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Uma vez verificado pela autoridade nacional competente o preenchimento de todas as condições exigidas para entrar na UE por parte do nacional de país terceiro que se apresenta

O REGIME JURÍDICO DA PASSAGEM DE PESSOAS NAS FRONTEIRAS EXTERNAS E INTERNAS DA UNIÃO EUROPEIA

III. Regras e excepções em matéria de passagem das fronteiras internas

2. As condições de entrada para estadas de curta duração de não beneficiários da liberdade de circulação ao abrigo do direito da União

2.4. Uma vez verificado pela autoridade nacional competente o preenchimento de todas as condições exigidas para entrar na UE por parte do nacional de país terceiro que se apresenta

na fronteira externa, tal verificação cria a obrigação de admitir a pessoa em causa. É esta a interpretação correcta da expressão constante do artigo 6.º, n.º 1, “as condições de entrada para os nacionais de países terceiros são as seguintes”24.

O TJ já teve, de resto, oportunidade de confirmar que os Estados-Membros não dispõem de uma margem de apreciação que lhes permita recusar a entrada de um nacional de país terceiro no seu território com base numa condição não prevista no CFS. A este propósito, precisou que o artigo 6.º, n.º 1, do CFS estabelece uma lista taxativa das condições de entrada dos nacionais de países terceiros no território dos Estados-Membros e não uma lista mínima dos motivos de recusa de entrada. Esta última interpretação seria até incompatível com o objectivo do CFS, que é o estabelecimento de normas harmonizadas de controlo e vigilância nas fronteiras externas, como corolário da livre passagem de fronteiras no interior da UE. Por conseguinte, o artigo 6.º, n.º 1, por si só ou em conjugação com outra disposição do CFS não pode ser interpretado no sentido de que sujeita a entrada de nacionais de países terceiros 21 O Anexo I elenca, a título exemplificativo, documentos susceptíveis de justificar cada um dos quatro tipos de viagens de curta duração ao Espaço Schengen que identifica: (i) de carácter profissional; (ii) por motivo de estudos ou outro tipo de formação; (iii) para fins turísticos ou de carácter particular; (iv) para participar em manifestações de carácter político, científico, cultural, desportivo ou religioso.

22 O SIS a que o preceito se refere é o chamado SIS II (Sistema de Informação Schengen de segunda geração) que, finalmente, substituiu o SIS 1+ em 9 de Abril de 2013, por força das Decisões do Conselho 2013/157/UE e 2013/158/UE, de 7 de Março, tornando plenamente aplicáveis os dois instrumentos jurídicos relativos ao estabelecimento, ao funcionamento e à utilização do SIS II, a saber, o Regulamento (CE) n.º 1987/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro, e a Decisão 2007/533/JAI do Conselho, de 12 de Junho. Sobre as razões que levaram à adopção de dois instrumentos jurídicos para o efeito, ver NUNO PIÇARRA, “Direito da União Europeia: o Espaço de Liberdade, Segurança e Justiça. Relatório com o programa, os conteúdos e os métodos de ensino da cadeira”, in Themis – Revista da Faculdade de Direito da UNL, ano X, n.º 19, 2010, pp. 332 segs.

23 Tendo em conta os custos e as dificuldades técnicas que implicaria, esta última disposição não pode ser interpretada no sentido de que abrange todas as “bases de dados nacionais dos Estados-Membros”, mas as daquele cuja fronteira externa o nacional de país terceiro em causa pretenda atravessar. Esta interpretação do artigo 6.º, n.º 1, alínea e), tem a seu favor o facto de ser coerente com o disposto no artigo 6.º, n.º 5, alínea a), analisado em 3.1. Para maiores desenvolvimentos, ver STEVE PEERS e.a. (ed.),

EU Immigration and Asylum Law (Text and Commentary): Second Revised Edition, Volume I: Visas and Border Controls, Leida, 2012, pp. 44 segs.

24 No mesmo sentido, S

TEVE PEERS, EU Justice and Home Affairs Law. Volume I, cit., p. 121.

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no território dos Estados-Membros ao requisito de que, no momento do controlo nas fronteiras, o visto válido apresentado esteja necessariamente aposto num documento de viagem válido. Ou seja, o nacional de país terceiro pode apresentar simultaneamente um documento de viagem válido e um visto de curta duração válido aposto num documento de viagem inválido, tanto mais que a anulação deste não faz parte dos motivos que justificam a anulação do visto, nos termos do Código de Vistos aprovado pelo Regulamento (CE) n.º 810/2009, de 13 de Julho (artigos 34.º, 32.º, n.º 1, e 35.º, n.º 6)25.

2.5. Nem todos os nacionais de países terceiros na acepção do ponto 6, do artigo 2.º, do CFS, podem ser destinatários das regras acabadas de analisar. Com efeito, o artigo 19.º, em conjugação com o Anexo VII ao CFS, autonomiza determinadas categorias dessas pessoas, mandando aplicar-lhe regras específicas de controlo, susceptíveis de constituírem derrogações não só aos artigos 5.º e 6.º, mas também aos artigos 8.º a 14.º, adiante analisados.

Tais regras constam daquele anexo e incidem sobre as seguintes categorias de pessoas, variando em função de cada uma delas:

(i) Chefes de Estado e membros das respectivas delegações; (ii) Pilotos e outros tripulantes de aeronaves;

(iii) Marítimos;

(iv) Titulares de passaportes diplomáticos, oficiais ou de serviço, e membros de organizações internacionais;

(v) Trabalhadores transfronteiriços; (vi) Menores;

25 Ver o acórdão de 4 de Setembro de 2014, Air Baltic Corporation AS contra Valsts robezsardze, C- 575/12, n.ºs 69, 59, 66, 49 e 35. O TJ tinha chegado a idênticas conclusões no “caso paralelo” do acórdão de 27 de Junho de 2006, Parlamento Europeu contra Conselho, C-540/03, n.º 60, onde interpretou o artigo 4.º, n.º 1, primeiro parágrafo, da Directiva 2003/86/CE, relativa ao direito ao reagrupamento familiar, no sentido de que “impõe aos Estados-Membros obrigações positivas precisas, às quais correspondem direitos subjectivos claramente definidos”, não permitindo aos Estados- Membros “exercer a sua margem de apreciação”. O mesmo se verificou no acórdão de 19 de Dezembro de 2013, Koushkaki contra Alemanha, C-84/12, n.º 63 e ponto 1 da parte dispositiva, em que o TJ interpretou os artigos pertinentes do Código de Vistos no sentido de que, “no termo da análise de um pedido de visto uniforme, as autoridades competentes de um Estado-Membro só podem recusar emitir esse visto a um requerente no caso de lhe poder ser oposto um dos motivos de recusa de visto, enumerados nestas disposições”. O TJ não deixou de salientar a este propósito que, na análise do pedido, as autoridades competentes “dispõem de uma ampla margem de apreciação no que diz respeito às condições de aplicação dessas disposições e à avaliação dos factos pertinentes, a fim de determinar se um desses motivos de recusa pode ser oposto ao requerente”. O advogado-geral, em conclusões apresentadas em 11 de Abril de 2013, n.º 68, ponto 1, entendeu taxativamente, por seu lado, que “não se pode interpretar o Código de Vistos como instituindo um direito subjectivo, na esfera dos requerentes, à emissão de um visto Schengen”.

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(vii) Membros dos serviços de salvamento, polícia, corporações de bombeiros e guardas de fronteira;

(viii) Trabalhadores offshore.

A título de exemplo, o n.º 1 do Anexo VII determina que não podem ser submetidos a controlos nas fronteiras os Chefes de Estado e membros das respectivas delegações cuja chegada tenha sido anunciada oficialmente por via diplomática aos guardas de fronteira”26. No

que toca aos trabalhadores transfronteiriços, o n.º 5.2. do mesmo anexo dispõe que aqueles que sejam bem conhecidos do guarda de fronteira pelo facto de atravessarem frequentemente a fronteira pelo mesmo ponto de passagem, e a cujo respeito se tenha concluído, com base num controlo inicial, que não constam da lista de pessoas indicadas no SIS nem na base de dados nacional, apenas são submetidos a um controlo por amostragem a fim de garantir que estão na posse de um documento válido que os autoriza a atravessar a fronteira e preenchem as condições de entrada necessárias; isto sem prejuízo de, periodicamente, de forma inesperada e com intervalos regulares (tanto quanto estas duas condições forem plenamente compatibilizáveis), esses trabalhadores deverem ser submetidas a um controlo pormenorizado. Finalmente, no que respeita aos trabalhadores offshore, o n.º 8, primeiro parágrafo, do Anexo VII determina, em derrogação dos artigos 5.º a 8.º do CFS, que os que regressem regularmente ao território dos Estados-Membros por via aérea ou marítima sem terem permanecido no território de um país terceiro não devem ser submetidos a controlos sistemáticos.

2.6. O artigo 19.º do CFS, em conjugação com o Anexo VIII, estabelece, por seu lado, uma série

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