• Nenhum resultado encontrado

Fenomenologia da linguagem

No documento Espectral: sentido e comunicação digital (páginas 105-118)

Merleau-Ponty formula sua filosofia a partir daquilo que Husserl chamara de presente vivo da fala, uma língua que integra o que foi dito antes de mim ao mundo da minha língua . Sua reflexão sobre a linguagem se choca com o pressuposto da virada lingüística, a idéia de que a

98

filosofia pode ser conduzida por uma análise da linguagem. Isso só seria possível, diz Merleau - Ponty, se a linguagem contivesse em si mesma sua evidência106. A fenomenologia do filósofo francês, pelo contrário, entend e a linguagem como instrumento de concepção do mundo cuja função não se esgota na mecânica dos signos, na análise possível de significados e léxicos.

Sua fenomenologia da linguagem oferece um conceito de sentido original e descolado do entendimento lingüístico. Sentido e significado nã o estariam ligados às relações lingüísticas, seriam antes imanentes a todos os modos de vivência107. Nisso sua teoria fenomenológica se

reencontra com o conceito husserliano de intencionalidade, pois a linguagem seria permeada pela experiência do vivido atual e comum. Ainda que Merleau-Ponty negue a consciência doadora de sentido formulada por Husserl, sua fenomenologia adere a uma intencionalidad e constitutiva de sentido. É um sentido que se move entre o horizonte de percepções possíveis e o campo aberto de interpretações textuais.

Merleau-Ponty também recorre à lingüística de Saussure. O lingü ista genebrino teria indicado que os signos um a um nada significam, apenas assinalam os desvios de sentido entre si mesmo e os outros108. A intuição de Saussure seria imediatament e percebida pela criança que apreende essa malha de signos e sentidos: com as primeiras oposições fonêmicas a criança inicia-se na

ligação lateral do signo com o signo como fundamento de uma relação final do signo com o sentido. É a língua

inteira como estilo de expressão, como maneira única de utilizar-se da palavra, que é antecipada pela criança como as primeiras oposições fonêmicas109. O sistema da língua sugerido por Saussure fez Merleau-Ponty

pensar a linguagem em termos de um domínio cujas portas só se abrem do interior. Domínio onde o signo se compõe e se organiza consigo mesmo, de cujas bordas se reclamam o sentido.

Mas seus comentários sobre Saussure subestimam o abismo que separa sua fenomenologia das ciências da linguagem: a filosofia da linguagem já não se opõe à lingüística empírica;

pelo contrário, ela é a redescoberta do sujeito falante em exercício em contraposição a uma ciência da linguagem que o trata inevitavelmente como uma coisa110. Merleau-Ponty quer estender a abordagem lingü ística ao

fenômeno do sentido, operação que ultrapassa o registro visível de signos em direção ao regime invisível do sentido. Mas a operação esgarça as bases epistemológicas da lingüística, pois estabelece entre linguagem e sentido uma relação autônoma não-condicionada: a linguagem não está

a serviço do sentido e contudo não governa o sentido. Não há subordinação entre ela e ele. Aqui ninguém manda e ninguém obedece111.

Merleau-Ponty entende por significação um pensamento desprovido de linguagem que me orienta rumo ao exprimido; e por signo, um invólucro inanimado, uma manifestação exterior ao pensamento mormente próxima da significação. O que empresta dinamismo aos elementos não é o sistema de valor implícito na semiose, mas uma visada (die Meinung) que está nas palavras

99

e é interna à fala (redend). Nesse sistema de valor que incorpora sensações, a interioridade se funde com as palavras e as anima, resultando em palavras e falas que encarnam uma visada interior. Sentido seria essa encarnação da visada. Ele seria s ecretado nos signos inertes por um mundo interior que se projeta112.

Não haveria um sistema abstrato da língua para o qual nos remetemos como sujeitos da língua, mas uma linguagem atuante que se dobra entre os sujeitos. Só aprenderíamos a linguagem por dentro, pela experiência da língua em nós que é sua expressão criad ora. Isto é, por meio do corpo senciente, variação conceitual que compreende a intencionalidade fenomenológica. Estendendo a intencionalidad e para o âmbito motor, afet ivo e orgânico, Merleau-Ponty pensa a constituição de sentido substituindo o “eu penso” cartesiano por um “eu posso” embrionário113.

Sua intencionalidade fundada no corpo permite unificar as acepções de sentido interior e exterior, debate que Husserl não havia resolvido.

Isso porque ela estabelece um contínuo entre a organização física da percepção e a interpretação simbólica d os textos da cultu ra. Haveria cont igüidad e ent re percepção corpórea e circulação sígnica, aliança que transforma a intencionalidade em uma intuição total. Com isso, a intencionalidade encampa tanto o sent ido sensível como o sentido proposicional, operação que acaba por emagrecer os limit es conceituais entre sentido e significado. Isto é, essa ação corporal transita de um sentido corporal para o um significado lingüístico , e o conceito mesmo de sentido deixa de ter uma substância teórica própria114.

A resolução que Merleau -Ponty traz para o debat e entre as acepções de sentido interior e exterior é fundamental para superar uma aporia epistemológica fundamental que preexiste na teoria dos sistemas sociais. Entre os sistemas fechad os e autopoiét icos de Niklas Luhmann e os sistemas abertos e permeados por retroalimentação de Ludw ig von Bertalanffy, a imagem de um sistema de expressão desenhada por Merleau-Ponty contribui para um conceito de sentido que supere essa dicotomia heurística da teoria dos sistemas.

100

NO TAS

1 Lyotard, J ean-François. A Fenomenologia. Lisboa: E diçõ es 70, 1999. (p.93).

2 Diz Deleu ze à págin a 23 de Lógica do Sentido: “Não perguntar emos, pois, qual é o senti do de um aconteci mento: o

acontecimento é o próprio s entido”. Na página 152: “O brilho, o es plendor do acontecimento, é o s enti do”.

3 Del euze s e apóia no par adoxo de Frege, vin culand o-o à natureza parad oxal d o s entid o n as o bras d e L ewis Carroll:

“Se concordamos em considerar a proposição como u m nome, é evidente qu e todo nome qu e designa u m obj eto pode se torn ar objeto de um novo nom e que design a seu sentid o: n¹ sendo dado rem ete a n² que designa o sentido de n¹, n² a n³ etc. Par a cada um de seu s no mes, a linguagem d eve con ter um nom e para o s enti do d este n om e. Es ta proliferação infinita das en tidad es verbais é co nhecida como par adoxo de Frege. Mas é este tam bém o par adoxo de Lewis Carroll. Ele ap arece rigorosam ente do outro lado do esp elho, no enco ntro de Alice com o cavaleiro. O caval eiro anunci a o tí tulo da canção qu e vai cantar „O nome da canção é chamado Olhos esbugalhados‟ — „ Oh, é o nome da canção?‟ diz Alice — „Não, você não compreendeu, diz o caval eiro. É como o nome é chamado. O verdadeiro nome é: o Vel ho, o v elho homem‟. — „Então eu deveria ter dito: é assim qu e a canção é chamada?‟ corrigiu Alice. — „Não, não dev eria: trata-se de coisa bem diferente. A canção é chamada Vias e meios; mas isto é somen te como ela é cham ada, compreendeu?‟ — „Mas então, o que é que ela é?‟ — „Já chego aí, diz o cavaleiro, a can ção é na realid ade Sentado sobre um a barrei ra‟”. Deleu ze, Gilles. Lógica do Senti do. São Paulo: Perspectiv a, 2003. (p.32). O ex certo citado p or Del euze é p arte de Alice atrav és do Espel ho. Ver Carroll, Lewis. Throug h the Looking-

Glass. Project Gutenb erg: The Millennium Fulcrum Edition, 1991. (p.62). De todo mo do, Del euze tende m ais para Meinong qu e par a Frege, pois o sentido para o filósofo fran cês é um a entid ade não -exis ten te que, s e a princípio aparece vin culado à proposi ção, isto é, se é u m sen tido pro posicio nal, mais tarde r emeter á en tretanto ao conceito. Essa difer ença fica clara no tratam ento disp ensad o ao co nceito nas o bras Lógica do s enti do e O qu e é a filosofia? Na primeira, o sen tido s e relaci ona com a pr oposição; na s egunda, o s entid o rem ete ao conceito. Ver D eleu ze, Gilles.

Lógica do S enti do. São Paulo: P erspectiva, 2003 e Del euze, Gilles. O que é a Filosofia? Rio d e Jan eiro: Ed. 34, 1997.

4 “Do ponto de vis ta do movimento, os nomes e sua declinação encar nam a ação, enquanto qu e os verbos e su a

conjugação en carn am a reação. O verb o não é uma im agem d a ação exterior, mas um pro cesso d e reação interior à linguagem. Eis por que, na sua idéia m ais geral, ele envolve a temp oralidad e intern a da língua. É ele que co nstitui o anel da proposi ção fazend o vol tar a significação sobr e a d esignação e o s emantema sobr e o fon ema. Mas da mes ma forma é d ele q ue inferi mos o qu e o an el es cond e ou enrola, o que o an el revel a um a vez fendi do e desd obrado, desenrol ado, estendido em li nha r eta: o sen tido ou o acon tecim ento co mo expresso da pro posição. O verbo tem dois pólos: o pr esen te, qu e m arca sua r elação com u m estado d e cois as d esignável em fun ção de um tempo físico de sucess ão; o infinitivo, que m arca su a relação com o s entid o ou o aconteci men to em função do temp o interno que envolve. O verbo inteiro os cila entre o „modo‟ infinitivo qu e representa o círculo desdobrado da proposi ção i nteir a e o „tempo‟ pr esente, que f echa, ao contrário, o círcul o sobr e um designado da proposição. O infinitivo puro é Ai on, a linha reta, a form a vazia ou a distânci a; ele não com porta nenhum a disti nção de mom en tos, m as não cessa d e se dividir formalmente na dupl a direção simultânea do pass ado e d o futuro. O inf ini tivo n ão im plica um tempo i nterior à língua s em exprimir o s en tido o u o aco ntecim en to, isto é, o conjunto dos probl emas que a língua col oca. Ele põ e a interioridad e d a linguagem em co ntato com a ex terioridade d o ser. Assim, h erda d a co muni cação d os acon teci mentos entre si; e a univo cidade s e tran smite do s er à linguagem, da exteriorid ade d o ser à i nteriorid ade d a linguagem. A equivocid ade é s empr e a dos nom es. O Verbo é a univo cidad e d a linguagem, sob a form a d e um infinitivo não determinad o, sem pes soa, s em pr esen te, s em div ersidad e de v ozes. Assi m a própria p oesia. Exprimind o na lingu agem todos os aconteci men tos em u m, o verb o infinitivo exprim e o acon tecim ento da linguag em, a linguagem co mo s endo ela própria um acon tecimento úni co que s e confund e agora com o que a torna possív el”. Deleu ze, Gilles. Lógica do

Senti do. São Paulo: P erspectiva, 2003. (p.190). Bergson, q ue perfaz u ma divisão sem elhante à prop osição d eleu zeana, propõe o contr ário: “O conheci mento s e exerce mais sobre u m es tado do que s obre uma mudança. (...) As três espécies de repres entaçõ es: 1. as qualidades; 2. as formas ou essên cias e 3. os atos. A es tas três man eiras d e ver correspo ndem três categorias d e palavras: os adjetivos, os subst antivo s e os verbo s, que são el em entos primordiais da linguagem. Os adj etivos e os subs tan tivos si mbolizam portanto estados. Mas m esmo o v erbo, se co nsideramos ap enas a par te ilu minada da repr esentação que evoca, exprime precis amente a mesma coisa”. Bergson, Henri. A evol ução

criado ra. Ri o de J aneiro: Editor a D elta, 1964. (p.296-297).

5 Talvez seja o caso de sublin har que trans cendente e transcend en tal não são a mes ma cois a. Enquanto a dim ensão

transcend ental se refere a u m plano d e im anência e às co ndições d a exp eriên cia, trans cend en te é aquil o que está al ém da própria experi ênci a imanen te. Nad a há de metafísico n o plano tr anscend ental, ess e plano d e tod o a-subj etivo. Para Deleu ze, o camp o trans cen den tal é o mu ndo das singularidades nô mad es e an ônim as, impesso ais e pré-individuais. Ver D eleu ze, Gilles. Lógica do S entido. S ão Paulo: Pers pectiva, 2003.

6 Deleu ze des creve a n atureza i mpes soal e an ti-repres entativa do sentido nas páginas 147 e 148 de Lógica do S entido. 7 “Chamamos de „significante‟ todo signo enquanto apres enta em si mesmo u m aspecto qu alquer do s entido;

„significado‟, ao contrário, o que serve de correlativo a este aspecto do sentido, isto é, o que se define em dualidade relativa co m este aspecto. O qu e é significad o n ão é, por cons eguinte, nun ca o próprio sen tido. O que é significado numa acep ção res trita, é o con cei to; e, em uma acepção larga, é cada coisa que pod e ser definida pel a distinção que

101

tal ou q ual as pecto do s entido mantém com ela”. Deleuze, Gilles. Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 2003. (p.40).

8 Idem, págin a 300.

9 Na página 189 de seu Lógica do Sentido, Del euze rem ete ain da o sen tido a uma instânci a pré-insistente à linguagem,

precisamen te o plano gestaci onal que S aussure elimi nara de sua ciência lingüística: “A ques tão de saber o que é primeiro n a linguagem, no mes ou verbos, não pode ser r esolvida s egundo a máxima geral „no começo há a ação‟ e na medid a em qu e fazemos d o verb o o repres en tan te da ação prim eira e d a rai z o primeiro es tado do verbo. Pois não é verdade que o v erbo r epres ente u ma ação; ele exprim e u m acon tecim ento, o q ue é com pletam ente diferen te. E n em a linguagem se des envolv e a partir de raízes primeiras; ela s e organiza em torn o de elemen tos formad ores que determinam o seu todo.” T ambém à pagina 187: São os aconteci mentos que tornam a li nguagem possív el. Mas tornar possível não significa fazer co meçar. C om eçamos s em pre na ordem da pal avra, m as n ão na da lingu agem, em que tu do d eve s er dado simul tan eamen te, em um golp e úni co. H á s empr e alguém qu e começa a fal ar; aquel e qu e fala é o manifestante; aquil o d e qu e s e fala é o d esignad o; o que se diz s ão as significaçõ es. O acon tecim ento n ão é n ada disto: ele n ão fala mais do qu e dele s e fala ou do que se di z. E, no en tan to, ele p ertence de tal forma à linguagem, habita-a tan to que n ão existe fora das proposições que o exprim em. Mas el e não se confund e com el as, o expresso não s e confund e com a expressão. N ão lh e preexiste, m as lh e pré-insis te, assim, lh e dá fundamento e condi ção. Tornar a linguagem possível significa is to: f azer com que os s ons não se confund am co m as qu alidad es so noras das coisas, com o bur burinho d os corpos, com suas ações e p aixões. O qu e torna a linguagem p ossível é o que s ep ara os sons dos corpos e os organi za em proposi ções, torn a-os livres para a função expressiva. É sempre dos corpos e de suas mis turas que falam os, m as os so ns cessar am de ser qu alidad es atin entes a estes corpos para entrar co m el es em uma nova r elação, a d e d esignação e exprimir este po der d e fal ar e de ser fal ado. Ora, a d esignação e a manifes tação não fund am a linguagem, el as n ão se torn am possíveis sen ão com ela. Elas su põem a express ão. A ex pressão se funda no acontecimento como entidade do exprimível ou do expresso”. Ibidem.

10 Ver Bogu e, Ron ald. Del euze and Guat tari. New Y ork: Routl edge, 1989.

11 Deleu ze assev era, no entanto, que o s en tido só existe na pro posição. A neu tralidad e do s entid o seria u m a

propriedad e exclusiva dos sistem as lingüísti cos. M as é a pró pria teoria do sen tido del euzean a q ue expande o escopo do mod elo. R onald Bogue p ens a que co m isso Del euze quer i ndicar a n atureza simulad a d a significação, p ois embora ela acon teça nos corpos, s ó aparece na li nguagem. Ou s eja, ainda que nem a subs tân cia d as p alavras nem seu sen tido sejam lingüís ticos, elas só se manifes tam en tretan to no sis tema d a linguagem.

12 Deleu ze, Gilles. Proust e os Signo s. Rio d e Jan eiro: Glob o, 1981. 13 Lacan, Jacqu es. Escrito s. São P aulo: Perspectiv a, 1988. (p.17-67).

14 O conto de Poe des crev e duas situaçõ es. Na prim eira, a Rainh a recebe u ma car ta secreta e a deix a sobre a m es a

com indifer ença, na esp eran ça qu e o Rei não a notasse. Mas o Minis tro, hom em de confian ça do R ei e da R ainha, entra n a sala e percebe qu e a Rai nha ten ta dissimul ar a presença d a car ta sobr e a mesa. O Ministro im ediatamen te deduz o sentido da carta: trata-se d e um a corres pond ên cia secreta. Ho mem de alta linhag em, o Minis tro tira habilidosamente de seu bolso um a carta parecida e a d eixa so bre a m esa. Em seguida, se aprovei tan do d a d esaten ção do Rei, tom a p osse da carta da Rain ha, qu e assis te a tudo s em pod er agir. Na segund a situ ação, a Rain ha ten ta r eaver a car ta convo can do a Polícia, qu e faz incontáveis bus cas no apos ento do Minis tro sem qu e a carta sej a enco ntrad a. O Chefe de Polí cia convo ca en tão Dupi n, inves tigador qu e sabe que a carta foi ou tra v ez escondid a ond e todos pod em vê-la, e exatam ente p or isso, é invisível ao obs ervador d esaten to. Dupin vai à casa do Minis tro e d esco bre a carta no lugar mais evidente, b em à vista, apen as d obrad a d e ou tra man eira e assinal ada co mo s e end ereçada ao próprio Ministro. A car ta s erá u ma segund a vez su bstituí da por ou tra s emel han te e vol tará, por in term édio do C hefe de Polícia, às m ãos d a Rai nha. Ver Po e, Edgar Allan. Históri as extraordinárias. São P aulo: Círculo do livro, 1974.

15 Derrida tamb ém co menta a leitur a d e Lacan sobr e o co nto de All an Po e. E m u ma co nferên cia feita nos EU A em

1975, Derrida se opõ e à interpretação de L acan, que usa o conto p ara ex por os con cei tos d e pri mazia d o significan te e a imp ortância do falo. Par a D errida, Lacan im põe ao texto literário elemen tos exteriores, pr a ticand o a análise aplicad a que el e mes mo criti cara. D errida também acus a o texto de ser um veí culo da luta política de Lacan co ntra Marie Bon apar te, qu e tamb ém havia escri to so bre Allan Po e. Para Derrida, Lacan tentava d esacreditar Marie Bonap arte não o bstante dev esse a ela a id éia d a car ta como sí mbolo d o falo m atern o. Lacan veria a si mes mo no papel de Dupin, o arguto d etetive que r esolve o mis tério, e Mari e Bo nap arte, no p ap el do Minis tro qu e roub a a carta da Rainh a. Ainda s egundo a crí tica d e Derrida sobr e a leitura d e Lacan, a carta repres entaria o legado freudiano na França ou o p oder d as ins tituições psicanalíti cas. Ver Derrida, Jacques. T he Post Card: From Soc rates to F reud and Beyond. Chicago: University of Chicago Press, 1987. O comen tário de Deleuze sobre a lei tura que Lacan faz do co nto es tá em D eleu ze, Gilles. Lógica do S entido. S ão Paulo: Pers pectiva, 2003. (p.41).

16 “A superfície é o lugar do sentido: os signos per manecem desprovidos de s entido enq uanto não entram na

organização de su perfície que assegura a ressonância entre duas s éries”. Idem, página 107.

17 Deleu ze atribui u m sentido particul ar ao temo „logi ca‟ que não condi z com a lógica moderna de Wi ttgenstein e

Frege, com a l ógica escol ástica nem tamp ouco co m a lógica aristo télica. Para John Rajchman, Del euze se ref ere à lógica como u m recurso qu e alu de a um a imag em original do p ens am ento: uma lógica da multiplicid ade e d o sentido. Se entendêss em os a lógica como um cálculo proposi cion al d a verd ade, en tão a no ção del euzean a d e lógi ca pareceria paradoxal e absurda; se buscássemos um métod o de inferên cia para as ci ênci as, não en con traríam os qualquer lógica

102

na proposta de Del euze. Rajch man argumen ta que o uso do cál culo e do método pod e ajudar a corrigir inferências. Mas seria precis o uma ou tra lógica p ara arriscar u m pens am ento diferente ou par a escapar das ilusõ es da

No documento Espectral: sentido e comunicação digital (páginas 105-118)