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Sistema de normatização e certificação – SISPAD (Sistema de Padronização)

CAPÍTULO I: AMAZÔNIA ORIENTAL BRASILEIRA E A MINERAÇÃO

1.1.7 Sistema de normatização e certificação – SISPAD (Sistema de Padronização)

Como forma de atingir um desempenho diferenciado no mercado em que atua, a empresa buscou o fortalecimento via sistema de certificações internacionais, conforme figura abaixo:

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• Diálogo Aberto

Figura 7: Sistema de padronização.

Assim, é possível compreender que todas as atividades que são desenvolvidas dentro do ambiente fabril devem ser descritas em forma de norma e ou procedimento para que seja reproduzida de maneira idêntica por todos os executantes, diminuindo a exposição a riscos e também sendo passível de auditoria.

Esse caminho favorece a padronização das atividades e de certa forma garantiria a qualidade e entrega do produto. Além do suposto ganho em reduções em índices de acidentes e aumento de produtividade, a partir da premissa da repetição das mesmas atividades e o aprendizado constante.

Esse sistema possui um desdobramento de documentação em níveis, conforme se segue: IV IV III III II II I I Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4

• RES, DED, MSGI

• Padrão Gerencial de Sistema (PGS) • Especificação de Produtos e Serviços (EPS), • Padrão Técnicos de Processo (PTP), • Procedimentos Operacionais (PRO), • Procedimento Administrativo (PRA), • Ordem de Serviço (OS),

• Procedimentos Ambientais (PRAM). • Registros

Além disso, é composto por DED’s (Deliberações da Diretoria), conforme figura abaixo:

Figura 9: DED – Deliberação da Diretoria no SISPAD.

Este instrumento compreende o manual de sistema da qualidade, os PGS’s (padrão gerencial de sistema) por gerência de área e processos:

Figura 10: PGS – Padrão Gerencial de Sistema.

Figura 11: PRA – Procedimento Administrativo.

Figura 12: PRO – Procedimento Operacional.

Faz parte dessa metodologia de planejamento, execução e avaliação das rotinas, atender às seguintes certificações:

• NBR ISO 9001 – Revisão 2000 para a qualidade de produto;

• NBR ISO 14001 - Revisão 2004, para gestão ambiental;

• SA 8000 – Revisão 2001, para responsabilidade social.

Esse sistema é informatizado e como tal seu acesso é via computador e rede. Todas as áreas possuem salas equipadas com computadores, nas quais os empregados podem acessar a documentação necessária para a execução das tarefas. Além disso, há a prática do Treinamento no Local de Trabalho (OJT) que é realizado constantemente, seguindo exatamente os procedimentos. Essa prática também está descrita no SISPAD.

Com o detalhamento do sistema de normatização e padronização encerro a etapa de caracterização do universo racional e formal representativo do vertente formal do campo da PAB.

Essa descrição formal é constituída por estruturas objetivas (vertente formal do campo) que demonstram os limites e influenciam nas relações internas e externas à PAB. Essas estruturas já foram exploradas em termos teóricos por autores8 que pesquisaram o universo das relações e que contribuem como um elemento diferenciador nas discussões com relação à sua aplicabilidade em pesquisas na área organizacional.

A exposição de todos os tópicos citados acima com relação à empresa PAB cumpre sua função de entendimento dos limites e expectativas da empresa no que se refere à padronização, estruturação e organização interna do funcionamento, no qual todos os empregados devem se ajustar e foi possível graças a meu pertencimento ao universo institucional.

A seguir, será apresentado o referencial teórico a ser utilizado, pautado na teoria estruturalista, como forma de aproximar essas duas realidades e vislumbrar uma investigação empírica consistente conceitualmente com aplicabilidade prática no campo da pesquisa científica.

CAPÍTULO II - UMA BREVE APROXIMAÇÃO ÀS BASES EPISTEMOLÓGICAS DO ESTRUTURALISMO: o filosofar sem sujeito

A presente pesquisa utiliza como referencial teórico-metodológico, o estruturalismo. Desta forma, é importante discutir os alicerces da referida teoria para melhor embasar o trabalho.

Inicialmente, o que se percebe é que ao buscar a epistemologia que circunscreve o universo do estruturalismo é que a primeira fronteira de análise trata justamente da dificuldade de se separar o estruturalismo, das obras de Claude Lévi-Strauss, se é que isso é possível. Assim, este capítulo busca discorrer superficialmente sobre as origens e principais conceitos da referida teoria, como forma introdutória ao assunto.

Os conceitos estruturalistas serão tratados, utilizando-os como “pano de fundo” e contextualização de todo o restante do trabalho, uma vez que a discussão teórica irá se desdobrar em dois autores que se serviram dessa base para desenvolver suas próprias teorias.

Para que se possa alcançar a proposta dessa dissertação faz se necessário percorrer por essas instâncias, de maneira a preservar um nível de profundidade conceitual que permita a compreensão dos conteúdos que se seguem, resguardando o intuito principal de ter condições de aplicar adequadamente o método de pesquisa estruturalista principalmente tendo Lévi-Strauss como ponto focal e Pierre Bourdieu como fonte que servirá de base para a análise e interpretação dos dados coletados.

De acordo com Dosse (1994), o termo “estruturalismo” tem origem no Cours de

Linguistique Générale de Ferdinand de Saussure9 e é denominado como uma corrente de

pensamento que surgiu no começo do século XX, tendo sido incorporado ao método de diversas disciplinas, como a linguística, a antropologia, a filosofia, a matemática e a psicologia.

Para Thiry-Cherques (2008) o estruturalismo nasceu da conjunção do vazio epistemológico com tendências que buscam preencher os espaços gerados por modelos explicativos ultrapassados. Tal vazio teria sido gerado pela tríade composta pelo positivismo lógico, pelo pensamento dialético e pela fenomenologia.

Rocha (1986) conceitua o estruturalismo a partir da comparação com o existencialismo, sendo que este último se configura por uma apaixonante pregnância das situações ao nível da experiência e da inteligibilidade, enquanto que o estruturalismo manifesta o esforço da racionalização, como um novo discurso do método que diferentemente do paradigma existencialista, acentua constantemente o desvelamento dos conteúdos latentes, isto é, das propriedades mais profundas.

Segundo Thiry-Cherques (apud Lévi-Strauss, 2008) a diferença de outras linhas de pensamento, como o marxismo e a fenomenologia é que no estruturalismo o termo estrutura é conceituado como algo inacessível à observação e à descrição observacional. O estruturalismo procura captar os fenômenos humanos aquém da consciência que deles se tem, escolhendo como terrenos de estudos privilegiados as ordens de fatos muito insignificantes e desprovidas de implicações práticas.

Saussure considera tais agrupamentos como sintagmáticos10 e paradigmáticos11, no qual o primeiro a relação é de seqüência (frase) e no segundo prevalece a oposição (ROCHA, 1976).

Ainda seguindo sob a perspectiva do autor citado acima, uma das dualidades presentes nas obras de Saussure e também de Lévi-Strauss é a de sincronia-diacronia, na

9 Linguista e filósofo suíço que deu origem a grande parte da linguística contemporânea. Suas elaborações teóricas propiciaram o surgimento do estruturalismo (ABBAGNANO, 2007, p.721).

10 De acordo com a teoria de Saussure, sintagmático é a combinação de formas mínimas numa unidade lingüística superior, e surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento (ABBAGNANO, 2007, p.1073).

qual o objeto científico situa-se de acordo com a temporalidade nas relações do sistema. No conceito de Saussure uma visão sincrônica busca entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo; em contraste com a visão diacrônica do estudo da linguística histórica, no qual o foco do estudo da mudança dos signos acontece no eixo das sucessões históricas (ABBAGNANO, 2007, p. 315).

Esses conceitos acerca de significante, significado, sincronia e diacronia fazem parte do universo estruturalista através de discussões e debates que permeiam a realidade dos defensores e críticos dessa linha teórica.

A finalidade de toda atividade estruturalista é de reconstituir um “objeto”, de maneira a manifestar nesta reconstituição as regras do funcionamento deste. Dessa forma, a estrutura é então uma simulação dirigida do objeto, já que este imitado faz parecer qualquer coisa que permanecia invisível ou ininteligível. Essa simulação não restitui o mundo tal como ele o tomou e é nisso que o estruturalismo é importante. (BARTHES, 1967).

De acordo com Thiry-Cherques (2008) as estruturas são construções mentais, é algo que se encontra sob o manto da aparência e por não ser uma fantasia é um conteúdo apreendido e concebido como uma propriedade do real.

Jean Piaget (1974), psicólogo suíço que construiu sua teoria acerca da inteligência do homem utilizando-se dessa teoria, afirma que o estruturalismo procura a explicação do sistema em uma estrutura subjacente que permite, de certo modo, sua interpretação dedutiva e que se trata de reconstituir pela construção de modelos, logo a estrutura não faz parte do domínio dos “fatos” constatáveis e, em particular, permanece “inconsciente” aos membros individuais do grupo considerado.

A descentralização do sujeito significou que o foco da investigação de qualquer elemento particular passa a exclui o sujeito e as questões a ele relacionadas, como a subjetividade e a liberdade individual. A ênfase é na condição humana, nos seus limites e restrições inconscientes e os padrões que a conformam.

Para Azzan (2008) Lévi-Strauss considerava o Homem mais como um signo relacional do que como um conjunto de significados que se auto-determina, o que faz com que o número de estruturas inconscientes seja necessariamente finito, reduzindo e limitando a liberdade de ação humana a uma escolha entre as alternativas possíveis em determinado momento e, em decorrência disso, é chamado por diversos autores de filosofia sem sujeito.

O termo estrutura representa um conjunto de elementos solidários entre si, ou no qual suas partes são funções umas das outras. Logo, os membros desse todo se acham entrelaçados de tal forma que não existe a independência de uns em relação aos outros, mas sim uma inter-relação, e segundo Lévi-Strauss (1971) o estruturalismo considera a existência de estruturas superficiais (as que detectamos diretamente por observação) e estruturas profundas (as estruturas lógicas, que subjazem sob o aparente e o imediato).

Uma estrutura, para Piaget (1974, p.8) “é um sistema de transformações que comporta leis enquanto sistema que se conserva ou se enriquece pelo próprio jogo de suas transformações, sem que estas conduzam para fora de suas fronteiras ou façam apelo a elementos exteriores”.

No Dicionário de Filosofia de Abbagnano (2007, p.438) estrutura em sentido lógico significa que:

É um mapa ou plano de uma relação e como tal pode ser concebida de dois modos:

Como algo que constitui a ordem ou a substância da realidade em exame e, portanto, determina necessariamente todas as suas determinações, de tal modo que as torna infalivelmente previsíveis;

Como modelo ou construto hipotético, passível de interpretações diversas, que exerça condicionamentos não necessitantes e que possibilite apenas previsões prováveis.

É importante diferenciar “sistema” de “estrutura”, ou seja, a teoria geral dos sistemas tem sua origem nos trabalhos de Ludwig von Bertalanffy e afirma que as propriedades dos sistemas não podem ser descritas com seus elementos separados, mesmo porque um sistema é justamente um conjunto de elementos interconectados harmonicamente, de modo a formar um todo organizado (MACIEL, 1972).

Já a estrutura é um conjunto de relações que não tem necessariamente o atributo de funcionalidade, ou seja, são não-causais, não revelam a origem dos elementos nem o modo como operam, mas as condições, as formas de relações (leis de concordância, de

se tem (THIRY-CHERQUES, 2006). Esses aspectos são de grande importância para o aprofundamento do referencial teórico e como tal será amplamente discutido nos capítulos que se seguem.

De acordo com as definições do Dicionário de Filosofia de Abbagnano (2007), toda estrutura se distingue em três características básicas: como um sistema ou totalidade; com leis de transformação que conservam ou enriquecem o sistema e pela auto-regulação.

Sobre a totalidade, Piaget (1974) afirma que uma vez que a estrutura é formada por elementos que estão subordinados a determinadas leis e estas não serem cumulativas, ainda caracterizam o sistema como um todo dissociado das propriedades particulares dos elementos.

Com relação às transformações, a lógica é baseada no entendimento de que se a totalidade depende das suas leis internas, consequentemente, as leis são estruturadas e estruturantes, assim sendo, é a bipolaridade de propriedades que explica um sistema de transformações.

No tocante à auto-regulação, esta busca a conservação e um determinado fechamento significam que as transformações inerentes a uma estrutura não conduzem para fora de suas fronteiras e não engendram nada mais do que os elementos que pertencem sempre à estrutura que conservam suas leis.

Para Thiry-Cherques (2006), o modelo estruturalista é focado nas relações, diferentemente dos demais como os sistêmicos que são focados nos elementos, ou os funcionalistas que dão maior importância às operações, assim sua fidedignidade vem da definição das relações.

A estrutura não está relacionada à realidade histórica e também não é submetida a uma lógica de causa e efeito que em outras abordagens teóricas remeteria a sua origem, mas sim aos modelos construídos sobre sua base. Assim, ela não foca fenômenos isolados ou se concentra na elucidação dos sistemas – de como as coisas funcionam – a idéia central do estruturalismo trata das relações determinantes na explicação dos objetos psicossociais.

Ela não é uma explicação dos “porquês”, mas sim a descrição lógica das relações e vivências em uma determinada situação.

Na visão lévi-straussiana, a idéia principal por trás do estruturalismo é a convicção do “espírito humano”, ou seja, que é a nossa condição humana que permite um

“pensamento em comum”, ou seja, uma racionalidade, e como tal compartilhamos, independentemente de época e de lugar, padrões que se refletem, na forma como nos organizamos, nos relacionamos, por meio dos hábitos e costumes.

Por não existir uma “fórmula pronta e mágica” para descrever a estrutura, normalmente é ela mesma que indica a melhor maneira de ser descrita, de acordo com o conteúdo, assim é possível que seja representada desde um texto explicativo até uma forma gráfica como uma tabela, ou ainda, um sociograma, organograma ou uma rede de relações. Descrevê-la é transportar a uma linguagem adequada à ordenação latente de um conjunto de conceitos (THIRY-CHERQUES, 2006).

O estruturalismo possui uma vasta gama de discussões polêmicas ao longo de sua existência, e em vários momentos teve seus conceitos questionados e refutados, como por exemplo, a alegação de que as estruturas não poderiam ser apresentadas como universais, isto é, que não se teria como saber, cientificamente, se o chamado “espírito humano” é igual e replicável para todos.

O estruturalismo não discorda que as subjetividades são incomparáveis e incomunicáveis, mas que isto não seria suficiente para promover a particularização da racionalidade. Ao contrário, argumentam os estruturalistas, que se nos relacionamos é porque temos algo em comum que vai além da subjetividade, algo que não se tem consciência, ou seja, temos uma instância mental com uma estrutura que é compartilhada por toda a humanidade. (LÉVI-STRAUSS, 1973).

Uma outra crítica ao estruturalismo diz respeito à questão da gênese e história dos fenômenos, ou seja, como se desconsiderasse as estruturas diacrônicas. Na realidade, o estruturalismo não nega esta existência, apenas afirma que não é possível o aprofundamento das estruturas em termos de tempo e processo evolutivo uma vez que esses fatores são vivenciados pelos sujeitos dentro de uma condição consciente e não inconsciente, justamente onde se concentra a estrutura que interessa ser estudada. (THIRY- CHERQUES, 2006).

Para Rocha (1976), a teoria estruturalista provém de uma visão ao mesmo tempo comum e abrangente de diversos autores que se tornaram ícones no que diz respeito ao entendimento da totalidade dos fenômenos sociais; destacando o próprio Saussure na

linguística, Benacerraf na filosofia da matemática, além da psicanálise de Lacan, a teoria literária de Barthes e da obra de Foucault.

Em todas as tendências estruturalistas existe a intersecção das seguintes teses: existência de leis, estruturas, sistemas formais, que subjazem a multiplicidade e diversidade dos fenômenos sociais; e o primado das relações sobre os termos que elas estabelecem (ROCHA, 1972).

Interessa para este trabalho, como forma de complementar e consolidar o capítulo sobre as bases epistemológicas do estruturalismo, a obra de Lévi-Strauss o considerando como o grande representante e consagrador da antropologia estruturalista, sendo até a atualidade fonte geradora de conhecimento acerca do pensamento estruturalista e de sua metodologia de pesquisa, como no caso, desta dissertação.

Além disso, seu trabalho serviu como fonte de inspiração para novas abordagens, como, por exemplo, a de Pierre Bourdieu, autor que foi eleito como norteador do capítulo referente à interpretação dos dados coletados na pesquisa, e por este motivo, tendo sua produção teórica mais amplamente discutida e seus conceitos explorados na medida necessária para a composição de uma base consistente de análise na pesquisa.