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Qualificação dos trabalhadores e as Mulheres no projeto Catende-Harmonia

CAPÍTULO 3 – DISPUTA, RESISTÊNCIAS E CONTRADIÇÕES DE UM PROJETO

3.2. A falência e a construção do projeto coletivo Catende-Harmonia

3.2.2. Qualificação dos trabalhadores e as Mulheres no projeto Catende-Harmonia

No ano de 1996 foi desenvolvido em Catende um programa de qualificação com ênfase na alfabetização dos trabalhadores e trabalhadoras, chamado de “Catendão”, e financiado pelo Governo do Estado de Pernambuco. Faziam parte do projeto cem monitores para a alfabetização e dez professores. Havia aula à tarde e a noite, com cerca de cem turmas trabalhando nos 48 Engenhos. Posteriormente, vários cursos de formação e de progressão escolar continuaram a ser oferecidos com suporte de várias entidades religiosas.

Segundo Kleiman (2008), estes projetos permitiram uma queda no analfabetismo na região de 82% para 16,5% entre 1995 e 2002. Também possibilitou conhecer mais os trabalhadores do campo, articular as áreas e os engenhos, ampliar as Associações e começar a criação de uma identidade para o projeto, que passou a ser chamado Catende-Harmonia:

Bom, esse trabalho ajudou para além da qualificação das pessoas com alfabetização na parte profissional: uma outra coisa que era chave, que nós não tínhamos, que era a articulação de várias áreas. Então começou a se criar uma identidade que nós chamamos de projeto Catende-Harmonia. Daí nasce uma identidade, precisava de alguma coisa que ajudasse as pessoas a se identificarem e ela começam a falar “eu sou do projeto Catende”. Porque era muito amplo, muita gente, e isso foi nascendo naturalmente, não foi sistematicamente, isso foi se dando no dia-a-dia... (Artur/liderança no projeto Catende/Harmonia).

Cursos como este seguiram acontecendo em Catende, contando com apoio do Estado, ou da sociedade civil, ou ainda com recursos da própria Usina. Houve também uma série de cursos técnicos para a profissionalização dos trabalhadores: “Teve até curso de técnico de segurança do trabalho...dois trabalhadores formaram financiado pelo projeto. Curso técnico na área de piscicultura. Várias áreas”. Havia ainda uma escola mantida pela própria Usina. Essa escola era dos filhos dos usineiros e com o projeto os filhos dos trabalhadores começaram a frequentar também.

A Usina mantinha um grupo escolar, mas na época do tenente se criou um grupo para que estudassem os filhos dos operários da usina, aí não estudavam os filhos do campo. Mas então, já como campo e indústria deviam ser iguais, então o filho do camponês também tinha direito de estudar no grupo. Então o grupo é uma coisa que sempre foi o lugar convencional para todo pai mandar o menino estudar, na época, um grupo bem organizado, com professores bons...(Júlio/trabalhador da Usina e do Campo).

Já entre 1999 e 2000 foi criado um novo projeto educativo para alfabetizar e qualificar os trabalhadores. No entanto, este projeto tinha como ênfase a qualificação de jovens, filhos e filhas dos trabalhadores, possibilitando um estágio para os mesmos no interior da Usina. Ele foi financiado

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por um convênio internacional e atendeu aproximadamente 60 jovens em cursos técnicos de campo e fábrica voltados para as atividades típicas de Usina.

Segundo Lima (2003), que realizou uma pesquisa de mestrado para verificar as propostas educativas realizadas em Catende, essa experiência foi a mais citada pelos trabalhadores em suas entrevistas. Ela representou uma possibilidade de qualificação bastante relevante, além de oportunidades de ocupação de novos espaços sociais, visto que jovens, homens e mulheres, passaram do terceiro para o segundo grupo, a partir da escolaridade. Muitos foram alocados na administração da Usina, no laboratório, na organização do chão de fábrica, até mesmo nas Associações nos Engenhos.

Há que salientar que, junto com a inclusão dos jovens esse projeto, pensava-se também na inclusão das mulheres no interior da Usina. De fato isso aconteceu no projeto, porém, tal como explicou Cristina, uma de nossas entrevistadas, essa inclusão se deu de forma a reforçar a divisão

sexual do trabalho, uma vez que homens e mulheres foram alocados em funções específicas. Tais funções seguem um dos pilares da divisão sexual do trabalho, que é o da separação, ou seja, separam-se funções de homens e de mulheres a partir de elementos reservados a cada sexo, tal como força e qualificação tecnológica, por exemplo:

Em Catende, nós desenvolvemos um projeto com a juventude, trabalhamos a profissionalização e a politização desses jovens e aí nós introduzimos algumas mulheres no chão da fábrica, mas a grande maioria ainda assim preferiram ficar nos laboratórios, porque o chão de fábrica é de força e ainda faz parte do universo masculino [...] O pessoal que trabalhava mesmo na fabricação do açúcar, caldeiras, moagem, eram homens...a mulher ia para o laboratório fazer a análise do açúcar que é uma coisa que seria mais leve...a gente não conseguiu entrar ainda nesse universo da hegemonia masculina (Cristina/membro da equipe de educação do Projeto Catende-Harmonia).

De um lado observa-se a importância de começarem a pensar a questão de gênero nas atividades de qualificação realizadas pelo projeto, mas, de outro, ainda se encontra a dificuldade de romper com as barreiras da divisão sexual do trabalho presentes tanto na região como nas empresas recuperadas de maneira geral. Nestas, as mulheres constituem uma minoria pouco expressiva, visto que, seguindo o mesmo pilar da separação, elas não são comumente encontradas nas atividades industriais.

Ao realizar uma pesquisa em cinco fábricas de ramos e tamanhos diferentes, Rodrigues (1994) descreve que em nenhuma delas encontrou homens e mulheres desenvolvendo exatamente a mesma tarefa. Contudo, a autora observou que o que correspondia à mulher ou ao homem era diferente no interior de cada empresa. Ou seja, uma tarefa alocada às mulheres em uma empresa, só mulheres irão desenvolvê-la, em outra empresa poderia ser desenvolvida por homens, mas só

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homens a desenvolveriam. Isso sem considerar aquelas atividades “obrigatoriamente femininas”, como as tarefas de limpeza e o serviço de secretaria.

No caso de Catende, essa ausência das mulheres na indústria explica-se também pela representação do feminino e do masculino na região: “tem muita mulher que teve que parar de estudar porque teve filho” “os homens pararam de estudar porque eles têm que trabalhar, porque os caminhões das Usinas do Brasil todo chegam e levam eles para trabalhar”; “a mulher tem marido pra cuidar”; “o homem tem que levar o dinheiro pra família”; “pensa o que é um homem desempregado sem poder levar o sustento da família”.

Conforme explicou Cristina, a partir de representações como essas, as mulheres eram alocadas principalmente em espaços referentes a serviços de escritório e projetos educativos:

historicamente, quer dizer, a Zona da Mata, a história nossa aqui de Pernambuco, do Nordeste e do setor surco-alcooleiro sempre foi muito machista, muito. É um ambiente muito masculino. Eu acho que durante o projeto, quando o projeto era forte, teve o interesse de trazer os sujeitos femininos para o interior. Embora para algumas funções específicas. Por exemplo, as mulheres na Usina, não só na Catende, mas em toda essa região, quando muito são as secretárias, secretárias da administração, poucas estão em outros lugares. Se você for ver no chão da fábrica não existem mulheres. Não existe mesmo!

Inclusive a própria Cristina explica que só trabalhava em Catende porque era educadora e já desenvolvia projetos na região com algumas lideranças, por meio das pastorais de movimentos sociais religiosos. Ou seja, ela também tinha um lugar específico no trabalho e indicou a ausência das mulheres na administração da Usina:

Eu fui à Catende porque era educadora da CUT, que tem uma escola Nordeste, que é a escola de formação, que desenvolvia um projeto de alfabetização e de escolarização dos trabalhadores; e nós optamos por ter uma turma dentro do projeto Catende, e eu vim como educadora da Catende, então passei dois anos trabalhando como educadora. Eu já tinha uma relação muito antiga trabalhando nas pastorais populares aqui na diocese. Então, desde a minha adolescência, a gente se conhecia. E fomos trabalhando...eu fui me apropriando do projeto Catende e quando acabou o projeto eu fui convidada a integrar a equipe de educadores do projeto, porque uma das metas era acabar com o analfabetismo e investir no processo de educação para que aqueles trabalhadores e trabalhadoras começassem a compreender o que era a implicação da Economia Solidária, de você criar outros pilares de relação da economia diferente da economia capitalista […] mas ainda assim eu fui como educadora. Fui para integrar a equipe de formação. Eu não estava e não tinha nenhuma outra mulher na gestão ou também como dirigente da cooperativa.

Ela descreveu ainda que, com o passar dos anos, outra mulher adentrou a Usina para substituir um tesoureiro que teve que se afastar. Mas toda a equipe pensante e formuladora da política do projeto Catende-Harmonia sempre foi masculina. Nestes exemplos evidencia-se a reprodução do denominado “telhado de vidro”, expressão que surgiu nos estudos da divisão sexual do trabalho na década de 90 e que indica que as mulheres têm um limite até onde podem estar (HIRATA, KERGOAT, 2003). Ou seja, elas eram incentivadas a participar das Associações, dos

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projetos educativos, de alguns projetos específicos, mas não do grupo de maior poder da Usina. Conforme explica Gardey (2003), na direção das considerações tecidas no segundo capítulo desta pesquisa, por terem sido excluídas do trabalho produtivo durante muito tempo, as mulheres não são vistas como tendo a mesma capacidade para ocupar espaços de poder e de tomada de decisões. Em outras palavras, as suas qualificações compreendidas como inatas, não são suficientes para que elas ocupem determinadas funções, sobretudo nas indústrias e em locais onde o mando masculino é historicamente cristalizado.

Observa-se que as mulheres que chegaram ao interior da Usina, com melhores condições de trabalho, eram escolarizadas e qualificadas politicamente, compondo o primeiro grupo classificatório desta tese. Os homens do terceiro grupo chegavam à Usina no chão de fábrica, e do segundo grupo eram espalhados pelas atividades técnicas, sendo que alguns chegaram à administração da Usina. Já entre as mulheres, poucas eram as do primeiro grupo no interior da Usina e algumas do terceiro grupo chegaram à limpeza. As outras não passaram pelo interior da Usina e se mantiveram ou nas atividades domésticas, ou no serviço público em Catende (primeiro e segundo grupo), ou no corte da cana (segundo e terceiro grupo), chegando, no máximo às Associações, mas nunca em número de igualdade com os homens.

A esta ausência das mulheres soma-se o trabalho invisível por elas realizado, ou seja, o trabalho reprodutivo que manteve a participação dos líderes homens da Usina e que não é compreendido como trabalho com a mesma relevância. Um exemplo é o caso da companheira de um dos líderes entrevistados. Ela contou que não participou do projeto, mas ao longo da entrevista identifiquei que ela foi voluntária na região durante alguns anos, mas que depois decidiu ir trabalhar e cuidar dos filhos para que o seu companheiro pudesse fazer parte do projeto. A problemática em torno do trabalho reprodutivo que cabe às mulheres não aparece com a mesma expressão ou como uma questão a ser enfrentada para os homens.

- Mas eu não participei de todo esse processo não, viu? Tinha algumas informações de alguma forma, mas eu acompanhei junto ao movimento sindical e da igreja até o acampamento na usina pra não deixar os usineiros levarem, mas eu não fiz parte do projeto Catende não, no sentido de acompanhar eu já estava fora há um tempo.

- Por qual motivo? Foi uma escolha abandonar o projeto?

- Condição de vida mesmo, né? Precisava trabalhar fora, cuidar da família e aí não tinha mais tempo. Todos os trabalhos que eu fiz aqui eu fiz como voluntária e no momento que eu não tive mais condição de fazer como voluntária, não tinha aula aqui por perto aí não deu. Aí tive que trabalhar fora, em Recife, aí chega os filhos, não tinha mais condições […] Então não foi uma opção, foi uma condição mesmo. E meu marido abandonou a família para se dedicar cem por cento a isso, mas aqui ele trabalhava sem ganhar nada, e como ia fazer se eu não trabalhasse? (Leila/educadora da Zona da Mata).

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Cabe notar que isso não aparecia como um problema para o casal, e não é meu papel aqui julgar os acordos conjugais realizados em Catende. O que interessa é revelar o trabalho reprodutivo e invisível de mulheres que fizeram com que essa experiência fosse possível. Ou seja, revelar como o trabalho invisível que mantém a sociedade não é contabilizado e nem tampouco valorizado pelas próprias mulheres. Tal como descrevem Abramovay e Silva (2000), trata-se de um trabalho de base das mulheres que é subvalorizado e, muitas vezes, passa de forma despercebida, porém é imprescindível para a sociedade e para a economia.

Dessa forma, embora notam-se avanços durante o projeto Catende-Harmonia, a experiência não contribuiu de forma significativa para mudanças na estrutura patriarcal da região, nem mesmo no interior do projeto. As mulheres não eram contratadas para trabalhar na Usina nem na época dos Usineiros, nem durante o projeto coletivo que se desenvolveu.

Na experiência de Cristina, ela descreve que este enfrentamento não era a prioridade do projeto. Ela destaca que, muitos trabalhadores machistas, a fim de manter os seus privilégios, não a viam com bons olhos no interior da Usina, pois a sua simples presença colocava algumas questões em discussão:

Eu tive dificuldades em algumas situações com alguns companheiros. Porque aí você já tem uma mulher e traz um olhar diferente, começa a problematizar algumas situações, querer mudar e aí encontra algumas resistências. Eu não digo nem pelos companheiros que iniciaram tudo e estavam mais a frente, mas os companheiros que tinham essa relação de gênero muito mais enraizada mesmo nas tradições, na cultura e na história aqui da região. Mas eu acho mesmo que essa é uma lacuna que a gente observava e a gente sabe que tem, muitos companheiros reconhecem isso, mas a própria dinâmica do processo da Catende que se tinha talvez não permitiu isso da gente ter esse avanço, essa progressão.

Ao ser questionada sobre esta desigualdade, Cristina descreve que em alguns momentos as mulheres se posicionavam, mas que suas reivindicações não tinham muito “eco”. Para ela, “Catende era uma complexidade tão grande, tinha tantos problemas a serem enfrentados, que parecia ser secundário começar fazer essa discussão de gênero e começar a implantar novas metodologias e relações diferenciadas nesse sentido”.

Dessa forma, a entrevistada observa que Catende teve muitas conquistas e cumpriu com o objetivo de as pessoas não sofrerem mais com miserabilidade e fome. Para ela, o fato de um trabalhador poder compreender sobre administração da Usina, estudar, plantar, reivindicar direitos, já era uma grande conquista. A entrevistada acreditava que ao longo do projeto as questões de gênero poderiam ser enfrentadas com maior dedicação, principalmente após maior estabilidade financeira da Usina.

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enfrentadas pelas mulheres não é prioridade em muitos movimentos sociais, na Economia Solidária e em muitas experiências que se dizem revolucionárias, o que é um aspecto essencial desta tese.

Jules Falquet (2006) discute essa questão em um artigo sobre as mulheres e os movimentos sociais e contribui com uma reflexão de extrema relevância: os movimentos sociais compreendidos como “progressistas” (lutas revolucionárias ou movimentos da luta contra a globalização neoliberal) raramente refletem explicitamente sobre o tipo de modelos familiares sobre os quais se apóiam. Nas palavras da autora: “é surpreendente que um movimento que busca uma transformação social radical seja cego à exploração das mulheres e saia em defesa de um modelo familiar patriarcal”.

Segundo a autora, esses movimentos atacam de frente o sistema de exploração capitalista, mas não enfrentam a opressão sexista, tal como observado em Catende. Em pesquisa desenvolvida com diferentes movimentos sociais onde as lideranças são compostas majoritariamente por homens, entre eles os movimentos Zapatista e o MST, a autora revela que a discussão de gênero fica numa declaração de princípios e se limita à inclusão de mulheres em algumas atividades. Atividades essas que muitas vezes seguem o padrão da divisão sexual do trabalho. Para Falquet (2006), a sociologia dos movimentos sociais também não se debruçou sobre este paradoxo com devida relevância.

No caso de Catende, em relação às trabalhadoras do campo havia uma diferença de participação das mulheres, visto que elas eram encontradas em muitas Associações chegando à liderança de algumas. Conforme explicou Cristina,

nesses espaços do campo já tinha um número mais significativo de mulheres. Onde a gente via aparecer mais mulheres era em função das associações rurais que tinha mulheres à frente. Mas também talvez em função da disponibilidade maior das mulheres em participar das reuniões. A Associação existia muito mais em função de trabalhar as coisas e as necessidades da comunidade. Buscar tanto com a Usina, como com a cooperativa, como com o poder público, resolver questões da escola, de alguma situação específica que tivesse que resolver da comunidade, e a mulher tinha um tempo mais livre e uma sensibilidade maior pra correr atrás dessas questões. Então, no campo mudava um pouco essa representação, mas não era em torno de um projeto de sociedade que as mulheres estava exercendo seu protagonismo. Era em consequência de ser uma representante direta da comunidade e teria condições de correr atrás das necessidades básicas e imediatas que se apresentavam.

Este fragmento confirma a tese de Isabelle Guérin (2005), ao dizer que as mulheres participam mais dos projetos coletivos por esse já ser um hábito em suas vidas. Em suas pesquisas no âmbito da Economia Solidária, a autora constatou que as relações de proximidade desenvolvidas pelas mulheres facilitam o ingresso em trabalhos coletivos e o acesso a distintos direitos sociais.

A autora explica que, ao longo da história, as mulheres foram criando certa identidade em torno das reuniões em grupo, o que as levou a criar, por exemplo, profissões como o serviço social e os centros de assistência. Guérin (2005) observa que até os dias atuais muitas mulheres estão

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envolvidas em relações de reciprocidade que proporcionam coesão à família e à sociedade, sendo estas relações expressas nas práticas de se reunir em grupos. Dessa forma, ela conclui que existe maior possibilidade de as mulheres se engajarem em movimentos solidários e coletivos, principalmente se eles tiverem como foco a discussão dos problemas comunitários.

Nobre (2003) concorda com essa discussão e analisa que pelas relações de proximidade nas quais sempre estiveram envolvidas, as mulheres são importantes interlocutoras e conhecem os problemas dos bairros, das comunidades em que vivem, podendo desenvolver projetos que vão ao encontro das necessidades delas e do entorno. As Associações, no caso de Catende, tinham essa função de levantar as demandas dos Engenhos para serem discutidas pela Usina.

Nas entrevistas realizadas em Catende, foi diagnosticado que cerca de 10 Associações apresentavam mulheres como presidentas: “hoje nós temos Lucia e Jacira, Dona Helena, temos Claudia, Cristina em Bela Vista, tem a Marli também. A Quitéria de Alencar, tem a de Diamante é uma mulher, uma consultora lá...” (Hugo/liderança no projeto Catende-Harmonia). Embora ainda fosse possível contar nos dedos quantas mulheres eram presidentas das Associações, a participação delas nesses espaços era significativa.

Nota-se que se trata de mulheres do terceiro e, sobretudo, do segundo grupo da metodologia de análise desta pesquisa, ou seja, mulheres do campo com algum nível de escolaridade, brancas e negras, com trajetória de trabalho reprodutivo e produtivo e com alguma participação em movimentos sociais, religiosos ou sindicais, o que indica avanços na proposta.

Essas lideranças femininas incentivavam a formação de trabalhos coletivos desenvolvidos por mulheres, como também Associações destinadas às mulheres com exclusividade. É o caso do

Centro de Mulheres de Jaqueira, responsável por fazer exames preventivos e cuidar da saúde da mulher. Incentivavam também a participação das mulheres nas atividades de alfabetização e nos projetos educativos da Usina. Destaca-se também Dona Helena, uma educadora da região que passou a ser vereadora de Jaqueiras e em muito contribuiu com o projeto e incentivou a participação política das mulheres.

Porém, tal como aponta Cristina, embora participassem das reuniões, as mulheres tinham poucos espaços de fala e de decisão:

Elas participavam das reuniões no Chalé porque elas eram representantes e eram sempre convocadas nas reuniões. Então estavam presentes, embora as intervenções de mulheres fossem mínimas, mínimas...você conta nos dedos. E olha que nós tínhamos reuniões