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CAPÍTULO 4 – DIREITO COMPARADO

4.3. Espanha

Na Espanha, a infiltração de agentes em organizações criminosas é regulada pela Ley Organica n. 5/1999, de 13 de janeiro, que introduziu o artigo 282 bis na Ley de Enjuiciamiento Criminal604.605 Esta mesma Lei introduziu no

El funcionario o empleado público que por imprudencia, negligencia o inobservancia de los deberes a su cargo, permitiere o diere ocasión a que otro conozca dicha información, será sancionado con prisión de uno a cuatro años, multa de un mil a treinta mil pesos e inhabilitación especial de tres a diez años”.

601 Rodrigo Garcia Vilardi e Wagner Roby Gídaro, O crime organizado e o terrorismo na Argentina. In: Crime organizado – aspectos processuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 80.

602 Carlos Enrique Edwards, El arrepentido..., ob. cit., p. 58.

603 Enrique Bacigalupo, Manual de Derecho Penal, parte geral. Bogotá: Temis-Ilanud, 1984, p. 208. 604

“Artículo 282 bis.

1. A los fines previstos en el artículo anterior y cuando se trate de investigaciones que afecten a actividades propias de la delincuencia organizada, el Juez de Instrucción competente aspectos processuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 80.

país – de maneira “instrumental”606, diga-se – a definição de organização criminosa, presente no artigo 282 bis, 4, do mesmo diploma legal.607

604 Carlos Enrique Edwards, El arrepentido..., ob. cit., p. 58.

604 Enrique Bacigalupo, Manual o el Ministerio Fiscal dando cuenta inmediata al Juez, podrán autorizar a funcionarios de la Policía Judicial, mediante resolución fundada y teniendo en cuenta su necesidad a los fines de la investigación, a actuar bajo identidad supuesta y a adquirir y transportar los objetos, efectos e instrumentos del delito y diferir la incautación de los mismos. La identidad supuesta será otorgada por el Ministerio del Interior por el plazo de seis meses prorrogables por períodos de igual duración, quedando legítimamente habilitados para actuar en todo lo relacionado con la investigación concreta y a participar en el tráfico jurídico y social bajo tal identidad.

La resolución por la que se acuerde deberá consignar el nombre verdadero del agente y la identidad supuesta con la que actuará en el caso concreto.

La resolución será reservada y deberá conservarse fuera de las actuaciones con la debida seguridad. La información que vaya obteniendo el agente encubierto deberá ser puesta a la mayor brevedad posible en conocimiento de quien autorizó la investigación. Asimismo, dicha información deberá aportarse al proceso en su integridad y se valorará en conciencia por el órgano judicial competente”.

605 Note-se que mesmo antes da regulamentação legal pela Lei n. 5/1999, a maior parte da doutrina e da

jurisprudência já sustentava a admissibilidade do agente infiltrado, considerando que sua atuação estaria abrigada por uma causa de exclusão de ilicitude, nomeadamente o cumprimento do dever. Nesse sentido, já haviam se manifestado tanto o Supremo Tribunal Espanhol (acórdãos de 4 de março de 1992 e 2 de julho de 1993) quanto o Tribunal Constitucional Espanhol (acórdão de 21 de fevereiro de 1983). (Isabel Oneto, O

agente infiltrado..., ob. cit., p. 99).

606 Isabel Sánchez García de Paz sustenta que a definição de crime organizado apresentada é “instrumental”

pois o objetivo maior da referida Lei era instituir, no ordenamento jurídico espanhol, a figura do agente infiltrado, e não elaborar uma definição de organização criminosa em si. Tal definição, dessa maneira, estaria relegada a um segundo plano. (Isabel Sánchez García de Paz, La criminalidad organizada..., ob. cit., p. 31). Para outros autores, como Sílvia Planet Robles, no entanto, a Lei 5/1999 é, ainda assim, dotada de extrema importância, uma vez que foi responsável pela positivação do conceito de crime organizado na legislação espanhola, até então carente de uma regulamentação legal da figura. (Sílvia Planet Robles, Políticas de seguridad y prevención en el estado español en materia de delincuencia organizada. La seguridad en la

sociedad del riesgo: un debate abierto. Barcelona: Atelier, 2003, p. 171). De toda sorte, como tivemos já a oportunidade de salientar em conjunto com Marco Antônio Pinheiro Machado Cogan, a tipificação merece críticas, vez que não existe diferenciação entre as condutas de participação em organização criminosa e de formação de quadrilha ou bando, ficando a nota distintiva apenas por conta do rol de crimes apresentados na lei, cuja prática teria o condão de transformar determinada conduta de associação delitiva em criminalidade organizada. (Maria Jamile José e Marco Antônio Pinheiro Machado Cogan, Crime organizado e terrorismo na Espanha. In: Crime organizado – aspectos processuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 125).

607 “Art. 282 bis. 4. A los efectos señalados en el apartado 1 de este artículo, se considerará como delincuencia organizada la asociación de tres o más personas para realizar, de forma permanente o reiterada, conductas que tengan como fin cometer alguno o algunos de los delitos siguientes:

Delito de secuestro de personas previsto en los artículos 164 a 166 del Código Penal. Delitos relativos a la prostitución previstos en los artículos 187 a 189 del Código Penal.

Delitos contra el patrimonio y contra el orden socioeconómico previstos en los artículos 237, 243, 244, 248 y 301 del Código Penal.

Delitos relativos a la propiedad intelectual e industrial previstos en los artículos 270 a 277 del Código Penal.

Delitos contra los derechos de los trabajadores previstos en los artículos 312 y 313 del Código Penal. Delitos de tráfico de especies de flora o fauna amenazada previstos en los artículos 332 y 334 del Código Penal.

No país, diferentemente do que ocorre no Brasil, a infiltração em organizações criminosas pode ser realizada não apenas por agentes estatais, mas também por pessoas estranhas aos quadros da polícia, sendo suficiente, para que se caracterize a figura do agente infiltrado, o fato de atuar sob o controle do Estado.608 No entanto, em todos os casos, a infiltração deve sempre ser precedida de autorização, a qual pode ser outorgada tanto pelo Juiz Instrutor competente quanto pelo representante do Ministério Público, conforme determina o artigo legal supramencionado. Tal como na legislação alemã, contudo, em casos de urgência a ante a impossibilidade de obter-se a autorização tanto judicial quanto ministerial, admite-se que se inicie a infiltração sem autorização, desde que esta seja suprida logo após o seu início.609

Não dispõe a lei espanhola, tal qual a brasileira, acerca do período de duração da infiltração. Assim sendo, tal tarefa tem ficado a cargo da doutrina, a qual tem entendido que um prazo de seis meses é razoável para a medida, sem prejuízo de eventual prorrogação.610 A doutrina aceita, ainda, a possibilidade de o Ministério Público ou o juiz, com o objetivo de manter sob controle a atividade dos agentes infiltrados, solicitarem informações periódicas sobre o desenvolvimento da investigação.611

Com relação à responsabilidade penal do agente infiltrado, a Espanha optou, assim como a maior parte dos países que adotam a infiltração como

Delito de tráfico de material nuclear y radiactivo previsto en el artículo 345 del Código Penal. Delitos contra la salud pública previstos en los artículos 368 a 373 del Código Penal.

Delito de falsificación de moneda previsto en el artículo 386 del Código Penal.

Delito de tráfico y depósito de armas, municiones o explosivos previsto en los artículos 566 a 568 del Código Penal.

Delitos de terrorismo previstos en los artículos 571 a 578 del Código Penal.

Delitos contra el Patrimonio Histórico previstos en el artículo 2.1.e de la Ley Orgánica 12/1995, de 12 de diciembre, de represión del contrabando”.

608 Juan Muñoz Sanches, El agente provocador. Valencia: Tirant lo Blanch, 1995, p. 41. 609 Isabel Oneto, O agente infiltrado..., ob. cit., p. 99.

610 Na realidade, o artigo 282 bis, 1, determina que a identidade fictícia será outorgada ao agente pelo prazo

de seis meses, prorrogáveis por períodos de igual duração. Como o agente apenas pode atuar de maneira infiltrada se dispuser de uma identidade fictícia, a doutrina espanhola presume que este é, também, o período pelo qual pode ser autorizada a operação.

611 Maria Dolores Delgado García, El agente encubierto: técnicas de investigación. Problemática y legislación

técnica de investigação, por criar para a hipótese uma causa de escusa absolutória – a qual, no caso espanhol, está ligada fortemente ao princípio da proporcionalidade. Assim, o agente infiltrado apenas está isento de responsabilidade penal se ficar demonstrado que suas ações foram conseqüência necessária da investigação na qual estava envolvido e que eram proporcionais aos fins que buscavam. Ainda, deve restar claro que não foi o próprio agente que provocou o delito, conforme estabelece o artigo 282, bis, 5, da Ley de Enjuiciamiento Criminal.612

Note-se que a doutrina e jurisprudência espanhola distinguem o agente infiltrado do agente provocador, embora não exista no país disposição legal acerca do tema. Via de regra, considera-se que os agentes infiltrados, diferentemente dos provocadores, atuam dentro dos limites delineados pela Constituição, e que suas condutas estão justificadas pelo cumprimento dos deveres relativos aos seus cargos.613 Situação diferente seria a do agente provocador: a doutrina majoritária espanhola entende que ele deve responder penalmente pelo delito que incita o provocado a cometer.614