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Normatização Internacional, Europeia e Nacional relativa ao Reagrupamento familiar No Direito Internacional o direito à protecção da família está previsto de forma expressa desde

DIREITO AO REAGRUPAMENTO FAMILIAR: PERMISSÃO E INGERÊNCIA DO ESTADO 1 Ana Cristina Lameira

A. Alojamento; B Meios de subsistência IV Decisão final

V. Outros casos de apelo às relações familiares do cidadão estrangeiro VI Ingerências do estado na vida familiar

1. Normatização Internacional, Europeia e Nacional relativa ao Reagrupamento familiar No Direito Internacional o direito à protecção da família está previsto de forma expressa desde

a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) nos seus artigos 12º e 16º, nº 36. Tendo vindo posteriormente a ser reconhecido noutros instrumentos internacionais, como seja no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (artigos 17º, 23º e 24º).

A Convenção dos Direitos da Criança de 1989 é um instrumento que, apesar de não versar especificamente a problemática, contém várias disposições com incidência fundamental no reagrupamento familiar de crianças, destacando-se os artigos 9º, nº 1, 10º e 16º. Para alguns autores é considerada, inclusivamente, o único instrumento internacional em que se reconhece expressamente um Direito Fundamental ao reagrupamento familiar

Donde, tais normativos serão de aplicar quer às medidas que extingam um direito de residência, como nas medidas de admissão de estrangeiros num território para efeitos de reagrupamento familiar.

A nível do Direito Europeu, além da Convenção para a Protecção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais (Convenção Europeia dos Direitos do Homem), (1950), o seu artigo 8º, temos a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, que representa uma síntese de todos os instrumentos internacionais em termos de direitos fundamentais, especificamente para a matéria que nos ocupa o artigo 7º sob a epígrafe, respeito pela vida privada e familiar. Enfoque para a Directiva 2003/86/CE, do Conselho, de 22.09.2003, JO L 251, de 03.10.2003, relativa ao direito ao reagrupamento familiar, cuja transposição para o direito nacional se operou por via da Lei nº 23/2007 (LI).

Bem como a COM (2014) 210, de 03.04.2014, Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho, sobre as orientações para a aplicação da Directiva 2003/86/CE, relativa ao direito ao reagrupamento familiar.

De destacar ainda o artigo 5º da Directiva 2008/115/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16.12.2008, que determina que os Estados-Membros, ao legislar sobre normas e procedimentos relativos ao regresso de nacionais de países terceiros devem ter em conta na «situação irregular», o «interesse superior da criança» e a «vida familiar».

6 Idêntica garantia está consagrada no art. 67º, nº 1, da Constituição da República Portuguesa (CRP).

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Direito ao reagrupamento familiar: permissão e ingerência do Estado

Mas, sobretudo, a evolução jurídico-normativa tem sido em grande parte dada pela jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH)7 face às novas realidades

sócio globais de movimentos migratórios8.

A nível nacional na Lei Fundamental há que destacar o princípio da equiparação dos estrangeiros aos cidadãos nacionais reconhecido no artigo 15º da CRP, o qual deve ser entendido à luz de uma concepção universal dos direitos fundamentais consagrados na Constituição da República Portuguesa (CRP), válidos para todos independentemente da nacionalidade ou apátridas. No Acórdão do TC nº 365/00, Proc. 91/00, refere-se que o estatuto dos estrangeiros constitucionalmente reconhecido assenta na dignidade do homem, como sujeito moral e sujeito de direitos, como cidadão do mundo.

Por via da equiparação e igualdade de direitos entre os cidadãos nacionais e os estrangeiros e apátridas que se encontrem a residir em Portugal, salvo nas restrições constitucionalmente permitidas, em conformidade com o artigo 15º, nº 1, da CRP, resulta já a constituição um estatuto jurídico-fundamental do estrangeiro e da cidadania migrante.

Havendo, pois, que assegurar aos cidadãos estrangeiros, de igual forma, a convivência e unidade familiar, consagrados no artigo 36º, da CRP, compreendendo os direitos à família, ao casamento e à filiação.

O direito ao reagrupamento familiar tem vindo, pois, a assumir a natureza de direito fundamental9.

Tem sido essa a natureza reconhecida pelos Tribunais superiores, designadamente nos Acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo (STA), de 02.096.2011, rec. 442/11 e de

7 Sobre os contributos da Jurisprudência do TEDH para a afirmação de um Direito Fundamental ao Reagrupamento Familiar, nomeadamente sobre a aplicação do art.º 8º da CEDH ao reagrupamento familiar, vide Ana Rita Gil, in ”Um Caso de Europeização do Direito Constitucional Português – A Afirmação de um Direito Fundamental ao Reagrupamento Familiar”, in Revista de Direito Público, 1, nº 2, (2009) pp. 9-61 [14-23].

8 André Gonçalo Dias Pereira, in “A protecção Jurídica da Família Migrante” in “Direitos Humanos, estrangeiros, comunidades migrantes e minorias”, in Celta Editora, Oeiras, 2000, pp. 81-100, quanto às necessidades específicas das famílias migrantes, a necessidade de tutela do direito fundamental ao reagrupamento familiar, expressão do princípio da unidade familiar identifica como causas da moderna imigração com base na “Collier´s Encyclopedia, vol 12, os aventureiros em busca de fortuna e de liberdade para o seu talento; Refugiados religiosos e políticos e à procura de um melhor nível de vida [83-84].

9 Ver Ana Rita Gil, in obra citada ”Um Caso ….”, pela forma desenvolvida e aprofundada sobre direito comparado e jurisprudência comunitária, destaca “ O reagrupamento familiar deverá ser considerado

um direito fundamental, corolário do direito à unidade familiar protegido pela CRP. De acordo com uma das classificações adoptadas por Jorge Miranda, será uma garantia, uma vez que não representa em si o bem carecido de protecção – a unidade familiar – destinando-se sim a assegurar a fruição desse bem. É, pois como garantia fundamental, como instrumento necessário para permitir ao estrangeiro o direito á convivência familiar, que o reagrupamento deverá ser encarado. Entendemos ainda que o mesmo deverá beneficiar do regime dos direitos, liberdades e garantias por encontrar o direito que visa desenvolver no art. 36º da CRP [p. 50].

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20.10.2011, rec. 783/11, e ainda no Acórdão de 24.02.2011, rec. 113/1110. Sendo que em

todos eles foi entendido que a emissão de visto para os familiares, após ter sido deferido o pedido de reagrupamento com a respectiva entrada imediata em território nacional do familiar (ambos os casos esposa e filhos), tem relevância social por respeitar a direitos das pessoas dignos de protecção reforçada, no quadro legal em que convergem princípios gerais, de direito internacional convencional geral do direito da União Europeia e de normas internas de diferentes hierarquias. Daí o terem sido admitidos pelos citados Acórdãos os respectivos recurso de revista nos termos do artigo 150º11, nº 1, do Código de Processo nos Tribunais

Administrativos (CPTA).

Justificada a protecção desse direito pelo meio processual principal e mais urgente do Código de Processo nos Tribunais Administrativos, no artigo 109º, por ter considerado “(…) que estava em causa o direito ao reagrupamento familiar, direito de natureza análoga aos direitos, liberdades e garantias, consagrado no Título II da Constituição e corolário do princípio da dignidade da pessoa humana, em que se funda o Estado de Direito Democrático, enquanto princípio fundamental do Estado português [cfr. artigo 2º da CRP].

A par relevam ainda outros direitos pessoais com relevo constitucional, como sejam os direitos a constituir família, ao casamento e à filiação, à família e à paternidade, direitos que são extensíveis aos estrangeiros residentes em Portugal, decorrente da aplicação do aludido princípio da equiparação dos cidadãos estrangeiros e apátridas aos cidadãos portugueses [cfr. artigos 12º, 13º, 15º a 18º, 26º, 67º e 68° da CRP, 8º da Convenção Europeia para Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, e 7º, 15º e 33º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia].”12

Cabendo ao Estado a protecção da família, como elemento fundamental e estruturante da sociedade, proporcionando-lhe as condições necessárias à realização pessoal dos seus membros, como decore do artigo 67º da CRP.

10 No Acórdão do STA, de 22.09.2011 rec. 730 /11, a questão da legitimidade activa em termos de reagrupamento foi marginal, uma vez estava em causa os actos processuais praticados por advogado condenado por litigância de má-fé (omissão de alusão a uma outra acção).

11 “Das decisões proferidas em segunda instância pelo Tribunal Central Administrativo pode haver,

excepcionalmente, revista para o Supremo Tribunal Administrativo quando esteja em causa a apreciação de uma questão que pela sua relevância jurídica ou social, (…).”

12 Vide Acórdão do TCA Sul, de 22.03.2012, rec. 07694/11 , a propósito da emissão de visto de residência para o familiar do requerente, daí a justificação do meio processual urgente de Intimação judicial para protecção de Direitos, Liberdades e Garantias, nos termos do art. 109º e seguintes do CPTA. Em sentido contrário e minoritário quanto ao meio processual vide o Ac. do TCA Sul, de 06.02.2014, rec. 10704/13, entendeu que não estavam verificados os pressupostos para o recurso à referida Intimação, sempre poderia pedir a condenação na emissão de visto em sede de acção administrativa especial e pedir uma providência cautelar (art.º 131º do CPTA), ou não imediata (artsº 112º a 120º do CPTA).

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