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GEOLÓGICOS E PALEOBIOLÓGICOS (SIGEP) Em março de 1997, foi instituída a Comissão Brasi-

No documento geodiversidade brasil (páginas 157-159)

leira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), em consonância com o Working Group on Geological and Palaeobiological Sites do Patrimônio Mundial da UNESCO. Essa comissão hoje é representada pelas seguintes insti- tuições: Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associa- ção Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), De- partamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), Ins- tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Institu- to Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS), Companhia de Pesquisa de Recursos Mi- nerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), Socie- dade Brasileira de Espeleologia (SBE), Sociedade Brasilei- ra de Geologia (SBGeo), Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP).

A criação dessa comissão partiu da premissa de que compete a cada nação identificar e delimitar os diferentes bens situados em seu território, de acordo com o artigo 3º da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972), adotada pelo Brasil em 1989. A missão da SIGEP insere-se no artigo 2º dessa convenção que trata dos monumentos naturais e das for- mações geológicas e fisiográficas com valor universal ex- cepcional, do ponto de vista da ciência, conservação ou beleza natural.

Para tanto, a comissão realiza inventário ou cadastro baseada em avaliações técnico-científicas, envolvendo os membros da comissão e a comunidade geocientífica em geral, baseados no teor das propostas apresentadas. Uma vez a proposta aprovada, segue-se a descrição científica do sítio para cadastro (inventariação). Como referido no sítio da SIGEP, as propostas aprovadas são descritas pela comunidade geocientífica e, em seguida, amplamente divulgadas, prestando-se ao “fomento da pesquisa cientí- fica básica e aplicada, à difusão do conhecimento nas áre- as das ciências da Terra, ao fortalecimento da consciência conservacionista, ao estímulo a atividades educacionais, recreativas ou turísticas, sempre em prol da participação e do desenvolvimento socioeconômico das comunidades lo- cais”. Todos esses objetivos vêm acompanhados da ne- cessidade de estabelecer estratégias próprias de monitoramento e de manutenção da integridade dos pon- tos geológicos magnos do Brasil. A comissão objetiva, ainda, “fomentar ações de conservação, principalmente de sítios que estão em risco ou processo de depredação e, mesmo, extinção”. Alguns sítios geológicos descritos pela SIGEP representam os embriões de propostas de futuros geoparques.

Os sítios são classificados por seu tipo mais significa- tivo, em diversas categorias, perfazendo, até o momento, um total de 88 sítios descritos, assim distribuídos:

Até o momento, abrangendo o assunto, foram publi- cados dois volumes: em livro (SCHOBBENHAUS et al., 2002) e pela internet (WINGE et al., 2005); um terceiro se encontra em preparação. Do total de sítios descritos, 35% apresentam atrativos para o geoturismo, alguns já utiliza- dos com essa finalidade desde longa data. Seguem alguns exemplos desses sítios de valor geoturístico:

• Icnofósseis da Bacia do Rio do Peixe, PB: o mais marcante registro de pegadas de dinossauros do Brasil (LEONARDI e CARVALHO, 2002).

• A Costa do Descobrimento, BA: a geologia vista das caravelas (DOMINGUEZ et al., 2002).

• Pão de Açúcar RJ: cartão-postal geológico do Brasil (SILVA e ANDRADE RAMOS, 2002).

• Vila Velha, PR: impressionante relevo ruiniforme (MELO et al., 2002).

• Parque Nacional do Iguaçu, PR: cataratas de fama mundial (SALAMUNI et al., 2002).

• Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, GO: sítio de grande beleza cênica do centro-oeste brasileiro (DARDENNE e CAMPOS, 2002).

• Parque Nacional de Sete Cidades, PI: magnífico mo- numento natural (DELLA FÁVERA, 2002).

• Arquipélago de Fernando de Noronha, PE: registro de monte vulcânico do Atlântico Sul (ALMEIDA, 2002).

• Poço Encantado, Chapada Diamantina (Itaetê) (BA): caverna com lago subterrâneo de rara beleza e importân- cia científica (KARMANN, 2002).

Astroblema (3), Espeleológico (10), Estratigráfico (1), Geomorfológico (13), Hidrogeológico (1), História da Ge- ologia e da Mineração (6), Ígneo (2), Marinho (5), Paleoambiental (11), Paleontológico (28) e Sedimentológico (8) (Figura 10.15).

Figura 10.15 – – – – Mapa de localização dos sítios geológicos e – paleontológicos publicados pela SIGEP. Disponível em: <http://

• Domo de Araguainha, GO/MT: o maior astroblema da América do Sul (CROSTA, 2002).

• Monte Roraima, RR: sentinela de Macunaíma (REIS, 2006).

• Membro Romualdo da Formação Santana, Chapada do Araripe, CE: um dos mais importantes depósitos fossilíferos do cretáceo brasileiro (KELLNER, 2002).

• Pico de Itabira, MG: marco estrutural, histórico e geográfico do Quadrilátero Ferrífero (ROSIÈRE et al., 2005).

• Granito do Cabo de Santo Agostinho, PE: único granito conhecido de idade cretácea do Brasil (NASCIMEN- TO e SOUZA, 2005).

• Sítio Peirópolis e Serra da Galga, Uberaba, MG: ter- ra dos dinossauros do Brasil (RIBEIRO e CARVALHO, 2007). • Bacia São José de Itaboraí, RJ: berço dos mamífe- ros no Brasil (BERGQVIST et al., 2008).

• Gruta do Lago Azul, Bonito, MS: onde a luz do sol se torna azul (BOGGIANI et al., 2008).

• Itaimbezinho e Fortaleza, RS/SC: magníficos canyons esculpidos nas escarpas Aparados da Serra do pla- nalto vulcânico da Bacia do Paraná (WILDNER et al., 2006). • Carste e Cavernas do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR) (SP): sistemas de cavernas com paisa- gens subterrâneas únicas (KARMANN e FERRARI, 2002).

• Morro do Pai Inácio, BA: marco morfológico da Chapada Diamantina (PEDREIRA e BOMFIM, 2002).

GEOPARQUES

Os geoparques ou geoparks, criados por iniciativa da UNESCO (2004), envolvem áreas geográficas com limites bem definidos, onde sítios do patrimônio geo- lógico constituem parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Es- sas áreas envolvem diversos geossítios ou locais de in- teresse do patrimônio geológico-paleontológico de es- pecial importância científica, raridade ou beleza, cuja importância é realçada não unicamente por razões geo- lógicas, mas também em virtude de conterem aspectos adicionais de valor arqueológico, ecológico, histórico ou cultural.

Um geoparque, no conceito da UNESCO, é uma área que apresenta um significativo patrimônio geológico, for- te estrutura de gestão e estratégia de desenvolvimento econômico sustentável. Um geoparque cria oportunida- des de emprego para as pessoas que ali vivem, trazendo benefício econômico sustentável e real, normalmente atra- vés do desenvolvimento do turismo sustentável. No âm- bito de um geoparque, o patrimônio geológico e o co- nhecimento geológico são compartilhados com o público em geral e relacionados aos aspectos mais amplos do am- biente natural e cultural, muitas vezes estreitamente rela- cionados à geologia e à paisagem. Estas têm influenciado profundamente a sociedade, a civilização e a diversidade cultural de nosso planeta. Assim, a criação de um

geoparque pretende estimular a sustentabilidade econô- mica das comunidades locais. As atividades econômicas baseadas na geodiversidade podem ser de diversos tipos, desde a produção de artesanato à criação de atividades comerciais de apoio ao visitante do geoparque, tais como alojamento, alimentação, animação cultural etc. Os geoparques possuem assim, de modo quase imediato, uma inegável ligação com o geoturismo.

Nas palavras de Chris Woodley-Stewart, gerente do Geoparque North Pennines (AONB), Reino Unido, “geoparques não tratam apenas de rochas – eles também tratam de pessoas. É fundamental que elas se envolvam – nós queremos ver tantas pessoas quanto possível sair e desfrutar a geologia da área. Nosso objetivo é maximizar o geoturismo [...] em benefício da economia local e para ajudar as pessoas a compreender a evolução de sua paisa- gem local” (UNESCO, 2006).

Em 2004, a UNESCO criou a Rede Global de Geoparques (Global Geoparks Network), cujos fundamen- tos estão expressos em Eder e Patzak (2004), que realçam o patrimônio geológico da Terra como ferramenta para a educação pública e o desenvolvimento sustentável. Des- tacam o valor de suas paisagens e das formações geológi- cas, testemunhas-chaves da história da vida e da evolução do planeta. A iniciativa da UNESCO de apoiar a criação de geoparques é uma resposta a um forte anseio expresso, nos anos recentes, por instituições geológicas, geocientistas e organizações não-governamentais. Acrescentou-se, as- sim, uma nova dimensão à Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972), pondo em evidência o potencial de interação entre desen- volvimento socioeconômico-cultural e conservação do meio ambiente natural.

A Rede Global de Geoparques assistida pela UNESCO fornece uma plataforma de cooperação ativa entre especialistas e praticantes do patrimônio geológi- co. Sob a égide da UNESCO e com o intercâmbio entre os parceiros da rede mundial, importantes sítios geoló- gicos nacionais ganham reconhecimento internacional e proveito, com o intercâmbio de conhecimentos, expertise, competência e experiência pessoal com ou- tros geoparques.

Desde o seu lançamento, em 2004, 57 geoparques nacionais de alta qualidade, selecionados de 18 paí- ses, são atualmente membros da Rede Global de Geoparques (Austrália, Áustria, Brasil, China, Croácia, República Checa, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Irã, Malásia, Noruega, Portugal, Romênia, Espanha, Reino Unido).

Em 2006, foram divulgadas as diretrizes e os critérios para os geoparques nacionais que procuram a assistência da UNESCO para aderir à Rede Global de Geoparques, incluindo formulários de avaliação (UNESCO, 2006).

A proteção e o desenvolvimento sustentável do patrimônio geológico e da geodiversidade, com a iniciati- va de geoparques, contribuem para os objetivos da Agen-

da 21, a Agenda da Ciência para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento para o século XXI, adotada pela Confe- rência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desen- volvimento (UNCED, Rio de Janeiro, 1992) e confirmada pela Cúpula de Johannesburg na cidade sul-africana entre 26 de agosto e 4 de setembro de 2002.

Diversas áreas no Brasil com características de se tor- narem parques geológicos foram identificadas, mas ainda precisam ser devidamente avaliadas. Algumas dessas pro- postas se encontram em estudo pelo Projeto Geoparques da CPRM/SGB. Outras, com potencial de se transforma- rem em futuros geoparques, poderão ser identificadas. O estudo deverá, como primeiro passo, elaborar um docu- mento básico, com a colaboração de geocientistas de uni- versidades, governos estaduais e de outras entidades en- volvidas com o tema, contendo propostas de criação de geoparques nacionais. Em um passo seguinte, algumas dessas propostas serão avaliadas sob o enfoque das dire- trizes e critérios definidos pela UNESCO, objetivando sua candidatura à inserção na Rede Global de Geoparques (Fi- gura 10.16).

O Geoparque Chapada do Araripe (CE) é o primeiro geoparque incorporado pela UNESCO à Rede Global de Geoparques, por iniciativa do governo do estado do Cea- rá, em parceria com a Universidade Regional do Cariri. Esse geoparque, que se estende por uma área superior a

5.000 km2, possibilita ao visitante uma abrangente com-

preensão da origem, evolução e estrutura atual da bacia sedimentar do Araripe. Além disso, nele são desenvolvi- dos projetos inovadores de caráter social, para os quais se busca o apoio e a participação de entidades públicas, pri- vadas, não-governamentais e do conjunto da sociedade.

Propostas de novos aspirantes a geoparques, com seus trabalhos já mais avançados, estão sendo realiza- das, atualmente, para o Quadrilátero Ferrífero (MG), Alto Ribeira (SP-PR), Bodoquena-Pantanal (MS) e Cam- pos Gerais (PR). O primeiro é uma iniciativa do governo de Minas Gerais, com apoio da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Universidade Fe- deral de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e CPRM/SGB. A proposta de Alto Ribeira (SP-PR) é uma iniciativa da CPRM/SGB, abran- gendo parte da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape. A proposta do Geoparque Serra da Bodoquena- Pantanal (MT e MS) é coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com a participação da CPRM/SGB. Já a proposta do Geoparque Campos Gerais está em elaboração por Mi- nérios do Paraná S.A. (MINEROPAR).

PROJETOS GEOTURÍSTICOS NO BRASIL

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