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A lei estabeleceu dois tipos de autorização de residência de acordo com a sua duração: (a) Autorizações de residência temporária 54 – que são válidas por um período de um ano a

O REGIME JURÍDICO DA IMIGRAÇÃO: A ENTRADA, PERMANÊNCIA, SAÍDA E AFASTAMENTO DE ESTRANGEIROS DO TERRITÓRIO NACIONAL

7. A lei estabeleceu dois tipos de autorização de residência de acordo com a sua duração: (a) Autorizações de residência temporária 54 – que são válidas por um período de um ano a

partir da data de emissão do respectivo título e são renováveis por períodos sucessivos de dois anos; e

(b) Autorizações de residência permanente55 – que não têm limite de validade, mas cujo título

deve ser renovado a cada cinco anos.

Para a concessão de uma autorização de residência, o candidato deve preencher, cumulativamente, vários requisitos. São estes, a um tempo, as condições para a concessão de vistos de residência, de estada temporária e de curta duração56. São também, a outro, os

seguintes requisitos adicionais57:

(i) Ser portador de um visto de residência válido;

(ii) Não se verificar nenhum facto que, se fosse conhecido pelas autoridades portuguesas, obstasse à concessão do visto;

(iii) Estar presente em território português;

(iv) Ter alojamento garantido; (v) estar registado na segurança social, sempre que aplicável; (vi) Não ter sido condenado por qualquer crime punível em Portugal com pena privativa de liberdade de duração superior a um ano. Estas condições são cumulativas com os requisitos

52 Cfr. artigo 40.º, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho. Muito crítico quanto a esta curta enumeração de direitos, cfr. J. DE MELO ALEXANDRINO, A nova lei, pp. 25-26.

53 Cfr. artigo 36.º, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho.

54 Cfr. artigos 74.º, n.º 1, alínea a), e 75.º da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho. 55 Cfr. artigos 74.º, n.º 1, alínea b), e 76.º da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho. 56 Cfr. supra.

57 Cfr. artigo 77.º, n.º 1, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho, bem como o artigo 53.º, do Decreto Regulamentar n.º 87/2007, de 5 de Novembro.

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específicos adicionais criados para cada tipo de autorização de residência58. Deve salientar-se,

no entanto, que, em alguns casos, os nacionais de Estados terceiros não precisam de visto para a concessão de autorização de residência temporária59.

Para além destes requisitos, os requerentes de uma autorização de residência permanente devem também preencher, cumulativamente, as seguintes condições60:

(1) Devem ter uma autorização de residência temporária há pelo menos cinco anos;

(2) Durante os últimos cinco anos de residência em território português não podem ter sido condenados em pena ou penas que, isoladas ou conjuntamente, ultrapassem um ano de prisão, ainda que, no caso de condenação por crime doloso previsto na lei ou com ele conexo ou por crime de terrorismo, por criminalidade violenta ou por criminalidade especialmente violenta ou altamente organizada, a respectiva execução tenha sido suspensa;

(3) Devem possuir meios de subsistência; (4) Devem ter alojamento garantido; e

(5) Devem provar ter conhecimento do português básico. A autorização de residência pode ser cancelada sempre que61:

(a) O seu titular tenha sido objecto de uma decisão de afastamento coercivo ou de uma decisão de expulsão judicial do território português;

(b) Tenham sido empregues declarações falsas ou enganosas, documentos falsos ou falsificados ou outros meios fraudulentos para obtenção da autorização de residência;

(c) Haja razões sérias para acreditar que o seu titular tenha cometido, ou tem a intenção de cometer, crimes graves no território da União Europeia;

(d) Se verifiquem razões de ordem ou de segurança públicas que obstem ao seu cancelamento; ou

(e) Quando o interessado, sem motivos razoáveis, esteja ausente de Portugal por longos períodos.

58 Estes encontram-se previstos nos artigos 88.º a 90.º; 90.º-A (cfr., a este propósito, o Despacho n.º 11820-A/2012, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 171, de 4 de Setembro de 2012, alterado pelo Despacho n.º 1161-A/2013, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 19, de 28 de Janeiro de 2013); 91.º a 94.º; 98.º a 101.º; 109.º a 111.º; 116.º; 121.º-A e 121.º-B; e 123.º, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho. Cfr. também os artigos 54.º a 62.º do Decreto Regulamentar n.º 84/2007, de 5 de Novembro. 59 São aqueles que se encontram previstos no artigo 122.º, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho. Cfr. também o artigo 61.º, do Decreto Regulamentar n.º. 84/2007, de 5 de Novembro.

60 Cfr. artigo 80.º, n.º 1, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho, bem como artigo 64.º, do Decreto Regulamentar n.º 84/2007, de 5 de Novembro.

61 Cfr. artigo 85.º da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho.

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Após análise detalhada das condições elencadas nos parágrafos anteriores, pode-se concluir que não existe uma discricionariedade administrativa na decisão de conceder ou não a autorização de residência. Desta forma, pode falar-se, também aqui, de um direito à concessão da autorização de residência.

A única excepção a esta conclusão diz respeito às autorizações de residência emitidas ao abrigo do chamado “regime excecional”62.

Este tipo de autorização é, ao mesmo tempo, residual e excepcional. É residual porque apenas está disponível para os cidadãos que não preencham os requisitos dos restantes tipos de autorização de residência. E é excepcional, não só porque isso depende de uma iniciativa pública (na sequência de uma proposta do diretor-geral do SEF ou por iniciativa do Ministério da Administração Interna), mas também porque é realmente discricionária.

A um tempo, a respectiva estatuição – “[…] pode, a título excepcional, ser concedida autorização de residência temporária”63 – indica que este é um caso de discricionariedade

optativa.

A outro, os conceitos indeterminados utilizados na expressão – “razões de interesse nacional”, “razões humanitárias” e “razões de interesse público decorrentes do exercício de uma actividade relevante no domínio científico, cultural, desportivo, económico ou social” – evidenciam estarmos perante, mais uma vez, conceitos indeterminados-tipo. É, portanto, um caso de um duplo grau de margem de livre decisão administrativa64. Em todo o caso, o acto

que decida os pedidos formulados ao abrigo deste regime deve ser devidamente fundamentado65.

A lei confere, portanto, às autoridades competentes uma margem de autonomia pública para determinar os factos e interesses relevantes no caso concreto. Isto significa que o âmbito da fiscalização jurisdicional exercida sobre os actos que concedem ou negam este tipo de autorização de residência é bastante limitado66. Os vícios potencialmente relevantes desse

acto são: o desvio de poder, o erro de facto, o erro manifesto de apreciação e a violação dos princípios constitucionais da actividade administrativa67 – ou seja, os princípios da prossecução

62 Cfr. J.PEREIRA /J.CÂNDIDO DE PINHO, Direito de estrangeiros, pp. 407-408.

63 Cfr. artigo 123.º, n.º 1, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho; cfr. também artigo 62.º do Decreto Regulamentar n.º 84/2007, de 5 de Novembro.

64 Ou “duplo grau de abertura”, na expressão de J. M. SÉRVULO CORREIA, Legalidade e autonomia

contratual, p. 485.

65 Cfr. artigo 123.º, n.º 2, da Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho. O que já resultaria dos artigos 152.º a 153.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA).

66 Cfr. Acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo de 2000/02/03, Proc. 044.933; de 07/02/2001, Proc. 044.852; de 11/02/2003, Proc. 0613/02; de 27/03/2003, Proc. 0831/02; e de 09/02/2005, Proc. 02034/03.

67 Para um resumo dos vícios do acto administrativo discricionário, cfr., por todos, J.M.SÉRVULO CORREIA,

Direito do contencioso administrativo, I, Lisboa: Lex, 2005, pp. 618-632; B. DINIZ DE AYALA, O (défice de)

controlo judicial, pp. 188-262.

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do interesse público, do respeito pelos direitos e interesses dos cidadãos, da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da boa-fé68.

8. A lei prevê dois estatutos diferentes para os estrangeiros que residam em território

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