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CAPÍTULO 3 – DISPUTA, RESISTÊNCIAS E CONTRADIÇÕES DE UM PROJETO

3.4. O fim do sonho

Após o fim do projeto Catende-Harmonia, juntamente com o fechamento de outras Usinas da região, a situação da Zona da Mata de Pernambuco apresenta alguns desafios do ponto de vista social, principalmente no que tange ao desemprego. O projeto Cana de Morador alcançou muitos êxitos, mas apenas conseguiu iniciar o processo de diversificação das culturas de plantação, não tendo sido suficiente para transformar o trabalhador e a trabalhadora do corte da cana em agricultor

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familiar, o que limita a possibilidade de geração de renda na região.

Ao se deparar com a situação atual, muitos trabalhadores passaram a reconhecer o valor do projeto nos períodos de Mário Borba e Marivaldo, percebendo as diferenças de acesso que existiram naqueles momentos.

E a gente só veio sentir o peso quando tirou o Marivaldo, colocou outro, aí acabou. Pegou o dinheiro, não pagou o banco, ficou o pessoal inadimplente e não se planta mais. Tem um ou outro que planta uma coisinha, mas a maioria não. Ele moeu a cana e não pagou o povo, porque era o povo que segurava a Usina (Damião/trabalhador do campo e presidente de uma associação).

A maior parte valoriza o Assentamento que ficou para os trabalhadores do campo e a possibilidade de plantar em suas terras, mas, ao mesmo tempo, muitos ficaram com o nome inadimplente sem conseguir acesso aos créditos que viabilizam a utilização da terra. Isso porque, o novo síndico, ao não pagar os trabalhadores, também não permitiu o pagamento do PRONAF, deixando o trabalhador com dívidas, já que o acesso a este crédito se dava de maneira individual. Segundo Inácio, o síndico alegava que não sabia a quem pagar, pois não “compreendia esse processo coletivo”. Além disso, ele descumpriu todos os acordos feitos pela Cooperativa.

Atualmente o Assentamento está passando por uma redivisão dos lotes dos trabalhadores, visto que não existe mais um projeto coletivo para que plantem e produzam juntos, como era o caso da cana no projeto Cana de Morador. Como havia a Usina para manter a viabilidade econômica da cana plantada, o Assentamento foi dividido em formato de agrovila. Ou seja, as casas ficam próximas umas das outras, com espaços para hortas de subsistência e o lote de plantação era coletivo e afastado das casas. Agora a proposta é separar tudo em lotes individuais:

Nós sempre entendemos e ainda acho que um projeto produtivo coletivo é mais eficiente, é mais eficaz, a possibilidade de dar certo é melhor desde que hajam instrumentos. Desde que as condições sejam dadas. Nós tínhamos esses instrumentos, tínhamos uma unidade industrial que dava unidade econômica, dava unidade política, do ponto de vista de organização e favorecia esse trabalho articulado, conjunto […] Hoje eu mesmo defendo que as terras sejam cortadas, infelizmente acho que é isso, pedindo que o INCRA faça o parcelamento das terras pra que as famílias que queiram ser agricultoras familiares tenham apoio para isso, tendo direito. É o fim do projeto coletivo, mas é a tentativa de parte como agricultor familiar sobreviver (Artur/liderança no projeto Catende/Harmonia).

De outro lado, muitos trabalhadores continuam não satisfeitos com o Assentamento, pois não querem ser agricultores, mas assalariados e acabam indo para a cidade, deixando seus lotes. Muitos também continuam sem saber plantar e sem ter como plantar pela falta de créditos.

Houve recentemente um projeto educativo denominado Saberes da Terra que tentou articular alfabetização com qualificação para que os filhos dos trabalhadores, jovens de 18 a 29 anos, pudessem aprender a plantar e começar a pensar sobre novos destinos para o Assentamento,

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inclusive com perspectivas coletivas. Este projeto foi articulado por antigas lideranças do projeto Catende-Harmonia em parceria com o governo do Estado de Pernambuco e tentou retomar a discussão coletiva em torno de Catende. Também pretendia ampliar a qualificação do trabalhador do campo e as possibilidades de geração de renda no local.

Dos 48 engenhos existentes em Catende, pelo menos 30 foram contemplados com o projeto. As salas de aula foram montadas nas próprias comunidades dos Engenhos e em cada sala participam duas professoras ou professores, sendo uma da área de humanas e uma de exatas, além de um técnico agrícola para o desenvolvimento das atividades práticas. A maior parte desses técnicos pertenceu ao projeto Catende-Harmonia e os professores e professoras são moradores da comunidade do entorno, das cinco regiões que Catende envolve.

Inicialmente o projeto passou por um período chamado de equalização, que buscou certificar os estudantes que não tinham a formação do ensino fundamental completo. Após esse período o projeto começou a articular os eixos temáticos (agricultura familiar, diversidade, trabalho, economia solidária), com as aulas práticas de agricultura realizadas pelos técnicos do programa.

No que tange à formação profissional, à qualificação técnica dos trabalhadores e trabalhadoras, foi observada a satisfação dos jovens com o projeto. Primeiramente, porque puderam certificar-se dos estudos básicos e, sobretudo, porque aprenderam novas habilidades no campo, tal como ilustra a fala abaixo:

é bom porque a gente estuda e a gente aprende. Porque às vezes a gente mora ali na terra, mas não sabe como é que planta as coisas... e os professores ensinam e a gente aprende. Por exemplo, a cuidar dos peixes, a gente só sabia que o peixe estava lá no rio (risos), mas não sabia sobre o poço, a história da ração, a gente aprende muito (Samanta/trabalhadora rural).

No final, o projeto teve alguns resultados positivos: alfabetizou e formou os estudantes para seguirem os estudos no ensino médio na rede pública e possibilitou algumas experiências coletivas, tal como a produção de frango caipira, peixes e hortas, além do artesanato escolhido por alguns grupos de mulheres como atividade produtiva.

Quem mais frequentou as aulas foram as mulheres e, de acordo com algumas educadoras entrevistadas, elas se mostraram mais dispostas a pensar em outras possibilidades coletivas. Os homens ainda estavam mais focados em se qualificarem para arrumar emprego em outras regiões.

Esta questão voltará a ser destaque nas outras experiências pesquisadas, sobretudo ao compararmos o trabalho de homens e de mulheres na cooperativa de triagem de resíduos sólidos pesquisada. Observou-se que os homens, por conseguirem melhores trabalhos no que tange ao mercado formal, com acesso a carteira assinada, acabam escolhendo outras atividades produtivas

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como fonte de renda. Já as mulheres, com menores perspectivas de trabalho no mercado formal, acabam sendo atraídas pela ideia de trabalho coletivo/associativo. Mesmo porque as suas habilidades consideradas inatas podem ser mais aproveitadas nessas experiências.

Outros projetos educativos com os jovens também vêm acontecendo, na perspectiva de qualificá-los para a agricultura familiar, tal como nos explicou um jovem entrevistado: “aprende de frutas, legumes, árvores, terra pra plantar ou não, plantar sem agrotóxicos. São 30 estudantes, tem 6 meninas...a gente está querendo reutilizar a estufa lá em baixo...está com projeto pra gente distribuir mudas, frutos e polpas”.

Além desses, há um projeto de construção de 2.400 casas em diferentes engenhos, desenvolvido pelo governo federal. Os pedreiros, eletricistas e outros trabalhadores homens do projeto são moradores da região que foram qualificados para essa atividade, numa tentativa de articular a possibilidade de geração de renda com os projetos sociais que estão sendo desenvolvidos.

Todos esses projetos foram conseguidos para apoiar o Assentamento e foi com eles que me deparei durante minha segunda visita à Catende em 2014. Outros novos projetos também vêm acontecendo estimulados por poderes locais e desenvolvidos em articulação com o governo federal, tais como feiras de economia solidária e agricultura familiar. A Secretaria da Agricultura se vinculou ao Programa de aquisição de Alimentos – PAA, em que a prefeitura compra os produtos da agricultura familiar para serem utilizados nas instituições públicas, como nas escolas, creches, etc. Também está começando a articular projetos junto a redes de supermercados para comprar os produtos do Assentamento.

Quanto à Usina, “sumiu, acabou”, como descreveu Júlio. Os entrevistados disseram que os equipamentos ficaram “expostos ao sol, sereno e chuva, houve saqueamento, desvio de peças, equipamentos e implementos”. Nas palavras de Inácio:

No primeiro dia que ele chegou, ele me procurou e disse que a cooperativa tinha sido destituída de dentro da fábrica, fora não, mas dentro da fábrica, ele tinha destituído ela. Eu, ele soube que eu era diretor industrial, aí mandou escolher, ou eu ficava como diretor lá fora, ou se eu ficasse na usina, eu tinha que voltar pra minha profissão. Aí fiquei na profissão até o final, mas eu tinha certeza que a gente não ia muito longe não. Em 2012 foi o fechamento geral. Não prestaram conta de nada, ninguém sabe se existe dinheiro, ninguém sabe mais nada. A usina tá aí, deteriorada, a ferrugem comendo, acabou! Acabou o sonho, acabou o projeto, acabou tudo do trabalhador!

Como resultado deste fim, as pessoas ficaram dispersas, cada uma em seu lote e a dificuldade de diálogo, comunicação e mobilização é maior. Algumas Associações seguiram ativas, mas não se fala em projeto coletivo ou na Usina. Muitos conseguiram se aposentar e estão vivendo de projetos como o Bolsa Família. Como descreveu Júlio, a situação de desemprego na região é desesperadora

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por não terem perspectiva alguma, bem como por não terem uma célula que sustente a geração de renda na região, como era o caso da Usina.

O colégio e o hospital foram vendidos à prefeitura de Catende como patrimônio histórico. Os trabalhadores também não sabem o que aconteceu com as terras da Usina. Segundo Artur, alguns militantes que sonharam o projeto entraram em depressão, mas a maioria está trabalhando nas prefeituras da região e desenvolvendo os projetos sociais acima citados.

Também se identificaram alguns projetos destinados às mulheres em parceria com a Secretaria de Políticas para as mulheres de Palmares. Elas estão desenvolvendo os Conselhos de Mulheres com propostas de projetos para pensar a participação política das mulheres. Cristina também faz parte de um projeto onde fundaram a União Brasileira de Mulheres (UBM) da região e descreveu que querem saber qual é a política pensada para as mulheres em cada localidade para começarem suas ações. Também iniciaram a rádio mulheres em Palmares.

De maneira geral, as lideranças do projeto, embora apresentem profunda tristeza pela história de Catende, não avaliam a experiência como um fracasso e refletem sobre a importância da construção de um projeto coletivo, que é de fato um grande desafio:

Olha, não vejo a situação aqui como um fracasso. Eu acho que foi uma experiência positiva, acho que o trabalhador ganhou muito, e que nunca mais vai voltar o que ele era no ano 96, 97; ele conseguiu se libertar de muita coisa, conseguiu ter consciência daquilo que pensava quando uma telha tinha saído do lugar e tinha uma pingueira de água que era problema do outro, ele passou a entender que era problema dele, que ele que tinha que resolver isso, o trabalhador ganhou muito com isso […] Eu sou otimista, eu acho que para todos nós o projeto Catende foi um aprendizado, eu olho ele com muito carinho, eu fui um fã do projeto, com meus erros e meus acertos (Júlio/trabalhador da Usina e do Campo).

Agora, eu lamento muito, Catende foi uma experiência. Eu digo que foi por causa dessa situação que a gente está vivendo...mas era uma revolução. Catende foi uma revolução. Não foi a toa que você teve em várias frentes muita gente querendo minar o projeto. Das forças políticas da região, do poder econômico, de grupos locais mesmo em cada município que via despontar dali uma coisa diferente e que podia crescer muito e mudar toda uma ordem estabelecida aqui. Verdadeiramente Catende foi isso, mas precisava de um suporte e estrutura para conseguir ir, mas era minada de várias formas, inclusive internamente pela formação de cada um, pela história cultural que cada pessoa trazia (Cristina/membro da equipe de educação do Projeto Catende-Harmonia).

Algumas lideranças apresentaram idéias possíveis para seguir com pequenos projetos coletivos em Catende, tais como estímulo à agricultura familiar pelas associações, estímulo à ampliação das feiras da região, trabalhar com apoio das prefeituras locais para preparar a terra para plantar, pensam em estudos para mapear a região a fim de identificar o que estão plantando e os êxitos que estão tendo. Alguns citam projetos mais ousados como mini destilaria, fábrica de polpas, etc. Mas reforçam a necessidade de vontade política e apoio do governo estadual e federal para isso,

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bem como falam da vontade dos trabalhadores de realmente quererem um novo projeto coletivo. Dessa forma, observa-se que Catende foi uma iniciativa que contribuiu muito para pensarmos projetos de autogestão parcial no Brasil. Ela revelou muitas possibilidades de um projeto coletivo com grandes amplitudes numa sociedade classista, sexista e racista, ao mesmo tempo em que evidenciou a complexidade de romper com essa estrutura em diferentes níveis, interna e externa à própria iniciativa. Ao analisar a história da Usina Catende, nota-se que se trata de um exemplo concreto das possibilidades e dos avanços de um empreendimento constituído sobre o controle dos trabalhadores. Mas, ao mesmo tempo, observa-se a reprodução de uma série de desigualdades, ao lado de inúmeras dificuldades e contradições políticas que apresentam limites aos avanços dos projetos que pretendem, de alguma forma, modificar a ordem estabelecida.

Considerações do capítulo

Pesquisar e escrever sobre Catende foi um convite à compreensão em torno da ousadia e dificuldade de tentar construir um projeto coletivo com ênfase na melhoria das condições de trabalho e vida de determinados grupos sociais no Brasil, numa sociedade classista, racializada e sexista.

O projeto Catende-Harmonia na região da Zona da Mata demonstrou uma série de contradições. Foi um projeto pensado por lideranças, não proporcionou os mesmos avanços para homens e mulheres, silenciou as questões raciais e houve uma série de conflitos entre trabalhadores ancorados na divisão social e racial do trabalho e na história do assalariamento na região.

Ao mesmo tempo, demonstrou a experiência concreta de uma Organização Social Produtiva que vai aprendendo na prática da luta de classes a superar as suas contradições e os seus limites. O projeto ainda estava em construção e novos horizontes vinham sendo traçados. Os trabalhadores estavam cada vez mais aderindo e compreendendo o projeto e muitas conquistas foram vivenciadas, sobretudo no âmbito da luta de classes entre trabalhadores e usineiros e grupos políticos da região. Destacam-se os projetos de qualificação técnica, proporcionados pela alfabetização e qualificação como agricultores familiares, além da qualificação política e de gestão coletiva, proporcionados pelas reuniões e Assembléias organizadas, bem como pela participação dos trabalhadores no projeto. Destaca-se o modelo de disseminação da informação construído, com base na democracia representativa67 devido ao tamanho da experiência.

67 A discussão em torno do modelo de democracia, representativa ou direta, faz parte do conceito de autogestão, tal como

discutido no primeiro capítulo deste trabalho. Segundo Mothé (2009), na origem do conceito de autogestão ressignificado pela Economia Solidária, buscava-se o desenvolvimento da democracia direta, em que as pessoas, tendo

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Também há que se considerar o projeto coletivo de Reforma Agrária construído, o modelo rotativo de crédito social que foi criado, a mudança na qualidade de vida dos trabalhadores, principalmente dos trabalhadores do campo historicamente explorados e oprimidos na região, entre outras conquistas sociais difíceis de serem mensuradas.

Nesse contexto, Catende revela contradições explícitas nas lutas sociais: de um lado, o papel importante dos movimentos sociais, religiosos e sindicais num projeto coletivo, e de outro, a força de alguns grupos hegemônicos do país, como o caso dos usineiros aliados a grupos políticos que dominam o Estado e têm força inclusive para retirar uma pessoa do poder de uma Usina em massa falida de modo ilegal. Dessa forma, Catende evidencia a dificuldade da luta de classes no Brasil e é um exemplo de como os projetos de organização social produtiva não conseguem crescer sem apoio do Estado e das forças que marcam as relações de poder no país.

Ao analisar a ES, Corragio (2000, p. 120) indica que os empreendimentos não conseguem obter resultados apenas com “microintervenções solidárias”. É necessário alcançar uma “escala adequada, uma revolução moral, para que toda a sociedade decida investir na economia popular: através de fundo para desmercantilizar a educação permanente para todos, de créditos responsáveis, de investimentos em infra-estrutura produtiva”.

Numa direção contrária do que aponta o autor como necessidade da ES, Catende mostra como a construção de projetos como este apresenta limites e são relegadas a projetos pequenos sem grandes capacidades de desenvolvimento local e de afetar com profundidade as estruturas e grupos de poder que dominam o país. Essa acaba sendo a proposta das políticas atuais de Economia Solidária, que não apresentam força suficiente para apoiar projetos como Catende.

Nesse sentido, cabe destacar que nem mesmo a SENAES, representante da Economia Solidária no Estado, foi capaz de inteferir no processo de modo a apoiar com mais forças a Fábrica Recuperada pelos trabalhadores em Catende. Não me dediquei a aprofundar essa questão na própria SENAES, mas, ao questionar os entrevistados, a resposta obtida é que, na prática, não houve este apoio. Ou seja, a SENAES não se mobilizou para interferir no processo e apoiar os trabalhadores para manter a Usina em funcionamento. Retoma-se aqui a análise de Kruppa (2005), ao afirmar que posse das informações necessárias, poderiam decidir coletivamente os caminhos políticos e decisórios de uma comunidade, sem precisar de representações. Porém, para o autor, na prática de autogestão dos empreendimentos solidários observou-se certa dificuldade em manter este modelo, principalmente devido ao tamanho das iniciativas, das distâncias geográficas e da necessidade de agilizar alguns processos burocráticos. Em Catende observou-se que o modelo de democracia representativa pode apresentar falhas, visto que em muitos momentos nem todos os trabalhadores se sentiam representados pelas pessoas que deveriam ter esse papel. Muitos trabalhadores nem sequer ficavam sabendo de todas as informações sobre a Usina. Contudo, diante do tamanho da experiência e da necessidade de resolver alguns processos no tempo do mercado, o modelo de democracia direta não se apresentava como viável.

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a força política da SENAES ainda é muito pequena. Para a autora, estamos falando da institucionalização de políticas voltadas a uma população excluída e que não são prioridades dos governos, o que dificulta a sua tentativa de articulação.

Tal como apontado por Zibecchi (2010) no primeiro capítulo desta tese, de fato é complexo tentar lutar contra a pobreza sem tocar nas estruturas de propriedade e nas relações de poder. Conforme o autor apresenta ao se referir às cooperativas, Catende mostrou a capacidade que “os pobres tem de se organizar e mobilizarem-se”, no entanto, acabaram se tornando iniciativas paleativas à miséria sem forças para interferir na estrutura do poder, no caso, dos Usineiros e grupos políticos da região.

Ao analisar teoricamente a Economia Solidária, Gaiger compreende a eficiência de um empreendimento à medida que ele consiga por si só sustentar a sua reprodução. Porém, o autor explica que essa sustentação não é sinônimo de “independência financeira, ou independência social e econômica plena, o que não existe em nenhum setor econômico” (GAIGER, 2000, p.180). Em outras palavras, quando pensamos em empresas capitalistas essa relação é evidente, visto que muitas dependem do Estado para sobreviver. No caso das Organizações Sociais Produtivas, elas também necessitam de certas “políticas de alavancagem”, porém, esse não tem sido o foco de investimento do Estado.

Outro aspecto a ser destacado é a opressão em que viviam os trabalhadores do campo, sobretudo os trabalhadores e trabalhadoras negras/os e as mulheres da região da Zona da Mata pernambucana. Eles/as são reflexos de uma sociedade colonizada, patriarcal e de classe, cujo imaginário indicava que deixar de ser assalariado era quase como voltar a ser escravo, já que são esses os regimes de organização que os trabalhadores conheciam, tamanha era a alienação existente na região. Os senhores do açúcar enraizaram um modo de vida e de exploração do trabalho que insiste em permanecer e essa forma de exploração humana pouco evoluiu na região, até os dias atuais.

Nesse cenário, Catende buscou unir trabalhadores em torno de um projeto social comum e não apenas econômico, ampliando cada vez mais a participação dos mesmos, diminuindo formas de