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FUNÇÕES DAS VIAS RESPIRATÓRIAS

No documento Lições de anatomia: manual de esplancnologia (páginas 194-200)

NARIZ

Ressecções cirúrgicas amplas de uma ou ambas maxilas para tratamento de tumores malignos têm demonstrado que o nariz, embora esteticamente im- portante, não é essencial do ponto de vista funcional No entanto, duas im- portantes funções atribuídas ao nariz têm sido o processamento do ar inspirado e a olfacão.

Válvulas nasais. A válvula nasal interna é o ângulo formado pela junção do septo nasal com a margem caudal da cartilagem lateral, e geralmente é de 10 a

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15o (figura 32). Esse ângulo é o segmento mais estreito da via aérea nasal e

pode ser responsável por até 50% da resitência total da via aérea. Ocasional- mente, a porção inferior da concha nasal inferior pode aumentar excessiva- mente de volume a ponto de causar redução ainda maior da área de corte transversal dessa região. Tradicionalmente, um teste de Cottle positivo (tração lateral da bochecha levando a aumento de fluxo aéreo), indica o colapso da válvula interna e a necessidade de enxertos de cartilagem nesta região para aumentar o ângulo da válvula e fazer um sustentáculo para a via aérea perma- necer aberta.

A valvula nasal externa é caudal à interna, e é o vestíbulo nasal que serve como entrada do nariz. Essa válvula pode ser obstruída por fatores extrínsecos, como corpos estranhos, ou fatores intrínsecos, como cartila- gem alar fraca ou rota, perda de pele vestibular ou estreitamento cicatricial. Existem várias opções para corrigir esses problemas, incluindo enxertos cartilaginosos ou de partes moles locais ou liberação de aderências cicatriciais.

b

Figura 32 - Válvulas nasal interna (a) e externa ou vestíbulo (b).

Processamento do ar inspirado. O nariz inicia o aquecimento, umidificação e purificação do ar inspirado, conforme os mecanismos já citados.

Muco nasal em abundância, proveniente das glândulas e células caliciformes, tornam a superfície mucosa viscosa, e o pó inspirado é depositado sobre a

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ septo nasal a ângulo de 10-15º cartilagem lateral parte inferior da concha nasal inferior b

superfície, enquanto o ar é umidificado e aquecido no nariz. A película mucosa é continuamente movimentada para trás pela ação dos cílios em uma veloci- dade de 6 mm/minuto. Os movimentos do palato transferem o muco e suas partículas aprisionadas para a orofaringe para a deglutição.

As secreções da mucosa nasal também servem para inibir a proliferação de micróbios nesse ambiente propício, por meio da produção de substâncias bactericidas, como a lisozima e IgA.

Olfato e feromônios. O sentido químico cumprido pelo epitélio olfatório difere do sentido gustatório na discriminação entre moléculas aerotransportadas, mesmo em concentrações muito baixas. Embora modera- da em relação à dos animais, a olfação humana é mais relevante do que se imagina, podendo ser, em alguns casos, desenvolvida por treinamento e apren- dizado.

O modo como substâncias aromáticas estimulam as células olfatórias e como essas células fornecem informação a partir dos estímulos, são desconhe- cidos. Postula-se que a forma de alguma parte da molécula odorífera se liga a um sítio complementar em proteínas receptoras na membrana plasmática exposta das células olfatórias, mudando a permeabilidade iônica das membra- nas aos íons cálcio. Isso gera potenciais de ação que são transmitidos ao longo das vias neurais odoríferas.

Nos mamíferos, substâncias voláteis presentes em odores específicos – os

ferormônios –, afetam o comportamento social e sexual, o que evidencia cone-

xões entre áreas olfatórias centrais com áreas cerebrais relacionadas com o comportamento emocional. Na espécie humana, a detecção de ferormônios parece ser mediada pelo órgão de Jacobson; este fato sempre deve ser levado em conta quando se cogita realizar cirurgias sobre o septo nasal.

O corpo possui sistemas de atração, como as mensagens olfativas a que os seres humanos têm deixado de atribuir importância, possivelmente por ope- rarem em níveis muito sutis, mas que funcionam plenamente entre os ani- mais, sobretudo nos insetos. No entanto, a nossa espécie ainda é dotada de mecanismos que nos levam a escolher um par de cheiro atraente, uma opção com profundas repercussões biológicas.

A fragrância corporal contém informações sobre aspectos genéticos e imunológicos. Por isso, um indivíduo pode cheirar bem a uma pessoa e mal a outra. Embora as moléculas que emanam do corpo sejam as mesmas, o cére- bro analisa e seleciona as mais compatíveis. O segredo desses fenômenos olfa- tivos reside nos ferormônios, que funcionam como mensageiros interpessoais

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e transmitem informação sexual aos neurônios sensoriais do órgão de Jacobson. Um exemplo do poder destas substâncias é a forma com que as mulheres que vivem na mesma casa sincronizam as menstruações.

O cheiro parece funcionar como um cartão de visita que informa, pelo ar, a eficiência sexual de cada indivíduo. Uma evidência disto é dada pela atuação da copulina, um feromônio liberado pelas mulheres nas secreções vaginais durante a ovulação. Essa substância alerta os homens para o fato de suas par- ceiras estarem aptas para a cópula e para a concepção. Ao ser inalada, a copulina estimula a produção de testosterona pelo homem, estimulando seu desejo sexual. Algumas experiências demonstram que a mulher, nesta altura do ciclo, torna-se mais atraente, o que aumenta sua chance de encontrar um parceiro sexualmente competente.

Quando o marido toca com o nariz o pescoço de sua esposa ou cheira lascivamente a sua roupa íntima, o cérebro de alguma maneira registra infor- mações sobre o complexo maior de histocompatibilidade (MHC) dela. Estas moléculas contêm proteínas que ajudam nosso sistema imunológico a reco- nhecer elementos biopatogênicos, estranhos ou tóxicos. Assim como as im- pressões digitais, o MHC é único em cada pessoa.

Habitualmente, as mulheres atribuem um maior valor ao cheiro, possuin- do, portanto, uma maior capacidade de discernir o MHC e, sem ter consciên- cia disso, consideram este dado ao escolher um namorado. Isso faz todo o sentido, pois um futuro casal com sistemas imunitários distintos terá maior chance de gerar filhos com resistência a um maior número de doenças.

Para ambos os sexos, o cheiro mais sexy corresponde ao odor do corpo do(a) parceiro(a) sem perfume. Por isso, os hábitos cosméticos da modernidade podem ser prejudiciais. Os desodorizantes, perfumes, cremes e sabonetes po- dem mascarar o sex appeal; não se consegue fazer chegar o cartão de visita volátil ao outro, e não se pode saber se o verdadeiro odor do outro é atraente. A grande quantidade de produtos de higiene corporal que se utilizam atual- mente pode representar um impedimento para a sinalização sexual.

SEIOS PARANASAIS

As funções dos seios paranasais são incertas. Parece que eles tornam mais leve o crânio e adicionam ressonância a voz. Mas a diminuição do peso é trivial, e a ausência dos seios não acrescenta um volume equivalente de osso sólido porque o peso do osso esponsojo que ocuparia tal volume seria irrelevante. É mais provável que os seios sejam apenas consequência de um padrão peculi- ar de crescimento nos ossos no qual eles ocorrem.

A possível função dos seios frontais é de barreira mecânica ao cérebro. Estes seios são cavidades compressíveis preenchidas por ar que absorvem energia de impactos que, de outra forma, ocorreriam iretamente sobre o parênquima cerebral.

BOCA

A inspiração através da boca é, naturalmente, possível. Mas isso nega as funções olfatórias e de condicionamento de ar existente na cavidade do nariz. Por outro lado, a expiração oral é preferencial à nasal porque o maior diâme- tro bucal proporciona eliminação mais volumosa e rápida de ar.

A separação das funções olfatória e respiratória, pela boca, permite ao ser humano respirar enquanto mastiga.

A boca também participa da fonação, na qual atua como elemento ressonador e articulador da voz.

LARINGE

A laringe possui triplo comportamento: canal aberto durante a expiração, permitindo livre fluxo aéreo, um canal semi-aberto durante a fonação, propi- ciando a produção de sons, e um canal completamente fechado durante a deglutição, impedindo a passagem de alimento para a traqueia e pulmões.

A laringe é tão frequentemente fonatória que esta costuma ser considerada como sua função primordial. A elaboração da musculatura da laringe e seu controle neural, integrando a produção do som com movimentos dos múscu- los respiratórios, faríngeos, palatais, linguais e labiais durante a articulação complexa da fala, mune a raça humana com uma habilidade única.

Fonação. Possivelmente, a linguagem é a mais complexa aquisição sensó- rio-motora na vida do indivíduo. Grandes territórios do cérebro estão envol- vidos nos aspectos sensitivo, perceptivos e motores da linguagem verbal. A produção de uma fala de qualidade plena requer um sistema auditivo eficaz e um intrincado trato fonatório que inclui não apenas a laringe e outros órgãos da respiração como a faringe, a boca e as fossas nasais, mas também um exten- so arranjo de músculos, da parede abdominal até os lábios. Nesse contexto, existe um verdadeiro aparelho ou trato vocal, constituído de uma coluna longa, que vai das pregas vocais até a ponta da língua, combinada com uma coluna

curta, que vai dos dentes até os lábios.

Como na maioria dos instrumentos musicais, o mecanismo da fala consis- te em três elementos indispensáveis: uma fonte de energia, estruturas capazes

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de oscilações periódicas e aperiódicas e um ressoador. As variações em todos os três elementos da fala são complicadas, rápidas e requerem integração neural complexa. A energia é derivada da velocidade do ar expirado, a oscilação, das pregas vocais, e a ressonância, dos seios paranasais, a partir da coluna de ar que se estende das pregas até os lábios e narinas.

No início da fonação, a glote se fecha para uma fenda linear. À medida que a pressão do ar aumenta abaixo das pregas vocais, elas são repentinamente força- das para cima, retraindo-se elasticamente para o lado; a passagem de ar entre as pregas vocais entreabertas produz vibração dos ligamentos vocais e reduz a pres- são infraglótica momentaneamente. A intensidade da vibração é determinada pela massa das bordas das pregas vocais bem como pela intensidade de estiramento das pregas e pelo grau de aproximação entre elas. Esse ciclo é repetido em uma frequência fundamental dependente de inúmeros fatores, entre eles a velocida- de e a pressão do ar corrente. Estes eventos são medidos em microssegundos e concedem ondas de pressão de frequências semelhantes para as colunas de ar acima das pregas vocais, que atuam como um ressoador seletivo.

Mudanças nas dimensões e no posicionamento da língua, fauces, palato mole etc., todas remodelam o aparelho fonatório. O som impresso no ressoador, em toda a sua variação dinâmica de tom e harmônicos fundamentais, é, assim, submetido a uma segunda modificação, com alguns harmônicos sendo abafa- dos, outros aumentados. Assim, o trato vocal atua como um filtro ressoador seletivo, propagando um padrão individual, sem restrição das frequências fun- damentais produzidas pelas pregas vocais. Isso é essencial para a manutenção de um timbre constante, a despeito de um tom continuamente variado.

Os tons produzidos no aparelho vocal não constituem a fala, na qual a permutação fonética de um pequeno repertório de vogais é amplamente enriquecida pela imposição das consoantes, isto é, pela articulação. As conso- antes estão associadas com locais anatômicos particulares, a partir dos quais elas são designadas na terminologia da fonética. Por exemplo, falamos das consoantes labiais (p e b), dentais (t e d), nasais (m e n), e assim por diante. Esses locais possuem duas semelhanças: (1) uma obstrução parcial em algum nível do trato vocal e (2) a produção de vibração aperiódica, isto é, um ruído sobreposto ou interrompendo o fluxo dos tons laríngeos.

Mudanças anatômicas na laringe e no trato vocal ressonante são efetuadas em pequenas frações de segundo, com uma velocidade, habilidade e sutileza impossível de exprimir na descrição verbal. A multiplicidade dos músculos da laringe, hióideos, do palato, da língua e circum-orais, ligados em combina- ções que mudam rapidamente para a fonação e articulação, reflete a acentua- da complexidade da fala.

Deglutição. Embora os alimentos não penetrem na laringe, seus movi- mentos determinam a passagem de comida para o esôfago durante a deglutição. Esses movimentos são complexos e, por hora, faz-se apenas menção do papel da epiglote (frequentemente superestimado) no ato de engolir.

No homem, a epiglote possui uma função obscura. Ela não é essencial para a deglutição, que é normal mesmo se a epiglote for destruída por doença. Nem é essencial para a respiração ou fonação. Durante a deglutição, diz-se que a epiglote se move para cima e para frente, numa posição um tanto verticalizada, comprimida entre a base da língua e o resto da laringe. O bolo alimentar é, assim, fragmentado em duas porções laterais, que deslizam ao longo dos seios piriformes para a hipofaringe e para o esôfago. Em seguida, acompanhando a descida da laringe para a sua posição de repouso, o restante do bolo alimentar desliza sobre face anterior da epiglote à medida que esta se curva para trás sobre a abertura da laringe, como se fosse uma pálpebra, o que impede que material sólido passe para a árvore respiratória.

TRAQUEIA, BRÔNQUIOS E BRONQUÍOLOS

Os ductos respiratórios devem se manter abertos para permitir a passagem de ar para dentro e para fora dos alvéolos.

Os canais respiratórios mais calibrosos, como a traqueia e os brônquios principais, têm um trajeto retilíneo e curto, e um diâmetro grande. Suas su- perfícies internas são lisas, escorregadias e sem obstáculos. Apresentam cartila- gens semi-rígidas, que impedem colapso inspiratório e a explosão expiratória de suas paredes. Nas paredes dos brônquios, um grau razoável de rigidez tam- bém é mantido por placas cartilaginosas menos extensas, mas que permitem mobilidade suficiente para a expansão e a retração dos pulmões. Assim, os canais maiores proporcionam um fluxo aéreo, laminar, caudaloso, constante e sem vazamento.

Os menores condutos, como os bronquíolos, apresentam músculo liso es- piral em sua parede, que se relaxa durante a inspiração, favorecendo o influxo para os pulmões. Os bronquíolos não têm paredes rígidas para impedir seu colapso. Em vez disso, são mantidos expandidos pelas pressões transpulmonares que expandem os alvéolos. Em outras palavras, quando os alvéolos se expan- dem, o mesmo ocorre com os bronquíolos.

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