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Esta ferramenta foi aplicada no formato de dojo em doze dos vinte e sete encontros. A organização dos dados revelou três formas de observar sua aplicação:

Espaços do Dojo

Em termos físicos, o dojo do BPI é um espaço que delimitamos dentro de uma sala de dança, mas que pode se desenvolver (como já foi desenvolvido) em espaços maiores tais como cômodos, casas, árvores, campos, corredores etc. O dojo pode ser, inicialmente, um modesto, porém bem traçado círculo de giz no chão de uma sala. De qualquer forma, o dojo do BPI é uma extensão dinâmica do corpo do bailarino. (NAGAI, 2008, p.31)

A construção do espaço laboratorial era realizada pelas crianças. Para delimitar o dojo foram utilizados cascalhos médios, já que o chão dos espaços utilizados na atividade não suportava a marcação com giz. A intenção desta construção apresentada às crianças foi de criarem um espaço que seria só delas, um espaço que deveria ser cuidado e no qual elas poderiam dançar e brincar.

A princípio, a distribuição desse espaço na sala era total. Os dojos ocupavam os cantos, as laterais e o miolo da sala. Em um segundo momento, com a redução do número de participantes na pesquisa, a indicação foi que os dojos ocupassem as laterais da sala, deixando o miolo vazio. Essa alteração levou em conta a dinâmica da

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aula, que acontecia no espaço do auditório no último mês de atividade, uma vez que o dojo passou a ser delimitado e trabalhado em vários momentos da aula e intercalado com exercícios e outras práticas corporais.

Outra alternativa encontrada para driblar essa dinâmica intercalada foi utilizada no espaço do terraço, quando ocorreu a divisão da sala ao meio, deixando uma das metades para os dojos e a outra para eventuais práticas. Como descrito anteriormente, o espaço físico do terraço era comprido e estreito, o que possibilitou essa organização espacial.

Tipos de Condução

Foram experimentados quatro tipos de condução dentro do dojo:

Dança-livre: este momento ficou conhecido como Dança-Livre, pois a indicação

era para as crianças fazerem o que quisessem e dançarem como quisessem durante um período de tempo. Este momento foi sendo estruturado e aprimorado ao longo da coleta de dados deste projeto. Inicialmente, ele era aberto no fim do encontro como um momento de descontração e brincadeira. Com o passar do trabalho, ele passou a ter como foco desobstruir os canais sensíveis do corpo, tirando a camada superficial da agitação, da histeria e as ansiedades dos acontecimentos cotidianos, liberando o corpo para iniciar o trabalho.

Roteiro simples: em dois encontros em que ocorreu o trabalho laboratorial, foi

explicado, no início da atividade, um tipo de ação. A resposta das crianças ao formato desta condução foi observada, Exemplo: a partir da entrada de cada criança em seu dojo, a proposta foi para elas darem vida à boneca, manipulando- a pelo espaço e dando abertura para o fluxo de imagens e movimentos com o objeto. Após a explicação, passei a observar seus comportamentos e a perguntar o que elas estavam fazendo.

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Roteiro expandido: em oito encontros no trabalho laboratorial, foi estabelecido

um roteiro. Este roteiro teve como propósitos manter a atenção e a disciplina das crianças durante o laboratório e conduzi-las na exploração do fluxo de movimentos, imagens e sensações. Abaixo apresentamos um exemplo do roteiro com condução:

Deixem a boneca num canto e fechem os olhos. Vamos começar, hoje, movimentando o rabo.

Mexa o rabo de várias maneiras diferentes e sem imitar a do seu amigo.

Você vai começar a trazer um boi pro seu corpo enquanto você movimenta o rabo. Deixe o boi ir transformando seu corpo todo.

Você inteiro vai virando boi. Como é o seu boizinho?

Comece a dançar com o boi fazendo de conta que vocês estão numa festa de boi. Cada uma de vocês vai sair do seu espaço e ir ao encontro dos outros bois. O que você faz quando encontra outros bois?

Como vocês dançam? Volte para seu espaço.

Condução individual: em dois encontros em que ocorreu o trabalho laboratorial,

foi proposto que cada criança tivesse atenção individualizada e uma condução a partir da sua resposta corporal ao trabalho. Esse tipo de condução aconteceu de duas formas diferentes:

1) No espaço cenográfico da personagem Menina: uma a uma, as crianças ocupavam o espaço da personagem com a possibilidade de contar e dançar uma história com o corpo;

2) No espaço de dojo: após cada criança delimitar seu espaço, foi dado a elas o seguinte tema para o trabalho: o que seu corpo tem pra dizer ao boi e à boneca. A partir disto, elas receberam atenção individualizada, com perguntas sobre os acontecimentos e com as indicações de ações. As crianças deveriam reforçar ou dar passagem aos conteúdos corporais.

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O Trabalho com os Objetos

Ao longo de todo o trabalho laboratorial foram utilizados objetos. Estes objetos – boneca, máscara, matracas e tecido – tiveram o foco de ampliar a liberação da emoção- sensação-movimento-imagem, uma vez que sendo o dojo a expansão do corpo do bailarino, esses objetos passam a integrar o corpo. Descrevo, a seguir, um roteiro de trabalho com o objeto:

Fechem os olhos.

Faça de conta que você está sozinha. Ninguém pode te ver.

Você vai começar a andar pelo seu espaço e a imaginar que você está num lugar bom para brincar.

O que tem no seu espaço bom de brincar? É dia? É noite?

Mostre para a Boneca o que tem no seu espaço.

Agora, bem no meio do seu espaço, aparece um mastro de festa com uma bandeira no alto. Você e a Boneca vão começar a dançar em volta do mastro.

Como é o seu mastro?

Quais são as cores deste mastro?

Você e a boneca estão no meio de uma festa. E nessa festa surge um boizinho; um boi de festa.

E agora, você, o boi e a boneca começam a dançar juntos. Como é o seu boi?

Do que vocês estão brincando? O que vocês estão sentindo? Onde vocês estão brincando agora?

Agora, todas juntas vão começar a girar batendo os pés no chão.

FERRAMENTA: Registro

Os registros aconteceram em cinco dos vinte e sete encontros. Eram conduzidos no fim das aulas, ora após o trabalho laboratorial, ora após práticas e exercícios corporais. Os instrumentos utilizados para registrar as vivências das crianças foram:

Desenho: foram realizados dois desenhos: um relacionado à vivência com o boi

e outro relacionado à vivência com a boneca;

Escrita: foram desenvolvidas três atividades escritas: um relacionado à história

do boi, outro sobre a história da boneca e o último envolvendo a relação criança- boi-boneca;

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Modelagem na Argila: foram realizadas duas modelagens: uma do corpo do boi

e outra do próprio corpo das crianças.

Neste momento, distribuí para as crianças uma folha de papel em branco e giz de cera. Indo ao encontro do trabalho de dojo, a atividade foi a de escrever e/ou desenhar o que tinha acontecido no espaço delas. O fim da aula foi cedido às crianças para que terminassem o desenho do Boi que haviam iniciado no dia do encontro anterior. Também foi indicado que elas escrevessem a história desse Boi que elas haviam desenhado, descrevendo suas ações, suas características e qualidades; as imagens e paisagens em que o Boi estava dentre outras questões. (Trecho retirado do Relatório de Atividade com as crianças)

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AS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS NA PRÁTICA CORPORAL