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INTEGRADA DOS ESTUDOS DO MEIO FÍSICO

No documento geodiversidade brasil (páginas 36-41)

AB’SABER (1969) já propunha uma análise dinâmica da geomorfologia aplicada aos estudos ambientais, com base na pesquisa de três fatores interligados: identificação de uma compartimentação morfológica dos terrenos; le- vantamento da estrutura superficial das paisagens; estudo da fisiologia da paisagem (Figura 3.2).

Figura 3.1 – – – – A paisagem geomorfológica como resultante da interação– dinâmica entre processos endógenos (controlados pela tectônica) e processos

Figura 3.2 – – – – – Proposição de análise geomorfológica, onde são considerados: análise da compartimentação morfológica do relevo; estrutura superficial dos terrenos; fisiologia da paisagem (AB’SABER, 1969).

A compartimentação morfológica dos terrenos é ob- tida a partir da avaliação empírica dos diversos conjuntos de formas e padrões de relevo posicionados em diferentes níveis topográficos, por meio de observações de campo e análise de sensores remotos (fotografias aéreas, imagens de satélite e Modelo Digital de Terreno – MDT). Essa ava- liação é diretamente aplicada aos estudos de ordenamento do uso do solo e planejamento territorial, constituindo-se em uma primeira e fundamental contribuição da geomorfologia.

A estrutura superficial das paisagens pode ser enten- dida com o estudo dos mantos de alteração in situ (for- mações superficiais autóctones) e das coberturas inconsolidadas (formações superficiais alóctones) que ja- zem sob a superfície dos terrenos. Tais estudos são funda- mentais para a compreensão da gênese e evolução das formas de relevo, pois, aliados à compreensão da compartimentação morfológica dos terrenos, consistem em uma importante ferramenta para avaliação do grau de fragilidade natural dos terrenos frente aos processos erosivos e deposicionais.

O estudo da fisiologia da paisagem, por sua vez, consiste na análise integrada das diversas variáveis ambientais em sua interface com a geomorfologia, ou seja, a influência dos condicionantes litológico-estrutu- rais, dos padrões climáticos e dos tipos de solos na configuração física das paisagens. O objetivo de tal ava- liação é compreender a ação dos processos erosivo- deposicionais atuais, incluindo todos os impactos de- correntes da ação antropogênica sobre a paisagem na- tural. Assim, inclui-se na análise geomorfológica o es- tudo da morfodinâmica, com ênfase para a análise de processos.

Em escalas pequenas, de grande abrangência espa- cial, tal como no mapeamento da geodiversidade do Bra- sil na escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006), a contribuição da geomorfologia para o mapeamento da geodiversidade concentra-se no estudo da morfologia dos terrenos que consiste, em uma primeira abordagem, da análise geomorfológica. Todavia, em nenhum momento deve-se desconsiderar uma avaliação genética e evolutiva do mo- delado do relevo.

Para a análise do modelado dos terrenos, são utiliza- dos parâmetros morfológicos e morfométricos que mensuram as características fisiográficas do relevo, desta- cando-se:

• Amplitude de relevo: É um parâmetro que mensura o desnivelamento de relevo entre a cota dos fun- dos de vales e a cota dos divisores de água em uma bacia de drenagem. Esse parâmetro retrata o grau de entalhamento de uma determinada unidade de paisagem e a correspondente dimensão das formas de relevo pre- sentes. Áreas com elevadas amplitudes de relevo são con- sideradas montanhosas. Por sua vez, áreas com baixas amplitudes de relevo são aplainadas ou, no máximo, colinosas.

• Gradiente: É um parâmetro que mensura o ân- gulo de declividade de uma vertente ou de uma bacia de drenagem. Reflete, de forma geral, a vulnerabilidade de uma unidade de paisagem frente aos processos erosivo- deposicionais. Áreas com elevados gradientes são, em geral, morrosas ou montanhosas; já as com baixos gradi- entes são aplainadas ou colinosas. Áreas deposicionais (planícies) apresentam gradiente inexpressivo.

• Densidade de drenagem: É um parâmetro que mensura a razão entre o comprimento total de canais e a área da bacia de drenagem. Retrata o grau de dissecação de uma determinada unidade de paisagem. Áreas com elevada densidade de drenagem apresentam relevo mo- vimentado, típico de regiões morrosas ou montanhosas; as com baixa densidade de drenagem, por sua vez, apre- sentam relevo suave, típico de superfícies planas ou colinosas.

• Geometria de topos e vertentes: Consiste em uma avaliação morfológica que descreve a forma de denudação de uma determinada unidade de paisagem, indicando o modo pelo qual as formas de relevo foram modeladas ao longo do tempo geológico. As formas geo- métricas de topos podem ser classificadas em: aguçadas, ou em cristas; arredondadas; ou tabulares. Já as formas geométricas das vertentes podem ser classificadas em: convexas, retilíneas e côncavas.

Com base na leitura qualitativo-quantitativa da fisiografia, pode-se classificar a paisagem natural em dis- tintas unidades geomorfológicas, que consistem no pro- duto da resistência diferencial dos materiais frente aos pro- cessos de erosão e sedimentação:

• Planícies: Consistem em áreas planas, resultan- tes de acumulação fluvial, marinha ou flúvio-marinha, geralmente sujeitas a inundações periódicas, correspondendo às várzeas atuais ou zonas embrejadas. São constituídas por sedimentos inconsolidados de ida- de quaternária. Caracterizam-se por relevos deposicionais. Apresentam amplitudes de relevo e declividades inexpressivas (Figura 3.3).

Figura 3.3 ––––– Planície fluvial do alto curso do rio São João

• Tabuleiros: São formas de relevo suavemente dissecadas que apresentam extensas superfícies de gradi- entes extremamente suaves, com topos planos e alonga- dos e vertentes retilíneas nos vales encaixados em forma de “U”, resultantes da dissecação fluvial recente. São cons- tituídas, em geral, por rochas sedimentares pouco litificadas de idade cenozóica. Apresentam amplitudes de relevo baixas, declividades inexpressivas e baixa densidade de dre- nagem (Figura 3.4).

Planaltos: São superfícies pouco acidentadas, consti-

tuindo grandes massas de relevo arrasadas pela erosão, posicionadas em cotas mais elevadas que as superfícies adjacentes. Quando modelados em rochas sedimentares antigas, recebem a denominação de “chapadas”, que são superfícies tabulares alçadas, ou relevos soerguidos, planos ou aplainados, incipientemente dissecados. Os rebordos dessas superfícies, posicionados em cotas ele- vadas, são delimitados, em geral, por vertentes íngre- mes a escarpadas. Apresentam internamente amplitu- des de relevo e declividades baixas a moderadas e baixa densidade de drenagem (Figura 3.5).

• Superfícies de aplainamento: São superfícies planas a levemente onduladas, geradas a partir do arra- samento geral dos terrenos, truncando todas as litologias (Figura 3.6). É freqüente a ocorrência de relevos residu- ais isolados (inselbergs) (Figura 3.7), destacados na pai- sagem aplainada. Essas superfícies representam, em li- nhas gerais, tanto os planaltos mais elevados (superfíci- es de erosão mais antigas – por exemplo, a Chapada dos Guimarães/MT), quanto grandes extensões das de- pressões interplanálticas do território brasileiro (superfí- cies de erosão mais jovens – por exemplo, Depressão Sertaneja/BA). Apresentam amplitudes de relevo e declividades inexpressivas e baixa densidade de drena- gem.

• Depressão:Depressão:Depressão:Depressão:Depressão: Trata-se de uma zona

geomorfológica que está em posição altimétrica mais baixa que as áreas contíguas. Área ou porção do relevo

Figura 3.4 ––––– Tabuleiros dissecados pelo rio Guaxindiba (município

de São Francisco do Itabapoana, norte fluminense).

Figura 3.5 – – – – – Aspecto de chapada isolada no sul do Piauí, em vasta superfície de aplainamento (município de Corrente, PI).

Figura 3.6 – – – – – Depressão Sertaneja. Vasta superfície de aplainamento truncando todas as litologias no sul do Piauí

(município de Parnaguá, PI).

Figura 3.7 – – – – Morro de Santo Antônio. Depressão Cuiabana– (município de Santo Antônio do Leverger, MT).

situada abaixo do nível do mar é uma depressão abso- luta (por exemplo, mar Morto). Quando a área ou por- ção do relevo está situada abaixo do nível das regiões que lhe estão próximas, é considerada uma depressão relativa (por exemplo, vale do rio Paraíba do Sul). As depressões podem apresentar relevo aplainado ou colinoso (Figura 3.8).

• Colinas: Consiste em um relevo pouco disseca- do, com vertentes convexas ou convexo-côncavas e to- pos amplos ou arredondados. O sistema de drenagem principal apresenta deposição de planícies aluviais relati- vamente amplas. Apresentam amplitudes de relevo e declividades moderadas e moderada a alta densidade de drenagem (Figura 3.9).

• Montanhas: É um relevo muito acidentado, com vertentes predominantemente retilíneas a côncavas, escar- padas e topos de cristas alinhadas, aguçados ou levemen- te arredondados, com sedimentação de colúvios e depó- sitos de tálus. Sistema de drenagem principal em franco processo de entalhamento. Apresenta amplitudes de rele- vo e declividades elevadas e alta densidade de drenagem (Figura 3.10).

• Escarpas:Escarpas:Escarpas:Escarpas:Escarpas: É um tipo de relevo montanhoso, mui-

to acidentado, transicional entre dois padrões de relevo, com desnivelamentos superiores a, pelo menos, 300 m. Apresentam vertentes muito íngremes e dissecadas, com geometria retilíneo-côncava. Há ocorrência freqüente de vertentes escarpadas com gradientes muito elevados (su-

periores a 45o) e paredões rochosos subverticais. Apresen-

tam amplitudes de relevo e declividades elevadas e alta densidade de drenagem (Figura 3.11).

Figura 3.9 – – – – – Colinas amplas e suaves (município de Araruama, RJ).

Figura 3.10 – – – – – Relevo montanhoso da região serrana do Rio de Janeiro. Em destaque, a Pedra Aguda (município de

Bom Jardim, RJ).

Figura 3.11 – – – – – Alto da escarpa da serra Geral. Estrada da serra do rio do Rastro (Coluna White, divisa SC–RS).

Figura 3.8 – – – – – Depressão Sertaneja, embutida entre a borda leste da Chapada Diamantina e a serra de Jacobina (BA).

COMPARTIMENTAÇÃO MORFOLÓGICA

No documento geodiversidade brasil (páginas 36-41)