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10 PATRIMÔNIO GEOLÓGICO: TURISMO SUSTENTÁVEL

No documento geodiversidade brasil (páginas 149-152)

Marcos Antonio Leite do Nascimento (mnascimento@re.cprm.gov.br) Carlos Schobbenhaus (schobben@df.cprm.gov.br)

Antonio Ivo de Menezes Medina(ivomedina@terra.com.br)

CPRM – Serviço Geológico do Brasil

SUMÁRIO

Conceitos ... 148 Publicações sobre Geoturismo ... 149 Relação entre Geoturismo e Ecoturismo ... 149 Prática de Geoturismo no Brasil ... 150 Patrimônio Geomorfológico ... 150 Patrimônio Paleontológico ... 152 Patrimônio Espeleológico ... 152 Patrimônio Mineiro ... 153 Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos

(SIGEP) ... 155 Geoparques ... 156 Projetos Geoturísticos no Brasil ... 157 Bibliografia ... 159

Historiadores vêm registrando a mobilidade do ho- mem no planeta Terra, ao longo dos tempos, impulsiona- da por variadas motivações. Nos últimos 100 anos, inten- sificou-se o deslocamento através do planeta em função do turismo. Este é um fruto da sociedade industrial e das conquistas sociais, quando o período anual de descanso dos que a ele têm acesso vem sendo aproveitado, cada vez mais, em viagens turísticas.

Uma determinada forma de turismo faz uso da pai- sagem, na concepção geográfica de espaço (ambiente ou meio), formada por elementos da biosfera e geosfera, zona de interseção da litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera, explorando-os com o propósito de lazer e re- creação.

Na superfície terrestre, há uma grande variedade de atrativos naturais que oferecem, para a prática do turis- mo, recursos dos mais diferenciados, representados por elementos dos meios biótico (fauna e flora) ou abiótico (os diferentes tipos de rochas com suas formas e paisa- gens, a hidrografia e o clima). Para a prática desse tipo de turismo, ainda podem ser adicionados a esses recursos os patrimônios culturais registrados pelo homem primitivo nas rochas (as inscrições rupestres).

O Brasil, em termos de rochas, minerais e fósseis de variados tipos e idades, diferentes paisagens (formas de relevo) e coberturas de solos relacionados, apresenta exem- plos dos mais didáticos e completos. Assim, há testemu- nhos com registros que recuam aos primórdios da história do planeta (rochas com mais de 3 bilhões de anos) e per- correm todo o tempo geológico até alcançar o presente, a exemplo das dunas atuais e outros depósitos de sedimen- tos. Muitos desses registros geológicos constituem, por um lado, sítios de interesse científico e, por outro, monu- mentos naturais ou paisagens de beleza cênica excepcio- nal. Esses monumentos ou paisagens, além de seu valor natural, podem também apresentar interesses históricos e culturais associados, recebendo visitas espontâneas ou guiadas por agências de turismo. Esse tipo de turismo, que lança mão do patrimônio geológico, é denominado “geoturismo”.

Certamente, o Brasil possui um dos maiores potenci- ais do globo para a criação de parques geológicos ou geoparques por sua grande extensão territorial, aliada à sua rica geodiversidade, possuindo testemunhos de prati- camente toda a história geológica do planeta. Registros importantes dessa história, alguns de caráter único, repre- sentam parte do patrimônio natural da nação e também de toda a humanidade. Esses registros são identificados em áreas relativamente pontuais – os chamados sítios geológicos, geossítios, geotopos (ou geótopos), geomonumentos ou locais de interesse geológico – e em áreas relativamente extensas e bem delimitadas – os geoparques. Estes incluem grande número de sítios geo- lógicos (de tipologias diversas ou não) e são comumente associados a geoformas e paisagens originadas da evolu- ção geomorfológica da região.

CONCEITOS

O geoturismo pode ser definido como o turismo eco- lógico com informações e atrativos geológicos. Abrange a descrição de monumentos naturais, parques geológi- cos, afloramentos de rocha, cachoeiras, cavernas, sítios fossilíferos, paisagens, fontes termais, minas desativadas e outros pontos ou sítios de interesse geológico.

Atividades turísticas ligadas ao patrimônio geológico já ocorrem há muito tempo, porém, o termo “geoturismo” passou a ser amplamente divulgado na Europa após ser definido pelo pesquisador inglês Thomas Hose, em 1995, em uma revista de interesse ambiental.

De acordo com esse autor, o geoturismo é “a provi- são de serviços e facilidades interpretativos que permita aos turistas adquirirem conhecimento e entendimento da geologia e geomorfologia de um sítio (incluindo sua con- tribuição para o desenvolvimento das ciências da Terra), além de mera apreciação estética”. Em 2000, o mesmo autor faz uma revisão no conceito de geoturismo, passan- do a utilizar o termo para designar “a provisão de facilida- des interpretativas e serviços para promover o valor e os benefícios sociais de lugares e materiais geológicos e geomorfológicos e assegurar sua conservação, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse re- creativo ou de lazer”.

Recentemente, RUCHKYS (2007), com base nas defi- nições da EMBRATUR (1994) para segmentos de turismo específicos e em definições preexistentes, caracterizou o geoturismo como sendo “um segmento da atividade tu- rística que tem o patrimônio geológico como seu princi- pal atrativo e busca sua proteção por meio da conserva- ção de seus recursos e da sensibilização do turista, utili- zando, para isto, a interpretação deste patrimônio tornan- do-o acessível ao público leigo, além de promover a sua divulgação e o desenvolvimento das ciências da Terra”.

Todavia, nem todas as definições de geoturismo estão diretamente relacionadas a temas geológicos. Por exemplo, em 2001, a National Geographic Society (NGS), em conjun- to com a Travel Industry Association (TIA), dos EUA, realizou o estudo denominado “The Geoturism Study”, sobre os há- bitos turísticos dos norte-americanos (STUEVE et al., 2002). O estudo define geoturismo como “o turismo que mantém ou reforça as principais características geográficas de um lu- gar – seu ambiente, cultura, estética, patrimônio e o bem- estar dos seus residentes”. Buckley (2003) também assume a definição de geoturismo da mesma forma que NGS e TIA, entretanto, relacionando-a ao ecoturismo.

Porém, percebe-se que esse segmento está mais dire- tamente relacionado aos aspectos geológicos dos desti- nos turísticos, como abordado por Dowling e Newsome (2006). Para esses autores, o prefixo “geo-” da palavra “geoturismo” está diretamente associado ao de “geolo- gia” e “geomorfologia” e aos demais recursos naturais da paisagem, tais como relevo, rochas, minerais, fósseis e solo com ênfase no conhecimento dos processos que de-

ram origem a tais materiais. Esses autores ainda conside- ram que o geoturismo pode ser tratado como parte do ecoturismo, portanto, devendo ser considerado como um subsegmento.

Neste ano de 2008, foi realizada na Austrália a Glo- bal Geotourism Conference, tendo como objetivos:

• Promover maior percepção da comunidade e pro- teção ao nosso patrimônio geológico.

• Reunir geocientistas, profissionais de turismo, aca- dêmicos e gestores de áreas protegidas, objetivando for- talecer e promover a disciplina de geoturismo.

• Discutir o papel do geoturismo como uma discipli- na acadêmica que fornece estrutura e treinamento para aplicação prática do geoturismo.

• Discutir a essência do geoturismo, ou seja: atrati- vos e desenvolvimento do geossítio, o conceito de geoparque, gestão dos visitantes e interpretação e gestão do geossítio/paisagem.

• Definir o cenário para a integração de atrativos geo- lógicos como uma componente essencial do turismo e ecoturismo baseado na natureza.

Esses objetivos atestam que o geoturismo incorpora o conceito de turismo sustentável, ou seja, o seu objeto deve beneficiar a população local e os visitantes, mas, ao mesmo tempo, ser protegido para as gerações futuras.

PUBLICAÇÕES SOBRE GEOTURISMO

Até o momento, existe apenas uma publicação acer- ca desse tema no Brasil. Foi recentemente publicado o livro intitulado “Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo: Trinômio Importante para a Proteção do Patrimônio Geológico” de NASCIMENTO et al. (2008) (Fi- gura 10.1a), sob o patrocínio da Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo). Em outros países, esse tema é aborda- do em livros, periódicos e revistas, porém, pouco acessí- veis no Brasil.

Há dois livros que tratam diretamente do termo “geoturismo”. O primeiro – “Geoturismo: Scoprire le Bellezze della Terra Viaggiando” – foi escrito por Matteo Garofano, na ocasião presidente da Associazione Geoturismo da Itália. O livro, atualmente em sua terceira edição, foi publicado em 2003. Trata dos principais locais geoturísticos da Itália, o que proporciona ao leitor uma viagem por aquele país, além de mostrar sua geologia e trazer sugestões de como organizar uma viagem geoturística. O segundo, lançado no início de 2006 – “Geotourism: Sustainability, Impacts and Management” – , foi editado por Ross Dowling e David Newsome (Figura 10.1b). O livro, além de trazer os conceitos básicos sobre geoturismo, permite ao leitor conhecer a prática desse segmento do turismo em diversos países, tais como Esta- dos Unidos da América, Inglaterra, Irlanda, Espanha, Chi- na, África do Sul, Austrália e Irã. O livro contempla ainda inúmeras informações sobre os diferentes geoparques encontrados no mundo (DOWLING e NEWSOME, 2006).

Outras publicações, mais voltadas para a conserva- ção do patrimônio geológico (a geoconservação), algu- mas vezes dedicam capítulos ao tema “geoturismo”. Den- tre as principais, destacam-se: “Geology on your Doorstep: The Role of Urban Geology in Earth Heritage Conservation” (BENNETT et al., 1996); “Geological Heritage: Its Conservation and Management” (BARETTINO et al., 2000); “Patrimônio Geológico e Geoconservação: a Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica” (BRILHA, 2005).

RELAÇÃO ENTRE GEOTURISMO E

ECOTURISMO

No Brasil, a definição mais utilizada para ecoturismo foi dada pelo Grupo de Trabalho Interministerial em Ecoturismo, que descreve esse segmento como “a ativi- dade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista atra- vés da interpretação do ambiente, promovendo o bem- estar das populações envolvidas” (EMBRATUR, 1994).

Essa definição enfatiza o uso do recurso natural origi- nal ou pouco explorado como cenário para o desenvolvi- mento do ecoturismo, além de levantar princípios nos quais a atividade deve se desenvolver, tais como sustentabilidade dos recursos, participação da comunidade e consciência ecológica por meio de educação e interpretação ambiental. Dessa forma, o ecoturismo caracteriza-se por ser um segmento do turismo de natureza que usa o patrimônio natural de forma sustentável e que busca sua proteção por meio da sensibilização e da educação ambiental. No entanto, o termo “patrimônio natural” vai além dos as- pectos relacionados ao meio biótico (ou à biodiversidade). A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mun- dial, Cultural e Natural, adotada em 1972 pela Conferên- cia Geral da Organização das Nações Unidas para Educa- ção, a Ciência e a Cultura, constitui um dos instrumentos mais importantes na conceituação e criação de um patrimônio de valor universal. Em seu artigo 2º (UNESCO, 1972), considera como “patrimônio natural”:

Figura 10.1 ––––– Capas dos livros conhecidos, até o momento, sobre

geoturismo. a)a)a)a)a) “Geodiversidade, Geoconservação e Geoturismo” (NASCIMENTO et al., 2008); b)b)b)b)b) “Geotourism: Sustainability, Impacts

• os monumentos naturais constituídos por forma- ções físicas e biológicas ou por conjuntos de formações de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico;

• as formações geológicas e fisiográficas, e as zonas estritamente delimitadas que constituam habitat de espé- cies animais e vegetais ameaçadas de valor universal ex- cepcional do ponto de vista estético ou científico;

• os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente delimitadas detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural.

Assim, o “patrimônio” natural não envolve somente as formações biológicas, mas também as geológicas; po- rém, no ecoturismo, as formações geológicas não são tratadas com mesmo grau de profundidade, embora os aspectos associados ao meio abiótico, especialmente o relevo, também sejam atrativos importantes para o ecoturismo. Os maiores apelos a esse segmento são, sem dúvida, os atrativos relacionados ao meio biótico (fauna e flora).

Considerando a característica marcante de privilegiar os atrativos associados ao meio biótico, pesquisadores preocupados em valorizar e em conservar o patrimônio associado ao meio abiótico vêm promovendo a divulga- ção do geoturismo como um novo segmento do turismo de natureza.

Portanto, entende-se que o ecoturismo seria o seg- mento do turismo que trata mais especificamente do meio biótico (biodiversidade) como atração turística, enquanto o geoturismo teria o meio abiótico (geodiversidade) como principal atrativo. Deve-se lembrar, no entanto, que am- bos os segmentos estão sempre se desenvolvendo, de for- ma a promover a proteção do patrimônio natural, históri- co e cultural da região visitada.

PRÁTICA DE GEOTURISMO NO BRASIL

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