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RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS Certamente, pelo fato de a utilização das águas sub-

No documento geodiversidade brasil (páginas 62-67)

terrâneas ser, relativamente, mais barata e as obras não serem tão fotogênicas quanto as barragens e estações de tratamento construídas para utilização das águas de su- perfície, o manancial subterrâneo tem sido, freqüente- mente, omitido nos planos de gerenciamento de recur- sos hídricos. Não obstante, o manancial subterrâneo cons- (a)

titui o maior volume de água doce líquida que ocorre na Terra.

A distribuição da água em subsuperfície ocorre como ilustrado na figura 4.5. Há duas zonas distintas: não- saturada e saturada. Na primeira, os poros estão preenchi- dos por água e por ar, constituindo duas faixas distintas: (i) a faixa de água do solo, que se estende até a profundi- dade em que as raízes das plantas conseguem captar água; (ii) a faixa intermediária, que se estende desde o limite inferior da faixa de água do solo até o topo da

zona saturada.

É considerada água subterrânea apenas aquela que ocorre abaixo da superfície, na zona de saturação, onde todos os poros es- tão preenchidos por água. A formação geo- lógica que tem capacidade de armazenar e transmitir água é denominada “aqüífero”. Em relação à geologia, existem dois domínios principais de ocorrência das águas subterrâ- neas: rochas cristalinas e cársticas e rochas sedimentares.

Nas rochas cristalinas e cársticas, onde não existe porosidade primária, a água se acu- mula nos espaços vazios gerados por quebra- mentos, descontinuidades e dissolução do corpo rochoso, formando aqüíferos que vari- am de baixa (cristalino) a alta (calcários) po- tencialidade, em função da limitação do ta- manho e descontinuidade dos reservatórios. Nesse domínio, a qualidade da água está inti-

mamente associada ao clima, apresentando, em geral, água com alta salinidade nas regi- ões semi-áridas e, geralmente, água com teo- res elevados de carbonatos/bicarbonatos nos calcários (águas duras).

No domínio das rochas sedimentares, onde as formações geológicas apresentam porosidade primária intergranular, a água pre- enche os poros em toda a extensão de ocor- rência da rocha, formando grandes aqüíferos regionais. Nesses aqüíferos, onde está arma- zenada a quase totalidade dos cerca de 10 mi-

lhões de km3 de água subterrânea existentes

no planeta, em geral, a água apresenta uma boa qualidade físico-química, com baixos teo- res de sólidos totais dissolvidos.

A figura 4.6 ilustra claramente a dife- rença entre a forma de ocorrência da água nos domínios das rochas cristalinas – mos- trando a descontinuidade e a heterogeneida- de dos reservatórios com a existência de po- ços secos – e rochas sedimentares, apresen- tando, ao contrário, continuidade e homo- geneidade.

No Brasil, existem três grandes bacias sedimentares, dentre outras de menor porte, que concentram a maior parte da ocorrência de água sub- terrânea: bacia sedimentar do Paraná, onde ocorre, dentre outros, o aqüífero Guarani (anteriormente, denominado aqüífero Botucatu); bacia sedimentar do Parnaíba, com os aqüíferos Serra Grande e Cabeças; bacia sedimentar do Amazonas, com o aqüífero Alter do Chão.

No mapa da figura 4.7 é apresentada a divisão do país em províncias hidrogeológicas, regiões que apresen- tam semelhanças no comportamento hidrogeológico com

Figura 4.4 – Divisão hidrográfica nacional (CONEJO et al., 2005).

Figura 4.5 – Distribuição vertical da água em subsuperfície

base, principalmente, na geologia, mostrando as potenci- alidades de cada uma no que se refere ao armazenamento de água subterrânea.

Figura 4.7 – Províncias hidrogeológicas do Brasil e seus potenciais em termos de ocorrência de água subterrânea (modificado de TEIXEIRA et

al., 2000).

Figura 4.6 – Ocorrência da água subterrânea em rochas cristalinas e em rochas

sedimentares (adaptado de RIBEIRO e FEITOSA, 2000).

Na tabela 4.2 são apresentadas as po- tencialidades e os intervalos médios das va- zões mais freqüentes dos poços produtores, para os principais aqüíferos brasileiros.

DESAFIOS DA ÁGUA NO BRASIL

A produção total de água doce no Brasil representa 53% do continente sul-americano e 12% do total mundial (REBOUÇAS, 1996). Todavia, 80% da produção hídrica brasileira se concentram em três grandes unidades hidrográficas: Amazonas, São Francisco e Paraná.

Devem-se considerar, ainda, as grandes reservas de água subterrânea existentes no Brasil, fundamentais para o abastecimento e a irrigação em muitas regiões do país.

No que diz respeito à qualidade da água, a insuficiência de redes de monitoramento no país dificulta a realização de um diagnóstico mais preciso da qualidade da água. Estudos recentes apontam que as regiões mais

críticas com relação ao Índice de Qualidade das Águas (ca- tegorias ruim e péssima) localizam-se nas proximidades das principais regiões metropolitanas e estão associadas, princi- palmente, ao lançamento de esgotos domésticos.

A disponibilidade hídrica desigual nas diversas regi- ões do país, a contaminação das águas superficiais e sub- terrâneas, sobretudo em regiões densamente povoadas, a falta, ou mesmo a existência de deficientes instrumentos de gestão da água e o desperdício de água são os princi- pais fatores que têm contribuído para o déficit hídrico em várias regiões do Brasil.

Diante desse cenário, para preservar e garantir às ge- rações atuais e futuras o acesso às reservas hídricas, nos diversos pontos de seu território, o Brasil deverá promover

uma gestão da água eficaz. Nesse contexto, é indispensá- vel buscar-se uma equalização inter-regional e intertemporal, por meio de políticas públicas que privile- giem uma abordagem integrada do ciclo hidrológico e programem ações conseqüentes de geração de conheci- mento de demanda e oferta da água, que ajudarão a defi- nir marcos regulatórios, bem como a capacidade de su- porte (retirada) de cada bacia hidrográfica.

BIBLIOGRAFIA

BRAGA, B.; ROCHA, O.; TUNDISI, J. G. Dams and the environment: the Brazilian experience. Water Resources Development, v. 14, p. 127-140, 1998.

Tabela 4.2 – Reserva de água subterrânea no Brasil e intervalos mais freqüentes das vazões dos poços (REBOUÇAS, 1996)

Domínio aqüífero (kmÁrea 2) Sistema aqüífero principal Reservas (km3) Intervalo vazão poço (m3/h)

Substrato aflorante 600.000 Zonas fraturadas (P€) 80 <1-5

Substrato alterado 4.000.000 Manto rocha alterada e/ou fraturas (P€) 10.000 5-10

Bacia sedimentar Amazonas 1.300.000 Fm. Alter do Chão (K) Gr. Barreiras (TQb) 32.500 10-400

Bacia sedimentar São Luís-Barreirinhas 50.000 Fm. Itapecuru (Ki) Fm. São Luís (TQ) 250 10-150

Bacia sedimentar Maranhão 700.000

Fm. Itapecuru (Ki) Fm. Cordas-Grajaú (Jc) Fm. Motuca (PTRm) Fm. Poti-Piauí (Cpi) Fm. Cabeças (Dc) Fm. Serra Grande (Sdsg) 17.500 10-1000

Bacia sedimentar Potiguar-Recife 23.000 Fm. Calc. Jandaíra (Kj) Gr. Barreiras (TQb) Fm. Açu-Beberibe (Ka)

230 5-550

Bacia sedimentar Alagoas/Sergipe 10.000 Fm. Marituba (Km) Gr. Barreiras (TQb) 100 10-350

Bacia sedimentar Jatobá-Tucano-

Recôncavo 56.000

Fm. Marizal (Kmz) Fm. São Sebastião (Kss) Fm. Tacaratu (SDt)

840 10-500

Bacia sedimentar Paraná (Brasil) 1.000.000

Gr. Bauru-Caiuá (Kb) Fm. Serra Geral (Jksg) Fm. Botucatu-Pirambóia-Rio do Rastro (Pr/TRp/Jb) Fm. Furnas-Aquidauana (D/PCa) 50.400 10-700

Depósitos diversos 773.000 Aluviões, dunas (Q) 411 2-40

CONEJO, G. L. J; COSTA, P. M.; SILVA, C. A.; BURNETT, B. A. J.; ACSELRAD, V. M. Panorama da qualidade das águas superficiais do Brasil. Caderno Técnico, Brasília: Agência Nacional de Águas, n. 1, 2005.

FEITOSA, F. A. C.; MANOEL FILHO, J. (Coord.). Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Fortaleza: CPRM; LABHID-UFPE, 2000. 391 p.

PRESS, F; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4. ed. Tradução Rualdo Menegat. Porto Alegre: Artmed, 2006. 656 p. il.

REBOUÇAS, A. C. Diagnóstico do setor hidrogeologia. São Pau- lo: Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, 1996. 46 p. RIBEIRO, J. A; FEITOSA, F. A. C. Ocorrência de água subterrânea em rochas cristalinas: região de Irauçuba, CE. Rio de Janeiro: CPRM, 2000. Relatório (no prelo). TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Tex- tos, 2000. 557 p.

TUNDIZI, G. J. Água no século XXI: enfrentando a escas- sez. São Carlos: Rima, 2003. 247 p.

FREDERICO CLÁUDIO PEIXINHO

Engenheiro Civil (1972) pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Hidrologia Aplicada (1973) pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). MBA de Qualidade Total (2002) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), MBA em Gestão Estratégica da Informação (2003) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Avaliação Ambiental (2004) pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). Mestrando em Tecnologia da Informação (2008) pela UFRJ. Ingressou na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) em 1974. Desde 1975 exerce a coordenação do Programa de Hidrologia da CPRM, desenvolvendo atividades relacionadas a levantamento, estudos e pesquisas na área de Recursos Hídricos Superficiais e Subterrâneos. Responsável técnico pela implementação, operação e integração do Sistema de Informações de Águas Subterrâneas (SIAGAS) em estados brasileiros e países da América Latina. Linhas de atuação atuais: Hidrologia, Gestão Estratégica, Sistemas de Informação.

FERNANDO A. C. FEITOSA

Geólogo (1982) e mestre em Hidrogeologia (1990) pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutorando em Hidrogeologia pela UFPE. Atuou na CONESP, ATEPE, ACQUAPLAN, EMATER-PE e FUNCEME. Foi chefe da Divisão de Hidrogeologia da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) no período de 2001 a 2007. Atualmente, é coordenador executivo do Departamento de Hidrologia (DEHID). Coordenador da Rede de Pesquisa de Estudos Hidrogeológicos do Semi-Árido Brasileiro – FINEP/CPRM-UFBA-UFC-UFCG-UFRN-UFPE (2005-2008). Linhas de atuação: Avaliação e Gestão de Aqüíferos; Estudos Hidrogeológicos; Construção e Avaliação de Poços.

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