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Revisão teórica e fundamentação de Hipóteses e Questões de Investigação

2.4 Hipóteses e Questões de Investigação.

2.4.1 Tema Género.

2.4.1.1 Género e voz-invisível.

#1, Hipótese. Nos EUA o estereótipo materializado na ‘tendência para o género da

voz-invisível ser masculina’ atingiu percentagens próximas dos 90 por cento desde os primeiros estudos (Barcus, 1971; McArthur e Eisen, 1976; O’Donell e O’Donnell, 1978; Welch, Huston Stein, Wright e Phelial, 1979), e continua com valores elevados nos anos 80 (Bretl e Cantor, 1988; Lovdal, 1989) e mesmo recentemente (Allan e Coltrane, 1996; Coltrane e Messineo, 2000), observando-se que em dois estudos esse enviesamento desce para próximo dos 70 por cento (Pierracine e Schell, 1995; Bresnaham et al., 2001). A Austrália surge como um exemplo de uma consistente descida do estereótipo da voz-invisível. Começa por registar os valores mais elevados de todos os países, 94 por cento (Peck, 1979), para depois reduzir para 88 por cento (Gilly, 1988, recalculado), para 77 por cento (Mazzella et al. 1992, recalculado), e para 60 por cento (Milner e Higgs, 2004, recalculado). Na generalidade dos países, a tendência para a maioria da voz-invisível ser masculina mantém-se: 82 por cento na Nova Zelândia (Furnham e Farragher, 2000), 77 por cento na Polónia (Furnham e Saar, 2005), e 52 por cento na Turquia, um dos valores mais baixos (Uray e Burnaz, 2003, recalculado). Os países do extremo oriente não escapam à hegemonia masculina da voz-invisível, variando dos 81 por cento detectados tanto na Malásia como em Taiwan, até aos 68 por cento do Japão (Bresnahan et. al., 2001). Na Grã-Bretanha o estereótipo mostra-se menos acentuado, com 60 por cento de voz masculina (Furnham, Abramsky e Gunter, 1997). Também da Grã-Bretanha vem o único estudo que apresenta a maioria feminina de voz-invisível, 52 por cento, embora numa amostra muito pequena (Furnham e Saar, 2005). Em Portugal, Neto e Pinto (1998) apontam que 88 por cento das vozes-invisíveis são masculinas (recalculado). Em Espanha, numa amostra de 2005 por Valls-Fernández e Martinez-Vicente (2007) o valor foi de 68 por cento.

Note-se que no presente estudo, ao contrário de todos os outros, se codificaram também as canções como voz-invisível, destrinçando-se entre intérpretes e coros maioritariamente masculinos ou femininos. Ponderados todos os dados e observada a tendência de diminuição do enviesamento da voz-invisível, propõe-se como Hipótese:

#2, Questão de Investigação. Considerando que o presente estudo utiliza um espectro

horário de observação total, ao contrário de todos os anteriores que se centram no horário nobre, ou, mais raro, comparam o horário nobre com o sábado à tarde, ou o horário nobre com horário diário de tarde. Assim é imediata a interrogação:

– Como se distribui a voz-invisível pelo horário?

Sendo de esperar que as leituras no horário serão sejam as que mais se aproximam dos estudos que tomaram esse horário como objecto de observação.

#3, Hipótese.Há dois estudos, do tipo longitudinal, um que compara a Grã-Bretanha

com a Nova Zelândia (Furnham e Farragher, 2000) outro que compara a Grã-Bretanha com a Polónia (Furnham e Saar, 2005), que apontam a tendência geral para os anúncios a produtos de tipo corpo terem uma voz de narrador invisível feminina, e os anúncios a produtos de tipo alimentar terem a voz-invisível masculina. Além disso os produtos auto / desporto tendem a apresentar quase apenas vozes-invisíveis masculinas.

Especificamente, os produtos corpo tinham voz-invisível maioritariamente feminina nas duas amostras inglesas e na neozelandesa. A voz-invisível, era, no estudo britânico de 2000, 43 por cento feminina, para 16 por cento masculina, e no de 2005, 81 por cento feminina, para 19 por cento masculina (recalculado). Na Nova Zelândia a voz-invisível para produtos corpo era 43 por cento feminina para 10 por cento masculina. Na Polónia é reportada uma dissonância, com 56 por cento de voz masculina para 44 por cento de voz feminina.

Nos produtos de tipo alimentar, a voz-invisível é masculina na maioria das amostras, ou seja, em ambas as inglesas e na polaca. A Nova Zelândia oferece neste caso o único dado dissonante desta tendência. De facto, nos produtos de tipo alimentar, no estudo inglês de 2000 existiam 22 por cento de voz-invisível masculina para 15 por cento de voz feminina, e, no estudo inglês de 2005 tinha-se 57 por cento de voz-invisível masculina para 43 por cento de voz feminina (recalculado). Na Polónia a voz masculina dos anúncios a produtos de tipo alimentar é de 79 por cento, para 21 por cento de voz feminina. Já na Nova Zelândia, com tendência inversa, a voz masculina é de 16 por cento, para 27 por cento de voz feminina.

Por fim, nos produtos de tipo auto ou desporto, há a ter em conta que os estudos consideram, em geral, apenas os anúncios a produtos de tipo automóvel, sem a agregação do desporto. Neste tipo de produto há uma tendência de grande hegemonia masculina na voz-invisível. Verifica-se que no primeiro estudo britânico a voz-invisível, nos 8 por cento de anúncios em que existe, é 100 por cento masculina. No segundo estudo do mesmo país, para

(recalculado). Na Nova Zelândia, para produtos auto, a voz é 12 por cento masculina para 5 por cento feminina e na Polónia é 92 por cento masculina para 8 por cento feminina (recalculado).

Seguindo a tendência maioritária exposta formula-se a Hipótese #3 composta por três proposições:

O anúncio ao produto corpo tende a ter voz-invisível feminina; o anúncio ao produto alimentar tende, embora menos, a ter voz-invisível masculina; o produto auto / desporto tende a ter apenas voz-invisível masculina.

#4, Questão de Investigação. Os estudos anteriores não estabelecem se os

géneros-alvo que segmentam os anúncios tendem a ter vozes-invisíveis do mesmo sexo ou do sexo oposto. Existem apenas análises respeitantes à publicidade infantil. Trata-se de seis estudos dos EUA, um da Polónia e um da Grã-Bretanha. Destes, as amostras dos EUA dos anos 70 mostram, nos anúncios com alvo masculino e neutro, grande hegemonia da voz-invisível masculina, que chega aos 100 por cento, ou a valores muito próximos (Verna, 1975; Welch, Huston Stein, Wright e Phelial, 1979). O alvo feminino nem sempre chega a ter maioria de voz-invisível feminina (Verna, 1975). Nas amostras dos EUA, dos anos 80, a hegemonia masculina perde alguma intensidade surgindo valores na área dos 60 a 70 por cento nos alvos masculinos e nos neutros (Macklin e Kolbe, 1984; Kolbe, 1991). Nos anos 90 mantém-se a mesma tendência, ora mais acentuada (Smith, 1994), ora um pouco menos (Browne, 1998). A Austrália e a Grã-Bretanha mostram a mesma tendência geral (Browne, 1998; Furnham e Saar, 2005). A Polónia exibe um forte enviesamento masculino visto que mesmo os anúncios com alvo feminino têm grande maioria de voz-invisível masculina, de 67 por cento, pese embora o tamanho reduzido da amostra (Furnham e Saar, 2005). Assim, sem base geral convincente que permita estabelecer uma hipótese, uma vez que existem apenas dados de anúncios infantis, de tendência pouco homogénea, coloca-se a Questão de Investigação:

– Há tendência para correspondência directa, ou inversa, entre o género da voz-invisível e o género-alvo?

#5, Hipótese. Nos anúncios infantis a maioria dos estudos apresenta a tendência para a

voz-invisível ser masculina. Nos EUA oscila entre os 63 por cento de Macklin e Kolbe (1983), os 55 por cento de Furnham, Abramsky e Gunter (1997), os 61 por cento de Browne (1998), e os 62 por cento de Maher e Childs (2003). Um estudo de 1991 (Kolbe) apresenta o valor mais elevado, um pouco atípico, de 77 por cento, e uma amostra específica do canal

para crianças TCN apresentou 71 por cento (Merskin, 2002). Os valores mais elevados são apresentados nos estudos mais antigos, dos anos 70, e são reveladores de maior enviesamento ao rondarem os 80 / 90 por cento (Chulay e Francis, 1974; Verna, 1975; Barcus, 1977). Noutros países, como a Grã-Bretanha, a Austrália e a Polónia, os resultados recentes seguem a tendência de redução lenta do enviesamento observada nos EUA. Na Grã-Bretanha, a voz-invisível masculina nos anúncios infantis é de 60 por cento, num dos estudos (Furnham, Abramsky e Gunter, 1997), e de 72 por cento, em outro (Furnham e Saar, 2005), este último com a reserva de ser de amostra reduzida. Na Austrália este valor é de 62 por cento (Browne, 1998). A Polónia apresenta 86 por cento (Furnham e Saar, 2005), valor atípico nos tempos que correm e obtido com amostra reduzida. Da tendência observada pode formular-se a Hipótese:

Em anúncios infantis, a voz-invisível é de maioria masculina.

#6, Questão de Investigação. Após a Hipótese anterior, procura-se maior

especificidade interrogando-se:

– No personagem criança, qual a voz-invisível predominante no anúncio?