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DIREITO AO REAGRUPAMENTO FAMILIAR: PERMISSÃO E INGERÊNCIA DO ESTADO 1 Ana Cristina Lameira

A. Alojamento; B Meios de subsistência IV Decisão final

VII. Garantias contenciosas

Contra a decisão de indeferimento do pedido de reagrupamento familiar temos a acção administrativa de condenação à prática de acto devido – cf. artigos 37º, nº 1, al. b), 66º, 67º e 71º do CPTA/2015. A acção administrativa será ainda o meio processual a intentar em caso de impugnação da decisão de afastamento coercivo – cf. artigo 37º, nº 1, al. a) do CPTA /2015 e 150º da Lei nº 23/2007.

Este último, pode ser intentado prévia ou simultaneamente com o pedido cautelar de suspensão de eficácia do acto administrativo que determinou a decisão de afastamento coercivo – cf. artigos 112º, nºs 1 e 2 al. a), 113º, 114º, nº 1 e 120º do CPTA/2015.

Duvidoso será o uso de meio urgente previsto no artigo 110º do CPTA, mas tudo dependerá da situação em concreto.

Ao cidadão estrangeiro, por via do princípio da equiparação (artigo 15º, nº 1 da CRP), tem sido entendido pelo Tribunal Constitucional39 designadamente na interpretação do princípio de

acesso à justiça e da garantia da tutela jurisdicional efectiva, emanados do artigo 20º da CRP, deve se assegurada a protecção jurídica em caso de insuficiência de meios económicos (cf. artigos 1º e 7º da Lei 34/2004, de 29 de Julho, com as alterações introduzidas pela Lei nº 47/2007, de 28 de Agosto).

segurança, a ordem pública e a legalidade. Ora, se o estrangeiro cometeu crimes graves, por que foi condenado a pesada pena de prisão, é justificado e racional que o sistema jurídico não excecione da expulsão o pai estrangeiro a que se refere o proémio do artigo 135º da Lei 23/2007 “apenas” por este ser casado com alguém ou ter filhos menores a cargo da mãe, com quem o pai nunca conviveu e que nunca estiveram, nem estão, a cargo dele. Trata-se de uma ponderação ou sopesamento, habitual na concretização de direitos fundamentais, que, no caso normativo presente, é feita a dois ritmos: primeiro e sobretudo pelo legislador (constituinte e ordinário), depois pela A.P. e pelo juiz.”, vide ainda a jurisprudência aí citada, bem como no recente Acórdão do TCA Sul, de 02.02.2017, proferido no rec. 415/16.2BELLE.

39 Vide Acórdãos do TC nºs 17/04, de 24.03.2004, e 257/03, de 29.09.2003, embora relativos à Lei nº 30- E/2000, de 20 de Dezembro.

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O CONTENCIOSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO RELATIVO A CIDADÃOS ESTRANGEIROS E AO REGIME DA ENTRADA, PERMANÊNCIA, SAÍDA E AFASTAMENTO DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS, BEM COMO DO ESTATUTO DE RESIDENTE DE LONGA DURAÇÃO - 2.ª edição atualizada

Direito ao reagrupamento familiar: permissão e ingerência do Estado

VIII. Conclusões

1. A primeira constatação é a de que o direito ao reagrupamento familiar tem sido escassamente apreciado pela jurisprudência nacional, quer em termos de casos submetidos a litígio quer em termos de matérias.

2. O direito ao reagrupamento familiar emerge do estatuto jurídico internacional e constitucional do estrangeiro ou cidadão migrante e das obrigações que daí decorrem para os Estados e para os poderes públicos que impõe a estes que não tratem os estrangeiros de forma arbitrária e injustificada (obrigação de facto negativo), assim como a obrigação para que adopte as medidas necessárias de protecção dos mesmos de modo a não causar danos (obrigação de facto positivo).

3. Dentro da autonomia e soberania de cada Estado, este pode ter que adoptar medidas legais e administrativas que colidam com o direito ao reagrupamento familiar ou com a vida familiar,

mas as normas da Directiva e concomitantemente da Lei nº 23/2007, não podem ser

interpretadas e aplicadas de forma tal que essa aplicação viole os direitos fundamentais

consagrados nos instrumentos internacionais, europeus ou na Lei Fundamental.

4. A Lei nº 23/2007, consagra um elenco de membros da família mais lato do que a própria Directiva e do que aquele que tem vindo a ser reconhecido quer pelo Tribunal de Justiça da União Europeia quer pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

5. O Estado dispõe de uma certa liberdade para apreciar se estão verificados os requisitos impostos pela directiva, estabelecer condições de acesso ao reagrupamento e avaliar os interesses concorrentes do indivíduo e da comunidade em geral, em cada situação em concreto.

6. No respeito pela vida e unidade familiar decorrente nomeadamente do artigo 8º, da CEDH, a ingerência na vida familiar do reagrupado ou o afastamento coercivo ou a expulsão de cidadão estrangeiro só ocorre nos casos previstos na Lei, nomeadamente artigo no artigo 135º, com salvaguarda da relação familiar, quando existam filhos menores sobre os quais exerça efectivamente sustento e educação e tenha uma relação afectiva.

Legislação relevante

Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho − Aprova o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional, alterada e republicada pelas:

Lei n.º 29/2012, de 9 de Agosto; Lei n.º 56/2015, de 23 de Junho, e − Lei n.º 63/2015, de 30 de Junho.

O CONTENCIOSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO RELATIVO A CIDADÃOS ESTRANGEIROS E AO REGIME DA ENTRADA, PERMANÊNCIA, SAÍDA E AFASTAMENTO DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS, BEM COMO DO ESTATUTO DE RESIDENTE DE LONGA DURAÇÃO - 2.ª edição atualizada

Direito ao reagrupamento familiar: permissão e ingerência do Estado

Decreto regulamentar 84/2007, de 5 de Novembro − Regulamenta a Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho, que aprova o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de cidadãos estrangeiros de território nacional, alterado pelo Decreto regulamentar n.º 2/2013, de 18 de Março, pelo Decreto-Lei n.º 31/2014, de 27 de Fevereiro (adita um artigo 92.ºA) e pelo Decreto regulamentar n.º 15-A/2015, de 2 de Setembro (em vigor desde 3 de Setembro de 2015).

(Meios de subsistência):

Portaria n.º 1563/2007, de 11 de Dezembro − Define os meios de subsistência de que os cidadãos estrangeiros devem dispor para entrada, permanência ou residência em território nacional.

Portaria n.º 760/2009, de 16 de Julho – Adopta medidas excepcionais quanto ao regime que fixa os meios de subsistência de que devem dispor os cidadãos estrangeiros para a entrada e permanência em território nacional.

Outras obras com interesse não citadas:

LABAYLE, H. (1993), «Le droit de l´étranger à mener une vie familiale normale, lecture nationale et exigences européennes», in Revue française de Droit Administratif, vol. 9, n. 3. OLIVEIRA, C. R., CANCELA, J. e FONSECA, V. (2012), Family reunification in Portugal: the law in practice, Lisboa: ACIDI (Relatório de Portugal para o Project Family reunification - a barrier or facilitator of integration? - HOME/2010/EIFX/CA/1772 – co-funded by the European Integration Fund Community Actions, 2010), Disponível em

http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/pdf/rf/2013_rf_longo_pt.pdf

VELÁZQUEZ SÁNCHES, M. (2007) “La Regulación del derecho a la reagrupación familiar o defensa de una política restrictiva de la inmigración? Comentário a la Sentencia del Tribunal de Justicia de las Comunidades Europeas de 27 de junio de 2006, C-504/2003”, in Revista General de Derecho Europeo, n.º 12, pp. 1-35

Observatório da Imigração, “Impacto das Políticas de Reagrupamento Familiar em Portugal”, José Carlos Marques, Pedro Góis, Joana Morais e Castro, 53, Abril de 2014, disponível em https://books.google.pt/books?isbn=9896850577

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