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4 O CONSELHO TUTELAR COMO ÓRGÃO TRANSFORMADOR DAS

4.2 Desenho normativo-institucional do Conselho Tutelar

4.2.4 Estrutura mínima

O ECA estabelece que em cada município e em cada Região Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo um Conselho Tutelar como órgão integrante da Administração Pública local73. A Resolução n° 139/2010 do CONANDA aponta que para cada cem mil habitantes, será criado, preferencialmente, um Conselho Tutelar. Caso haja mais de uma unidade em um município, caberá a este distribuí-los conforme a configuração geográfica e administrativa da localidade, a população de crianças e adolescentes e a incidência de violações a seus direitos, assim como os indicadores sociais. Cabe à legislação local a definição da área de atuação de cada Conselho Tutelar, devendo ser, preferencialmente, criado um Conselho Tutelar para cada região, circunscrição administrativa ou microrregião74.

A Resolução CONANDA n° 170/2104 discorre acerca da estrutura sugerida para a sede do órgão75, que deverá, preferencialmente, funcionar em local de fácil acesso, já constituído como referência de atendimento à população. A mesma deve oferecer espaço físico e instalações que permitam o adequado desempenho das atribuições e competências dos Conselheiros Tutelares, além do acolhimento digno ao público. O Projeto Conselho Tutelar

72 Apesar da proposta inicial estar voltada para as organizações da sociedade civil, a mesma foi apresentada para

agentes de controle das ações estatais, em especial para os membros dos Ministérios Públicos estaduais, sendo adotada em muitas unidades da federação. Um importante exemplo de adesão à proposta do OCA foi do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que criou no seu âmbito a Comissão de Estudos e Monitoramento do Orçamento Público destinado à Criança e Adolescente do Distrito Federal com a participação de integrantes da Rede de Atenção a Crianças e Adolescentes do Distrito Federal – RECRIA-DF, que tem como objetivo fazer o monitoramento da execução da previsão orçamentária de programas e ações destinados a crianças e adolescentes no Distrito Federal, sendo um dos objetivos da comissão o diálogo permanente com os Poderes Executivo e Legislativo e a atuação como parceiro da sociedade civil na avaliação do orçamento público para a efetividade das políticas públicas para crianças e adolescentes. O órgão elabora o “Relatório de Apuração do Orçamento Criança e Adolescente do Distrito Federal”, documento que analisa as esferas de ação prioritárias consideradas pelo MP: saúde, educação e assistência social.

73 Art. 132 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 74 Arts. 2º e 3º - Resolução CONANDA nº 170/2104. 75 Art. 17 - Resolução CONANDA n° 170/2104.

Referencial – Meu Lugar na Cidade, ação do governo federal que compõe o Programa Nacional de Fortalecimento do Conselho Tutelar, segue os parâmetros propostos pelo CONANDA, buscando a uniformização nacional dos parâmetros arquitetônicos da sede do órgão, melhor detalhado no capítulo quarto.

Apesar das disposições legais e do programa do governo federal, os Conselhos Tutelares passam por muitos problemas de estrutura física e de recursos humanos para o exercício de suas atribuições. Essas dificuldades são uma realidade nacional, inclusive já sido objeto de ações judiciais com manifestações até mesmo do Supremo Tribunal Federal (STF)76, que determinou aos órgãos gestores municipais e distrital a garantia de recursos

mínimos para a realização do trabalho no órgão.

Importante conclusão chegou a pesquisa realizada por Paula (2014) em município do interior paulista no ano de 2009 e 2010, a carência de subsídios e suporte institucional por parte da gestão municipal à atuação do Conselho Tutelar, constatando que diante do excesso de trabalho não há tempo para planejamento. Mais uma informação importante conseguida por meio das entrevistas é que o desgaste ocupacional não seria compensando pelo retorno pecuniário, sendo necessária outra atividade financeira para complementar a renda, apesar de proibida pela legislação (PAULA 2014, p.125).

O pesquisador também destacou que nas entrevistas os Conselheiros Tutelares apontaram problemas no trabalho em rede e na estrutura física do órgão, informando que os empecilhos são menos estruturais e mais políticos, e que a gestão pública municipal apresenta dificuldades para o exercício da autonomia e da liberdade do Conselho Tutelar.

A estrutura mínima de funcionamento foi incorporada em algumas leis locais, como no caso da Lei Distrital nº 5.294, de 13 de fevereiro de 2014 77, que dispõe sobre os Conselhos Tutelares do Distrito Federal e dá outras providências, para que, se preciso, o Poder Judiciário seja acionado para cumprimento. A experiência do Distrito Federal demonstrou o comprometimento do gestor local à época da confecção da lei na priorização pelo fortalecimento das instâncias de controle social na área da criança e do adolescente, o Conselho de Direitos e o Conselho Tutelar, e na compreensão de que configuram espaços de cogestão com o Poder Executivo. Mas ressaltamos que o acerto normativo para uma melhor

76 Destacamos as seguintes: RE 488208/SC; STA 405/DF; RE 738255/AP; AI 583136/SC; RE 503658/SC; RE

572960/MG; RE 603033/MG e RE 706041/MG.

77 A autora participou da construção da Lei nº 5.294, de 13 de fevereiro de 2014, que dispõe sobre os Conselhos

Tutelares do Distrito Federal e dá outras providências. Na ocasião, como assessora jurídica do Conselho dos Direitos da Criança do Distrito Federal (CDCA-DF), a proposta normativa constou de intensos debates entre Secretaria de Estado da Criança do Distrito Federal, CDCA-DF e Associação dos Conselheiros e Ex- Conselheiros Tutelares do DF (ACTDF). A norma é considerada paradigma nacional para as legislações que regulam o Conselho Tutelar no nível local.

definição da institucionalidade do órgão e sua abrangência depende de como os atores envolvidos no processo de produção legislativa local compreendem a atuação do órgão, se mais próxima da atuação protetiva ou repressiva.

4.3 Percepções, dinâmica e produção de conhecimento no Direito da Criança e do