas explicativos que originam o modelo estrutural.

O quadro abaixo refere-se a cadeia significante ou modelo heurístico do estruturalismo de Lévi-Strauss e demonstra graficamente a construção do modelo.

O modelo heurístico do estruturalismo

Dimensão sincrônica Dimensão diacrônica

Realidade referencial Seqüências matriciais dos mitos Termos marcados a partir da posição no mito Lógica da organização interna do mito. Bricolagem. Decodificação. O que está subentendido? Quais os análogos? Quais as generalizações? Comparação binária: cru/cozido; interno/externo; conteúdo/continente; vazio/cheio; etc

Comparação das cadeias significantes. Ordenamento em uma série das variantes conhecidas de um mito. Comparação de cada seqüência do mito com outras seqüências. Interpretação como a freudiana.

A comparação serve para observar analogias, não pode fundamentar a generalização.

Mito Mitemas Código Significação Repetição Estrutura

Quadro 13: O modelo heurístico do estruturalismo.

Fonte: THIRY-CHERQUES, Hermano. “Métodos estruturalistas: pesquisa em ciência de gestão”. São Paulo: Atlas, 2008, p.25.

O quadro acima demonstra que para que se possa construir o modelo é necessário: a) isolar os textos míticos homogêneos com base na intuição intelectual de que as estruturas internas dos mitos sejam análogas;

b) decompor os mitos em unidades de sentido (mitemas) com base no pressuposto de que cada unidade deve ter um papel isolável, uma categoria de sentido que se lhe pode abribuir;

c) analisar as unidades de sentido procurando conexões entre elas;

d) sintetizar o modelo, formulando um sentido geral das analogias, isto é, encontrar a estrutura comum.

e) integrar o sentido da estrutura em uma problemática geral, isto é, encontrar uma nova analogia, subjacente à estrutura manifesta. (THIRY-CHERQUES, 2008, p.26).

Na construção e descrição do modelo a partir da observação deve investigar como os elementos se relacionam entre si e também que elementos são imprescindíveis nestas relações.

Com o intuito de complementar a abordagem de Lévi-Strauss, é importante discorrer sobre a forma de pesquisar de Bourdieu, até para que se possa traçar um paralelo entre ambas as propostas. Para Bourdieu, a análise estrutural e a pesquisa empírica se dão simultaneamente, assim a construção da matriz de relações, a estrutura de articulação entre as posições acompanha, corrige e arremata a análise da lógica do campo.

Ele realiza uma crítica continuada ao longo da pesquisa, não só mantém a vigilância epistemológica como se pergunta sobre o que os discursos realmente revelam, a partir daí faz retificações sucessivas no esquema conceitual, fazendo com que o conceito expresse logicamente a completude da noção uma vez que a imagem implica uma simplificação do real (BOURDIEU, 1996, p. 175).

O processo investigativo e de análise e interpretação dos dados se compõe das seguintes etapas:

a) Marcação de uma prévia do esquema das relações dos agentes e instituições do objeto de estudo;

b) Decomposição de cada ocorrência significativa, característica dos sistemas de posições do campo (doxa, illusio, etc);

c) Análise das disposições subjetivas (habitus);

d) Construção de uma matriz relacional corrigida da articulação entre as posições (estrutura);

A pesquisa estrutural se encerra com a crítica a ela mesma, com o teste da sua consistência interna, com a declaração das suas precisões e das suas lacunas. É o momento em que a crítica se encontra com a validação do construto e que permite o questionamento quanto à aplicabilidade e veracidade das condições de possibilidade da estrutura, ou seja, não há pretensão de ter chegado à conclusão irrefutável de um fenômeno social, apresenta- se apenas um leitura do real.

Assim, é possível vislumbrar a maneira como o método estruturalista de pesquisa e/ou investigação é exercitado a partir da observação de um fenômeno social. As duas contribuições abordadas – Lévi-Strauss e Bourdieu – não divergem rispidamente entre si, pelo contrário, podem-se notar em alguns momentos pontos em comum, pontos que se complementam, e ainda alguns que permitem uma análise do que pode ser mais aplicável ou não em determinado estudo.

Após discorrer teoricamente sobre os princípios que norteiam a realização de uma pesquisa estruturalista, o presente trabalho segue definindo as diretrizes que nortearam a prática da investigação.

3.2 – Sobre a práxis da investigação: tipo de pesquisa, universo e amostra, coleta e